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A mulher pode ser pastora?

A ordenação feminina ainda gera polêmica entre os cristãos.

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Saddleback Church ordena pastoras
Saddleback Church ordena pastoras (Foto: Reprodução/Facebook)

Sim, a mulher pode ser pastora. Na minha opinião, a mulher pode ser ordenada pastora e neste artigo vou comentar os motivos que me levam a interpretar esse assunto polêmico. Também colocarei a posição das pessoas que discordam da ordenação feminina.

O Novo Testamento não cita sobre ordenação de nenhum gênero. Esse é um dos principais argumentos em defesa do pastorado feminino. No século I não existia essa preocupação de ordenar uma pessoa ao pastorado como vemos hoje. O Novo Testamento não incentiva e nem proíbe a mulher à frente de um ministério porque esse tema não é tratado nas Sagradas Escrituras. É correto afirmar que Jesus não escolheu uma mulher entre os 12 homens. Sabemos que elas estavam ajudando no ministério dEle, mas não estavam entre os discípulos. Isso se explica pelo contexto histórico. Culturalmente, a mulher estava em segundo lugar, apesar de existir à época a ideia de proteção dela. Explicarei como era a vida social, familiar e religiosa da mulher nos tempos de Jesus. Essas informações nos ajudarão a entender que, naquela época, não era costume judaico uma mulher ser ativa na vida social. Isso explica, em parte, a ausência delas nas atividades públicas. Lembrando que o mundo bíblico neotestamentário retrata o patriarcado.

Vida social

A mulher andava de véu ou de manto. Se saísse sem o véu, o marido poderia despedi-la sem ser obrigado a pagá-la pela separação. A mulher poderia ser repudiada sem receber pagamento previsto no contrato de casamento se conversasse com alguém na rua ou ficasse do lado de fora da casa.

No casamento, ela era submissa ao marido. A adúltera era apedrejada. Não era bem visto o homem falar com solteiras e casadas. Em público ela deveria passar despercebida e não era permitido encontrar sozinho com uma mulher (casada ou solteira) e nem cumprimentá-la, mas no campo essa regra não era cumprida. A mulher não participava da vida pública e não trabalhava. Os historiadores dizem que havia exceção. A pobreza forçava outros costumes sociais. Por exemplo, na classe baixa as mulheres ajudavam os maridos comerciantes no trabalho, no campo as moças iam à fonte e as casadas trabalhavam na agricultura junto com filhos e maridos. O lar era o espaço feminino e a vida social cabia aos homens. Na cultura judaica, o costume geral era a monogania, apesar de termos exemplos de poligamia na Bíblia.

Á mulher cabia a procriação, sendo esse o objetivo do casamento. Era responsabilidade do marido sustentar a esposa. A condição dela no casamento era de submissão, sendo considerada posse do marido, mas não a sua escrava. O homem poderia vender a filha menor, mas não poderia vender a esposa. O pedido de divórcio cabia ao homem e o repúdio a deixava livre. A divorciada poderia se casar novamente. A esposa deveria ser resgatada se fosse levada em cativeiro e também tinha direito a uma sepultura. A cultura prezava pela proteção dela que cabia à família e aos irmãos.

Os filhos

A chegada de um menino era recebida com alegria, mas o mesmo não acontecia com uma filha. A mãe era a responsável pela educação no lar. Os filhos também eram inicialmente educados pela mãe. Depois, aprendiam oralmente a sabedoria do pai, sua profissão e religião. Eles podiam estudar, mas elas não iam à escola. Dentro de casa a filha vinha depois do filho, sendo submissas ao pai porque valia o pátrio poder. Depois de casadas elas eram submissas ao marido. As meninas faziam trabalhos domésticos como costura, fiação e cuidavam dos irmãos. A filha nada possuía porque a renda do trabalho era do pai que até poderia anular o voto dela. O pai a representa em qualquer assunto legal. Inclusive a aceitação ou recusa de casamento pertence ao pai ou ao representante dele. Até 12 anos e meio ela não poderia recusar um casamento decidido pelo pai. Depois dessa idade, devia-se levar em conta o consentimento da moça para o casamento. O pai poderia vender a filha como escrava até 12 anos. A filha maior, acima de 12 anos, poderia decidir pelo noivado sem consentimento do pai. Esse aspecto do noivado é polêmico porque existem autores que afirma que não existia. Mas há teólogos que dizem que o noivado existia. Mesmo que filha fosse maior, o valor que o noivo pagava pelo casamento pertencia ao pai dela.

Existia um limite no direito do marido e isso aconteceu na época do Antigo Testamento e do Novo Testamento. O marido não poderia devolver a mulher se a acusasse falsamente de não ser mais virgem. Também não podia devolver a mulher que ele violasse (estuprasse) antes do casamento.

A mulher e a religião

Quanto ao aspecto religioso, a mulher não era igual ao homem, estando sujeita a todas as proibições da lei e à pena de morte. Os homens deveriam cumprir mandamentos, mas elas não. Por exemplo, elas não precisavam fazer a peregrinação a Jerusalém durante as festas. Elas não eram obrigadas a aprender a lei e não estudavam nas escolas. Os historiadores contam que na corte os costumes eram desconsiderados e as mulheres ricas aprendiam o grego.

De modo geral, como a mulher não estudava, também não tinha a oportunidade a ler a Torá. Entre os rabinos acreditava-se que “aquele que ensina a lei à sua filha, ensina-lhe a devassidão”. Os mestres diziam que era melhor queimar a Torá, que era a Lei, do que ensiná-la às mulheres. No templo havia um adro reservado para as judias que eram excluídas no dia da purificação. Elas também eram excluídas depois do nascimento de um bebê. A exclusão era por 40 dias (se o filho fosse menino) e 80 dias (se fosse uma menina). Na sinagoga, na parte reservada ao serviço litúrgico, havia espaço separado para as mulheres que não podiam ficar no lugar reservado para os escribas.

Os escribas tinham formação mais avançada, ocupavam lugar mais importante na sinagoga, de frente para povo. Na sinagoga os escribas eram os mais importantes de todos (até mais do que os sacerdotes). O templo era local de sacrifício. A sinagoga era local de ensino e estudo. Existiam 480 sinagogas em Jerusalém na época de Jesus. Esse era um local de prece e de leitura do texto sagrado em hebraico. No início da reunião era feita a leitura do Pentateuco e, em seguida, um texto dos profetas. Depois, uma paráfrase em aramaico. E ainda uma instrução ou comentário. Os escribas comentavam o texto na reunião da sinagoga que acontecia no sábado. Todo esse trabalho sagrado cabia aos homens escribas e não às mulheres.

As informações que eu cito sobre a cultura do século I (e do Antigo Testamento) são dos livros “Jerusalém no tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período neotestamentário”, de Joachim Jeremias, “Jesus e as estruturas de seu tempo”, do autor Émile Morin, e “Instituições de Israel no Antigo Testamento”, de Roland de Voux. Também pesquisei no livro “Panorama do Novo Testamento”, de Klaus-Michael Bull.

A polêmica contemporânea

Vemos muitas opiniões sobre o pastorado feminino. Há segmentos que aceitam a mulher ser pastora como a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, várias igrejas batistas e assembleianas. Já a Igreja Presbiteriana do Brasil, a Universal do Reino de Deus (IURD), a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa, em seus vários patriarcados, não aceitam. Cito somente igrejas mais tradicionais como exemplo, mais fiquei sabendo que ministérios independentes que não concordam com a ordenação das mulheres.

Complementarismo e o igualitarismo

Atualmente existem duas linhas, o complementarismo e o igualitarismo, para explicar a posição feminina na igreja, na sociedade e na família. As teorias afirmam que homem e mulher são iguais tendo igual capacidade diante de Deus em valor e em essência, mas os papéis são diferentes. Nenhuma visão prega a inferioridade da mulher.

A visão complementarista afirma que, por ordem divina, as mulheres não podem exercer papéis de liderança na sociedade, na igreja e na família. Aqui acredita-se que homens e mulheres foram criados à imagem de Deus, mas defende distinções de gênero. Para defender essa visão, os complementaristas usam, entre outros versículos, 1 Timóteo 2:12 onde o apóstolo Paulo diz que não permite que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio. Em 1 Coríntios 14 se lê que as mulheres devem ficar caladas nas igrejas porque não podem falar. E que sejam submissas como também ordena a lei. Nesse texto fica claro que o apóstolo Paulo diz que a mulher não pode ensinar e exercer autoridade sobre o homem na igreja. Já em 1 Timóteo 3:1-13 e em Tito 1:6-9 os cargos de liderança da igreja são destinados aos homens.

No Brasil, não vemos muito essas divisões. Nos Estamos Unidos as pessoas afirmam que existe o complementarismo generoso (ou estreito) e o complementarismo amplo. No amplo, a questão da submissão se estende mais, sendo bem maior, valendo para toda a vida da mulher. Na prática, o complementarismo amplo é mais conservador e a mulher não poderia, nesse caso, exercer nenhum cargo de autoridade sobre o homem. Por exemplo, a mulher não poderia ser uma policial. No estrito, a submissão vale somente para o casamento, o governo da igreja é somente para o presbítero e outro cargo de liderança pode ser exercido pela mulher.

O igualitarismo entende que ambos são iguais diante de Deus e em papéis também. A ideia da submissão feminina, por exemplo, não aparece na linha igualitarista. Quem segue essa teoria diz que a visão da submissão e da autoridade seriam questões que apareceram depois da queda, mas que Jesus as eliminou. O igualitarismo diz que não há restrições bíblicas baseadas no gênero para exercer cargos na igreja, na sociedade e no lar. Essa diferença é inexistente porque todos são um em Cristo. Um versículo para defender essa linha é Gálatas 3:28 que diz que não existe judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher porque todos são um em Cristo Jesus. Nessa interpretação, acredita-se que, em Cristo, acabaram as diferenças de gênero. A crítica que os igualitaristas recebem é que, nesse versículo, o apóstolo Paulo se referiu ao assunto da salvação e não às funções dentro da igreja.

A visão dos católicos romanos sobre a ordenação feminina

No canal do YouTube, o padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, da Arquidiocese de Cuiabá – MT, citou as razões doutrinárias para explicar a posição da cúpula da igreja sobre a não ordenação feminina. Ele citou a Carta apostólica ordinatio acerdotalis, datada de 22 de maio de 1994, sobre a ordenação sacerdotal reservada somente aos homens, publicada durante o pontificado do papa João Paulo II.

Na Carta, que traz o entendimento sobre a não ordenação feminina, o papa João Paulo II diz que a igreja sempre ensinou dessa forma, ou seja, que à mulher não cabe o pastorado. Para defender a posição de que a mulher nunca exercer papel de liderança sacerdotal na história do cristianismo, o documento traz a figura da Virgem Maria e diz que ela tem grande dignidade. Os católicos romanos a veneram, mas entendem que ela nunca celebrou uma missa, não recebeu ordenação sacerdotal e não estava entre os 12 apóstolos. Como esse exemplo de Maria, os católicos dizem que nunca teve e hoje não deve ter mulher sendo líder maior na igreja. Os católicos também afirmam que os apóstolos não optaram pelas mulheres quando escolheram os seus sucessores e que Maria não é menos digna por não ter sido ordenada. Em outras palavras, a falta de ordenação em nada macula a dignidade da mãe de Jesus é o que afirma o documento que diz: “de resto, o facto de Maria santíssima, mãe de Deus e mãe da igreja, não ter recebido a missão própria dos apóstolos nem o sacerdócio ministerial, mostra claramente que a não admissão das mulheres à ordenação sacerdotal não pode significar uma sua menor dignidade nem uma discriminação a seu respeito, mas a observância fiel de uma disposição que se deve atribuir à sabedoria do Senhor do universo”.

Outro documento que explica sobre a dignidade da mulher e a vocação dela é a Carta apostólica Mulieris dignitatem, publicada em 5 de agosto de 1988, no pontificado de João Paulo II. Existem ainda arrazoados teológicos (motivos de conveniência) para entender porque Jesus só escolheu homens e isso pode ser visto no documento Inter Insigniores, publicado em 15 de outubro de 1976, durante o pontificado de Paulo VI. O entendimento atual da Igreja Católica se embasa na tradição e nos textos bíblicos que, segundo os católicos romanos, mostram somente homens trabalhando com Jesus. Sendo assim, para a Igreja Católica vale a frase de São Vicente de Lérins, escritor eclesiástico que nasceu e morreu na França, foi ordenado sacerdote no século V e viveu no mosteiro de Lérins, que diz: “quod ubique, quod semper, quod ab omnibus”. A frase significa “o que em toda parte, sempre e por todos foi ensinado, isso é um ensinamento infalível da igreja católica”. Ou seja, é assim porque sempre foi assim. A mulher não é ordenada porque nunca foi ordenada e essa é uma doutrina da igreja e não uma disciplina.

A posição de um presbiteriano sobre a ordenação feminina

Ao ser questionado se tem base bíblica para a mulher ser pastora, o teólogo Augustus Nicodemus disse, em vídeo postado no YouTube, que é a favor do ministério feminino, mas não do ministério feminino ordenado. Afirma que o papel das mulheres na igreja é essencial e o Antigo Testamento traz exemplos importantes de Hulda e Débora. Também houve mulheres que serviram no ministério de Jesus. Paulo agradece às mulheres como Priscila, Maria e Febe. Jesus honrou as mulheres e lhes deu um lugar que não tinham em Sua época. Ele falou com a samaritana. O judeu não falava com samaritano e muito menos com mulheres samaritanas. Jesus tocou na mulher pecadora e prostituta que foi ao jantar e ungiu os Seus pés. O judeu ortodoxo não teria aceitado aquele ato de unção.

Nicodemus acredita que, sem as mulheres, não teria como organizar as igrejas, o trabalho missionário e as famílias.  Mas a questão do pastorado, segundo ele, não se encontra na lei de Deus. O Antigo Testamento deixa claro que a mulher não era sacerdotisa. Ela exercia a função civil de ser juíza como Hulda. Débora foi profetisa, mas ser profeta não era ofício. O ofício, aquela pessoa separada para se dedicar ao governo do povo de Deus, era cargo masculino no Antigo Testamento. O sacerdote era separado, ungido e se tornava líder espiritual da nação de Israel. Somente os homens exerciam o sacerdócio.

Outro argumento usado pelas pessoas que não concordam com a ordenação feminina é que no Novo Testamento Jesus escolheu 12 homens, mesmo tendo dado apoio às mulheres. Ele poderia ter escolhido alguma mulher, mas não o fez. Existiam várias mulheres que poderiam ter sido escolhidas para serem apóstolas como Maria, a mãe de Jesus, Maria Madalena e outras importantes senhoras da nobreza que sustentaram Jesus. Outro argumento usado é que, quando Judas traiu Jesus, abriu-se uma vaga no colégio apostólico e os 11 apóstolos escolherem outro homem para fazer parte do grupo. Em Atos 1 diz que naquele momento existiam várias mulheres, mas os apóstolos escolheram um homem. Outro versículo usado pelos que não aceitam a ordenação feminina é Atos 6 que afirma que as viúvas estavam sofrendo na distribuição de alimentos e os apóstolos disseram para escolher sete homens, chamados de diáconos, para cuidar daquele assunto. Em 1 Timóteo 3 e Tito 1, quando Paulo dá as qualificações do pastor, diz que tem que ser marido de uma só mulher e governar bem a sua casa. Na Bíblia, diz Nicodemus, é evidente que o cargo de liderança eclesiástica e da família está reservado, por Deus, para o homem cristão capacitado. Não se defende que o homem seja melhor do que a mulher. Deus deu diferentes funções.

Ainda existem outros versículos comentados pelos que não aceitam as mulheres como pastoras. Muitos questionam: por que o apóstolo Paulo disse que não permite que a mulher exerça uma função de autoridade e que ensine usando uma autoridade que pertence ao homem? Por que ele disse que a mulher deve se portar na igreja como alguém que está debaixo de autoridade? Lê-se isso em 1 Coríntios 11, 1 Coríntios 14 e Efésios 5 (quando se define o papel do homem e da mulher no casamento) e em 1 Timóteo 2. Várias passagens mostram que, da perspectiva bíblica, o ministério feminino deve ser realizado, mas é vedado o exercício da autoridade espiritual, consagrada e ungida, por parte das mulheres. Nicodemus diz que a argumentação que justifica isso é teológica. Muitos dizem que Paulo fez essas afirmações porque estava preso à cultura da sua época, mas ele também usa argumentos teológicos e bíblicos.

Paulo apela para a teologia ou para a Bíblia para argumentar. Em 1 Coríntios 11 ele diz que a mulher tem que estar debaixo de autoridade. Diz que Deus é o cabeça de Cristo, que é o cabeça do homem, que é o cabeça da mulher. Ou seja, um argumento baseado na Trindade. Começa na Trindade e chega até a relação do homem e da mulher no que diz respeito ao contexto da igreja. Esse é um argumento doutrinário e não cultural. No mesmo capítulo Paulo diz que a mulher não pode ocupar a posição de autoridade porque primeiro Deus fez o homem e depois a mulher. A mulher foi feita por causa do homem e não o contrário. Ela foi retirada do homem e não ele dela. Na sequência da criação, Paulo vê uma pré-ordenação divina sobre os papéis diferentes que cada um deveria exercer tanto no casamento quanto na igreja. Em 1 Timóteo 2, quando ele diz que não permite que a mulher ensine e nem exerça a autoridade de homem, é porque Adão não foi enganado, mas a mulher sendo enganada caiu em transgressão. A interpretação é de que a mulher, estando sob a orientação de seu marido no jardim do Éden, não o ouviu, ultrapassou seu limite de comando, foi conversar com a serpente e foi iludida. Por isso, quando Deus deu a sentença do castigo, disse à mulher que o desejo dela seria para o marido e que ele a dominaria. Do ponto de vista bíblico, o papel da mulher e do homem são diferentes. Embora Cristo seja o redentor da humanidade, esses papéis não são abolidos no Novo Testamento. Todos são remidos, salvos, homens e mulheres recebem dons equivalentes, mas o exercício do governo espiritual da igreja e do lar é para o homem. Esses são alguns argumentos usados pelos defensores da não ordenação feminina.

A pregação das mulheres nos primeiros avivamentos

Não é de hoje que as mulheres são desconsideradas como pregadoras e pastoras. Basta dar uma olhada nos livros que encontraremos muitos casos. Os séculos 18 ao 20 foram marcados por avivamentos na Europa e nos Estados Unidos e sabe-se de histórias de muitas mulheres que foram pregadoras do Evangelho e outras que foram impedidas de exercer esse ofício. Para que muitas mulheres pregassem com liberdade, foi necessário ter permissão dos líderes evangélicos. O papel feminino no século 18 era restrito e elas eram consideradas intelectualmente inferiores. A mulher vivia sempre à espera de uma direção, de um homem que dissesse o que ela poderia ou não fazer, vivia na submissão e não influenciava a sociedade. Sobre questões de religiosidade, a mulher também era considerada incapaz. A ideia era de que ela não compreendia as razões do crer e deveria seguir a religião e as ordens do marido.

Em um mundo iluminista onde imperava o deísmo e o ateísmo, algumas mulheres ousaram ir além. Por exemplo, a escritora inglesa Mary Astell (1666-1731) redigiu, em 1705, o livro “A religião cristã como professada por uma filha da igreja da Inglaterra”, colocando seu pensamento em oposição ao de John Locke. Astell defendeu a competência religiosa e intelectual das mulheres. Já Susanna Wesley (1669-1742), mãe de John Wesley, criador do metodismo, nasceu em Londres e, mesmo sem ser ordenada, exerceu a função de pastora. Ela lia sermões, orava e aconselhava o povo inculto da paróquia. Conta-se que muitas pessoas, que há anos não frequentavam o culto, retornaram à igreja para ouvi-la. O seu marido, Samuel, ficou indignado com seu trabalho de pastora. Como podia uma mulher, a sua esposa, orar e exortar publicamente? Não era desejável que ela dirigisse o culto por ser mulher. Susana respondeu que era mulher, mãe de uma família e sabia que o marido tinha a maior responsabilidade pela igreja por ser o pastor oficial. Mas, na ausência do marido, ela não poderia deixar de cuidar das pessoas. Questionou que foi Deus que a deu talento e que ela responderia a Ele sobre o trabalho que deveria realizar. O marido queria que outra pessoa lesse o sermão e não Susanna, mas ela disse que nenhuma pessoa daquele lugar sabia ler direito.

Como disse Rute Salviano Almeida, autora do livro “Vozes femininas nos avivamentos: Europa e Estados Unidos séculos 18, 19 e início do século 20”, é necessário conhecer a voz feminina na pregação e no ensino da Palavra de Deus porque isso motivará as mulheres a não enterrarem seus talentos.

Jornalista, teóloga e professora. É doutoranda em Teologia pela Escola Superior de Teologia, no Rio Grande do Sul. Tem mestrado em Teologia pela Escola Superior de Teologia. Pós-graduação em MBA Gestão da Comunicação nas Organizações pela Universidade Católica de Brasília. Bacharelado em Comunicação Social, Jornalismo, pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Licenciatura plena em História pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Bacharelado em Teologia pela Faculdade Evangélica de Brasília

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