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estudos bíblicos

O que significa “lançar o pão sobre as águas”?

Uma questão de fé!

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Homem lançando sementes (Dương Trí / Unsplash)

“Atire o seu pão sobre as águas, e depois de muitos dias você tornará a encontrá-lo.” (Eclesiastes 11.1)

Nós já estudamos aqui sobre a importância do alimento no mundo hebraico. Pão, vinho e azeite serão sempre citados na Bíblia. Além disso, vale lembrar dos cenários mais comuns da antiguidade: agricultura, pastoreio e artesanato. E hoje vamos falar da agricultura para entender o texto de Eclesiastes. Vamos ao contexto:

Em primeiro lugar, estamos lendo um trecho de uma poesia hebraica. Poesia naquela época não era rima e nem romance. Como explica o Dr. Rodrigo Silva, que é arqueólogo e mestre em Teologia Histórica, a poesia servia para “mentalizar uma mensagem importante” já que o povo não sabia ler e nem escrever.

Agora vamos entender que pão é este que pode ser lançado às águas e ser encontrado depois de muitos dias. Por causa da nossa cultura atual, muitos pensam que lançar o pão às águas é alimentar os peixes, por exemplo.

E como esse pão seria encontrado novamente? Através da pescaria. Espiritualizando o texto, o pão seria a “palavra de Deus” lançado às águas (que aqui seriam “muitas pessoas”) e a pescaria, nesse caso, seriam almas.

Não podemos dizer que essas interpretações estejam erradas, mas o nosso foco através desse estudo é buscar sempre o contexto bíblico, para que não haja distorções do tipo: “lance seu dinheiro em determinada campanha e depois de muitos dias receba a recompensa de Deus, através de prosperidade material”. É preciso tomar muito cuidado com a forma como a palavra de Deus é aplicada em nossos dias.

O pão no contexto de Eclesiastes é a semente de trigo ou de cevada, que eram as mais comuns na época. Aqueles agricultores enfrentavam grandes dificuldades, porque moravam numa região desértica, onde a terra era dura e seca, por isso o alimento era muito raro. Segundo o arqueólogo, no Oriente Médio, quase 80% da terra não era arável, por isso as pessoas não tinham comida em todo tempo.

A rotina deles era a seguinte: primeiro tinham que preparar a terra e plantar as sementes, mas isso só era possível em tempos de chuva, que era outra coisa rara. Só chovia duas vezes por ano, entre março e abril e depois só em outubro. E quando finalmente chovia era tempo de “lançar a semente sobre as águas da chuva”, porque a terra seria amolecida, possibilitando o plantio.

Muitas vezes, aquelas pessoas tinham que escolher entre “guardar a semente” que seria transformada em farinha para fazer o pão ou “lançar a semente” na época da chuva para ter o que colher depois. Acontece que, em tempos de escassez, lançar mão da semente poderia significar um período de fome. Então era uma decisão difícil.

É por isso que aquele povo até comemorava quando chegava o tempo das colheitas, porque era motivo de alegria, era a certeza de ter o que comer durante um tempo. Se a colheita fosse boa, todo o povo teria alimento até a próxima estação.

Mas se a colheita fosse ruim, o alimento seria escasso. Ou seja, até a chegada da próxima chuva, talvez não teriam tantas sementes para lançar. É por isso que semente nesse texto é tratada como “pão”. E não era nada fácil abrir mão desse pão. Era uma questão de fé. Um pai de família poderia pensar: “E se eu lançar a última semente e não chover?”.

Sabendo disso, agora podemos imaginar com mais clareza esse cenário de Eclesiastes. Pense como o momento da refeição era algo importante para aquele povo.

Reunir a família para comer era algo sagrado e eles davam “graças a Deus” pelo alimento. Comer em pé era uma falta de respeito. Hoje em dia, muitos nem se lembram de agradecer enquanto comem, além de comer correndo e nem pensar como aquele alimento foi preparado. Ao comer o “nosso pão de cada dia” quem se lembra da semente?

Mas a Bíblia nos apresenta um contexto onde é impossível não valorizar a semente. Era uma questão de vida ou morte. E também uma questão de confiança em Deus. E isso não mudou. Deus continua sendo aquele que “envia a chuva no tempo certo”. No nosso contexto, é até complicado falar em chuva, porque logo pensamos nas enchentes e catástrofes hídricas. Sabemos também que há lugares em nosso país em que a seca é uma realidade.

Mas ao contextualizar Eclesiastes, já não falamos de uma chuva literal, mas da provisão de Deus em todas as áreas da vida. Ele é a razão da nossa sobrevivência. Dependemos Dele pra tudo! Embora nem todos reconheçam. Mas a palavra de Deus não muda. Aliás, Deus também não muda, como diz Malaquias 3.6-7:

“‘Desde o tempo dos seus antepassados vocês se desviaram dos meus decretos e não os obedeceram. Voltem para mim e eu voltarei para vocês’, diz o Senhor dos Exércitos.”

Vamos agora fazer uma reflexão?

Qual é o seu pão de hoje? Qual o desafio que você está enfrentando? Existe alguma decisão importante que você precisa tomar?

Você está com medo de lançar mão de alguma coisa e passar alguma necessidade no futuro? Mesmo que em contextos diferentes, o povo de Deus de antigamente também sentiu medo, insegurança e teve dúvidas.

Mas a Bíblia nos encoraja a confiar em Deus, seja qual for a situação.

“Ele também lhe mandará chuva para a semente que você semear, e a terra dará alimento rico e farto.” (Isaías 30.23)

“Ele traz as nuvens desde os confins da terra; envia os relâmpagos que acompanham a chuva e faz que o vento saia dos seus depósitos.” (Salmos 135.7)

“Ele realiza maravilhas insondáveis, milagres que não se pode contar. Derrama chuva sobre a terra, e envia água sobre os campos.” (Jó 5.9-10)

Apenas confie e lança o teu pão sobre as águas! Tenha fé! 

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Jornalista e pesquisadora apaixonada pela Bíblia. Desenvolveu um trabalho de "Jornalismo Investigativo Bíblico", é autora dos livros Derrubando Mitos e Apocalipse Investigado. Seus temas envolvem missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análises de textos bíblicos.

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