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estudos bíblicos

5 tipos de dízimos na Bíblia

Biblicamente, a prática do dízimo hoje não é lei para os cristãos, mas também não é condenável diante de Deus, já que quem contribui sadiamente na obra do Senhor o faz voluntariamente e por fé.

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Longe de querermos trazer alguma polêmica – embora entendamos que falar sobre dízimo não seja algo tão simples em nossos dias -, porque a depender das interpretações, sempre haverá pessoas a favor ou contra a sua prática.

Contudo, esperamos esclarecer aos nossos leitores sobre cinco tipos de dízimos que as Escrituras falam, mas que nos púlpitos de nossas igrejas, em nossas escolas dominicais e em outras instâncias educacionais cristãs quase nunca são mencionados em sua abrangência.

O dízimo de Abraão

A primeira vez que a palavra “dízimo” é mencionada na Bíblia é em Gênesis 14.20: “E deu-lhe o dízimo de tudo”. Esta atitude de Abraão revela-nos o costume dos povos semitas daquela época de oferecerem a décima parte da produção de suas plantações e de seus animais ao Senhor ou a alguma autoridade específica, como ocorreu no caso do Rei de Salém (Gn 14.18).

Todavia, nesse episódio, que aconteceu bem antes da Lei de Moisés, Abraão ofereceu a Melquesedeque o dízimo dos despojos de guerra. Porém, as Escrituras não explicam claramente o porquê do patriarca dar a contribuição.

De acordo com Champlin[1], fora da cultura judaica havia muitas culturas antigas que praticavam o dízimo. Além disso, ainda segundo esse autor, a prática existia entre outros povos, tais como os gregos, os romanos, os cartagineses e os árabes. Para estas culturas, era um hábito que fazia parte da piedade religiosa.

O dízimo dos levitas

“Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação”, disse Deus (Nm 18.21). Os levitas passaram a receber esse auxílio consagrado porque não tinham nenhuma herança no meio dos israelitas (Nm 18.23). E essa contribuição servia para a sua manutenção.

O dízimo dos dízimos

Outro tipo de dízimo que havia nos tempos bíblicos era o dízimo dos dízimos, retirado do que os levitas recebiam dos israelitas. Essa contribuição era “considerada equivalente à do trigo tirado da eira e do vinho do tanque de prensar uvas” (Nm 18.27, NVI[2]).

Em Neemias 10.38, está escrito que “o sacerdote, filho de Arão, estaria com os levitas quando os levitas recebessem os dízimos, e que os levitas trariam os dízimos dos dízimos à Casa do nosso Deus, às câmaras da casa do tesouro”.

Números 18.26 fundamenta esta verdade: “[…] também falarás aos levitas e dir-lhes-ás: Quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel […], deles oferecereis uma oferta alçada ao SENHOR: o dízimo dos dízimos […] e deles dareis a oferta alçada do SENHOR a Arão, o sacerdote”.

O dízimo das festas

O quarto tipo de dízimo mencionado na Bíblia é o dízimo festivo. Sobre este evento, Deus havia dado ordem para que, dentre os holocaustos, os sacrifícios, as ofertas alçadas, os votos, as ofertas voluntárias e a entrega dos primogênitos, os israelitas trouxessem ao lugar que Ele escolheria também os dízimos que deveriam ser extraídos dos nove décimos restantes da produção do povo[3], já que este deveria entregar aos levitas um décimo de suas colheitas, frutas e animais dos rebanhos.

Nesse lugar que Deus, à época, iria escolher – ou seja, posteriormente Jerusalém -, o povo de Israel deveria comer esses dízimos perante o Senhor e se alegrar em Sua presença, celebrando a ocasião de maneira festiva (Dt 12.5-6, 11-12, 17-19).

O dízimo trienal ou dízimo da caridade

Podemos entender acerca do quinto tipo de dízimo pelo que está escrito em Deuteronômio 14.28-29:

Ao fim de três anos, tirarás todos os dízimos da tua novidade no mesmo ano e os recolherás nas tuas portas. Então, virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão, para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em toda a obra das tuas mãos, que fizeres.

Como mencionado, essa contribuição caridosa era feita a cada três anos, e era chamada de “o ano dos dízimos” (Dt 26.12). Ela não deveria ser levada ao tabernáculo, mas sim compartilhada com os pobres daquele tempo. Era um mandamento divino (Dt 26.13-14) e trazia consigo grandíssimas promessas de Deus:

E o SENHOR, hoje, te fez dizer que lhe serás por povo seu próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os seus mandamentos. Para assim te exaltar sobre todas as nações que fez, para louvor, e para fama, e para glória, e para que sejas um povo santo ao SENHOR, teu Deus, com tem dito (Dt 26.18-19).

O dízimo no Novo Testamento

No Novo Testamento não encontramos nenhuma passagem bíblica que fortaleça a prática do dízimo como sendo uma lei para nós, gentios. Talvez você discorde do que estamos dizendo simplesmente por causa do texto que está em Mateus 23.23, quando o Senhor Jesus repreende alguns religiosos:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas.

Para esclarecermos essa passagem precisamos fazer-nos algumas perguntas. Jesus era judeu? Sim. Os escribas e fariseus também o eram? Sim. Para Jesus, o que era mais importante? Os dízimos da hortelã, do endro e do cominho ou o juízo, a misericórdia e a fé? Sem dúvida o juízo, a misericórdia e a fé. Segundo o Mestre estes eram mais importantes. Outra pergunta: Em algum momento Jesus insinuou que essa prática era obrigatória para os gentios? Não.

O que há no Novo Testamento são textos que enfatizam a liberalidade cristã, ou seja, a lei da generosidade. Por exemplo, na coleta para os cristãos pobres da Judeia, o apóstolo Paulo orienta os irmãos coríntios a que fossem generosos em seus donativos:

E digo isto: Que o que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia em abundância em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. (2 Co 9.7

A prática da liberalidade cristã provoca bênçãos efusivas da parte de Deus sobre quem tem um coração convertido e generoso:

E Deus é poderoso para tornar abundantemente em vós toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda suficiência, superabundeis em toda boa obra, conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre. Ora, aquele que dá a semente ao que semeia e pão para comer também multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se deem graças a Deus (2 Co 9.8-11).

Considerações

Biblicamente, a prática do dízimo hoje não é lei para os cristãos, mas também não é condenável diante de Deus, já que quem contribui sadiamente na obra do Senhor o faz voluntariamente e por fé.

Sem dúvida, as nossas contribuições tem servido para ajudar os necessitados, para expandir o Evangelho do Senhor Jesus Cristo pelo mundo através de missionários e de diversos meios de comunicação, para sustentar líderes que trabalham em tempo integral nas igrejas (2 Co 11.8-9; 1 Tm 5.18), para construções de congregações, onde podemos nos ajuntar como igreja e adorar a Deus de forma mais organizada, para criar, manter e ampliar projetos verdadeiramente sociais.

Em suma, podemos contribuir consciente e eficazmente na obra do Senhor, “porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra e do trabalho de amor que, para com o seu nome, mostrastes, enquanto servistes aos santos e ainda servis” (Hb 6.10).

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[1] CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. 13ª ed. Vol. 2. São Paulo: Hagnos, 2015, p. 201.

[2] Nova Versão Internacional.

[3] PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 572.

Casado. Presbítero na Igreja Batista Missionária Kadosh, em Recife - PE. Blogueiro evangélico desde abril de 2010. Formado em Teologia (Curso Livre). É pedagogo (professor) e pós-graduado em Coordenação Pedagógica.

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