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opinião

A América está se ajoelhando

O mundo perderá a única referência de sociedade moral e livre do planeta.

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Donald Trump discursa no Monte Rushmore (Free News Reporter)

Irrita profundamente ao brasileiro a altivez do americano. Pelo menos a mim, me irritava bastante, na convivência que eu tinha com americanos de várias partes do país, quando recebíamos equipe de americanos em nosso projeto missionário na Amazônia.

Eu percebia que qualquer americaninho chinfrim se julgava sabido, vindo sabe-lá-de-qual-biboca, demonstrava uma autoconfiança enorme, sabia aplicar fórmulas da física ao consertar um cano de uma casa, não se envergonhava quando chamado para cantar ao microfone mesmo não tendo voz, e demonstrava um orgulho enorme do país onde vivia.

Eu acostumada com nosso estilo brasileiro, de uma gente sempre simpática, mas sempre indisposta, constantemente envergonhada de tudo o que é e faz, corroída por uma espécie de cinismo onipresente, que torna tudo impossível e sem valor, me surpreendia e me irritava ao mesmo tempo aquela gente diferente.

Mudei para a América e comecei devagar a entender o enigma da cosmovisão americana, que se revelou a mim numa equação simples. No Brasil somos ensinados a nos ajoelhar para tudo. Nos ajoelhamos para o governo, para a pátria, para a ciência, para o poder eclesiástico, para títulos de importância, para os parentes mais relevantes e mais velhos da família extensa.

O indivíduo no Brasil pode ser definido pelo verso da célebre “My Way” – somos the one who kneels que Sinatra jura nunca ter sido. Definimos individualidade a partir da ideia de pertencimento ao grupo. Portanto, o ajoelhamento é uma necessidade. Na América o indivíduo tem valor inerente porque foi criado por Deus igual a todos. O seu valor individual não depende da posição social que ocupa. E porque ele tem valor por existir, valoriza tudo o que é e faz e valoriza o mundo em que vive.

Mas a cultura americana está mudando. Quando o atleta do futebol americano Collin Kapernick se ajoelhou na hora do hino antes da partida – e aquilo foi tomado como uma grande ofensa por muitos americanos – eu tive que me esforçar para entender por que o ato do atleta estava encontrando tantos críticos.

Foi aí que eu percebi a profundidade simbólica do conceito americano de ficar de pé. Na América você fica de pé pela pátria em posição de orgulho e prontidão, em devoção ao coletivo, mas em pleno uso de sua agência individual. Você não se curva, como nós latinos estamos acostumados, diante de um destino fatalista, pré-determinado pelos “deuses” ou pelo “sistema.” Diante da bandeira a sua iniciativa é essencial, é o que torna a pátria o que é. Aqui você se ajoelha diante do Criador, mas fica em prontidão, de pé, para as tarefas da vida.

E foi exatamente isto o que disse Donald Trump num discurso injustamente polemizado pela mídia esquerdista, que, no entanto, vai passar para a história como um dos discursos presidenciais que mais traduz a essência da alma americana. Traduzo aqui alguns trechos:

Nossos fundadores estabeleceram não uma revolução no governo, mas uma revolução na busca da liberdade, justiça, igualdade, liberdade e prosperidade. Nenhuma nação tem feito mais para avançar a condição humana do que os Estados Unidos… Tudo isto se tornou possível por causa dos 56 patriotas que se reuniram na Filadélfia há 244 anos atrás e assinaram a Declaração da Independência. Eles consagraram uma verdade divina que mudou o mundo para sempre dizendo: “todos os homens foram criados iguais” Estas palavras imortais colocaram em movimento uma marcha por liberdade que não pode ser parada.

Nossos fundadores audaciosamente declaram que todos são dotados dos mesmos direitos divinos, dados a nós por nosso Criador celestial. E o que Deus nos deu, nós não vamos permitir que ninguém nunca, retire. 1776 representa a culminação de milhares de anos de civilização ocidental e o triunfo não só do espírito, mas da sabedoria da filosofia e da razão. E, ainda enquanto nos reunimos aqui hoje à noite, um perigo crescente ameaça cada benção que nossos ancestrais lutaram sofreram e sangraram para nos assegurar. Nossa nação está testemunhando uma campanha impiedosa que quer borrar nossa história, difamar nossos heróis, apagar nossos valores morais e doutrinar nossos filhos… Eles pensam que o povo americano é fraco e submisso. Mas não, os americanos são fortes e orgulhosos e não vão permitir que nosso país, nossos valores, história, cultura sejam tomados por eles.

Uma de suas armas políticas é a cultura do cancelamento- que faz com que pessoas percam seu emprego, expondo os dissidentes à vergonha, demandando total submissão de todos os que discordam. Esta é a definição do totalitarismo e é completamente estranha à nossa cultura e nossos valores e não tem lugar nos Estados Unidos da América. O ataque à nossa liberdade, ou liberdade magnificente, tem que parar, e vai parar logo… Nas nossas escolas, nas salas de reportagem, e até nos escritórios das corporações existe um radicalismo de extrema esquerda que demanda absoluta lealdade. Se você não fala a sua língua, performa seus rituais, recita seus mantras, e segue seus mandamentos você é censurado, banido, boicotado, perseguido e punido. Isto não vai acontecer conosco.

Entenda, este movimento cultural da esquerda quer a derrubada da Revolução Americana, e com ela a civilização que resgatou bilhões da pobreza, doença, violência e fome, o que levou a humanidade para novos níveis de realização descoberta e progresso.

Nós queremos liberdade e debate aberto, não códigos de linguagem e esta cultura do cancelamento. Nós afirmamos a tolerância e não o preconceito. Nós afirmamos os corajosos homens e mulheres da força policial. Não vamos abolir nossa força policial nem nossa grande Segunda Emenda, que nos dá o direito de ter e usar armas.

Nós cremos que nossas crianças devem ser ensinadas a amar seu país, a honrar a sua história e a respeitar a bandeira americana.

Nós estamos de pé, nós nos erguemos em orgulho, nós nos ajoelhamos apenas diante do Deus altíssimo.

A América, que conquistou mais prêmios Nobel do que qualquer outro país do mundo (mais do que o dobro do segundo colocado que é o Reino Unido), país que domina a cultura, a tecnologia e o discurso moral no mundo, o fez até agora com a humildade de quem se ajoelha diante do Criador, e com o orgulho de indivíduos que ficam de pé, sustentado por seus próprios pés.

Este “estado de espírito” em relação à pátria é o que era considerado a excepcionalidade do projeto americano de sociedade. O único país do mundo que se definia a partir de seus indivíduos e não a partir de uma estrutura estatal, oligárquica que representasse o povo.

Infelizmente, graças à política progressista que tem dominado o país devagar, a América vai se ajoelhando, como nós os mais medíocres. O país se ajoelha diante da esquerdização inexorável, e os cidadãos se ajoelham diante do Estado que se fortalece como o centralizador da esperança e da transcendência coletiva.

Os americanos com certeza perderão a sua força, e o mundo perderá a única referência de sociedade moral e livre do planeta.

Trabalhou como missionária na Amazônia e no Pacífico Sul. É Mestre em Divindade pela Universidade de Yale, Estados Unidos, e doutoranda em história e teologia política na Universidade de St. Andrews, Escócia. É autora dos livros Chamado Radical e Tem Alguém Aí Em Cima?, publicados pela Editora Ultimato. É casada com Reinaldo Ribeiro e mãe de três filhos.

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