estudos bíblicos
Deus abandonou mesmo Jesus na cruz?
Análise exegética e contextual de Mateus 27:46-47 e do Salmo 22:1-2.
Salmo 22:1-2 diz:
“Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? Meu Deus! Eu clamo de dia, mas não respondes; de noite, e não recebo alívio!
“Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: “Eloí, Eloí, lamá sabactâni?” que significa: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” Quando alguns dos que estavam ali ouviram isso, disseram: “Ele está chamando Elias”.”
Como é triste observar que a falta de conhecimento histórico, bíblico e teológico podem trazer uma deturpação tão profunda na interpretação textual.
Em primeiro lugar temos que entender historicamente que os judeus mais ortodoxos não somente leem a “Tanach” (Antigo Testamento), mas decoram-na.
Nos tempos de Jesus os meninos eram alfabetizados na “Torah”. (Torah é o termo designativo com o qual os judeus fazem referência aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento bem como, às vezes, para ele todo, de Genesis a Malaquias.)
Jesus sabia ler aramaico (Língua adotada pelos judeus durante o cativeiro Babilônico) e conhecia bem as Escrituras (Lucas 4:16).
Ele provavelmente recebeu a educação básica que todo menino judeu recebia para poder ler e compreender a Palavra de Deus. Mas ele não teve grandes estudos como os outros rabinos. Sua sabedoria vinha de sua vida de comunhão com Deus.
Os meninos em Israel começavam a estudar a “Torah” (5 primeiros livros do AT) aos seis anos de idade. Aos dez anos estes mesmos meninos já sabiam a “Torah” decorada. Terminava, assim, o primeiro ciclo, o estágio inicial de educação destas crianças em Israel. À partir daí algumas retornavam às suas casas, onde aprendiam o ofício da família. Os meninos que se destacavam continuavam estudando e se aprofundavam nas interpretações da Lei.
Eles eram adotados por um rabino e continuavam frequentando a sinagoga e a escola judaica. Estes meninos extraordinários recebiam o nome de “Talmidim”.
“Talmid” é a palavra hebraica que no NT será traduzida por discípulo. “Talmidim” é o plural.
Os “Talmidim” eram os meninos que compunham a elite intelectual de Israel. Com doze anos eles já haviam decorado todas as Escrituras, os livros históricos, os livros poéticos, as Leis e os profetas.
Com quatorze anos eles debatiam as tradições orais, as interpretações dos rabinos a respeito da Lei e estavam se aprofundando naquilo que era a preciosidade da vida religiosa de Israel: Discutir como colocar em prática a Lei de Moisés.
Conclui-se, então, que um judeu adulto conhecia praticamente, se não todo, mas em grande parte, o Antigo Testamento decorado.
De posse deste conhecimento histórico voltemos para o episódio de Jesus crucificado, clamando com suas últimas forças a introdução do Salmo 22 (que era o livro dos cânticos dos judeus): “Deus meu! Deus meu! Por que me desamparastes?”.
Os Salmos ou “Hallel” (Hallel, que literalmente significa “louvor”, é composto dos Salmos 113 a 118 e é recitado em louvor aos milagres de Deus e Sua salvação da nação judaica de uma crise específica) são os vários hinos de cânticos dos Judeus, que os conhecem de cor.
Ora, com este brado Jesus NÃO estava querendo declarar publicamente que havia sido desamparado, abandonado ou que o Pai havia “virado as costas para Si” no momento mais crítico de seu ministério, isto, embora pregado e ensinado em alguns púlpitos e seminários, é um absurdo.
Como dito acima, quando Jesus cita o início do Salmo, automaticamente, os judeus sabiam que a ideia do Messias era que eles complementassem o texto, pois o tem decorado.
O que vamos perceber no “Profético” Salmo 22 é que, a atitude do Pai, com relação a Jesus na Cruz, foi exatamente o contrário do que se tem pregado e ensinado por aí.
Jesus está declarando que, a despeito de todo o sofrimento, permanece confiante e sabe que, neste momento de verter o cálice amargo o Pai estará consigo, não o abandonará. Basta ler o contexto do Salmo:
“5 A ti clamaram e escaparam: em ti confiaram, e não foram confundidos. (…) 21 Salva-me da boca do leão, sim, ouve-me, desde a ponta dos unicórnios. 22 Então declararei o teu nome aos meus irmãos: louvar-te-ei no meio da congregação. 23 Vós, que temeis ao Senhor, louvai-o; todos vós, descendência de Israel. 24 Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu. 25 Meu louvor virá de ti na grande congregação: pagarei os meus votos perante os que o temem.” (Sl 22.:5,22-25) (Grifo meu).
O (v.24) é enfático: “Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu”; esta perícope desconstrói toda a ideia de que Jesus foi deixado abandonado no madeiro, pois “o ouviu”.
Concluímos, então, que o Pai em nenhum momento esteve alheio ou ausente aos sofrimentos de Cristo na rude Cruz, antes, compassivamente assistiu e sofreu juntamente com o Filho as dores que não lhe pertenciam.
Assim também hoje, nunca pense que estarás sozinho durante a prova mais amarga de tua vida, o Senhor prometeu que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos tempos.
Jesus te ama!
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