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estudos bíblicos

O que é fé?

“ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hebreus 11:1)

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Mulher orando no meio da floresta (Diana Simumpande / Unsplash)

Fé: essa pequena palavra de grande significado tem acompanhado os homens desde os primórdios.

Segundo o dicionário, pode ser definida por crença ou confiança; no dicionário teológico a definição de fé é levemente ampliada para: “à crença intelectual quanto à confiança ou ao compromisso em um relacionamento”[1]; já no dicionário de ética aponta para um contexto relacional: “um termo teológico que denota um aspecto central da postura que os seres humanos devem ter no relacionamento com Deus.” [2]

As breves definições acima tratam da primeira parte de Hebreus 11:1 “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam”.

Transcrevo a seguir uma bela definição prática de fé relacional que li no livro Evangelho Maltrapilho, de Brennan Manning:

“Uma casa de dois andares estava pegando fogo. A família – pai, mãe, vários filhos – estava saindo quando o menino mais novo ficou aterrorizado, fugiu de sua mãe e subiu correndo as escadas.

Ele de repente apareceu numa janela do andar superior, chorando como louco em meio à fumaça. Seu pai, do lado de fora gritava: “Pule, filho, pule! Eu pego você”.

O menino gritou: “Mas, papai, eu não consigo ver o senhor”. “Eu sei”, disse o pai, “mas eu estou vendo você”.[3]

Sem sombra de dúvida esse exemplo ilustra a segunda parte de Hebreus 11:1 “e a prova das coisas que se não veem”.

Agora vamos considerar os três tipos de Fé que encontramos: a primeira é chamada de fé comum ou natural; a segunda de fé salvífica ou salvadora e a última de fé operante.

Comum

A fé comum na teologia é chamada de assensus, termo latino referente ao assentimento intelectual de uma verdade teológica ou aceitação dessa verdade. Brancroft a nomeia de fé natural: possuída por todos.

“A fé natural é aquela confiança ou crença possuída por todos os homens, em graus diversos, a qual se fundamenta sobre testemunho material e sobre evidência aparentemente digna de fé. É insuficiente, entretanto, para satisfazer as necessidades morais e espirituais do homem ou as exigências de Deus”.[4]

Embora o conceito bíblico de fé inclua a ideia de assensos, este não pode ser comparado à fé salvadora, como Tiago 2:19 observa: “os demônios também creem”, ou seja, dão assentimento intelectual à existência de Cristo, embora não exercitem a fé salvadora nele.”[5]

Portanto, a fé comum é aquela que você encontra com as pessoas nas ruas, no trabalho, na escola. Essa fé natural, recebida por todos, não provoca mudança espiritual. Portanto, não é capaz de salvar.

Salvífica (Salvadora)

A fé salvadora é uma ação de Deus em favor do homem, que o leva a confiar de forma irrevogável em Deus como seu Salvador. Efésios 2:8-9 diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”, essa é a fé experimentada por todos os crentes nascidos de novo.

Me permita ilustrar a diferença entre fé comum e fé salvífica: Conta-se a história de um senhor analfabeto que sofria de um problema sério de saúde e que precisava tomar um remédio diariamente. Só que por descuido, colocaram no mesmo armário onde ficava o remédio desse senhor, um vidro de veneno mortal, claro que o vidro de veneno estava devidamente identificado. Porém, ao abrir a porta do armário para pegar o seu remédio, o senhor, analfabeto, não conseguindo distinguir entre os frascos, pega o do veneno, no entanto, ele cria que era o seu remédio.

Ao tomar o veneno, crendo que era o remédio o que você acha que aconteceu àquele senhor? Ele morreu! Pois, a maior fé que seja, na coisa errada pode levar a morte. Contudo, a pequena fé na pessoa certa – Jesus, nos leva para o céu. Como encontramos no versículo mais conhecido da Bíblia João 3:16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Com isso em mente podemos avançar para uma questão de suma importância na doutrina da Soteriologia (disciplina do corpus da teologia sistemática que estuda a obra redentora de Deus na vida do homem), que é: como era a salvação para o homem no período anterior a lei, durante a lei e no período atual da igreja?

A Bíblia testemunha que o patriarca Abrão, antes da lei, foi justificado pela fé “E creu ele no Senhor, e imputou-lhe isto por justiça”; no período da lei mosaica o profeta Habacuque categoricamente declara: “mas o justo pela sua fé viverá” (Hc.2:4a); e na dispensação da igreja precisamos voltar para Efésios 2:8a “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé”. Diante disso concluímos que a salvação em todas as épocas sempre foi realizada através da fé em Deus, razão pela qual o Senhor Jesus declarou:

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo.1:12).

Operante

A fé operante do latim fiducia significa obter confiança ou manifestar compromisso.[6] Fé operante foi o que o centurião manifestou no encontro com o Senhor Jesus. Ele cria que Jesus poderia curar e foi até ele:

“E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe” (Mt.8:5).

Sendo uma autoridade romana, ele demonstrou grande humildade ao se aproximar de um judeu que como representante de sua nação judia estava debaixo do julgo de Roma:

“E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar” (Mt.8:8).

A Fé Operante visa o outro: “E dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado” (Mt.8:6). O encontro de fé alcançou o objetivo do centurião romano (Mt.8:13).

A confiança profunda em Deus nos leva a ser heróis da fé. Um pastor fez a seguinte observação sobre os heróis da fé de Hebreus capítulo 11 “Os heróis da fé não são heróis por serem muito abençoados, mas porque abençoaram a muitos.”[7]

É justamente sobre essa fé operante que Tiago está falando em sua epístola (Tg.2:14-18,20). Por sermos salvos podemos operar uma fé que se importa, que socorre e transforma. Sem separamos a fé salvadora da fé operante. Pois, as boas obras foram preparadas para nós os filhos de Deus como encontramos em Efésios 2:10:

“Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”.

A Fé operante é que move a onipotente mão de Deus em favor de seus filhos. Fé, para cura física (Mt.9:22,29; Tg.5:14-15). Para operar maravilhas (Mt.21:21; Jo.14:12; Hb.11:32-34). Entre outras, pois todas as coisas são possíveis à fé (Mt.9:23; 19:26; Fl.4:13).

Credo ou confissão

Fé como conjunto de crenças e doutrinas baseadas na revelação de Deus por meio das Sagradas Escrituras, conforme Judas 3 “Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”, como, por exemplo, o Credo Apostólico e Niceno de 325 d.C.:

“Creio em Deus Pai Todo-poderoso, e em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, nosso Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria; foi crucificado, morto e sepultado sob Pôncio Pilatos e, ao terceiro dia, ressuscitou dentre os mortos, subiu aos céus, está assentado à destra do Pai, de onde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, Santa Igreja, no perdão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.”[8]

Ou a “Confissão de Fé Batista de 1689”, recomendada pelo renomado pregador Charles H. Spurgeon.[9] A Fé é um dos elementos necessários para a formação do caráter cristão.           

A fé e a vida cristã

A Fé é a base essencial para a relação com Deus: “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hb.11:6).

A vida em Cristo denota fé diária “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé” (Rm.1:17a).

A Fé faz parte da tríade da vida cristã: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor” (1Co.13:13). Ainda que o amor seja a maior entre a tríade da graça cristã, a fé é a primeira e torna possível a recepção das outras.[10]

A fé genuína fará a diferença entre aqueles que acreditam em Deus apenas intelectualmente e daqueles que acreditam em Deus de todo o coração (Mt.8:10-12). O pastor Ernest Kraft fez uma entrevista na Praça da Árvore (um dos bairros da cidade de São Paulo) perguntando para as pessoas se elas criam em Jesus. Todos os entrevistados disseram que sim. Até mesmo um jovem, que estava vivendo na rua, alegou que cria muito em Jesus. Mas enquanto, o jovem falava, chegou a polícia e o levou. Levaram-no junto com sua fé. Ele tinha roubado coisas, mas tinha fé em Jesus.[11]

Concluo com a declaração doutrinaria de Bancroft: “A fé pode fazer qualquer coisa que Deus pode fazer.”[12]

[1] GRENTZ, Stanley J.; GURETZKI, David; NORDLING, Cherith Fee. Dicionário de Teologia,  p.57, Editora Vida.
[2] GRENTZ, Stanley J.; SMITH, Jay T.. Dicionário de Ética, p.75, Editora Vida.
[3] MANNING, Brennan. O Evangelho Maltrapilho, p.121-122, 2005, Editora Mundo Cristão.
[4] E.H. Brancroft, Teologia Elementar, p.244, 1995, Editora Batista Regular.
[5] GRENTZ; GURETZKI; NORDLING; p.17.
[6] GRENTZ; GURETZKI; NORDLING; p.59.
[7] BOMILCAR, Nelson (org.). Outra Espiritualidade, p.187, Editora Mundo Cristão.
[8] BOMILCAR, p.170.
[9] Fé para Hoje, Editora Fiel, 1991.
[10] Brancroft, p.243.
[11] Kraft,Ernest – Ilustrações para Mensagens, p.23.
[12] Brancroft, p.253.

Pastor Batista, Diretor dos Amigos de Sião, Mestre em Letras - Estudos Judaicos (USP).

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