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devocional

A ilusão do adquirido

Tudo na vida é passageiro.

em

Sansão (Divulgação)

Nada está garantido: emprego, amizades, relações, saúde, beleza, capacidades, bens materiais. Apenas podemos e devemos confiar em Deus, que nunca muda nem nos desilude, quando mantemos viva a nossa aliança com Ele.

Nas palavras do sábio Salomão tudo na vida é efémero. Eclesiastes 1:1-2:

“Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém. Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.”

Mas ao ler o Salmo 103:15-18, compreendemos que “a misericórdia do Senhor é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que o temem.”

Sansão: a força como adquirida

Sansão era um dos diversos juízes, os líderes do povo de Deus no período pós-patriarcal, depois da conquista da Terra da Promessa e antes do estabelecimento da monarquia em Israel.

Ele notabilizou-se por uma força física sobrenatural que tomou como adquirida, pensando que já não a perderia. Certa vez enfrentou e matou um leão com as suas mãos. Noutra ocasião, munido da queixada dum jumento venceu inúmeros filisteus.

Enquanto guardou o segredo da sua força e respeitou a aliança com Deus não houve problema, a não ser a presunção de que o dom que Deus lhe dera seria para sempre, mas quando cometeu o erro de contar a sua fraqueza a alguém que não era de confiança começaram os seus problemas.

Sansão foi traído por Dalila, uma filisteia por quem se apaixonou, e que, conhecedora do segredo, mandou cortar-lhe os cabelos enquanto dormia, entregando-o de seguida aos filisteus, que lhe arrancaram os olhos e o forçaram a moer grão num moinho em Gaza.

Durante os tempos em que lá esteve o cabelo começou a crescer novamente. Quando os filisteus o levaram para o templo do seu deus Dagom, Sansão pediu para descansar um pouco encostado a um dos pilares, depois orou a Deus e recuperou a força sobrenatural. Derrubou então as colunas e o templo veio abaixo matando a populaça, os nobres da Filisteia e sacrificando a própria vida.

Nabucodonosor: o poder como adquirido

O rei babilónio é outro exemplo de alguém que tomou a sua posição no trono como adquirida, mas um dia foi humilhado e andou a pastar no campo como um animal, devido a um surto de demência registado pelo profeta Daniel. Num momento de auto-glorificação Deus declarou-lhe:

“A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino. E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo domina sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer” (Daniel 4:31,32).

Crê-se que o filho tenha reinado apenas durante uns dois anos até ser morto por uma conspiração familiar. Depois da morte de Nabucodonosor a Babilónia entrou em declínio, e foi conquistada por uma coligação Medo-Persa, nos dias de Dario.

Judas Iscariotes: o ministério como adquirido

Judas integrava o colégio apostólico, os 12 discípulos mais próximos do Mestre, e também pensou que era uma situação adquirida, até que O traiu e acabou pondo termo à própria vida.

É um profundo erro tomarmos o que quer que seja como adquirido. Se esta pandemia da covid-19 veio ensinar alguma coisa foi que tudo passa, tudo muda, nada permanece para sempre: o trabalho, as amizades, as relações, a saúde, a beleza, as capacidades, ou os bens materiais. Apenas podemos e devemos confiar em Deus, que nunca muda nem nos desilude, quando mantemos viva a nossa aliança com Ele.

No fundo este é também o ensinamento da parábola do homem rico que Jesus ensinou em Lucas 12:16-31:

“E propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.”

E depois passou a ensinar-lhe a viver com confiança na provisão divina:

“Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas (a satisfação das necessidades) vos serão acrescentadas” (12:31).

Nasceu em Lisboa (1954), é casado, tem dois filhos e um neto. Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões, é director do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, em Lisboa, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e investigador.

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