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O Bom, o Mau e o Vilão – 2020 em Revisão!

O ano 2020 terminou, e muita gente afirma que foi o pior ano dos últimos cem anos.

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Ano 2020
Ano 2020 (Foto: Reprodução/Pexels)

Em 1966, Sergio Leone, realizou um dos filmes mais emblemáticos do cinema: “O Bom, o Mau e o Vilão” – o expoente do Western Spaghetti. Com música incomparável de Ennio Morricone e uma inesquecível representenção de Clint Eastwood, o filme retrata a vida de três pistoleiros que procuram uma grande quantidade de ouro enterrado num cemitério. Ao longo do filme saberemos mais sobre a vida do bom, do mau e do vilão.

O ano 2020 terminou, e muita gente afirma que foi o pior ano dos últimos cem anos; outros dizem que Deus enviou um toque de alerta à humanidade; outros ainda ousam prever que nada será como dantes e que as pessoas serão melhores e mais engajadas com os problemas comuns do mundo em que vivemos. Por mim, creio na palavra de Eclesiastes 1.9: “Nada há de novo debaixo do sol”. Foi um ano repleto de coisas boas, coisas más e muita vilania. Porventura, o Salmo 90 poderá ajudar a fazermos um balanço de 2020. Veremos o Bom, o Mau e o Vilão em ordem contrária para fecharmos com uma palavra de Esperança.

O Vilão

O Salmo 90 é o único Salmo escrito por Moisés no saltério e foi escrito para as tribos de Israel no deserto que enfrentaram muitas dores no seu caminho para a terra prometida. Ao longo da sua vida, Moisés viu em primeira mão as dores da humanidade, e a vida transitória sob o sol. O pano de fundo do Salmo é a rebelião de Israel no deserto, tal como registado no livro de Números. O Senhor fez um grande julgamento sobre Israel: “Morrerão certamente no deserto”. Lemos em Números 32: “E a ira do Senhor se acendeu naquele dia, e jurou, dizendo: Certamente nenhum dos homens que subiram do Egipto, de vinte anos para cima, verá a terra que jurei dar” (Números 32.10).

Deve ter sido terrível para Moisés ver uma geração inteira morrer no deserto, sem entrar na terra prometida. Lemos que os irmãos de Moisés, Aarão e Miriã, também morreram no deserto. Tudo o que Moisés conhecia era um mundo de morte, após a sua saída do Egipto. Aqueles que ele amava, os mais próximos da sua família e amigos, morreram diante dos seus olhos. Conseguem imaginar a sua dor? Podemos apreciar melhor a dor de Moisés nas seguintes palavras: “Devolvei o homem ao pó e dizei: “Regressai, ó filhos do homem”! Durante mil anos à vossa vista são apenas como ontem, quando já passou, ou como um relógio na noite. Varrem-nos como com uma inundação; são como sonho, como erva que se renova de manhã: de manhã floresce e se renova; à noite desvanece-se e murcha” (Sl 90.3-6).

Talvez Moisés tenha pensado na maldição pronunciada na criação: “Do pó foste tirado, e ao pó voltarás” (Gn 3.19). Esta é a fatal realidade da vida. Estamos todos a morrer. A morte não tem favoritos. Ela é democrática. Vem para nós e para os nossos filhos; ela chama num momento, e redirecciona completamente as vidas para um novo caminho de dor. A iminência da morte foi uma realidade em 2020. A morte é o vilão (a vilã!) sempre presente neste mundo danificado.

O Mau

Entretanto, as coisas pioram para Moisés e para nós. Pelo caminho, ele comete um pecado público que desonrou o Senhor. Ele teve um ataque de raiva e feriu uma segunda vez a rocha. A rocha representava Cristo ferido pelas nossas transgressões uma vez, e apenas uma vez. Como consequência, a mesma tristeza que se abateu sobre Israel recairia sobre Moisés.  Ele também morreria fora da terra prometida. Moisés capta de forma sentida este drama de vida, numa conclusão arrebatadora: “Porque fomos consumidos na Tua ira, puseste as nossas iniquidades perante Ti, os nossos pecados secretos à luz do Teu rosto” (Sl 90.8).

O pecado é o maior problema para todos os que habitam debaixo o sol. O nosso maior problema não é o declínio dos valores Bíblicos, nem a recessão pós Covid-19, nem o racismo pontual, nem a perversa ideologia do género, nem a ressaca do colonislismo, nem umas estátuas derrubadas, nem um presidente boçal, nem um mau casamento, nem um mau pastor que coloca em causa a autoridade da Bíblica, nem mesmo a nossa saúde. Demasiadas pessoas fizeram destes desvios o elemento principal das suas vidas, em 2020. Erro! Erro terrível! Tudo isso são trivialidades. No panorama geral, têm pouco valor. A nossa maior preocupação deve ser a realidade resumida no Catecismo de Heidelberg: “Deus está terrivelmente zangado com o pecado com que nascemos, assim como com o pecado que cometemos pessoalmente. Como juiz justo castiga-os a ambos agora e na eternidade”.

Concordemos ou não, todos nos encontramos nesta angustiante situação perante o Senhor do Universo. A dor de 2020 é prova de que estamos debaixo deste veredicto espiritual. A convocatória pode vir a qualquer momento: Esta noite Deus pode pedir a tua alma. A nossa rebelião contra Deus, o nosso afastamento da Sua vontade, a nossa aceitação da mentira de Satanás, tem uma recompensa: a morte. Depois vem o Juízo. O pecado é o mal (o mau!) – não apenas de 2020 – desta ordem de coisas em que vivemos. No entanto, Moisés traz uma palavra de esperança neste Salmo.

O Bom

Muitas vezes, a esperança deste Salmo reside no versículo 12: “Ensina-nos e a contar os nossos dias para alcançar corações sábos”. Moisés, no entanto, apela a algo muito mais forte. Haverá uma forma de escapar à terrível situação em que nos encontramos? Para “quem conhece o poder da sua cólera?” (ver vs. 11)? Na sequência da pergunta, vem um apelo sincero ao Senhor: “Satisfaz-nos pela manhã com o Teu amor inabalável, para que nos regozijemos e sejamos felizes todos os nossos dias. Faz-nos felizes por tantos dias como nos afligistes, e por tantos anos como vimos o mal” (Sl 90.14). Moisés escolhe aqui uma bela palavra “hessed” que carrega a ideia de amor em aliança; amor misericordioso, fiel, amável, bondoso e gracioso que funciona dentro da atmosfera duma aliança. Amor que nos faz felizes nos dias da aflição. Porquê? Porque estamos numa relação de compromisso com o Eterno Deus.

Sim, podemos ser felizes e viver com verdadeiro conforto nesta vida, mesmo na cara da morte. Moisés apela às boas novas que o próprio Deus anunciou. Deus prometeu um mediador, um intercessor, Alguém que poderia vir ao nosso mundo de dor e suportar por nós o castigo que os nossos pecados mereciam. Haveria Alguém que, no nosso lugar, e por nós, conheceria o poder da Ira Divina para que nós fóssemos poupados. Deus prometeu enviar o Seu filho Jesus, pelo Seu grande amor com que nos amava. Jesus fez a viagem através do deserto, suportando a ira de Deus, fazendo e sendo sacrifício pelos nossos pecados, e abriu-nos o acesso à terra prometida.

Foi isto que Moisés percebeu. Não seria ele a conduzir Israel para tomar posse da terra prometida. Um maior do que ele iria vir (é significativo que o sucessor de Moisés foi “Josué”, o nome hebraico para Jesus). Esse iria conduzir Israel para entrar no descanso da terra prometida. Isto torna o primeiro versículo do Salmo 90 mais glorioso: “Senhor, Tu tens sido o nosso lugar de morada em todas as gerações. Antes que as montanhas fossem criadas, ou tivésses formado a terra e o mundo, de eternidade em eternidade, Tu és Deus” (Sl. 90.1). Jesus é a nossa terra! Ele é nossa morada. Nosso refúgio seguro. Moisés não perderia nada. Pela fé Moisés viu a revelação do amor firme de Deus no rosto de Jesus Cristo.

2020 não foi o pior ano de todos os tempos. O Salmo 90 não é um Salmo ameaçador. Moisés afirma: “Tu és a minha terra, a minha felicidade, o meu perdão, a minha alegria, a minha sabedoria, o meu tesouro enterrado, (o meu ouro), o meu tudo, ó Adonai. Contigo nada falta!” Moisés celebra perante a morte. Há uma terra melhor, uma criação renovada, um lugar preparado para nós. Esta é a esperança do Cristão deste lado do Céu. É uma realidade mais certa que a própria morte. Quando acreditamos em Jesus Cristo, os nossos pecados são perdoados, o aguilhão da morte é retirado, e o próprio Senhor, é a nossa herança. Estas dores presentes são passageiras – não serão para sempre. Na verdade, já foram derrotadas na morte e ressurreição de Cristo. O Vilão e o Mau foram tragados na Vitória de Cristo. O BOM está reservado para nós, em Cristo.

Formou-se em Teologia na Inglaterra, exerceu trabalho pastoral durante 25 anos em Portugal e vive há 12 anos no Brasil onde ensina Inglês como segunda língua.

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