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Quebrando o silêncio

Dados estatísticos revelam o quanto as crianças brasileiras são aviltadas por várias formas de maus-tratos.

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Abusos
Abusos (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

“Seja a voz daqueles que não podem falar por si mesmos e defenda os direitos dos que foram destituídos de seus direitos.” (Provérbios 31:8)

Ao ler este texto da Palavra de Deus deveríamos nos sentir convocados a ser voz daqueles cuja as vozes foram roubadas e a lutar pelos direitos dos que foram destituídos dos seus direitos e de fato nos movermos em direção aos que como na parábola do bom samaritano encontrada no Evangelho de Lucas 10: 25-37 foram deixados a beira do caminho.

Nossa tendência muitas vezes é nos desviarmos, e passarmos de largo como fez o sacerdote e o levita descritos no texto bíblico, somos muitas vezes embrutecidos em nossa compaixão, pois as desolações e as imagem habituais de pessoas em miséria já não despertam em nós o desejo de ajudar, parece que elas se tornaram parte da paisagem urbana que nos cerca.

Entretanto, nosso Senhor nos indica que devemos ser próximos dos necessitados. E entenda isso não como algo metafisico, como algo que fica somente no mundo das ideias e sentimentos. Somos chamados a exercemos ações práticas, somos encorajados a arregaçarmos as mangas e partirmos para intervenções reais, como fez o samaritano, que segundo descrito ao ver o homem caído a beira do caminho foi movido por compaixão e realizou as seguintes ações:

  • Primeiro ele parou, interrompeu o seu percurso, e fez parada em um lugar perigoso, porque se assaltaram o rapaz antes naquele exato local, ele também poderia ser assaltado. Quer dizer que ele valorizou mais a vida do outro do que a sua.
  • Segundo ele se aproxima e enfaixou-lhe as feridas, derramando vinho e óleo sobre elas. Usa daquilo que provavelmente estava separado para ele mesmo como provisão e realiza os primeiros socorros necessários. Ele abre mão do que era seu, ele dividiu, ele compartilhou.
  • Terceiro ele toma o moço e coloca-o sobre o seu próprio animal. Isto quer dizer que ele abre mão do seu conforto em detrimento do outro.
  • Quarto ele o leva para uma hospedaria para cuidar melhor dele. Ele acolhe e se doa em termos de tempo alterando o seu percurso para que aquele moço largado a beira do caminho pudesse ter os cuidados necessários.

Trazendo esta parábola para os nossos dias

Quantos estão nas ruas, nas praças, nos becos porque foram traídos, feridos e deixados no caminho?

Quantos destes largados no caminho perderam a vontade de viver e foram roubados de sua existência?

Homens, mulheres e crianças que se entregaram ao desespero e que hoje não tem mais forças para se levantarem.

Dentre os largados a beira do caminho quero destacar nossas crianças e adolescentes.

Dados estatísticos revelam o quanto as crianças brasileiras são aviltadas por várias formas de maus-tratos.

No Brasil, é ainda muito precária a disponibilização de dados para medir o tamanho real do fenômeno do abuso e da violência contra crianças e adolescentes. Seja porque há uma falta de integração dos órgãos responsáveis e despadronização dos dados coletados ou até porque, mesmo com estes números de notificações e denúncias, ainda há um grande problema a ser enfrentado: a subnotificação.

Estima-se que apenas entre 7% e 10% dos casos de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes sejam, de fato, notificados às autoridades. Portanto, os números de casos coletados revelam somente a ponta do iceberg.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que anualmente cerca de 75 mil crianças e adolescentes são vítimas de alguma forma de violência no Brasil. Ou seja, por dia, estima-se que 205 crianças sofrem algum tipo de abuso, o que corresponde a 8,5 crianças/adolescentes vitimizados por hora, o que perfaz 7 crianças/adolescente vitimizadas por minuto.

A Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na Infância indica que das denúncias recebidas pelo disque 100, 22% delas eram relativas à abuso físico, 24%, abuso psicológico, 40% negligência, 11% abuso sexual e 3% exploração do trabalho .

Pesquisas mais recentes feitas por entidades que trabalham em parceria com o Ministério da Justiça indicam que a cada 11 minutos uma criança brasileira entre 0 a 14 anos é vítima de estupro, ou seja, 47 mil crianças por ano são vítimas de estupro na nação brasileira: 85,7% dos casos são contra meninas; 14,3% contra meninos. Na população masculina, a maior parte das vitimizações se encontram no grupo entre 4 a 9 anos de idade, com seu ápice aos 7 anos de idade; entre as meninas, estima-se que 53,6% das vítimas tinham no máximo 13 anos, tendo seu ápice de vitimização entre 12 e 13 anos de idade. Entre os bebês de 0 a 4 anos, encontrou-se o percentual de 11,2%. Em 84% dos casos, a criança é estuprada por alguém que conhece e ama; pela ordem: o pai biológico, o padrasto, tios, avôs e irmãos. Todos estes dados colocam o Brasil como o segundo país como o maior número de abusos do mundo.

Não podemos continuar fechando os olhos para essa realidade tão hedionda.

“Mas Deus ouviu o choro do menino e, do céu, o anjo de Deus chamou Hagar: Que foi, Hagar? Não tenha medo! Deus ouviu o menino chorar, dali onde ele está. Levante-o e anime-o.” (Gênesis 21:17-18)

Da mesma forma que Deus ouviu o choro de Ismael e mandou um anjo trazer alento e ânimo a Hagar, assim também nós somos chamados à responsabilidade de lutarmos por nossas crianças e sermos sinais de um Deus que cuida e ama a humanidade.

Para instrumentalizar você, sua família, comunidade e igreja contra o abuso sexual e a violência contra a criança e adolescente entrego uma ferramenta que é fruto de 12 anos de trabalho com pessoas abusadas.

Neste livro escancaro a cruel realidade dos diferentes tipos de abusos e as principais modalidades de maus tratos perpetrados às crianças e adolescentes, e fundamenta a compreensão do fenômeno da violência doméstica.

Somado a isso, trago luz na identificação do abusador, por meio da descrição e conceituação dos perpetradores, pedófilos e estupradores; além da configuração do ciclo de excitação do pedófilo, das técnicas e das estratégias de enganação utilizadas por eles.

Semelhantemente, procuro identificar características da criança/adolescente que possam favorecer a aproximação do abusador, assim como, os sinais e sintomas manifestos pela criança após ser perpetrado o abuso e as ressonâncias emocionais, interpessoais, comportamentais, cognitivas e físicas decorrentes do abuso sexual.

Igualmente importante, proponho uma reflexão sobre algumas formas de prevenção, auxiliando-nos a analisar as situações que envolvem as inter-relações e classificá-las como de alto e de baixo risco, bem como os riscos que a Internet propicia.

Finalmente, traço o perfil do conselheiro e do agente de proteção e de suas possíveis atuações na prevenção e identificação do abuso e da promoção do bem-estar social, bem como, proporcionar um “lugar afetivo”, seguro e acolhedor onde o abusado possa ser ouvido, visto e aceito incondicionalmente, para que o processo de cura dos traumas decorrentes de abusos aconteça.

Você pode adquirir o seu exemplar pelo site.

Pastor, psicólogo (CRP 43974-6). Doutor em Psiquiatria (FMUSP). Mestre em Ciências Médicas (FMUSP). Especialista em aconselhamento, professor na Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Visite: www.gaip-saude.com.br

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