Siga-nos!

opinião

Deus é amor, mas o amor não é Deus

Em nenhum momento a Bíblia ressalta um atributo de Deus em detrimento dos demais.

em

Em I Jo 4.8 está escrito: “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. Quem escreve estas palavras é o “discípulo do amor”, João, aquele que se reclinava junto ao Mestre, e que tanto em suas Epístolas como no Evangelho destaca o amor de Deus revelado na Pessoa de Cristo. No entanto, uma leitura apressada pode contribuir para o entendimento equivocado de que a essência de Deus estaria circunscrita ao amor, quando, na realidade, todos os atributos de Deus estão em completa harmonia e equilíbrio.

O leitor das Escrituras Sagradas deve estar informado de que Deus é Amoroso, Justo, Reto, Puro, Santo, Verdadeiro, Bom, Benigno, Longânimo, Gracioso, Misericordioso, Generoso e também Onipotente, Onipresente, Onisciente, Incriado, Auto-existente, Independente, Auto-suficiente, Absoluto, Todo-poderoso, Infinito, Eterno, Imutável, Perfeito, Incomparável, Incontrastável, Triúno, Transcendente, Imanente, Sublime, Glorioso, Criador e Sustentador de todas as coisas.

Tais atributos, estudados em Teontologia (doutrina do ser de Deus) e classificados de variadas maneiras, apontam para a plenitude do Ser Divino, tanto em Seus poderes como em Suas qualidades morais. Nada falta à Divindade, nada a condiciona ou sustenta, porque Deus é o Único Ser dotado de perfeições e excelências, sendo a Causa Incausada e a Força Motriz de tudo o que possa existir.

Dito isso, em nenhum momento a Bíblia ressalta um atributo de Deus em detrimento dos demais. Ao escrever que “Deus é amor”, João nos aponta a necessidade de amar ao próximo como consequência do conhecimento de Deus, conhecimento este que, longe de ser mera cognição, consiste em relacionamento interpessoal. Sendo assim, é impossível conhecer a Deus e não amar ao semelhante.

Bem diferente da declaração “Deus é amor” seria afirmar que “o amor é Deus” ou que “Deus é o amor” – o leitor consegue perceber a distinção? Ao dizer que “o amor é Deus” ou que “Deus é o amor”, o que se tem é a divinização do sentimento amoroso, a concepção de um deus impessoal ou a caracterização do Deus bíblico como se fora a personificação de um sentimento. O que vem disso tem um nome: idolatria.

Certamente o leitor não encontrará em círculos cristãos afirmações explícitas como estas que ora critico, mas elas estão submersas na teologia liberal e no esquerdismo teológico, escondidas sob discursos edulcorados em prol da inclusão, da tolerância, da diversidade, do pluralismo, de direitos sexuais e reprodutivos, dos direitos humanos, ao mesmo tempo em que se voltam contra a ética cristã, a família e conceitos fundamentais do Evangelho, a exemplo de “pecado”, “justiça” e “juízo”.

A mensagem de redenção em Cristo pressupõe a compreensão (profunda e radical) de que o Homem é um terrível pecador, merecedor do castigo eterno, o qual é determinado pela santidade e justiça de Deus.

Somente o regenerado pode compartilhar do amor de Deus, porque santificado pelo sangue de Cristo e guiado pelo Espírito Santo. Daí, portanto, é que os discípulos de Cristo podem ser conhecidos pelo amor (cf. Jo 13.35), e é também por isso que o apóstolo Paulo tem condições de exortar a igreja a conhecer o amor de Deus em sua plenitude (cf. Ef 3.18,19).

Como Igreja, fomos chamados para proclamar “todo o conselho de Deus” (cf. At 20.27), e não para escolher, dentre Seus atributos, aquele ou aqueles que mais interessam às nossas preferências ideológicas ou à nossa cosmovisão. O “conselho de Deus”, nessa passagem, está relacionado ao plano divino, aos desígnios que, revelados nas Escrituras, contribuem, de maneira suficiente, para a nossa salvação.

Anunciar um evangelho pautado pelo amor, mas sem as vindicações bíblicas quanto ao arrependimento e à fé produz uma mensagem deficiente, que pode ser identificada com filosofia moral ou ativismo social e político, mas não com o caráter da Palavra de Deus.

Jamais o amor divino iria contrariar a santidade e a justiça do nosso Senhor, que, aborrecendo o mal, estabeleceu para a redenção um Caminho exclusivo, que passa necessariamente pelo sacríficio vicário e expiatório de Seu Filho Jesus.

Em tempos de “inclusão” e de bandeiras virtuosas empunhadas pela beautiful people, é na tragédia e vergonha da Cruz que o Homem pode obter o perdão de seus pecados. Sem arrependimento e fé, será absolutamente impossível chegar ao Pai, sendo inúteis quaisquer discursos ou “boas obras”, mesmo daqueles que se orgulham de seu amor para com a humanidade.

Ministro do Evangelho (ofício de evangelista), da Assembleia de Deus em Salvador/BA. Co-pastor da sede da Assembleia de Deus em Salvador. Foi membro do Conselho de Educação e Cultura da Convenção Fraternal dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Estado da Bahia, antes de se filiar à CEADEB (Convenção Estadual das Assembleias de Deus na Bahia). Bacharel em Direito.

Trending