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opinião

Os cuidados que devemos ter com a nossa vida virtual

Como fugir da armadilha de se sentir célebre todos os dias

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Essa coisa de ser celebridade é interessante porque sempre esteve presente no coração do homem. Então, essa mania de querer ser célebre, de ser conhecido, reconhecido e fugir do anonimato nasceu com o pecado e já aparece bem no início, no episódio da torre construída lá em Babel.

De lá para cá isso só vem aumentando e se reinventando através da cultura participativa e intensamente conectada como a dos nossos tempos. E todos nós temos desejado receber curtidas pelo o que fazemos e sem perceber corremos o risco de nos tornamos numa espécie de microespetáculo diário.

Nem todo desejo de aprovação é injusto, ou pecaminoso, ninguém é uma ilha e Deus nos fez seres sociais. E é assertivo também louvar e se alegrar pelo caráter bom de homens e suas obras. Principalmente se este é um servo e cooperador do evangelho de Cristo. É salutar e aceitável, e o Paulo tinha consciência disso quando elogiou a Timóteo: “Não tenho ninguém como ele, que tenha interesse sincero pelo bem-estar de vocês, pois todos buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo”.

E quando recomendou que se honrasse a Epafrodito: “Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão e cooperador… E peço que vocês o recebam no Senhor com grande alegria e honrem a homens como este, porque ele quase morreu por amor à causa de Cristo, arriscando a vida para suprir a ajuda que vocês não me podiam dar”.

Quando o elogio é um problema? Quando o desejamos e nos empenhamos para consegui-lo.  Quando a Madame de Stael, romancista francesa em seu leito de morte afirma por meio de uma pergunta, “ Sabe qual é a última coisa que morre em uma pessoa? É o seu amor-próprio.” ela simplesmente está repetindo, de forma consciente ou não, uma verdade e um mandamento bíblico que recomenda: “Nada façam por egoísmo ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmo…”. O ruim é que Madame Stael percebeu isso só no final da sua vida.

O amor próprio tem nos levado nas ondas virtuais, quando nos deixamos levar pela aspiração ligado ao desejo de aparição, o parecer ser, e o parecer ter andando juntos. Pense nisso hoje enquanto navega pelas redes.

Há um tempo atrás ser uma celebridade parecia ser uma profissão única. Um ator global, um jogador, um cantor. Mas, esse “fator celebridade” chegou até nós, pobres mortais, através de simples cliques. Tanto é que a quantidade de blogs narrando experiências próprias se multiplicaram por milhões.

De repente ficamos sabendo como é a casa daquela pessoa por dentro e o que ela comeu no almoço de domingo, onde ela comeu e com quais pessoas estavam. Por esses dias estava em determinado lugar quando recebi uma mensagem de quem não via a muito tempo. Ela me informava, “Você está bem aqui perto de mim”, e lhe perguntei, “Mas, como você sabe, você está me vendo?” Fiz essa pergunta porque pensei que ela estava me enxergando de algum ponto. E sim, ela estava me vendo, e não, ela não estava perto a um golpe de vista.

Essa minha amiga-conhecida estava a pelo menos uns 300 metros de onde estava, dentro de uma sala. E a explicação para ela saber onde me encontrava foi que eu tinha, dias atrás, acionado no meu aparelho celular um aplicativo que dá a localização de pessoas em tempo real. Logo percebi que se eu queria saber onde as pessoas estavam, por tabela eu revelaria para todos onde eu estava também, achei muito assustador tudo isso e tratei de deletar rapidamente esse aplicativo.

Esse desejo de ser celebridade atinge a todas as profissões. Quero ser um advogado, mais também quero ser famoso, desejo ser um arquiteto, mas quero fazer um reality show, sou uma médica, mas não desejo que o meu honroso trabalho passe despercebido. A linha tênue entre ser visto e o desejo sincero de ser útil, de ajudar mesmo está se estreitando cada vez mais. Precisamos prestar atenção ao nosso coração que é desesperadamente corrupto.

A verdade é que isso é uma realidade em nossas vidas e há um meio termo, uma moderação, um equilíbrio a ser buscado por parte de todos os crentes que desejam agradar a Deus. As nossas aparições precisam de santificação.

A tecnologia que nos trouxe as redes sociais é ainda uma adolescente, é nova – não tem 15 anos ainda – ela é boa, e diria até excelente, de acordo com o bom manuseio dela. Contudo, poderá tornar-se ruim e um campo de batalha constante se não tomarmos cuidado.

Há sempre a possibilidade de que eu venha a perder a mão e exagerar na utilização dela. Percebi que é muito fácil virarmos inimigos de conhecidos e desconhecidos. Isso pode ocorrer só por causa de debates de opiniões em baixo, nas postagens. Descobri ainda que se queremos debater ideias mais profundas e complexas, a escrita de comentários parece não ser uma “boa ideia”.

Simplesmente porque existe uma limitação na palavra escrita, e que toda conversa séria e relevante precisa dos olhos, do contorno da boca, do movimento das mãos para se saber em qual grau de interação estamos, se positiva ou negativa. Sim, a vida virtual tem suas complexidades e desafios, e não devemos nos dar por satisfeitos com ela. A presença ainda é a maior das confraternizações e bem melhor para o entendimento. Eu sei que muitas vezes isso não será possível, mas, é bom ter em vista essa questão.

Outra coisa que desejo pontuar é que não devemos jogar pérolas aos porcos. Pessoas muitas vezes não desejam aprender, antes desejam debater somente. E onde está o valor da interação? Eu não vejo nenhum que valha tamanha exposição. Digo isso, porque acredito que não seja necessário entrar em postagens alheias para confrontar ideias dos outros. Se não concordo, fico na minha.

Aqui é a medida da utilidade que cada um tem, cristãos mais novos e mais velhos possuem esta medida trazida pelo Espírito de Deus. É necessário mesmo ficar “desdizendo” os outros em público? Se ele concorda com algo que discordo, não será melhor e mais sábio deixar pra lá e evitar o confronto desnecessário? Antes, será mais salutar, se for um irmão próximo, fazer um esforço bondoso e entrar no privativo e conversar com ele.

Se não for tão próximo, e ele está afirmando algo estranho à fé, sempre terá uma pessoa, ou seu pastor, ou algum amigo de verdade que irá chama-lo bondosamente à uma reflexão a respeito. Se ele não tiver esses amigos que se importem, talvez a culpa seja dele próprio.

Já vi pessoas cristãs dizerem que o “face” é um lugar público, e que sendo assim, não é intromissão alguma entrar em conversas alheias, inclusive, não há conversas que não sejam públicas em uma timeline. Seja quem seja, fale quem fale, posso também expor lá minhas opiniões. Se há um lugar para comentários, então é normal que eu exponha minha opinião quando quiser.

Bom, quanto a isso, a pessoa que criou e ajuizou este espaço público deseja interação, e interação de qualquer maneira. Quanto mais acessos e fuá, tanto melhor para o empreendimento. Mas, nós cristãos nos moveremos dentro deste espaço apoiando-nos na medida do lícito e do que convém, certamente.

Me apetece a ideia de grupos de discussões, onde se busca o debate, é muito válido. Mesmo que lá também termina por funcionar como um grande espelho, tanto do grau de conhecimento bíblico, como também do discernimento, da sabedoria e domínio próprio que cada um tem.

Não adianta, se existe algo que as redes sociais sabem fazer com maestria é revelar onde as pessoas estão na fé, dando sentido exato ao que Salomão disse há muito tempo: “Os sábios acumulam conhecimento, mas a boca do insensato é um convite à ruína”. Pv 10.14. Podemos substituir aqui a palavra boca por teclado tranquilamente.

O grau de orgulho, de impaciência e a falta de generosidade são demonstrativos claros se somos iniciantes ou maduros e experimentados na Palavra… Quanto mais sábio, mais cauteloso o cristão será. O apóstolo Paulo fala sobre o buscar a moderação em tudo.  Ele diz: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”. Ele falou isso para o jovem Timóteo e fala também a todo crente. Com essa exortação sou obrigada a considerar e ponderar todas as coisas. As minhas fotos, as minhas considerações e interações. Não seguindo a corrente, que me incita a dizer o que penso o tempo todo.

Comecei falando sobre ser uma celebridade, e desejo terminar dizendo que o feito mais célebre que devemos perseguir é a glória de Deus. E que tudo o mais, deverá ser norteado por esse desejo. E que toda a nossa alegria e exultação virá do significado de ser nomeado simplesmente pela expressão, ser um redimido, e estar entre aqueles outros redimidos do capítulo 5 de Apocalipse.

À Deus toda a glória!

Jornalista e escritora, com um livro publicado "Feminilidade Bíblica - Repensando o papel da mulher à luz de cantares", e também escritora de livro didático. Casada com Nelson Ferreira, pastor da IPB, mãe da Acsa e avó da Clarisse. Em breve publicará seu primeiro romance .

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