cosmovisão
Hebreus: Jesus é superior a Arão
A superioridade de Cristo em relação a Arão, o primeiro sumo sacerdote, fica evidente em Hebreus.
Nos últimos dois artigos tratei sobre a superioridade de Cristo em relação aos anjos e a Moisés. A superioridade de Cristo em relação aos anjos que tinham especial papel no estabelecimento da revelação divina nos levou a ver também, a superioridade de Cristo em relação ao próprio Moisés, o grande profeta que trouxe a lei. O próximo passo, é analisar a superioridade de Cristo em relação a Arão.
Foi Moisés quem nomeou a seu irmão Arão como o sumo sacerdote, o líder religioso, da nação de Israel e de acordo com a Lei somente Arão e seus filhos tinham permissão para servir no altar. Em Arão temos a representação do ministério sacerdotal exercido pelo sumo sacerdote. Hebreus descreve a figura do sumo sacerdote demonstrando a grandeza deste ofício: “Cada sumo sacerdote, sendo escolhido dentre os homens, é constituído nas coisas relacionadas com Deus, a favor dos homens, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados.” (Hb 5.1).
Para entender a superioridade de Cristo em relação a Arão, observa-se as cinco qualificações extraídas de Hebreus para considerar o sumo sacerdote: Tomado dentre os homens; ordenado ou indicado a favor dos homens; manifestar atitude de compaixão e moderação para com os que são ignorantes e os que erram; fazer ofertas por si mesmo e pelo povo; não tomar para si a honra de ser sumo sacerdote, mas ser chamado por Deus.
1. Tomado dentre os homens
O sumo sacerdote precisa ser um ser humano e não um anjo vindo do céu, pois precisa conhecer nossa condição e realidade para que tenha misericórdia de nós. Jesus não apenas cumpre este requisito, mas também o supera através de sua morte e ressurreição, pois ele foi tomado de entre os homens e, como um verdadeiro homem, foi elevado acima de qualquer outro homem antes ou depois, tornando-se distinto, para que pudesse ministrar a eles na qualidade de Sumo Sacerdote.
2. Ordenado ou indicado a favor dos homens
O sumo sacerdote era ordenado em favor dos homens, como se verifica no texto sagrado: “é constituído nas coisas relacionadas com Deus, a favor dos homens” (Hb 5.1). Aqui fica ressaltado o ministério de mediador do sumo sacerdote, pois ele era constituído para agir no lugar de Deus em favor dos homens e em lugar dos homens para com Deus. Tal função é essencial no sacerdócio e, em Cristo vemos aquele que se colocou como mediador entre Deus e nós, conforme podemos ver na seguinte passagem: “Mas agora Jesus obteve um ministério tanto mais excelente, quanto é também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas” (Hb 8.6).
3. Manifestar atitude de compaixão e moderação para com os que são ignorantes e os que erram.
A atitude de compaixão e moderação era vista no ministério de intercessor, que o sumo sacerdote devia exercitar. Tal exercício devia ser com moderação ao expressar ira e desgosto concernente aos erros e faltas de seus companheiros. O sumo sacerdote era um tipo de mediador cuja consumação se deu na pessoa de Jesus. Procurando demonstrar a superioridade de Cristo sobre Arão, quanto a questão de compaixão e moderação, é possível enfatizar três verdades afirmadas em Hebreus (4.15): Jesus se compadece de nossas fraquezas, Jesus foi tentado semelhante a nós e Jesus triunfou sobre todas as tentações.
4. Fazer ofertas por si mesmo e pelo povo.
Há uma referência nesta afirmação ao Dia da Expiação e neste dia o sumo sacerdote oferecia sacrifícios pelos seus próprios pecados e depois pelos do povo. Ainda é preciso observar que o sumo sacerdote precisava fazer sacrifícios primeiro por si mesmo, pois era tirado dentre os homens, com a mesma fraqueza dos demais homens, portanto um homem imperfeito, oferecendo um sacrifício imperfeito, em favor de homens imperfeitos.
Neste ponto o sacerdócio de Cristo é muito superior ao sacerdócio segundo a ordem de Arão, como é possível conferir na seguinte citação:
Devemos lembrar que, embora o autor esteja fazendo um paralelo entre o sumo sacerdócio levítico e Jesus, o grande sumo sacerdote, nem tudo na comparação é igual. A diferença mais significativa é que Jesus “não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu” (Hb 7.27) (KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: exposição de Hebreus. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003).
5. Não tomar para si a honra de ser sumo sacerdote, mas ser chamado por Deus.
O ofício sumo sacerdotal, é baseado num chamado divino, como é possível observar em Arão que não se consagrou a si próprio, mas foi o Senhor quem concedeu a ele e a seus descendentes esta honra. Esta é a característica suprema do sumo sacerdote: um homem com um chamado específico, da parte de Deus, para servir neste ofício. Assim como Arão foi chamado por Deus para este ofício, da mesma forma Jesus recebeu seu chamado para ser sacerdote, não da ordem levítica mas de Melquisedeque, como é possível conferir nos versículos que se seguem: “Assim, também Cristo não glorificou a si mesmo para se tornar sumo sacerdote, mas quem o glorificou foi aquele que lhe disse: ‘Você é meu Filho, hoje eu gerei você’. E em outro lugar também diz: ‘Você é sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque’” (Hb 5.5-6).
Em todas as qualificações apresentadas acima, é possível constatar como Jesus é superior a Arão em cada detalhe do sacerdócio. Não há dúvida da importância do sacerdócio levítico no Antigo Testamento, mas Hebreus nos apresenta a Cristo com a capacidade muito acima daquele primeiro sacerdócio. Jesus realizou o que Arão não tinha condições de fazer, oferecendo não apenas na terra seu sacrifício, mas tendo ressuscitado continua servindo a Deus nas regiões celestes como Sumo Sacerdote.
Conclusão
A superioridade de Cristo é um dos principais temas tratados na epístola de Hebreus. Ainda que a superioridade de Cristo nesta epístola pode ser vista em relação a vários aspectos, estes três artigos dedicaram-se a pesquisar o que significa a superioridade de Cristo em relação aos anjos, Moisés e Arão.
A comparação entre Cristo e os anjos, serve para demonstrar como Jesus é superior aos seres celestiais, em virtude de sua existência eterna como Filho de Deus. Ainda que por um pouco de tempo Jesus se fez um pouco menor do que os anjos, através da encarnação. Mas, foi exatamente através do seu rebaixamento que Jesus tornou-se no Salvador da humanidade e assim na Sua humilhação “Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra…” (Hb 2.8b).
Moisés é a grande figura que se destaca no Antigo testamento e, portanto, no judaísmo. Em Moisés, todo sistema religioso de Israel estava fundamentado, assim como a própria Lei que regulava não apenas o relacionamento do povo com Deus, mas também o relacionamento uns com os outros. Mas em Hebreus a superioridade de Jesus sobre Moisés é descrita, e, neste artigo foram apresentados três argumentos para demonstrar a superioridade de Cristo em relação a Moisés: o construtor é maior que a casa (3.2-4), o filho é maior que o servo (3.5-6) e a realização é maior que seu símbolo (3.5b).
Por fim, a superioridade de Cristo em relação a Arão, que foi o primeiro sumo sacerdote de Israel, é analisada. O sumo sacerdote era o líder religioso da nação de Israel e para entender a comparação e a superioridade de Cristo em relação a Arão, observa-se as cinco qualificações extraídas de Hebreus para considerar o sumo sacerdote. Sendo que em cada uma destas qualificações é possível perceber como Cristo é superior.
A superioridade de Cristo retratada em Hebreus demonstra como todos os escritos do Antigo Testamento apontavam para Jesus e como na pessoa de Jesus se cumprem as escrituras sagradas. Talvez a epístola dos Hebreus seja a demonstração detalhada das palavras do próprio Cristo a respeito de si mesmo, quando no caminho de Emaús juntou-se a dois discípulos e conforme relata o texto bíblico: “começando por Moisés e todos os Profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (Lc 24.27).
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