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opinião

O que significa seu nome?

O princípio maior sobre o qual se alicerça essa questão do nome é o de que “há poder nas palavras”.

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Criança com a Bíblia na mão
Criança com a Bíblia na mão (Foto: Reprodução/Unsplash)

“… pois como é o seu nome, assim é ele.” (1 Samuel 25:25)

O significado do nome de uma pessoa é algo que sempre teve grande importância ao longo da história, nas mais diversas culturas. Entretanto, no Ocidente isso acabou se perdendo ou, pelo menos, passou a ser tratado com pouca relevância, sendo o nome próprio usado basicamente para identificação.

Esse assunto despertou minha atenção ao ouvir a palestra de um rabino, na qual ele explicava que na cultura judaica é necessário escolher com cuidado o nome de alguém, atentando-se para seu significado. E que, quando uma pessoa se converte ao judaísmo, lhe é atribuído um “segundo nome” que sirva para realçar e fomentar uma qualidade.

Apesar de, como cristãos, não termos intenção de nos submetermos aos preceitos do judaísmo, é inegável que podemos aprender coisas importantes da cultura e do pensamento judaicos, mesmo porque Jesus era judeu, praticava o judaísmo e afirmava que não viera à terra para anular a lei que Deus comunicara a Moisés.

Enfim, considerei muito interessante essa ideia do “segundo nome”.

Observe o detalhe: “fomentar uma qualidade desejável”.

Diante disso, em casa atribuí aos meus filhos os seguintes apelidos (ou títulos): Esforçado (o mais velho), Corajosa (a mocinha) e Determinado (o caçulinha).

O mais velho, o Esforçado, passou por algumas adversidades na infância, especialmente por causa de problemas na visão e de alguma disfunção que o fazia ter dificuldades para ler e interpretar textos. Foi submetido a várias consultas com especialistas, usou protetor ocular em um dos olhos, teve dificuldades na escola, e tantos outros obstáculos. Con­tudo, apesar disso, enfrentou todas as provações sem reclamar. Como a qualidade de ser “Esforçado” é algo bom e pode ser por ele mesmo cultivada, acreditei ser pertinente.

A menina, a Corajosa, mesmo sendo bem jovem, em alguns momentos já demonstrava que tinha por característica agir, ainda que sentisse medo.

O caçula, o Determinado, é o típico ser humano que não desiste daquilo que quer, mesmo que precise conseguir no “grito”.

Perceba que poderia ter apelidado minha menina de “Linda”, porém, segundo o princípio do ensinamento que extraí, ser “Linda” não é algo em que deva investir sua energia. Sim, é bom que seja bonita, mas isso é secundário.

Para qualquer um deles faria sentido o apelido “Inteligente”, contudo a inteligência, por si só, parece-me algo nato. Tenho a impressão de que alguns nascem com mais potencialidades intelectuais do que outros. Mas, independentemente da extensão da capacidade de cada um, com muito Esforço, Coragem e Determinação, é possível alcançar lugares relevantes, com plena realização e felicidade.

Aliás, sobre essa questão de potencialidade, o rabino Benjamin Blech relata que segundo o Midrásh “… quando uma pessoa passa para o outro mundo, pergunta-se à sua alma: ‘Qual é o seu nome?’ e ‘Você viveu todo o seu potencial?’” (O mais completo guia sobre o judaísmo, p. 210).

No judaísmo ensina-se que o nome “… refere-se àquela parte de nós que verdadeiramente define a identidade” e, também, que ele “… é o seu chamado espiritual, um título que reflete seus traços particulares de caráter e os dons concedidos por Deus”.

O rabino Y. Z. Wilhelm, no livro Nomes – Leis e costumes judaicos referentes à atribuição de nomes para os filhos e tópicos relacionados, reforça que “meshanê shem, meshanê mazal – uma mudança do nome produz uma mudança de destino” (p. 10) e, ainda, que “… o nome pelo qual a pessoa é chamada constitui sua alma e sua força vital” (p. 11).

O Talmude ressalta a importância do nome ao ensinar que “Quatro coisas anulam um decreto severo sobre um homem, a saber: tsedacá [caridade], súplica [oração], teshuvá [mudança de nome e mudança de conduta] …” (Rosh Hashaná 16b).

A Bíblia, por sua vez, está repleta de personagens cujos nomes foram atribuídos ou mudados por Deus ou mesmo al­terados por pessoas diante de determinadas situações: Abraão, Isaque, Jacó, Sarai, Oseias, Jesus, João, Pedro, Paulo etc.

Aqui vale um alerta: a consciência da relevância do nome também deve servir para prevenir os pais, e aqueles que ocupam posição de autoridade sobre outros, de jamais apelidar ou atribuir a seus filhos expressões pejorativas ou que, de alguma forma, os diminuam.

O princípio maior sobre o qual se alicerça essa questão do nome é o de que “há poder nas palavras”. Contudo, espe­cificamente sobre isso abordarei em outra ocasião.

Enfim, espero ter sido despertada a atenção do leitor para a realidade da importância dos nomes, sejam eles oficiais ou informais (apelidos), devido à influência que podem ter sobre a vida, o caráter e o destino de seu titular.

Advogado, escritor e palestrante. É autor de seis livros e co-autor de outros. Em seus textos, aborda temas religiosos, jurídicos e de aconselhamento profissional e pessoal. É mestre Direito pela Universidade de Girona, na Espanha, e possui cinco pós-graduações lato sensu. Casado com Raquel e pai de três filhos, Enzo, Giovanah e Vitório.

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