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O conceito “O dia do Senhor” no livro do Profeta Joel: Há esperança para o justo

Será um dia de juízo, o dia que o Senhor manifestará a sua justiça.

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Céus com raios
Céus com raios (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

O conceito “O dia do Senhor” aparece frequentemente na literatura profética veterotestamentária. Esta declaração ganha uma acentuação na mensagem contida na fala de profetas como Isaías, Jeremias, Amós, Obadias, Zacarias, Malaquias, Daniel, Joel entre outros, e também na literatura apocalítica judaica pós-exílica, geralmente apontando para um final terrível para os ímpios e todos aqueles que não temem o Senhor. Será um dia de juízo, o dia que o Senhor manifestará a sua justiça de maneira clarividente tanto para crentes como descrentes. Cabe ressaltar ainda que este termo sempre estava de alguma forma amarrado a uma mensagem de advertência ao povo de Israel, sendo assim, sempre sinalizando para um acontecimento histórico e, na maioria das vezes, catastrófico em um âmbito cósmico.

Relatos do Livro do Profeta Joel apontam para este fato, quando o profeta menciona que a atmosfera será abalada pelos sinais do fim dos tempos. Por isso, será “um grande e terrível dia”; grande para os Justos, terrível para os ímpios. Porém, no livro em questão, esse conceito é de certa forma alongado, ganha uma nova roupagem. Para o profeta, o “dia do Senhor” ou “Yôm YHWE”, não é somente o dia do acerto de contas: a expressão remete também a ideia de uma salvação e alento para aqueles que se converterem ao Senhor.

Livro de Joel

Quem é Joel? Sabemos muito pouco acerca desse personagem histórico. Não se tem muitas informações ou evidências internas, sabe-se apenas que ele era filho de Petuel, o que também não nos ajuda em muita coisa para traçarmos um perfil desse servo do Senhor. O texto contido no livro não nos revela mais detalhes da pessoa por detrás da mensagem. O nome Joel significa “O Senhor é Deus”. Assim, como outros profetas, Joel recebeu a incumbência de chamar o povo ao culto verdadeiro a Deus.

Averiguando a obra, é correto deduzir que, com clareza, ele era judeu, pregou em Jerusalém, e ainda possuía conhecimento bastante profundo da vida camponesa, como demonstra a sua descrição da praga de gafanhotos. No entanto, em época eminentemente agrícola, esse simples dado não é suficiente para considerá-lo como camponês, ao estilo de Miquéias. Mais ainda: suas grandes qualidades poéticas e o seu conhecimento dos profetas que o precederam, nos impulsionam a situá-lo em ambiente bastante elevado culturalmente.

O profeta está inserido em um contexto complexo e conturbado, em meio a uma crise nacional onde pragas de gafanhotos invadiram a terra de Judá e a devastaram completamente, uma grave crise econômica sem precedentes, aliada a uma seca assoladora. O colapso social está instaurado: Deus está utilizando os meios naturais para chamar a atenção da nação.

Data da mensagem

Outra discussão entre os estudiosos é sobre qual data o livro é escrito. Alguns afirmam que a obra tenha sido escrita bem após o retorno do exílio da nação de Judá, ou muitos anos mais tarde. Pablo Andiñach afirma que: “ao contrário de outros profetas, cujo texto é acompanhado por anúncios e visões, profecias e informações sobre a época, nesse caso nada se diz sobre o tempo que exerceu seu ministério”. Por isso, uma das maiores polêmicas ou problemas do livro é situá-lo historicamente. O livro do profeta é encontrado no começo do século IV a.C. Isso implica dizer que Joel, muito possivelmente, é do período compreendido como pós-exílio, aproximadamente 539 a.C, embora haja muita discussão sobre essa questão. Outras correntes defendem que o Livro é do período do rei Joás, rei de Judá, que reinou em cerca de 835-832 a.C. Alguns sugerem que a praga de gafanhotos seria uma espécie de metáfora para descrever os exércitos Assírios e Babilônicos, o que eu particularmente não concordo.

Para situá-lo na história, devemos inferir dados do próprio texto. Isso não deixa de ser um recurso frágil, porém ao menos, de certa forma, vai organizar a compreensão do livro no conjunto de outras obras do Antigo Testamento e assim acrescentar algum sentido na compreensão com elas. Observamos os seguintes fatos:

a. A sociedade que se deduz do texto dá um lugar destacado aos anciãos e sacerdotes (1,2-13.14);
b. O povo reconhece anciãos e sacerdotes como seus líderes (2,16.17);
c. A ausência de menção de um rei indica que já não existia monarquia em Israel.

Embora a questão da datação seja importante, a fim de pesquisa, ela não é por si só excludente no que tange o conteúdo. A questão de data não interfere em nada na mensagem do livro pois ela é impactante, mesmo que nós não consigamos reconstruir o contexto histórico com precisão.

Calamidade pública e a visitação do Senhor

Todo livro do profeta pode ser dividido basicamente em duas partes: a praga de gafanhotos e sua retirada (1,1; 2,27); e o futuro famigerado “dia do Senhor” (2,28; 3,21).

Os dois primeiros capítulos descrevem uma terrível invasão de gafanhotos que devasta as plantações e toda a lavoura. Diante disso, Joel pede a participação de todos (sacerdotes, profetas e povo), com arrependimento e jejum geral, para suplicarem a Deus que afaste a catástrofe. Para Hernandes Dias Lopes, “O profeta Joel vê a invasão de gafanhotos, a seca severa e a devastação do fogo como obras do julgamento de Deus”. Ou seja, na Teologia contida no livro está clarividente a soberania de Deus sobre todos o cosmos.

O dia do Senhor no Livro do Profeta Joel

O Dia do Senhor é um termo que representa todos os juízos de Deus sobre a terra (Lopes). Esse dia, porém, culmina com o grande Dia do Juízo, na segunda vinda de Cristo, quando o Senhor se assentará no seu trono e julgará, com justiça, as nações (Mt 25,31-46).

Nesse glorioso dia os homens desmaiarão, alguns buscarão a morte, mas não a encontrarão. Nesse dia eles tentarão inutilmente escapar da ira do Todo-Poderoso.

Para Wersbie, “O principal tema de Joel é o ‘Dia do Senhor’ e a necessidade de o povo de Deus estar preparado”. Em Joel, encontramos algumas verdades que merecem ser grifadas acerca desse dia.

Primeiro será algo repentino: “[…] porque o Dia do Senhor vem, já está próximo” (2,1).

Assim como a chegada dos gafanhotos que pegou muitos de surpresa, trouxe a devastação para a terra e a destruição dos frutos, também, a opressão de povos inimigos viria repentinamente: “Não haveria tempo para a fuga nem capacidade para a resistência.  De igual forma será o Dia do Senhor, quando ele voltar entre nuvens para assentar-se no seu trono e julgar as nações. Não haverá mais tempo para se preparar”.

Segundo, será um “dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e negridão…” (2,2). Esse será um dia de trevas e não de luz; de juízo e não de livramento para os impenitentes. As trevas falam do juízo de Deus.

Terceiro, ninguém conseguirá resistir: “…  Sim, grande é o Dia do Senhor e mui terrível!  Quem o poderá suportar?”(2,11)

Sim, ninguém conseguirá fugir, se esconder, ou ainda suportar esse dia. Jesus, em seu sermão escatológico de Mateus 24, menciona os eventos cataclismáticos e estrondosos também citados pelo profeta Joel. Jesus diz: “Imediatamente após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados’.” (Mateus 24,29.30).

Jesus concorda com o profeta que será um dia do qual ninguém conseguirá escapar ou resistir: “todos verão e se lamentarão”.

O dia do Senhor: o dia de esperança para o justo

Na perícope do capítulo dois do livro do profeta Joel, averiguamos que o profeta descreve como será o dia do Senhor: “será repentino”; “será um dia de densas trevas”; “ninguém conseguirá resistir”; a “terra tremerá”. Após discorrer sobre as características desse grande dia, e diante da iminência do juízo divino, o profeta faz um alerta ao povo, acrescentando esperança ao coração dos seus leitores e ouvintes. Ou seja, mesmo o dia do Senhor sendo grande e terrível, mesmo sendo um dia que haverá eventos catastróficos, ainda assim haveria esperança para os justos. Mas para isso o povo precisaria se arrepender. Acompanhe a progressão dos versículos:

1. Deus diz: “Voltem-se para mim de todo o vosso coração” (2,12); 

Diante do caos iminente do grande dia do Senhor, Deus convoca seu povo para que este se volte para Ele de maneira integral. Sabemos que, por diversas vezes, Israel viveu uma instabilidade espiritual, fruto de um coração dualista, por isso Deus, através de seu profeta, é enfático: “de todo vosso coração”. O que Deus deseja, para que haja uma restauração nacional aqui, é que o povo se volte para Ele; para que o povo se volte verdadeiramente em adoração sincera e genuína, sem dubiedades, sem servir e sacrificar aos ídolos ou deuses pagãos. Deus exige exclusividade porque ele “não divide sua glória com ninguém” (Cf. Is 42,8) e, também, a dualidade na adoração era uma transgressão direta ao primeiro e segundo mandamento do decálogo (Ex 20,3.4). O coração dividido de Israel, mais especificamente do povo de Judá, leva o povo a várias instabilidades e em diversos âmbitos: espiritual, moral, político, social, econômico e por aí vai.

Na continuidade, o texto diz: “pois ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor”. O texto revela aspectos do caráter de Deus. Sempre é importante lembrarmos quem Deus é, e, diante de tanta fraqueza e instabilidade do seu povo, que Ele é perfeitamente bom e misericordioso para nos restaurar.

2. E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (2,32)

Outro motivo de esperança para quem lê a profecia relacionada ao dia do Senhor é o derramamento do Espírito prenunciado a partir do verso 28 até o 32. Esse evento, na sua integralidade, antecederá o grande dia do Senhor, conforme a profecia de Joel. Então, segundo o livro, o grande dia do Senhor vai ser precedido por um grande avivamento, o que tudo indica, sem precedentes. Muito embora Pedro, na pregação do dia de pentecostes (Cf. Atos 2,16-21), já tenha falado que o que estava acontecendo ali naquele dia era já um cumprimento dessa profecia Joeliana, com os desdobramentos históricos que acorreram em Jerusalém no dia de pentecostes, podemos inferir que se tratou de um cumprimento parcial da profecia de Joel.

O capítulo dois se encerra com a célebre frase: “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Ou seja, mesmo diante da iminência do dia do Senhor, e este dia trazendo tudo o que trará para o cosmos, por assim dizer, mesmo assim, o dia do Senhor é acima de tudo, para o justo, um dia de esperança, pois aquele que clamar alcançará misericórdia, achará graça.

Conclusão

O dia do Senhor será um dia marcante para humanidade, mas, acima de tudo, um dia glorioso para o povo de Deus, como vimos na Teologia de Joel: um dia que traz como característica a esperança plena para aqueles que esperarem e confiarem no Deus de Israel. O dia do Senhor não é somente escuridão, terremoto, fogo e fumaça, antes também é Graça, Salvação, Redenção, Libertação, e, acima de tudo, o dia do encontro com o único e verdadeiro Deus. Que possamos caminhar em nossas jornadas ansiando por este Glorioso dia, o dia do Senhor.

Cleber Santos 31 anos, casado com Elisa Cidral, Bacharel em Teologia pela Faculdade Refidim, Pós Graduando em Novo Testamento pela Faculdade Batista do Paraná. Professor de Teologia, Pregador do Evangelho e nas horas vagas Podcaster no PerspCast. Congrega na CENA- Comunidade Evangélica Novo Amanhecer. Autor do livro: “Vá e faça o mesmo: A Parábola do bom samaritano um convite a praticidade do Evangelho”.

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