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“Quem é mais leão?”: somos pequenos deuses?

O desejo de fazer o homem igual a Deus é uma ideia satânica.

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Leão e leãozinho. (Foto: Divulgação)

No início do ano, nas redes sociais uma comparação de um filhote de leão em relação a um leão adulto, levou à seguinte afirmação: “Um é bem maior que o outro (…) mas, quem é mais leão?”. Tal afirmação foi aplicada para falar sobre o homem e Deus.

Será que essa comparação seria adequada para se referir ao caráter e natureza de Deus e do homem? Vejamos o que a Bíblia a respeito da criação do homem: 

Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão”. (Gênesis 1.26)

Então, será que esse versículo nos conduziria a pensar que assim como um leão gera um leão, Deus gerou outro deus?

Quero abordar com você esse tema sob três perspectivas: a relação da teologia com a Bíblia, o nascimento de uma falsa teologia e, por último, eu vou apresentar quatro erros básicos que surgem com a afirmação “quem é mais leão?”. Certamente, trataremos essas perspectivas apenas de maneira breve, do contrário seria necessário investir muito mais tempo para reflexão. 

A relação da teologia com a Bíblia

A revelação tem como origem o próprio Deus e não o homem. O ser humano seria incapaz de conhecer Deus sem que Ele se revelasse. Ainda, Deus não é apenas a origem da revelação, como também o caminho para ela. Portanto, o homem não pode conhecê-Lo de maneira natural, mas somente de forma sobrenatural por meio do próprio Deus. 

Toda teologia que se afasta da revelação produz miragem. A teologia é uma leitura terrena a respeito das coisas divinas. Portanto, a teologia é da terra para o céu, mas apenas a revelação de Deus, na Bíblia Sagrada, é do céu para a terra.

Assim como os bereanos examinavam as Escrituras Sagradas a respeito do ensino de Paulo e Silas, assim também nós devemos fazer com toda teologia ensinada.

Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo. (Atos 17.11)

Não podemos nos apegar às coisas terrenas, mas, como Paulo nos alertou em Colossenses 3.2, o nosso foco deve estar nas coisas do alto.

Como nasce uma teologia falsa? Como uma mentira a respeito de Deus pode impactar a nossa vida de maneira prática? 

O desejo de Satanás não é apenas criar uma mentira, mas distorcer a verdade. Quando a Bíblia é interpretada de maneira errada, produzindo então uma verdade distorcida, a prática desse conceito produzirá um “ser humano deformado”. Ressalto aqui, que uma verdade distorcida, nada mais do que uma mentira disfarçada.

Veremos no Jardim do Éden, cinco estágios para o nascimento de uma verdade distorcida ou de uma mentira disfarçada:

1º Estágio: Perda do foco

Em Gênesis 3.1, vimos que Eva andava perto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Isso mesmo, aquela árvore que Deus havia proibido de comer do seu fruto (Gn 2.17).

Ela estava perto do lugar onde não deveria. O verdadeiro cristão maduro sabe e reconhece a sua fraqueza humana, mantendo-se distante dela. Eva pode nesse momento ter perdido o foco. Quando não sabemos para onde olhar, o inimigo nos arruma uma paisagem. O foco é Deus!

2º Estágio: Relativização da Palavra de Deus

Ainda no mesmo versículo de Gênesis 3, a serpente ainda camuflando as suas intenções, começa a destilar o seu veneno.

É interessante como a serpente se utiliza da “palavra de Deus”, deturpando aquilo que Ele diz. Deus não disse que Adão e Eva não poderiam comer do fruto de qualquer árvore do jardim. Ele proibiu apenas comer do fruto da “’Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”. Satanás relativizou o que Deus disse.

3º Estágio: Negação da Palavra de Deus

Já em Gênesis 3.4, a serpente mostrou se revelou descaradamente, mas Eva já estava totalmente enredada pela história astuta da serpente.

Aqui, o cristão é levado a confrontar os valores de Deus e pensar se eles realmente são aquilo que Ele diz ser. No 2º estágio, a serpente apenas solta palavras ao vento, não contradizendo Deus, mas perguntando, para se apresentar como alguém que não quer nada.

Já aqui, o tom da serpente é de afirmação. Ela afirma categoricamente que aquilo que Deus disse era mentira.

O pecado não geraria a morte, mas o poder de se tornarem iguais a Deus. Observe que o desejo de fazer o homem igual a Deus é uma ideia satânica e não eterna.

4º Estágio: Abandono da fé

No versículos 5 e 6, de Gênesis 3, a mentira produzida por Satanás ganhou espaço no coração de Eva, produzindo um esquecimento total de tudo o que ela havia experimentado com Deus. Do seu relacionamento de intimidade com Ele. Então, ela come o fruto.

Eva deliberadamente, sabendo das consequências, anteriormente ditas por Deus, tomou a decisão de desobedecer e de ir contra todos os valores dados pelo Eterno. Ela esqueceu e renunciou tudo o que tinha vivido com Ele até ali. Cega pela ardilosa armadilha do inimigo, caiu em pecado.

5º Estágio: Contaminação espiritual

O último estágio, acontece no final do versículo 6. Não bastava apenas fazer com que Eva caísse, Satanás conseguiu que ela levasse o próprio erro a Adão. Não era necessário mais enviar a serpente, porque a mentira já tinha ganhado espaço no coração de Eva e ela mesma levou o erro até Adão, contaminando toda a humanidade.

Então, depois de apresentada a perspectiva sobre a relação da teologia com a revelação e depois sobre os estágios para a distorção da verdade.

Agora, passo a apontar pelo menos quatro erros teológicos e contrários aos princípios eternos da Palavra de Deus que nascem a partir da afirmação: “quem é mais leão?”.

1º erro: O homem é igual a Deus

Na Bíblia, Deus afirma sobre si mesmo, como: “Eu Sou” (Ex 3.14, Rm 4.17). Isso significa que Deus é anterior à existência e à essência, pois tudo o que existe procede do Seu caráter soberano e infinito (Cl 1.17).

Deus não pode ser provado, pois só o que foi criado é passível de prova (Sl 139.23). Ele é anterior ao tempo, Ele nunca começou, pois Ele é o Criador de todas as coisas e tudo procede Dele (Ap 22.13; Jo 1.3,4; Cl 1.16).

Todo pensamento que promove a ideia do homem como sendo igual a Deus é completamente absurda e tem uma base satânica. Tal pensamento derrubou Lúcifer do céu e derrubou Adão e Eva no Éden. O homem é criatura, mesmo sendo à imagem e semelhança do Seu criador.

2º erro: Deus gerou deuses

Deus gerou filhos, não deuses. Adão e Eva não eram como as outras coisas criadas. Havia algo de especial neles e, consequentemente, em nós. Veja como Lucas se refere a Adão na genealogia de Jesus: filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão, filho de Deus. (Lucas 3.38 NVI)

O homem foi criado como filho de Deus, à imagem e conforme a semelhança. Diferentemente dos animais, por exemplo, que foram criados cada um de acordo com a sua própria espécie. Aqui, está a chave para a dignidade humana e aquilo que o diferencia dos demais seres vivos. Entretanto, isso não faz do homem um deus.

Então, o que Deus entregou ao homem que não entregou aos demais seres vivos?

Para isso, precisamos entender os atributos de Deus. Os atributos de Deus são os Seus predicados perfeitos, de acordo com a sua transcendência e sua imanência. Portanto, os atributos de Deus podem ser divididos, não de acordo com a Sua natureza ontológica, mas para o entendimento humano, como comunicáveis e incomunicáveis.

Os atributos incomunicáveis declaram a exaltação e incomparabilidade de Deus e, por isso, são exclusivos Dele e não atribuídos ao homem. Os atributos incomunicáveis não podem ser compartilhados com o homem, pois eles são dependentes de Deus, limitados e sujeitos ao tempo e ao espaço.

Tais predicados afirmam o caráter transcendental, privado e restrito de Deus que O difere das coisas criadas (derivadas, limitadas e dependentes). Já os atributos comunicáveis revelam os predicados divinos que Deus permitiu refletir no homem, que mesmo sendo compartilhados por Deus são derivados e limitados.

O que Deus entregou ao homem foi a semelhança. Há reflexos de seus atributos que Ele decidiu soberanamente espelhar na humanidade. É papel do homem espelhar e espalhar a Glória de Deus.

3º erro: Deus pode ser maior, mas o homem tem a mesma qualidade de natureza e essência

Deus não é apenas maior, Ele é perfeito (sem possibilidade de erro). Quando completou toda a criação: “Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gn 1.31).

A bondade de Deus estava em toda a criação e humanidade. Entretanto, como pode um homem criado perfeito por Deus cair? A possibilidade da queda revela a qualidade da natureza e essência. Em outras palavras, o homem só pode cair, porque a sua bondade não era inerente, mas pertencente a Deus, e dependente do relacionamento que o homem tem com Ele.

A diferença entre a qualidade de caráter e essência é expressa pelo próprio Deus nas Escrituras Sagradas:

Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir? (Números 23.19)

4º erro: O homem tem poder de governo independente de Deus

Assim como a lua não produz a luz que vemos na terra, mas apenas reflete a luz do sol. Assim também é em relação ao governo que Deus entregou ao homem, chamado de soberania mediada. Isso significa que o homem é soberano na terra, na medida em que ele se submete a Deus. O homem não tem autoridade em si mesmo. Toda autoridade vem do céu.

Para fechar, esse tema, deixo as palavras de Paulo:

Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? “Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim?” (Romanos 9.20)

Pastor de ensino na Igreja da Cidade em São José dos Campos, Diretor do Instituto Propósitos de Ensino (IPE), Líder do Campus Online da Igreja da Cidade. Casado com a pastora Esther Alves e pai de Daniel, Gabriel e Miguel. Graduado em direito e pós-graduado em Direito do Trabalho. Mestre em Liderança Pastoral (MDiv). Pós-graduado em Educação Moderna pela PUC do Rio Grande do Sul e graduando em Pedagogia.

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