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O que a Bíblia diz sobre a eutanásia?

A Bíblia nunca nos manda antecipar a morte de ninguém.

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Médicos e enfermeiros em uma sala de operação. (Foto: Piron Guillaume / Unsplash)

A “boa morte” ou “morte misericordiosa”, como a eutanásia é conhecida, tecnicamente é “a doutrina segundo a qual é lícito antecipar a morte de pacientes terminais, que estejam sofrendo de enfermidade incuráveis, aflitivas e dolorosas” (5).

Se no assunto da pena de morte os teólogos estão divididos, na questão da eutanásia percebemos uma opinião quase comum e que é contrária a tal prática. Em virtude disso, não necessitaremos nos alongar tanto nesta questão.

Falando sobre organizações que buscam a legalização da eutanásia, Hanegraaff diz que na visão destas organizações “‘assassinatos por misericórdia’ quando se trata de doenças, incapacidades e casos terminais são um passo para luz”, na ética cristã, porém, “são um passo para a escuridão” (6).

Eutanásia: passiva e ativa

Eutanásia passiva

Quando o doente recusa tratamento médico que está lhe causando dores e sofrimentos e aceita o curso natural da doença com o risco da morte (ele não pretende morrer, pretende livrar-se do sofrimento do tratamento que, não raras vezes, demonstra-se ineficaz).

Quando o paciente continua sendo medicado, mas com restrição aos usos de tratamentos que provoquem dor, e recebendo cuidados farmacológicos mínimos que ao menos alivie seu sofrimento, reconhecendo que  a doença tem seu curso natural e que o prolongamento artificial da vida biológica não é benéfica para o paciente, então diz-se que neste caso ocorre a ortotanásia (“morte correta”), e não eutanásia.

Eutanásia ativa

Quando o processo de morte é acelerado intencionalmente, seja por desligamento dos aparelhos hospitalares, seja por injeção de alguma droga, para por um fim imediato à vida do paciente.

Uma questão a se ponderar é se neste caso, o fato do paciente permitir que pratiquem contra ele a eutanásia, não estaria ele também praticando uma forma de suicídio (suicídio assistido), ou se os médicos ou parentes que concordam em acelerar a morte do paciente não estariam por isso cometendo homicídio. No Código Penal Brasileiro, em seu Artigo 122, a eutanásia é tipificada como crime já que tal prática é “induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça”.

Hank Hanegraaf diz que “Embora a eutanásia passiva seja moralmente admissível, pois permite que o processo de morte siga seu curso natural, a eutanásia ativa é moralmente proibida, porque envolve, de forma direta, o ato de tirar a vida humana” (7).

Alan Pallister, num discurso que representa opinião cristã majoritária, entende que “praticar eutanásia é usurpar o lugar do Deus soberano. Este dá o espírito que torna o homem uma alma vivente (Gn 2.7) e, quando Deus estende, o espírito volta para ele (Ec 12.7)”. [8]

O problema do sofrimento

Quase sempre o argumento a que recorrem os defensores da eutanásia, é o argumento emocional: por que não antecipar a morte de uma pessoa cuja doença é incurável e que já está em estágio terminal, livrando-a assim de ficar dias ou até meses sofrendo com a doença sobre uma cama?

Claudionor de Andrade e também Alan Pallister questionam se este argumento é mesmo sincero, ou se o interesse pela eutanásia é muito mais financeiro: por um lado, parentes que querem se livrar das despesas e de suas obrigações para com o doente; por outro lado, operadoras de planos de saúde que não desejam custear altos gastos com tratamento do doente. Mas, quanto vale uma vida?

Embora não devamos buscar a dor, nem desejar o sofrimento, fato é que, como diz Pallister, “faz parte dos propósitos de Deus permitir que a maioria de seus filhos atravessem períodos de grande sofrimento – os quais contribuem para seu amadurecimento e santificação (Rm 5.3-5; 2Co 4.16,17; Tg 1.2-4)” [9]. Como dizia o crítico literário C.S. Lewis, “Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas dores; é seu megafone para despertar um mundo surdo” [10].

O apóstolo Paulo, aquele que trazia as marcas do sofrimento por amor de Cristo em seu corpo (Gl 6.17; 2Co 11.23-38), inspirado pelo Espírito Santo nos exorta que a nossa “leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2Co 4.17). Davi com muita confiança assim salmodia ao seu Pastor: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4).

Em horas de grande aflição, precisamos nos unir aos coraítas e assim cantar com fé: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1).

A Bíblia ensina a consolar-nos uns aos outros (1Ts 4.18), chorar com os que choram (Rm 12.15), socorrer os que sofrem (1Tm 5.10,16; Mt 25.34-36), orar pelos doentes (Tg 5.14,15) e medicá-los quando preciso (1Tm 5.23). Mas a Bíblia nunca nos manda antecipar a morte de ninguém, para poupar-lhe da dor e de doenças prolongadas!

O segundo maior mandamento, na perspectiva de Cristo é: “amar ao próximo como a si mesmo”. E o amor “O amor é sofredor, é benigno… Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.4,7). Além do mais, como Jó que em meio ao sofrimento obtive uma sublime revelação de Deus tal qual nunca dantes tinha recebido em seus cultos matinais, assim também é perfeitamente possível que em meio ao sofrimento, Deus esteja querendo se revelar a nós ou a nossos parentes e amigos de maneira maravilhosa. Como disse o profeta Naum, “o Senhor tem o seu caminho na tormenta” (Na 1.3).

Nas palavras do filósofo cristão William Lane Craig, “muito do sofrimento desde mundo pode parecer totalmente sem sentido em relação ao objetivo de produzir a felicidade humana, mas não pode ser sem sentido em relação a trazer um conhecimento mais profundo de Deus” (11). Antes do sofrimento intenso que amargou, e mesmo quando sua mulher lhe sugeriu amaldiçoar a Deus e morrer, Jó só conhecia a Deus de ouvir falar; depois do sofrimento, quando Deus se revelara a ele pessoalmente em meio ao redemoinho (Jó 38.1), Jó então pode dizer: “agora meus olhos te veem…” (Jó 42.5).

Creio que mesmo sofrendo dores terríveis, precisamos confiar em Deus, como uma mulher grávida confia que dará a luz ao filho querido, ainda que em meio a terríveis dores de parto.

Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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