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opinião

O sentido da vida

Se não está no conhecimento, na sabedoria, no poder, no domínio do mundo, na tradição religiosa, na capacidade de exterminar os que consideramos nossos inimigos, nem nas riquezas, onde estará?

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Criança brincando. (Foto: MI PHAM / Unsplash)

Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.
(Mateus 22:36-40)

Afinal, o que procuram as pessoas na vida?

Os antigos gregos, através da Filosofia, procuravam entender a vida, o mundo e o universo; alcançar a Sabedoria. Mas o conhecimento e a sabedoria não lhes permitiram atingir a felicidade. Sócrates suicidou-se.

Os romanos, fazendo uso do exército e da força, adquiriram um poder imenso e dominaram o mundo de então, tal como todos os impérios. Mas o poder e o domínio de outros povos não lhes permitiu alcançar a felicidade. Depois de muitas perturbações o império dividiu-se em dois e mais tarde foram invadidos por hordas de bárbaros.

Os judeus, através dos preceitos religiosos, procuravam a vida eterna, mas de forma sectária, considerando os gentios como impuros e indignos da graça de Deus.

Mas a tradição religiosa não lhes permitiu alcançar a felicidade. Forçaram a execução de Jesus, e algum tempo depois sofreram uma carnificina pelo exército romano, vendo o seu centro de adoração, o Templo de Jerusalém, ser profanado e destruído.

O nazismo, através duma ideologia, além do poder e domínio sobre o mundo do séc. XX, procuravam exterminar largas faixas da população, como judeus, ciganos, deficientes, homossexuais, e outros. Mas o poder, o domínio de outros povos e o extermínio de milhões de pessoas não lhes permitiu alcançar a felicidade, nem sequer o prometido Reich de mil anos. Os alemães foram derrotados e Hitler suicidou-se.

O poder financeiro, através do controlo dos mercados, procura alcançar riqueza inesgotável, mesmo à custa de condenar à fome e à morte muita gente, lançando mão de especulação com cereais ou desenvolvendo negócios de armas, droga e tráfico de seres humanos. Mas as muitas riquezas não lhes permitiram alcançar a felicidade, por isso querem sempre aumentar os seus lucros mais e mais.

Onde está o sentido da vida?

Se não está no conhecimento, na sabedoria, no poder, no domínio do mundo, na tradição religiosa, na capacidade de exterminar os que consideramos nossos inimigos, nem nas riquezas, onde estará? Jesus deu a resposta: está na nossa relação com os outros, pois somos seres relacionais.

Fomos feitos não para dominar os outros mas para os amarmos, isto é, para darmos e recebermos amor.

O segredo está no grande mandamento de Jesus, que é amar a Deus de todo o coração, o que implica conhecê-lo pessoalmente através da Sua Palavra e obedecer-lhe de acordo com a revelação que temos a cada momento.

Mas também está na capacidade de amar o próximo, na mesma medida em que nos amamos a nós mesmos. Quando não amamos a Deus temos muita dificuldade em amar o próximo, em especial quando ele não nos ama ou respeita, ou mesmo quando se constitui como nosso inimigo.

Por fim, mas não menos importante, o sentido da vida está ainda na capacidade de me amar a mim mesmo. O espírito religioso (e a tradição) diz que eu não presto e por isso não é suposto que me ame.

Parece uma atitude egoísta, auto-suficiente e até de soberba, mas parece tudo isso porque procede duma mentalidade eivada de religiosidade.

A questão é que Jesus sabia que se eu não me amar nunca conseguirei amar os outros. Se não me aceitar não aceitarei os outros. Se não estiver disponível para perdoar as minhas próprias faltas nunca conseguirei perdoar as dos outros.

A lógica do mandamento é que o amor que mantenho na relação com Deus é que me capacita e prepara para amar os outros. Mas também não conseguirei amar os outros se me odiar a mim mesmo.

Pense nisso.

Nasceu em Lisboa (1954), é casado, tem dois filhos e um neto. Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões, é director do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, em Lisboa, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e investigador.

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