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estudos bíblicos

O que a Bíblia diz sobre doação de órgãos?

O amor que gera vida e gratidão.

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Médicos em meio à uma operação (JAFAR AHMED / Unsplash)

Exemplos de doação na Bíblia

É fato que a Bíblia não fala, senão metaforicamente, do transplante de órgãos. Sobre o transplante espiritual que faria no povo de Israel, o Senhor diz: “E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne” (Ez 11.19; 36.26). É sobre a conversão do povo judeu que o Senhor está falando aqui, não de um transplante literal, até porque literalmente ninguém tem coração de pedra (esta é uma metáfora para o homem que é resistente ao chamado de Deus para arrependimento).

Óbvio, nos tempos bíblicos a ciência não gozava de tão grandes avanços como os que podemos contemplar hoje. O médico francês Jean Bernard (1908-2006) dizia que “A medicina evoluiu muito mais nos últimos cinquenta anos do que nos cinquenta séculos que nos precederam” [6].

Ainda na primeira metade do século I, escrevendo aos gálatas o apóstolo Paula fala do amor daqueles crentes quando uma nova comunidade de fé foi implantada ali em meio a grave enfermidade que o apóstolo sofria: “…Tenho certeza que, se fosse possível, vocês teriam arrancado os próprios olhos para dá-los a mim” (Gl 4.15, NVI).

Aquele apóstolo que escrevia com “letras grandes” (Gl 6.11) por acaso padecia de alguma doença nos olhos? Talvez, mas não sabemos exatamente. Mas Paulo mesmo testemunha que os gálatas, caso a medicina lhes permitisse naquele tempo, teriam feito transplante caso necessário para devolver àquele pioneiro da fé a sua saúde.

Não obstante, temos na Bíblia o que mais importa: os princípios morais que norteiam todas as nossas crenças e práticas, seja em que tempo for e sobre que assunto for! Assim, a Bíblia não precisa falar diretamente sobre doação de órgãos para ter uma palavra autoritativa nessa questão. Basta que ela estabeleça os fundamentos da empatia, do altruísmo, da misericórdia e do amor fraternal, como de fato estabelece, para que então saibamos como proceder sobre esta questão.

Empatia: sentir a dor do outro

A definição mais comum de empatia é a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende, etc. É colocar-se no lugar do outro para sentir seus próprios sentimentos. Ainda que contra a vontade, por um momento os acusadores daquela mulher adúltera sentiram empatia por ela quando Cristo lhes sugeriu: “Quem não tem pecado atire a primeira pedra”. Certamente alguns daqueles pecadores, ávidos pelo juízo alheio, sentiram as pedradas em suas próprias costas, e então, um por um se retirou de diante de Jesus e da mulher a quem buscavam matar.

A Ética Cristã deve ser favorável ao transplante de órgãos, haja vista nosso próprio Senhor Jesus Cristo ser empático aos homens. Senão vejamos: “Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2.11); “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15).

Nesses dois versículos percebemos o quanto Jesus é solidário com a raça humana, tão solidário que assumiu forma humana para sentir nossa dor e nossas limitações e pleitear como nosso irmão e também nosso sumo sacerdote o socorro de que tanto necessitamos. Se Jesus se humanizou (sem deixar de ser espiritual), por que nós, cristãos nos espiritualizaríamos à custa da humanização? Digo, por que seríamos alheios à dor do nosso semelhante, endurecendo nosso coração para aqueles que precisam de algo que podemos lhes dar? “Chorem com os que choram” nos ordena a Bíblia (Rm 12.15). Sintamos a dor dos que sofrem e providenciemos tanto quanto possível, ainda que compartilhando literalmente um pedaço de nós, o alívio para seu sofrimento.

Altruísmo: fazer o bem de livre vontade pelo outro

Altruísmo é uma palavra de origem francesa (altruisme) que significa atitude de amor ao próximo ou ausência de egoísmo. É a atitude filantrópica, desobrigada, voluntária e espontânea, motivada não por pressão e coação, mas por uma vontade livre de fazer o bem ao outro, sem esperar recompensa daquele a quem o bem é feito.

A doação de órgãos não é obrigatória. Ninguém responde criminalmente por não fazê-lo. Também em virtude de nenhuma sentença bíblica que a ordene explicitamente, não poderíamos dizer que pecam aqueles que não doam órgãos. Todavia, visto que a doação de órgãos não deve impor dano à saúde de quem doa (ainda que haja um risco, admitimos) e pode dar vida a quem padece alguma enfermidade, tal atitude está entre as mais elevadas demonstrações de altruísmo. A saúde renovada e o sorriso daquele que recebe o órgão doado, o alívio e a alegria no coração dos parentes do enfermo, e os anos de vida que lhe são acrescentados em virtude do transplante bem-sucedido… tem dinheiro que pague isso? O altruísta fica por demais feliz em converter lágrimas em sorrisos!

Ainda que o doador ou a família não receba nenhum pagamento e mesmo que nunca venha a conhecer o receptor daquele órgão doado, sem dúvidas a atitude espontânea de doar parte de si para alguém não ficará sem a justa retribuição divina (Hb 6.10). Se aquele que dá um copo de água fria aos pequeninos do Senhor não ficará sem seu galardão (Mt 10.42), imagina aquele que doar um órgão, muito mais valioso que um copo d’água! De modo algum sugiro aqui salvação por obras, antes, dirigindo-me aos cristãos, professores e alunos da Escola Bíblica Dominical, exorto-os a demonstrarem através de boas obras sua salvação já recebida pela fé (Tg 2.18)! Assim fazendo, “recompensado te será na ressurreição dos justos” (Lc 14.14). Ressurreição dos justos esta na qual todos os santos do Senhor tomarão parte, e pela qual nosso corpo que foi sepultado fraco, deficiente, corrompido ou com algum órgão faltando, “ressuscitará em incorrupção… com vigor… corpo espiritual” (1Co 15.42-44). Pode ficar muito tranquilo que ninguém vai sentir falta de absolutamente nenhum órgão ou nenhuma célula sequer no novo corpo ressurreto, corpo glorificado como o do nosso Senhor Jesus!

Misericórdia

Bem-aventurados os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia, disse Jesus no sermão do monte, onde princípios éticos universais e atemporais foram estabelecidos (Mt 5.7). Misericórdia é compaixão, é ter dó do outro.

Tomemos como exemplo de misericórdia, o samaritano da parábola contada por Jesus (Lc 10.30-35). Ao deparar-se com um homem caído e ferido, devido violência infligida por assaltantes, não foi indiferente como os religiosos que já haviam passado por aquele mesmo caminho. Antes, parou, prestou os primeiros socorros, conduziu o desconhecido ferido para uma hospedaria e ainda assumiu todas as despesas pelo seu tratamento médico.

Vale perguntar: se aquele homem ferido tivesse necessitado de um transplante e se aquele “bom samaritano”, em virtude da pronta misericórdia que demonstrou tivesse as condições que temos hoje, não teria ele também doado parte de si para o enfermo? Certamente sim. Ao menos doação de sangue ele teria feito para ajudar aquele que foi tão machucado no caminho e deixado “quase morto” (v. 30).

Esta parábola também serve para nós hoje, a fim de que não sejamos o sacerdote ou levita sem compaixão, mas o samaritano que se compadece e presta socorro a quem precisa. Como disse Jesus: “Vá e faça o mesmo” (v. 37).

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Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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