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estudos bíblicos

A salvação e o advento do Salvador

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 3 do trimestre sobre “A obra da salvação”

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Por que Jesus precisou encarnar?

Primeiro, para criar uma identificação com aqueles sobre quem ele é constituído mediador: nós os homens pecadores. Paulo diz que “há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1Tm 2.5). Assim, homem, ele vive os sentimentos e as experiências humanas mais comuns e mais profundas: fome, sede, sono, tristeza, dor e, a mais temível de todas: a morte. Somente no pecado ele não se faz nosso semelhante, pois ele era o Cordeiro de Deus imaculável! O autor da carta aos Hebreus destaca o propósito de Cristo em vencer a morte na sua carne: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2.14,15). Porque Cristo encarnou e venceu definitivamente a morte, ela já não deve nos causar medo!

Segundo, não se deve descartar o caráter exemplar da humilhação de Jesus por ocasião de sua encarnação. Há muito que aprender com aquele que “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo… humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte…” (Fp 2.7,8). O próprio Jesus nos deu grandiosas lições de vida, de temor a Deus e amor ao próximo, mansidão, humildade e paciência. Na noite da Ceia, ele dobra-se diante de seus discípulos, com uma bacia de água e uma toalhinha branca, para lavar-lhes os pés. E assim exorta: “se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.14,15). No texto de Filipenses, Paulo busca impedir que qualquer raiz de orgulho e divisão nasça e cresça entre aqueles irmãos, quando apela: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5).

Até o batismo nas águas era necessário a Jesus, embora ele não tivesse pecados que confessar ou vida errada de que se arrepender. Nem João Batista, seu primo, entendeu de imediato o porquê de Jesus cumprir aquele rito, mas Jesus lhe fez entender: “Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3.15). Não se batiza espíritos, nem anjos! Se o batismo era necessário como parte indissociável da justiça de Deus, então Cristo também para isso precisaria encarnar.

Todavia, a sublime missão de Cristo, em sua encarnação, não era nos dá exemplo, não era apenas nos ensinar valores morais ou espirituais. A encarnação de Cristo é parte do programa salvífico de Deus para a humanidade, de tal modo que sem ela seria impossível a justiça de Deus ser satisfeita para salvação dos pecadores. A Declaração de Fé das Assembleias de Deus (2017) resume muito bem os propósitos salvíficos da encarnação do Verbo:

“A encarnação do Senhor Jesus fez-se necessária para satisfazer a justiça de Deus: o pecado entrou no mundo por um homem, Adão; assim, tinha de ser vencido por um homem, Jesus. Em sua natureza humana, Jesus participou de nossa fraqueza física e emocional, mas não de nossa fraqueza moral e espiritual” (8)

O apóstolo Paulo diz que “No corpo da sua carne [Jesus], pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1.22). Sem a encarnação genuína, não haveria morte genuína, nem redenção genuína, nem santificação genuína ou glorificação genuína! Sem o corpo de Cristo, todos gritaríamos para a eternidade: “Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24).

Há ainda uma razão escatológica para a encarnação do Filho: o cumprimento final e pleno do reinado do “filho de Davi”. Deus prometeu dar à descendência de Davi um reino eterno (2Sm 7.16), mas como os descendentes de Davi falharam, e todos pecaram, Deus fez seu Filho encarnar, e não em qualquer família, mas na família de Davi, da tribo de Judá, para dar a ele “o nome que está acima de todo nome” (Fp 2.9). O Messias tinha que ser filho de Davi, por isso Mateus, que escreve para os judeus, inicia seu livro informando-nos: “Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi…” (Mt 1.1); Jesus é o Rei que haveria de vir, que veio e que breve voltará para reinar finalmente! Por isso o cego e mendigo Bartimeu gritava: “Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim”. William McDonald comenta um detalhe deste texto: “Foi irônico que, enquanto a nação de Israel estava cega à presença do Messias, um judeu cego teve uma verdadeira visão espiritual!” (9). Assim também declarou a mulher cananéia, uma estrangeira: “Senhor, filho de Davi, tem misericórdia de mim” (Mt 15.22). Os filhos Israel não reconheceram Jesus como o Messias prometido, mas os “filhos de Abraão” (que são pela fé – Rm 4.16; Gl 3.7), estes sim reconheceram!

Alguns erros a se evitar no trato desta lição:

* Jesus não deixou de ser Deus ao se fazer homem. Ele não trocou a divindade pela humanidade. Ele era plenamente homem, mas plenamente Deus! “O Verbo era Deus” (Jo 1.1), e “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Todos os atributos divinos são perfeitos e plenos no Filho de Deus!

* Jesus não deixou de ser homem ao retornar para o Pai. Ele assumiu a forma humana para nunca mais deixa-la! Neste sentido, Jesus será uma verdadeira celebridade no céu para toda eternidade, sendo para sempre diferente de tudo e de todos, devido essas duas naturezas perfeitas. (1Tm 2.5; Conf. Zc 13.6: “Que feridas são estas nas tuas mãos? Dirá ele: São feridas com que fui ferido em casa dos meus amigos”)

* As tribulações humanas e os horrores do Calvário que Jesus sofreu, foram suportados “na carne” (física; não no sentido moral, pecaminoso). Isso não significa que ele não desfrutou de poder divino para vencer, pois, como nós, ele também foi cheio do Espírito Santo, que o capacitara a vencer. Significa que sua própria força onipotente não foi usada para livrá-lo das aflições, mas em oração ao Pai, ele buscou o fortalecimento para triunfar (Lc 23.37; Mt 4.1,2). Como bem diz o poeta Emílio Conde, “Jesus teve completa vitória, porque sempre viveu em oração” (10).

* Não cometer o erro de exagerar a humilhação de Cristo em sua encarnação. É comum ouvir pessoas dizerem que, como homem, Jesus teve medo da morte, e que por isso no Getsêmani orou “Pai, se possível passa de mim este cálice”. Todavia, é estranho aceitar que Jesus tenha temido a morte, visto que ele já sabia que ressuscitaria (Mt 17.22,23; Jo 10.18; 14.1-3) e que ele mesmo havia advertido aos discípulos para não temerem a morte (Mt 10.28). Rejeito a tese de que Jesus teve medo de alguma coisa. A aflição de Jesus no Getsêmani se deu em razão dos nossos pecados que pesavam sobre ele (Is 53.6; 2Co 5.21) e do abandono temporário que o Filho amargaria na cruz, quando ele exclamaria: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15.34). Se há alguma coisa que Jesus temia, era apenas o ficar separado do Pai naquelas horas cruentas do Calvário! Mas definitivamente, aquele que disse: “Eu sou a vida” (Jo 14.6) não teria nada que temer a experiência da morte.

* Um teólogo calvinista, Heber Campos, afirmou que mesmo após ascender ao céu, em corpo glorificado, Jesus permanece, visto que é homem, passível as mesmas experiências humanas que ele padeceu aqui: fome, sede, cansaço e sono. Isso, além de revelar distorção do entendimento da glorificação (que remove essas corrupções e debilidades físicas), sugere que, se assim fosse, não teríamos total segurança em Cristo, já que em momentos de cansaço e sono do Filho de Deus no céu, ficaríamos sem os cuidados de um Salvador e Intercessor junto ao Pai! “Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará” – esta zombaria de Elias contra o deus Baal jamais poderia ser dirigida ao nosso Senhor e Deus Jesus Cristo! Nosso Cristo, uma vez tendo recebido a mesma glória que tinha junto ao Pai antes da encarnação (Jo 17.5), “nem se cansa nem se fatiga” (Is 40.8). Seus olhos não se enfadam, nem se fecham com sono, pois são “os seus olhos como chama de fogo” (Ap 1.14). Recuso peremptoriamente qualquer teoria que sugira limitações, fraquezas e debilidades ao corpo glorificado de nosso Senhor, a quem nos assemelharemos por ocasião de sua vinda (1Co 15.49,50; 1Jo 3.2).

Que neste domingo, todos tenhamos uma aula prazerosa e enriquecedora, com a presença bendita do Emanuel – Deus conosco!

REFERÊNCIAS:

  • A Mensagem da Cruz, Leve, pp. 11,12
  • Comentário Bíblico Beacon, Vol. 1, CPAD, p. 14
  • Bíblia de Estudo Plenitude, SBB. João 1.14, nota de rodapé
  • Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, p. 965
  • Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Virgindade_perp%C3%A9tua_de_Maria. Acessado em 11/10/2017
  • Kenosis é um termo de origem grega (kenoo, kenos), e que, segundo James Strong, tem um sentido forte: “esvaziar-se, despir-se de uma dignidade justa, descendo a uma condição inferior, humilhar-se”. Fala do ato voluntário de Cristo em se despir de sua glória junto ao Pai, antes da encarnação, para vestir a limitada e fraca natureza humana. Isso não significa, como já dito, que Jesus abriu mão de sua divindade, mas apenas glória refulgente que ele tinha em seu estado pré-encarnado. Na oração sacerdotal, Jesus pede ao Pai que “agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.5)
  • N. Champlin. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, 11° ed., vol. 1, Hagnos, p. 271. O Credo Niceno (séc. IV) declarada: “Cremos (…) em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, o Unigênito do Pai, que é da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, de uma só substância com o Pai (…)”
  • Declaração de Fé das Assembleias de Deus, CPAD, p. 51.
  • Comentário Bíblico Popular – Novo Testamento, Mundo Cristão, p. 135
  • Hino 127 da Harpa Cristã, CPAD.

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Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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