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cosmovisão

O que Bíblia diz sobre as diferentes denominações?

Nenhum apóstolo fala contra a ideia da existência de diferentes denominações.

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Igreja em meio ao trigo

Olá, amigo(a) leitor do Gospel Prime!

Hoje, vamos tentar responder duas perguntas que estão na boca de muita gente: Deus é contra a existência de diferentes denominações? O que a Bíblia tem a dizer sobre os chamados “desigrejados”?

Outro dia recebi uma mensagem no WhatsApp em que um teólogo relativista tentava inferir que Deus é contra a existência de diferentes denominações entre as igrejas evangélicas, torcendo as palavras do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 1:10, onde ele diz: “Vivam em harmonia uns com os outros e ponham as divisões fim às divisões entre vocês” (NVT).

Ora, a exegese clara deste verso, à luz do seu contexto na carta de Paulo aos Coríntios, é que Paulo está encorajando um grupo de irmãos imaturos da igreja de Corinto que eram facciosos e competiam entre si por popularidade e proeminência; supervalorizavam personalidades, e portanto, nunca conseguiam chegar à unidade na doutrina.

Neste contexto em particular, Paulo se refere à doutrina na congregação local, não à unidade da igreja como um todo espalhada pelo mundo. Muito embora, quando uma igreja local se mantém unida num mesmo parecer bíblico, ela bem representa todo o corpo místico de Jesus, onde quer que esta igreja se reúna. É lógico que a unidade doutrinária está completamente baseada na Palavra de Deus, e é a garantia da saúde espiritual e vitalidade da igreja (Jo 17:11; At 2:46-47). A terminologia grega usada por Paulo na expressão “inteiramente unidos” implica em “consertar ossos quebrados”, ou seja, identificar pontos onde a doutrina está quebrada para que possam ser reunidos e calcificados em unidade.

Assim, fica evidente que nem Paulo nesse texto, ou nenhum outro apóstolo, em texto algum da Bíblia, fala contra a ideia da existência de diferentes denominações.

Mesmo no primórdios da igreja primitiva, cada igreja tinha sua própria personalidade – liturgias, ou costumes peculiares, dons espirituais mais evidentes, pecados característicos dos quais precisava se desvencilhar. Contudo, uma vez que a personalidade da igreja não maculasse os fundamentos basilares da fé, os que uma igreja local tivesse em relação a outra(s) não deveria ser motivo de intriga, como Paulo ordena em Rm 14. Meu pai costuma dizer: “Igreja é com pizzaria, e existem pizzas de todos os sabores”. Eu entendo o que ele quer dizer; ou seja, como tem igreja para todos os gostos, ninguém pode dar a desculpa: “Não gosto de nenhum sabor”.

Eu gosto muito de uma frase que vi num post do Instagram outro dia que dizia: “Congregue na igreja mais perto da sua Bíblia, mesmo que ela fique longe da sua casa”. Orientação mais direta e minimamente suficiente que esta é impossível.

Os cultos, ou reuniões para adoração, nos dias da igreja primitiva, além de acontecerem no templo (At 5:42; 2:46), ocorriam também na casa de certos membros, e por vezes, recebiam o nome dos donos da casa onde os cultos eram feitos sistematicamente (Rm 16:5); ou o nome da cidade, como por exemplo, a igreja em Filadélfia (Ap 3).

Nos nossos dias, “a placa da igreja” que inclusive pode ser modificada caso haja um consenso entre a membresia, serve aos mesmos propósitos que serviam os nomes das igrejas nos dias dos apóstolos: identificação, pura e simplesmente.

Por outro lado, o que nunca existiu, nem nos dias da igreja primitiva e nem na Bíblia, foi “uma igreja sem nome” e nem “sem espaço para se reunir sistematicamente”, ou não poderia ser identificada e nem encontrada. Isso é uma questão de simples lógica aristotélica.

Um dos argumentos que o teólogo usou para tentar formular a tese dele contra as denominações foi afirmar: “Se você pertence a uma igreja fundada por um homem, você não pertence à igreja de Jesus”.

De fato, com esta afirmação, eu tenho que concordar: nunca existiu uma igreja bíblica fundada por homens. Ele só esquece que, ao menos entre as denominações de cristandade histórica, nenhum homem fundou “uma igreja” ou “uma nova igreja”; simplesmente, homens foram usados por Deus para reorientar um povo em direção à Sã doutrina, e de costumes afins, que não ferissem os fundamentos basilares da fé cristã.

Não é antibiblico que as denominações tenham orientadores no seu processo de fundação. E francamente, não conheço nenhum presbiteriano que adore Calvino, ou um metodista que adore John Wesley, em lugar de adorar a Deus (embora eu desconfie que exista). Ainda assim, isso não colocaria toda uma denominação a perder. E nem seria justificativa para demonizar o significado e significância da existência das várias denominações.

Agora, quando se pensa em espaço físico único (que não a casa de alguém) para a realização, como igreja, de cultos hoje em dia, o entendimento que se deve ter sobre a vantagem disto é com base nas seguintes razões:

1 – O dono da casa correria o risco de sentir-se também o “dono da igreja”. O que não acontece quando a igreja escolhe um prédio neutro pra se reunir. Principalmente, ao modelo das igrejas históricas, cujo governo é, por vezes, congregacional. Ou seja, o pastor não manda. Quem manda é Jesus. O pastor é apenas o transmissor da Palavra de Deus – e ela sim, deve ser obedecida. Eu gosto de como John Mcarthur coloca isso de forma simples e direta. Ele diz: “Eu não mando na igreja, quem manda é Jesus. Sem ela eu não tenho o que dizer. Minhas opiniões pessoais não servem pra ninguém. Na verdade, minha mulher tem opiniões melhores do que eu. Minha única autoridade vem da Palavra. É a Palavra de Deus que a minha igreja deve escutar”.

2 – O dono da casa pode decidir não querer receber “todo tipo de pessoa” (com todo direito); ao passo que um lugar neutro como igreja, deve ter sempre portas abertas para todos os pecadores.

3 – O espaço em que a igreja se reúne deve ser respeitado como espaço idealizado para culto. É por isso que não alugamos o prédio da nossa Igreja Batista Candelária para balada, em noites que não realizamos culto, por exemplo. Exatamente para respeitar o propósito do lugar. Isto é apenas respeito ao símbolo, não idolatria ao prédio. O argumento de muitos desigrejados de que os crentes “idolatram o prédio” não passa de argumento ad hominem, muitas vezes.

4 – Num espaço neutro – não de uma pessoa, há um senso maior e verdadeiro de pertencimento. Pois o lugar é de todos, e todos de Deus.

5 – Um lugar de todos promove um maior sentimento de responsabilidade pelo zelo do lugar, da visão, e da missão da igreja, por parte dos membros. Responsabilidade esta que tende a recair sobre as costas do dono da casa em muitos casos, quando a igreja opta por se reunir sistematicamente na casa de uma só família.

6 – As reuniões de cultos sistemáticos na casa de uma família, principalmente, quando acontece várias vezes na semana, pode virar motivo de desavença na família. Os filhos podem por exemplo passar a se queixar de falta de privacidade e de necessidade de mais espaço.

7 – Para o caso da igreja começar a crescer em número (o que é de se esperar), passa a ser impossível a reunião sistemática da igreja inteira na casa de alguém. A não ser que a casa seja um casarão.

8 – Fracionar os grupos de uma mesma igreja em várias casas diferentes, sem promover encontros sistemáticos do grupo total de membros da igreja, desconfigura o padrão bíblico de koinonia, uma vez que isso não promoveria o alvo da comunhão de todos os membros. Encontro de célula é uma ótima ideia; mas uma célula é apenas parte de um todo, e precisa mirar na comunhão com o todo – todo o corpo da membresia.

Enfim, A Bíblia, além de um livro inspirado por Deus, é também um livro intercultural e atemporal. O conteúdo dela é irretocável, mas os métodos de aplicação das verdades nela contidas respeitam as demandas logísticas de um mundo moderno. Deus sabe, melhor que ninguém, que existem costumes que embora fossem naturais para um povo de uma determinada época, por contraste, são de improvável ou difícil aplicação no contexto de mundo do nosso tempo.

Diante disso, reforço o convite que li na postagem que mencionei antes neste artigo: “Congregue na igreja mais próxima da sua Bíblia…”

Que inatacável, libertadora, e oportuna verdade em dias de pregações feitas “sob demanda” para agradar o consumidor; pregadores que mais se parecem com “stand-up comedians” e não arautos do evangelho; e de cristãos carnais, oportunistas e indulgentes, que pulam de igreja em igreja por quase qualquer motivo, como quem troca de roupa… até que, alguns, no fim, sob a desculpa falaciosa, preconcebida e generalizante de que “todas as igrejas estão corrompidas” acabam fundando “as suas próprias igrejas”. Outros, torcem uma dúzia de versículos bíblicos para tentar provar a falência da igreja como instituição divina ou a obsolescência do local referencial para reuniões de adoração, demonizam as placas denominacionais da cristandade histórica, se lançam nos braços do liberalismo teológico, da chamada “hiper graça”, do desigrejacionismo, do teísmo aberto e passam a costurar consciente ou inconscientemente a sua teologia como uma espécie de “colcha de retalhos sócio-político-teológico-militante”.

Diante deste conturbado e triste cenário, pego emprestadas as palavras de Martyn Lloyd Jones, o maior expositor bíblico do século XX: “Ninguém resistirá ouvir por vários dias a genuína Palavra de Deus e não ter uma reação. Duas coisas vão acontecer: ou os pecadores saem da igreja ou eles se convertem”.

Bacharel em teologia pela Faculdade Teológica e Apologética Dr. Walter Martin e mestrando em teologia ministerial pela Carolina University - Winston-Salem/NC/EUA. Pastor sênior da Igreja Batista Candelária em Candeias, PE, desde 2016. Escritor - autor do livro: Endireita-te com Deus - 7 Passos para uma Vida Emocional e Espiritual Plena. Casado com Shirley Costa, e pai do João Gabriel.

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