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Defesa da Fé

Apologética é a defesa formal da fé cristã.

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Militar com a Bíblia na mão
Militar com a Bíblia na mão (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi entregue aos santos” Judas 3

Fica claro que Judas gostaria de discorrer em sua epístola sobre a Soteriologia (doutrina da Salvação) e toda a implicação dessa doutrina maravilhosa, que estava alcançando judeus e gentios pelo mundo afora. No entanto, a Igreja e as doutrinas básicas da nova fé estavam sendo bombardeadas por homens inescrupulosos, com suas heresias e meias-verdades, causando dúvida, discórdia e divisão no Corpo do Messias.

Se já não bastasse os ataques externos promovidos pelo Império Romano agora a Igreja estava enfrentando um inimigo mais poderoso e mortal em sua própria trincheira. Nós os chamamos de pseudocristãos, heréticos, ou como bem denominou o comentarista Scofield: “professos”.

Antes de continuarmos a discorrer sobre o nosso tema precisamos definir alguns termos como apologética, heresia e apologia:

  1. Apologética é a defesa formal da fé cristã.
  2. Heresia, qualquer ensinamento rejeitado pela comunidade cristã como contrário às Escrituras e, portanto, à doutrina ortodoxa.
  3. Apologia, a palavra grega apologia refere-se à lógica na qual as crenças de uma pessoa são baseadas.

“Batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” – Defesa externa

A “fé que foi dada aos santos” refere-se à fé salvadora, tanto quanto à crença num conjunto de doutrinas, que nos leva a um estilo de vida coerente com a Bíblia. Por isso dizemos que: “A Bíblia é a nossa regra de fé e conduta”. Como, por exemplo, o Credo Apostólico e Niceno: “Creio em Deus Pai Todo-poderoso, e em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, nosso Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria; foi crucificado, morto e sepultado sob Pôncio Pilatos e, ao terceiro dia, ressuscitou dentre os mortos, subiu aos céus, está assentado à destra do Pai, de onde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja, no perdão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.”

Já a expressão “santos” vem emprestada do Tanack (AT) onde foi muito utilizada. Os santos referem-se aos que creram e por isso foram separados, ou santificados, tornando-se do Senhor.

Essa fé que os santos do passado receberam também nos diz respeito. Nós também fomos santificados pela fé em Jesus e devemos defendê-la. Como os santos profetas que se levantaram diante dos reis e do povo que se desviava de Deus e de sua Lei, e proclamavam: “assim diz o Senhor… arrependei-vos e voltai a Deus… Deixai o mal caminho e segui as retas veredas do Senhor”. Assim também como os apóstolos que não temeram aos homens, mas continuaram proclamando a salvação somente no nome do Senhor Jesus (At.5:26-32), mesmo isso lhes custando a própria vida (At.7).

Como os Pais da Igreja, temos Justino o Mártir durante o segundo século da era cristã, que se tornou um dos primeiros apologistas cristãos e enfrentou o mundo pagão e filosófico de sua época com intrepidez e eloquência, respondendo à luz das Escrituras e da lógica os questionamentos acerca de Deus e da fé cristã para sábios, filósofos e imperadores, ao declarar que o cristianismo era: “a verdadeira filosofia”.

O Cristianismo historicamente sempre foi uma religião pacífica. O “batalhar” implica muito mais em defender a razão de crermos e no que cremos, no campo das ideias e da fé. Uma vez que a nossa luta não é “contra a carne e o sangue” (Ef.6:12).

Contudo, somos ordenados a dar a razão da esperança que há em nós a cada um que pedir (1Pe.3:15).

Talvez seja por isso que o termo “batalhar” foi usado aqui. O termo em si denota treino e conhecimento das doutrinas bíblicas, requisitos necessários para qualquer cristão poder defender sua fé.  Talvez o maior desafio da Apologética nos nossos dias seja justamente a falta de treino e conhecimento dos crentes em geral, que, normalmente tem um conhecimento superficial da Bíblia.

Ser treinado e ter conhecimento das Escrituras requer tempo, esforço e dedicação. Gostaria de ilustrar isso com uma historieta que ouvi em uma cidade do interior do Estado de São Paulo, enquanto seminarista, por um de nossos professores: “Conta-se que um trabalhador braçal teve uma revelação espiritual de seu chamado. Ele viu se formar no céu três letras VCC, e as interpretou como: Vai Cristo Chama! O jovem largou tudo o que estava fazendo e em obediência a visão foi até o pastor para relatar o chamado e pedir a consagração ao pastorado. Depois de ouvir a história do rapaz, o pastor admirado, começou a fazer algumas perguntas para ver o preparo e o conhecimento bíblico do futuro pastor. E qual foi a sua decepção. O rapaz pensava que Moisés fora um dos apóstolos; que José do Egito tinha sido rei da Babilônia; João o Batista tinha sido batizado pelo Profeta Elias; Jesus havia nascido em Belém do Pará. Logo o pastor interrompeu e lhe disse: ‘Meu filho não posso discordar da sua visão, mas da interpretação sim. As letras que você viu na verdade querem dizer: Vai Cortar Cana!’”

Em nossa época a Apologética Cristã não só implica em darmos razão da nossa fé no Senhor e em Sua Palavra, mas também em darmos uma resposta convincente sobre a nossa existência e o propósito da vida, fazendo uso da lógica e da profecia bíblica como nossos aliados no evangelismo. Requer-se do crente em geral, mas principalmente do obreiro e do pastor, uma resposta firme e convincente para se fazer calar os adversários da fé como lemos em Tito 1:9: “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”.

“Batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” – Defesa interna

Primeiro um exemplo negativo de convicção e firmeza na fé que ouvi de um pastor renomado em uma pregação de ordenação pastoral, ele contou que: “Havia numa igreja dois grupos rivais que estavam buscando o apoio do pastor para excluir um ao outro. E ambos os grupos marcaram uma reunião com o pastor no mesmo dia, só que em horários diferentes. Pois bem chegou o primeiro grupo no horário marcado, e o pastor ali no centro ouvindo aquelas pessoas falarem mal do outro grupo, lavando a roupa suja e ameaçando sair da igreja se ele não tomasse nenhuma providência. E ele de cabeça baixa disse: ‘é verdade, vocês têm razão concordo plenamente’. Satisfeito aquele grupo deixou a casa do pastor. E logo em seguida chegou o segundo e começaram com a mesma conversa, falando mal do primeiro grupo, lavando a roupa suja e ameaçando sair da igreja se ele não tomasse nenhuma providência.  E ele de cabeça baixa disse: ‘é verdade, vocês têm razão concordo plenamente’. Satisfeito aquele grupo deixou a casa do pastor. E a esposa do pastor que estava ali ouvindo toda aquela conversa levantou-se toda indignada foi até o marido e o interrogou; ‘você vai ficar aí parado sem tomar nenhuma decisão… seu peixe boi!!!’ Exclamou ela contra o marido. O qual respondeu de cabeça baixa: ‘é verdade, você tem razão concordo plenamente’. Firmeza e convicção é o que faltam em muitas lideranças hoje em dia”. Vaticinou o sábio pastor.

Agora um exemplo positivo de firmeza na fé. Os heréticos vão surgir no nosso meio e isso é profético e até mesmo necessário que aconteça. Como disse o apóstolo Paulo aos coríntios: “E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós” (1 Coríntios 11:19). Qual deve ser a atitude do pastor quando isso acontecer? Lembro-me de uma frase dita pelo Pr. Thomas L. Gilmer: “o bom pastor protege as ovelhas e mata os lobos!!!”.

Perigos na Defesa da Fé

No afã de se defender a verdade, pode-se correr o risco de se fazer acréscimos à Palavra, tornando os defensores, duros, inclementes, soberbos e legalistas.

Existe um conto judaico sobre Moisés e os mandamentos de Deus. Trata-se do mandamento sobre as leis dietéticas que diz: “Não cozerás o cabrito com leite da sua mãe” (Dt.14:21). Segundo o conto: “Moisés para de escrever e pergunta ao Eterno: Então quer dizer que não podemos comer carne com leite ou seus derivados? E o Eterno respondeu: ‘Não cozerás o cabrito com leite da sua mãe’. Moisés continua: então quer dizer que vamos precisar ter panelas, pratos e talheres separados para cada alimento? E o Eterno respondeu: ‘Não cozerás o cabrito com leite da sua mãe’. Moisés então continuou: então quer dizer que vamos precisar ter duas pias para lavar cada utensílio; e duas geladeiras uma para guardarmos a carne e a outra para guardarmos o leite e seus derivados? O Eterno vira para Moisés e diz: “Moisés faça o que você quiser!” Podemos aprender aqui que nosso desejo pela verdade sem discernimento, pode torná-la opressora e não libertadora, não esqueçamos que foi o Senhor Jesus que disse: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). E ainda, tornar a vida cristã um fardo pesado, cheio de regras e mandamentos de homens, ao contrário de uma vida abundante no Espírito. Até mesmo a verdade mais dura e crua deve ser dita em amor. Como está escrito em Efésios 4:15a “seguindo a verdade em amor”.

Em nome da “defesa da fé” ninguém pode se tornar um fariseu e legalista pois assim exclui da vida e ministério, a graça e a misericórdia de Deus, conforme encontramos em Tiago 2:13b: “a misericórdia triunfa sobre o juízo”.

Voltando para a epístola de Judas perceba que o propósito da Apologética é: edificar na “santíssima fé” vs.20; conservar “no amor de Deus” vs.21; “guardar de tropeçar” vs.24; apresentar “irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória” vs.24; levar a ter compaixão “E apiedai-vos de alguns, usando de discernimento” vs.22; e procurar salvar os que estão enganados “salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo” vs.23.

Falar com confiança, da grande salvação que há em nosso Senhor Jesus com todos os seus desdobramentos, desvendando a eternidade diante de nós, sempre nos trará maior alegria.

Pastor Batista, Diretor dos Amigos de Sião, Mestre em Letras - Estudos Judaicos (USP).

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