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estudos bíblicos

As bases do pentecostalismo em Charles Fox Parham

Falta ao pentecostal a visão moderada, a ponto de não sucumbir à negligência, e o zelo para não ser engolido pelo racionalismo oco dos intelectuais de Facebook.

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O pentecostalismo é o movimento religioso que mais cresce no mundo e abarca mais de 25% da população cristã mundial. A longevidade dessas idéias se deve ao grande número de homens e mulheres que surgiram nos EUA  no início do século passado e que disseminaram idéias simples e uma interpretação diferente para as Escrituras, em contraste com as vigentes.

Esse crescimento vigoroso só tem paralelo com a avassaladora expansão islâmica no século VIII. A grande diferença é que nunca teve apoio militar, tampouco político para pavimentar seu caminho, tal como o islamismo; antes, encontrou resistência por parte das poderosas tendências culturais que fervilhavam à época.

Em nível mundial é conhecido e identificado por um corpo mais ou menos definido de conceitos e interpretação própria das Escrituras Sagradas. Entre 1900 e 1925 nos EUA, houve uma grande produção de textos, por diversos autores que de certa forma consolidaram esse corpo e muitas das ideias ainda continuam a atrair grande massa de fiéis atualmente.

O pentecostalismo foi rotulado e acabaram criando um arremedo, uma estrovenga a partir de fora, com inúmeras terminologias pretensamente científicas que tendem a repelir mais e mais o praticante do estudante do movimento. Entre eles adaptabilidade, inovação na liturgia e práticas religiosas, comunicação arrojada, estrutura organizacional etc.

Em contraste com a sofisticada teologia que se desenvolvia na Alemanha e Europa, muito a reboque das perguntas e dilemas suscitados pela filosofia, já há muito afastada da Bíblia, os textos produzidos pelos homens e mulheres da época podem até ser tomados por ingênuos e simplistas demais. Ocorre que esses documentos tiveram um efeito arrasador na sociedade e cunharam de maneira definitiva o cristianismo, enquanto a teologia do “establishment” se mantinha restrita aos redutos acadêmicos.

Dentre tantos nomes destaca-se o de Charles Fox Parham (1873–1929), norte-americano de Iowa, crescido no Kansas. Parham frequentou a escola pública, teve boa educação, queria ser médico antes de se dedicar exclusivamente ao Evangelho. Foi um homem bastante criativo ao romper com as idéias e interpretações vigentes e formular novas abordagens das Escrituras e, às vezes, chegou a ser controverso.

Parham nunca teve ensino teológico e há pouquíssimo material de estudo sobre ele. Seus textos são difíceis de encontrar e quase nada divulgados e sequer estudados pelas faculdades de teologia daqui e dos EUA.

Muito do que os pentecostais hoje pensam e praticam veio das idéias de Parham. Entre os pontos de destaque podemos apontar:

  • Cria na cura divina;
  • Defendia o envolvimento da igreja na defesa dos pobres e de certa forma foi como embrião de certos movimentos evangélicos centrados na questão social (muitos muito mais influenciados por idéias marxistas do que pelo Evangelho que se preocupa com o Reino dos Céus);
  • É chamado de o pai do pentecostalismo por ser o primeiro a articular a tese de que falar em línguas era a evidência física necessária que comprovaria o batismo no Espírito Santo;
  • Assim como os cristão do Pentecostes (Livro de Atos), ele tinha um senso de urgência aguçado sobre o fim dos tempos e todos seus escritos foram influenciados por essa noção de premência da grande tribulação, o fim da história e a vinda de Cristo;
  • Acreditava que o batismo no Espírito Santo era a receita contra satanás que concedia poderes especiais que capacitavam o cristão para a pregação do Evangelho;
  • Falar em línguas era um desses poderes. Diferentemente de pentecostais posteriores, Parham não fazia distinção entre falar em línguas como dom e como sinal do batismo no Espírito Santo;
  • Ele ensinava que existia apenas UM fenômeno “falar em línguas” – a saber – a habilidade miraculosa de falar em outras idiomas sem estudo anterior;
  • Parham, até onde sabemos, iniciou a distinção no meio pentecostal entre batismo no Espírito Santo, santificação e unção do Espírito.
  • Acreditava que o batismo no Espírito Santo era o ápice das experiências que o cristão poderia vivenciar aqui nesse mundo e que excedia todas as demais.

Parham também posicionava-se contra a estreiteza espiritual da igreja cristã vigente que recusava-se a acreditar e receber verdadeiras doutrinas bíblicas; o que acabou levando milhares ao espiritismo, teosofia, ciência cristã e a infidelidade, concluía. Sua visão era muito mais pragmática, biblicista, radical em contraste com a teologia puramente especulativa das igrejas à época.

Escreveu que depois de um estudo cuidadoso após retornar de uma viagem pelo leste do Canadá, foi tomado de uma profunda convicção de que ninguém naqueles dias estava realmente desfrutando do poder de um Pentecoste pessoal, embora muitos tivessem unção acima da média.

Defendia que tanto para o indivíduo como para a igreja o falar em línguas é uma parte inseparável do batismo no Espírito Santo e que ninguém recebeu o batismo do Espírito Santo se não tem uma evidência bíblica para comprovar isso.

Assim como o perdão é recebido como resultado de sincero arrependimento e rendição do indivíduo; a santificação é recebida como resultado de consagração; o falar em outras línguas é resultado deste batismo. O Espírito Santo condiciona o falar em outras línguas como evidência do seu revestimento genuíno, segundo Parham.

Foge ao escopo deste artigo o aprofundamento de cada um desses temas. Fato é que todos aqueles que testemunharam essa experiência pessoal de revestimento do Espírito Santo acompanhada do falar em novas línguas – ou línguas estranhas como se diz no jargão pentecostal – foram capazes de executar grandes coisas para o Reino de Deus, embora sem formação ou preparo e até mesmo recursos; e seus feitos permanecem por toda parte como testemunho.

Fato curioso sobre a vida de Parham é que foi a partir das suas aulas na Escola Bíblica em Topeka, Kansas, que William Seymour, o famoso pastor e líder negro do Avivamento da Rua Azuza – celeiro de grandes evangelistas mundo afora – assistiu e aplicou os seus ensinamentos sobre o Espírito Santo.

A despeito do preconceito nutrido em torno do pentecostalismo, das análises simplistas, da fragilidade dos estudos apressados e rasos produzidos pelas faculdades de teologia dominadas por pensamentos seculares absolutamente alheios ao Reino, as ideias iniciadas por essa geração que surgiu nos EUA ainda demonstra enorme vigor e atração na sociedade.

Falta ao cristão pentecostal a visão moderada, a ponto de não sucumbir à negligência, e o zelo para não ser engolido pelo racionalismo oco dos intelectuais de Facebook e Wikipédia. Bom seria se pudéssemos nos debruçar sobre os textos dos pioneiros e sermos revigorados por aquelas idéias que abalaram gerações, hoje ofuscadas pela distância no tempo e pela pressão externa exercida pelo mundo.

BIBLIOGRAFIA

Kol Kare Bomidbar: A Voice Crying in the Wilderness, 1902. (Reprint, Baxter Springs, Kans.: Robert L. Parham, 1944.)

A reader in Pentecostal theology : voices from the first generation edited; Douglas Jacobsen. Indiana University Press, 2006.

Formado em Letras (Literatura Inglesa e Portuguesa), pastor assembleiano, professor da EBD e de teologia, residindo em São José, SC.

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