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opinião

Tempo de esperança em meio a “cem anos de solidão”

Dias das Mães, aniversários, datas comemorativas. Não vamos trancafiar a nossa humanidade.

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Homem caminha sozinho com máscara. (Macau Photo Agency / Unsplash)

Acabamos de celebrar a Páscoa e logo estaremos no Dia das Mães! Quero aqui refletir como a nossa postura mental, psicológica e espiritual pode nos ajudar nessa situação de enfrentamento da pandemia, especialmente para as pessoas que estão isoladas em casa e trabalhando em regime de teletrabalho, por conta da restrição social.

A proposta simbólica da data festiva é que devemos entrar em isolamento social, mas sem trancafiarmos nossa humanidade.

Escrevo essas linhas porque, para mim, nossa essência humana, com todas as suas vicissitudes, ainda nos faz mais interessantes do que quaisquer outros seres, inclusive os angelicais. Acho que é porque temos consciência da própria finitude. Sentir o medo e a morte ao derredor faz com que tenhamos mais apego às nossas tradições, crenças, sonhos e à necessidade de nos relacionarmos para passar adiante nossa continuidade e existência.

Por isso, pensei: diante do estar sozinho, por que comemorar? Lembrei-me então de meu autor latino-americano preferido e seus livros de realismo fantástico, o colombiano Gabriel García Márquez. Primeiro, porque para dar conta do que estamos vivendo hoje, somente um realismo fantástico muito imaginativo para prever tal situação de crise e de tempos difíceis.

Segundo, por conta do paralelo dos sugestivos títulos dos livros mais famosos do “Gabo”: “Amor em Tempo de Cólera” e “Cem Anos de Solidão”. O contexto de crise socioeconômica e de relacionamentos distantes e sem contatos permeiam suas obras primas. Terceiro, o conceito que extraímos das narrativas é o amor que sobrevive ao caos e que alimenta a esperança de um mundo melhor.

Trago comigo duas frases provocativas do autor que vejo como um reforço do porquê de comemorarmos as datas festivas: “o que é essencial, portanto, não é que você não acredite mais, mas que Deus continua a acreditar em você”.

E “amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte”. Paro por aqui de citá-lo para despertar em você a curiosidade de lê-lo.

Mesmo que eu saiba da importância da rua e do convívio social para a troca de afetos, sensibilização do olhar e do cuidado com o outro, neste momento necessitamos da reclusão social como principal arma de prevenção contra o vírus. E devemos obedecê-la não apenas por causa de nós, como indivíduos, mas pelo bem da sociedade. Mas achei curioso que uma das coisas que mais me faz falta agora em isolamento é deixar de ouvir meu próprio nome.

Sem o afeto do outro em dias assim, corremos o risco de nos descaracterizarmos sem saber e de até perdermos nossa identidade e pertença.

A convivência social é que também nos define como humanidade e desafia nosso egoísmo. O vazio, o silêncio e a solidão podem desalmar o ser humano. Já a convivência social floresce a alma. E o legal da convivência são os detalhes: a risada, o olho no olho, a testa franzida, o jeito de falar ou o arrumar o cabelo.

Esse conceito foi reforçado em mim quando li Rubem Alves, escritor e educador brasileiro. Foi com ele que aprendi que “ostra feliz não faz pérolas” e que “a alma de toda pessoa deve ser colorida”. Hoje, sozinho em casa, eu concluo que quem pinta nossa alma para ficar colorida são os outros. São os amigos. São a mutualidade e reciprocidade, principalmente diante do sofrimento.

*Por Roney de Carvalho, teólogo e Coordenador dos Cursos de Humanas da EAD Unicesumar

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