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A pandemia covid-19 é um juízo de Deus?

Muitos cristãos já se perguntaram se isso tudo é algum tipo de castigo divino.

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Homem de máscara
Homem de máscara (Foto: Rottonara/Pexels)

Olá, amigos leitores do Gospel Prime! Graça e paz!

A pandemia covid-19 é um juízo de Deus? Há quem diga que é, e que recebeu isso como “revelação do Senhor”.

Mas, eis a pergunta que não quer calar: como saber se a revelação que a gente ouve da boca de um suposto pregador/profeta é uma revelação de Deus? Como diferenciar uma profetada de uma profecia?

Desde que a pandemia covid-19 eclodiu no mundo muitos cristãos já se perguntaram se isso tudo é algum tipo de castigo divino. E alguns outros, mais ousados, afirmam que sim. Ainda outros, inclusive – geralmente pregadores/profetas, atestam que ouviram isso do Senhor por meio de revelação.

Assim, resolvi dar alguma orientação pastoral e apologética sobre o assunto; porém, é uma orientação mais ampla e preventiva. Não se atém exclusivamente à pandemia covid-19. A minha expectativa é que este conhecimento sirva como proteção bíblica para evitar desgastes e dúvidas desnecessárias no futuro.

Antes de entrar no assunto, propriamente dito, gostaria de deixar um conselho para refinar o seu critério sobre que tipo de pregador escutar:

1. Opte (preventivamente) por escutar mais pregadores que dizem: “Assim diz a Bíblia”; no lugar de pregadores que dizem: “Eu acho…” ou: “Eu percebo que Deus está dizendo…” ou: “Eu sonhei assim e assim…” ou: “Deus me disse que…”. Não estou inferindo que Deus não fale com alguém por outros canais que não a Bíblia; mas o que foi falado precisa ser confirmado pela Bíblia. Portanto, é sempre mais seguro ouvir a própria Bíblia sendo explicada, ilustrada e aplicada pela boca de um pregador. Quer uma palavra profética infalível para todos os dias do ano: “Abra a Bíblia todos os dias”, aconselha Augustus Nicodemus.

2. Desconfie de qualquer pregador em que você fareja um espírito demasiadamente crítico, com um discurso de viés recorrentemente extremista, fatalista e apocalíptico, ou de quem você quase só ouve sair da boca dele: agouro, repreensão, juízo de Deus. Como diz um cristão amigo meu: “Alguns pregadores parece que pregam somente raivosamente”. É importante lembrar que nosso Deus e juízo, mas também é misericórdia. E a balança dele está sempre em equilíbrio.

3. Nunca, nunca, nunca, absorva a opinião de qualquer pregador imediatamente e irrefletidamente, sem antes, contrastar a fala dele com o que diz a Bíblia. Não importa se ele é o seu pregador favorito, ou mesmo um anjo. O grande evangelista alemão, George Müller, disse: “O Espírito Santo nunca dirá nada contrário à Palavra de Deus”.

4. Muita cautela com um pregador cuja mensagem é transmitida na força hipnótica do emocionalismo. As emoções e o choro são de Deus; contudo, nem sempre. Apenas quando são expressadas pela afetação de um intelecto saturado pelas verdades da Palavras de Deus que desboca em riso ou choro ou não (dependendo da personalidade), alguns cristãos têm fleuma mais “espartana”. Sentimentos nunca devem ser considerados como aferidores da verdade do conteúdo. E nunca podem ser usados como apelo adicional da retórica, visando o credenciamento da mensagem veiculada.

5. Se um pregador trouxer uma mensagem de juízo iminente de Deus, em redes sociais, caso seja um juízo para todos os ouvintes, e ofereça uma saída bíblica, em amor, corre o risco de vir de Deus. Caso seja uma mensagem de juízo póstumo, depois do fato acontecido, e que supostamente deveria ter sido entregue antes aos ouvidos de líderes ou pessoas, em particular, que detinham o poder de evitar a punição divina, mas ao invés disso, o pregador está veiculando essa mensagem em mídias sociais, erra o alvo, e não há nada a ser evitado, só lamentado. Portanto, erra em pronunciar revelações que por mais que acredite que sim, não vieram de Deus, apenas de impressões pessoais.

6. É sensato respeitar a soberania de Deus e não esquecer que a escalada de epidemias, violência, intrigas políticas etc. vai acontecer ano após ano em um mundo que “jaz no maligno” (1Jo 5:19). Isto não significa que Jesus vai voltar amanhã. A volta dele é independente e iminente; ou melhor, não depende de nada para acontecer. Jesus pode voltar antes até de você conseguir terminar de ler esse artigo. É, contudo, óbvio que cada dia a mais é um dia a menos para a volta de Jesus. Por isso, cuidado com pregadores que sugerem datas para o retorno de Jesus com base em acontecimentos mundiais.

7. Doenças são consequências do pecado original, e acontecem todos os dias com milhares de pessoas, assim como catástrofes naturais. As catástrofes naturais são naturais, como o próprio nome sugere. E apesar de que Deus, pode recorrer a um desastre ou a uma doença como o braço pesaroso do juízo dele; no entanto, é extremamente arriscado afirmar que tal e tal catástrofe ou doença foi um juízo de Deus. Quando um pregador atribui uma catástrofe ou a uma doença a um juízo de Deus, a pergunta a ser respondida é: “Esse pregador alertou em tempo hábil cada pessoa que podia tê-la evitado?”

O fato é que não sabemos a razão pela qual Deus permite que bebês, por exemplo, morram em catástrofes e pandemias, isso diz da soberania dele. Quanto a isso, pego emprestado as palavras de Ludwig Wittgenstein: “O que não podemos expressar com palavras devemos consignar ao silêncio”. Sabemos apenas que podemos confiar no coração misteriosamente e inexplicavelmente bondoso de Deus.

8. Qualquer pregador que quiser exortar uma pessoa em particular, ou pessoas em particular, deve fazê-lo nos termos bíblicos deixados por Jesus em Mt 18. A palavra grega bíblica usada para exortar é “parakaleo”, que pode ser transliterada como “chamar de lado, falar em secreto, e em amor”. Ou seja, se um pregador, em primeira instância, expõe alguém, publicamente ao exortar, peca.

Dito isso, agora, vamos conceituar o termo profetada. “Profetada” é dizer o que Deus não disse, mas dando a impressão que ele disse. E se a gente parar para examinar, muitas profetadas envolvem interesses egoístas por trás. Imagine, por exemplo, uma profetada do tipo: “Ei, vaso, Deus tá me dizendo que você tem que me presentear o seu carro agora. E com o tanque cheio, de preferência”. Já pensou? Pois é… profetada é tipo isso.

Agora, vamos ver o que significa profecia ou profetizar. Porque daí a gente acaba também articulando melhor o conceito de profetada automaticamente. Visto que a profetada é sempre o oposto da profecia. Bom, na Bíblia, originalmente, a palavra profetizar significa simplesmente “falar em nome de Deus”, não necessariamente “prever o futuro”. É importante também entender que depois que Jesus subiu aos céus e a igreja dele foi estabelecida na terra, a vozes proféticas não são mais infalíveis, como eram as dos profetas do Velho Testamento – vozes isoladas (em tempos em que a Bíblia ainda não tinha sido escrita completamente e as pessoas não tinham onde se apoiar sobre a verdade – a não ser pelos profetas). Então, essa era de profetas aos moldes do Antigo Testamento, ou seja, profetas que nunca erravam uma profecia, profetas que tinham autoridade para escrever livros da Bíblia, profetas que personalizavam a própria voz de Deus em ação sem mistura, profetas de autoridade milagrosa infalível… esse perfil de profeta deixou de existir desde João Batista (Lc 16:16).

Agora, alguém pode perguntar: “Quer dizer então que não existem mais profetas hoje em dia?” Há dois tipos de linhas teológicas nesse sentido: os chamados cessacionistas (são os que acreditam que não existem mais profetas de jeito nenhum – uma teoria de certo modo incongruente, uma vez sempre que alguém fala uma verdade de Deus, em nome de Deus, ela profetiza) e tem os continuistas (os que acreditam que existem profetas), mas numa forma diferente. No sentido de que aquele que profetiza hoje, o faz não com a mesma amplitude de autoridade que os profetas antigos, mas sim, com a mesma qualidade de poder disponível.

Então, hoje, as orientações que a gente de Deus , são através de Jesus. E como Jesus habita no coração de todo cristão na pessoa do Espírito Santo, isso quer dizer que qualquer cristão é potencialmente uma voz profética (não apenas um profeta em participar) (Hb 1:1). No entanto as orientações que recebemos de Deus hoje, passam sempre por um filtro humano, de forma que Paulo nos lembra (1 Co 13:9): “Em parte conhecemos o que em parte profetizamos”. Isso quer dizer que não sabemos de tudo. Que nosso conhecimento sobre o futuro é parcial. E para que a gente diminua a nossa margem de erro contra o engano a gente precisa usar o crivo da Bíblia.

Como podemos, então, saber se uma profecia vem de Deus?

1. Ela precisa encorajar, exortar, ou consolar (1 Co 14:3).

2. Quando Deus revela uma profecia que anuncia um castigo é para que a pessoa evite o castigo ou para que aprenda através dele, não para que a pessoa seja fatalmente destruído por ele (Jn 3:1-5).

3. Nosso coração é enganoso – isso quer dizer que a voz que escutamos pode não estar sendo a de Deus. Uma vez que todos os dias muitas vozes estão presentes na nossa mente: a voz de Deus, a voz dos outros, a voz do Diabo, a nossa própria voz, a voz das circunstâncias e a voz das mídias (Jr 7:9). Quer ouvir um exemplo de uma profetada que poderia acabar sendo provocada como resultado de compartilhamentos inadvertidos entre as mídias sociais? Um tempo atrás, eu recebi um zap, em áudio, de uma suposta profetiza, entregando a seguinte profetada: “Vendam tudo, saiam todos das suas casas, e vão morar nos lugares mais altos, nas montanhas. Porque Deus vai enviar um juízo que vai inundar o Brasil inteiro com água. Só vai sobreviver quem estiver morando nas montanhas. Deus vai enviar tanta água que vai cobrir até a estátua do Cristo Redentor”. Sem contar com o fato de que teríamos trabalho para encontrar tantos montes mais altos que o Cristo Redentor nos estados do Brasil, profecias fatalistas como esta, que não provêem uma possibilidade de escape, não passam de sensacionalismo terrorista, de quem parece confundir Deus com uma espécie de divindade totalitarista, tirana, e desalmada.

4. Deus fala de várias maneiras, nós nunca podemos escolher como e quando ele vai falar – alguém que “super valoriza” ouvir a voz do Senhor através de uma fonte, mais que outras, não somente faz errado, mas também se engana (Jó 33:14-15).

5. Toda a profecia precisa ser encontrada ou se harmonizar de algum modo com um princípio bíblico, ou não veio de Deus (Is 8:20).

Bom, agora que você viu elencados os critérios para aferir uma verdadeira revelação, ou orientação profética, não há razão para que você caia nas garras de oportunistas mal intencionados (disfarçados de profetas), e nem na cilada de achar que “aquele sonho que você teve” é uma revelação de Deus “só porque você sente que é”. Graças a Deus, você tem a Palavra de Deus sob a luz do Espírito Santo, o qual te guia em toda a verdade, disse Jesus. Assim, você não precisa confundir imaginação com revelação; nem profetada com profecia.

Deus te abençoe muitíssimo.

Bacharel em teologia pela Faculdade Teológica e Apologética Dr. Walter Martin e mestrando em teologia ministerial pela Carolina University - Winston-Salem/NC/EUA. Pastor sênior da Igreja Batista Candelária em Candeias, PE, desde 2016. Escritor - autor do livro: Endireita-te com Deus - 7 Passos para uma Vida Emocional e Espiritual Plena. Casado com Shirley Costa, e pai do João Gabriel.

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