Siga-nos!

estudos bíblicos

O que a Bíblia diz sobre planejamento familiar?

Conceito geral de planejamento familiar.

em

Família reunida. (Foto: Envato / choreograph)

O que as Escrituras dizem sobre planejamento familiar

Segundo William Coleman, “o registro histórico apenas toca de leve na questão do controle da natalidade praticado nos tempos bíblicos”. Este escritor informa que mesmo naquela época “existiam alguns métodos que até eram recomendados pelos rabis. Além dos métodos óbvios da abstinência e da interrupção do coito, já se empregavam alguns controles artificiais também. Algumas mulheres aplicavam esponjas embebidas em suco de frutas cítricas, com alto teor de acidez” [4].

Coleman, porém, não explica se tais métodos eram contraceptivos (para impedir a concepção) ou se eram abortivos (para matar a criança sabidamente já gerada). Em todo caso, tem-se este subsídio histórico sobre práticas ainda incipientes de controle de natalidade nos tempos bíblicos.

Antigo Testamento

Atente para este texto curioso no livro de Provérbios: “Termine primeiro o seu trabalho a céu aberto; deixe pronta a sua lavoura. Depois constitua família” (Provérbios 24.27, NVI)

Creio que este versículo estabelece um princípio importante para o planejamento familiar: ter condições materiais de prover o sustento para uma família. Infelizmente hoje vê-se jovens casando as pressas depois de já haver assumido a maternidade e a paternidade, muitas vezes sem nenhuma estabilidade financeira. Ou seja, primeiro se fez o filho para depois se casar e se organizar um lugar para morar. A ordem dos acontecimentos, porém, deve ser conforme expõe o texto bíblico:

trabalho > provisão > constituição de família

A recomendação, creio, serve também para os jovens recém-casados. Embora a maternidade seja o sonho de muitas moças (e que bom que assim seja, pois a maternidade é de fato uma nobre missão delegada às mulheres), é preciso garantir que “o seu trabalho a céu aberto” já tenha sido concluído e que “a sua lavoura” esteja pronta, para só então buscar os filhos.

Isso não significa protelar a maternidade infinitamente, ou esperar pela conclusão de três doutorados ou pelo recebimento de um salário extraordinário para poder então ter seu(s) próprio(s) bebê(s). Significa prover-se do suficiente ao menos para dar um lar digno aos filhos, onde haja o “pão nosso de cada dia” para alimentá-los, vesti-los, dar-lhes boa educação e, especialmente, garantir o aconchego dos braços de pais que os amem e lhes devotem atenção e boa criação.

As histórias da Bíblia sagrada não descrevem nenhum caso de um casal que tenha pretendido limitar o número de filhos, como forma de planejamento familiar (na concepção moderna). Na verdade, a abundância de filhos, especialmente entre os judeus, era tida como benção transbordante sobre o casal e a família. Vejamos por exemplo estes dois textos, dos chamados popularmente como “Salmos da família”:

SALMOS 127.3-5

“Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade. Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, mas falarão com os seus inimigos à porta”

Atente para algumas informações nestes versos:

  • filhos são considerados herança, presente que Deus dá ao casal
  • filhos são para os pais como flechas para o guerreiro
  • a casa é como a aljava do guerreiro, tê-la cheia é felicidade para o pai de família
  • a multidão de filhos representa maior proteção contra os inimigos (quanto mais flechas o arqueiro tivesse, mais prevenido estaria para o combate – como é bom filhos que auxiliam seus pais no orçamento doméstico, combatendo contra o endividamento! Como é bom filhos combatendo junto com os pais contra os ataques dos inimigos às famílias, se estimulando mutuamente na fé, no amor e nas boas obras!).

SALMOS 128.3

“A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa”

Ao homem que teme a Deus, a expectativa era de ter uma esposa fértil (como videira frutífera), e filhos fortes e saudáveis (como plantas de oliveira).

A comparação da mulher com a videira não é aleatória, pois a videira produz muitos cachos de uva, nos quais se encontram muitas uvas em cada cacho. Não seria aqui uma referência à fertilidade, pela qual se gera muitos filhos, que por sua vez geram outros muitos filhos? Com certeza sim. Não à toa o Salmo termina assim: “E verás os filhos de teus filhos, e a paz sobre Israel” (v. 6)

É claro que em todos esses enredos em ambos os Salmos, o que se tem em mente é uma família ideal, onde todos os componentes (pais e filhos) temam a Deus, e se honrem mutuamente. A experiência, contudo, demonstra que não é assim com todas as grandes famílias.

Não se pode dizer que os filhos do sacerdote Eli foram uma benção para ele, já que viviam desregradamente. Não se pode dizer que todos os filhos de Davi foram uma alegria para o seu coração, como plantas de oliveiras, pois sabemos que ao menos Absalão, que tentou roubar-lhe o trono, trouxe muito desgosto ao seu coração, pagando um preço caríssimo por isso. Até mesmo Jesus, ao menos a princípio, teve alguns dissabores com seus irmãos, que o julgavam “fora de si” (conf. Mc 3.21; Jo 7.5).

Uma família com muitos filhos descrentes e desunidos, que muitas vezes são rebeldes e até agressivos aos pais, não se encaixa na metáfora da “planta de oliveira” do Salmo 128, nem se pode dizer que apenas pelo grande número de filhos um pai de família se faz bem-aventurado como diz o Salmo 127. A própria Bíblia já prevê filhos que causam desgostos aos pais e à família (Pv 10.1; 15.20; 20.20; 30.17).

Inclusive até mesmo filhos que roubam seus próprios pais (uma triste realidade hoje daqueles que são, por exemplo, viciados em drogas): “O que rouba a seu próprio pai, ou a sua mãe, e diz: Não é transgressão, companheiro é do homem destruidor” (Pv 28.24).

Quando os irmãos vivem em união, aí sim é bom e suave (Sl 133.1); quando os filhos honram seus pais, aí sim é agradável a Deus (Cl 3.20).

Como diz Provérbios, “Grandemente se regozijará o pai do justo, e o que gerar um sábio, se alegrará nele” (Pv 23.24). Entretanto, como nenhum pai ou mãe pode prever o caráter e a conduta dos filhos após tomarem consciência de si, é preferível correr o risco, mas buscar ter filhos para cerca-los de amor, dar-lhes boa instrução moral e educa-los nos caminhos do Senhor, do que, em razão da possibilidade de frustração, não querer gerar filhos. Isso só revelaria egoísmo, fraqueza e incredulidade!

Novo Testamento

“Quero, pois, que as que são moças se casem, gerem filhos, governem a casa, e não deem ocasião ao adversário de maldizer” (1Timoteo 5.14)

Com estas palavras, o apóstolo Paulo instrui Timóteo sobre como ele deveria ensinar as mulheres jovens de sua igreja. Perceba que o apóstolo propõe que as jovens (viúvas ou solteiras) se casem e gerem filhos, nesta exata ordem. Portanto, a procriação continua sendo uma das principais razões para o casamento.

Estou de acordo com Douglas Baptista quando ele diz que “É vaidade a mulher não querer procriar para não alterar a beleza do corpo, bem como é egoísmo do homem não gerar filhos para fugir da responsabilidade”. Hank Hanegraaff enfatiza:

“Embora o controle de natalidade possa ser usado por questões de saúde ou administração financeira, nunca deve ser utilizado por motivos puramente egoístas. Se considerarmos um carro mais valioso do que uma criança, nossas prioridades estão seriamente distorcidas. Tal atitude em relação ao milagre da vida e à benção da maternidade entristecem nosso Pai celestial” [5]

O que significa “a mulher será salva dando à luz filhos” em 1 Timóteo 2.15?

Este texto é um dos mais difíceis de se interpretar em toda Bíblia. Até hoje estudiosos discutem o que Paulo realmente quis dizer com a expressão “mas a mulher será salva dando à luz filhos”. Embora não possamos ser dogmáticos aqui, em razão da obscuridade do sentido, creio que possamos oferecer uma resposta ao menos razoável, e que demonstra a grande estima pela maternidade – que é o que temos em vista nesse estudo.

Enquanto Eva foi enganada (v. 14), deixando-se seduzir pela serpente ao comer o fruto proibido e assim trazendo desagravo a todas as mulheres que dela descendiam, a mulher crente será salva (mais provavelmente no sentido social, dentro da família e na sociedade) da vergonha não usurpando a posição de liderança confiada ao homem (esse é o contexto paulino, vv. 11-13), mas aceitando com fé, amor e santidade sua posição atribuída por Deus que é gerar filhos.

Noutras palavras, enquanto Eva perdeu-se quando tomou a frente de Adão (ela foi enganada primeiro e sem consultar seu marido previamente), as mulheres de Éfeso, igreja liderada por Timóteo, bem como as demais mulheres cristãs, poderão reverter a vergonha e o menosprezo submetendo-se à vontade de Deus para elas, destacando-se seu relevante papel na criação dos filhos – uma dádiva preciosíssima que nenhuma mulher deveria subestimar.

John Kelly acrescenta: “É também provável que Paulo, ao ressaltar de tal maneira a importância de dar à luz para as mulheres, está atirando uma flecha contra os falsos mestres que tinham conceitos de grande desprezo a respeito do sexo (1 Tm 4:3), e cujos sucessores gnósticos posteriores, segundo Irineu declararam que ‘o casamento e o gerar dos filhos são de Satanás’” [6]

A salvação eterna pode estar em vista neste texto, mas, se este for o caso, não se deve considerar que é a maternidade a garantia da salvação (não há salvação por obras! – Ef 2.8), mas o permanecer “com modéstia na fé, no amor e na santificação”, pois estas sim são garantias bíblicas de salvação final: “o meu justo viverá pela fé” (Hb 10.38), “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.35) e “sem santificação ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

Páginas: 1 2 3

Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

Trending