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O primeiro projeto de globalismo

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A Torre de Babel, de Bruegel, o Velho (1563). (Foto: Wikipedia)

O globalismo é uma política internacionalista, cujo objetivo é determinar, dirigir e controlar todas as relações entre os cidadãos de vários continentes por meio de intervenções e decretos autoritários.

Por definição, o globalismo requer um processo centralizado de tomada de decisões, em nível mundial [1].

Veremos como esse conceito de globalismo já começava a se evidenciar na prática entre a humanidade nos dias posteriores ao grande dilúvio. Veremos que ali, na região de Sinear, os homens ensoberbados se uniram para contrariar a vontade de Deus e se exaltarem a si mesmos.

A segunda civilização humana

A apostasia de Cam e de Canaã

Sem, Cam (versões mais antigas dizem “Cão”) e Jafé são os nomes dos três filhos de Noé, que com suas respectivas esposas receberam a mensagem do patriarca, creram e entraram na arca para salvarem suas vidas (Gn 7.13).

Até então, ao que parece, eram filhos tementes a Deus e colaboradores do velho pai, Noé, certamente empenhando-se ao lado dele para construírem a grande embarcação na qual escapariam das águas devastadoras do dilúvio.

Estas oito pessoas no total, que sobreviveram ao dilúvio, foram encarregadas por Deus do repovoamento da terra (Gn 9.1,18,19), para encabeçarem uma nova civilização, visto que a anterior havia falhado. A primeira civilização, portanto, veio com Adão, Eva e seus descendentes; a segunda civilização veio com Noé.

Os versículos finais do capítulo 9 de Gênesis registram um incidente revelador: o primeiro caso de embriaguez nas Escrituras, e justamente envolvendo o patriarca Noé. Desde lá se vê como o excesso de vinho pode anular o bom senso e fazer o homem portar-se com indecência. Noé, bebendo vinho, embriagou-se e se pôs nu dentro de sua tenda; seu filho Cam, vendo a nudez do pai foi contar aos seus irmãos (Gn 9.20-22).

Se Noé pecou pela embriaguez, mais ainda pecou seu filho caçula (Gn 9.24) por ver e compartilhar com outros a nudez de seu pai. O relato bíblico sugere que Cam se portou como um imoral, e por isso a maldição de seu pai fora dirigida à sua descendência.

É curioso ver que Noé não disse “Maldito seja Cam”, mas “Maldito seja Canaã”, referindo-se ao filho de Cam (vv. 22,25-27). Isso vai antecipar para nós que a imoralidade dos canaanitas (ou cananeus) tinha seu grande precedente no próprio Cam; foi em Cam que a segunda civilização apostatou da moralidade, da ética, dos valores patriarcais que Noé trazia da geração piedosa que lhe antecedeu.

Quanto aos canaanitas, vemos que eles se aprofundaram terrivelmente em toda sorte de imoralidade, como se vê na advertência que Deus fez aos hebreus para não imitar-lhes a conduta: “Não deves permitir que alguém da tua descendência seja devotado a Moloque… E não te deves deitar com um macho assim como te deitas com uma mulher. É algo detestável. E não deves dar a tua emissão a qualquer animal; tornando-te impuro por ela, e a mulher não deve ficar diante de um animal para ter contato com ele. É uma violação daquilo que é natural. Pois todas estas coisas detestáveis foram feitas pelos homens da terra, que vos precederam, de modo que a terra é impura” (Lv 18.2-23,27).

O enfraquecimento da doutrina de Noé

Nunca é tarefa fácil discipular os próprios filhos e garantir que, por sua vez, os filhos discipulem os netos. Mais penosa ainda torna-se esta tarefa quando o pai de família peca pelo mau exemplo. Foi o que aconteceu com Noé.

Embora homem de Deus, que tão obedientemente cumpriu as ordens do Senhor na construção da arca, fazendo tudo exatamente como Deus lhe tinha ordenado (Gn 6.22; 7.5), Noé falhou em preservar um bom testemunho diante dos filhos. Isso de modo algum justifica os erros dos filhos, mas enfraquece a autoridade do pai!

A Bíblia ordena aos pais ensinarem seus filhos “no caminho que se deve andar” (Pv 22.26). Não é apenas ensinar “sobre o caminho” ou “apontar o caminho”, como que dizendo ao filho “vá por ali”, mas é ensinar o filho “no caminho”, isto é, andando com ele pelo caminho certo, o caminho da justiça, da retidão moral, do temor a Deus. O pai ou líder precisa dar-se por exemplo de boas obras (Tt 2.7).

Com o passar dos anos, os descendentes de Noé incorreram nos mesmos erros da civilização anterior, dando provas do que o próprio Deus já havia atestado: “é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade” (Gn 8.21). Os episódios que se desdobrarão a partir do capítulo 11 de Gênesis demonstram como a segunda civilização deixou de perseverar na retidão diante de Deus.

O descaso para com o mandamento divino

Gerações se passaram desde o fim do dilúvio até o episódio da torre construída em Sinar (ou Sinear). Noé já tinha morrido, após viver longos novecentos e cinquenta anos (Gn 9.29), e claramente seus descendentes recusaram obedecer a expressa ordem de Deus dada a Noé e seus filhos: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (9.1).

Esta ordem já havia sido dada à primeira civilização adâmica (Gn 1.28), o que demonstra o sério interesse de Deus em que a terra fosse habitada, como está escrito: “o Senhor, que criou os céus, ele é Deus; que moldou a terra e a fez, ele a fundou; ele não a criou para estar vazia, mas a formou para ser habitada” (Is 45.18, NVI).

Partindo do Oriente e chegando à terra de Sinar, na região da Mesopotâmia, os homens deliberam entre si: a) a construção de uma cidade; b) a construção de uma torre altíssima que alcance o céu; c) a projeção de sua própria fama para as gerações posteriores; d) não serem mais espalhados pela terra (Gn 11.1-4). Tal decisão revelava a rebeldia daqueles corações, que buscavam o próprio louvor e a autoproteção enquanto ignoravam o mandamento do Senhor, que certamente era conhecido, ainda que até o momento não houvesse registro escrito, mas transmissão oral de pai para filho.

O globalismo de Babel

Uma só língua e um só povo

A geração que intentou construir a torre elevadíssima que chegasse até o céu, talvez uma espécie de condomínio vertical ou mero símbolo de sua pujança, possuía uma única língua e constituía um único povo (Gn 11.1). Certamente esse povo a que se resumia a população mundial de então eram os primeiros descendentes dos filhos de Noé, que até o momento possuíam uma mesma cultura, os mesmos costumes e a mesma língua.

Embora o capítulo 10 de Gênesis já tivesse mencionado diferentes línguas e nações (v. 5), isso não contraria Gênesis 11.1, pois o capítulo 10 está apenas resumindo os clãs, famílias e nações que descenderam dos filhos de Noé. Cronologicamente, os fatos do capítulo 11 antecedem os fatos do capítulo 10.

A construção de Babel

Como dissemos na introdução, em Sinar ocorreu a primeira tentativa de uma política centralizadora do poder. Sinar seria a capital política do mundo, com seu pujante primeiro arranha-céu, símbolo do orgulho étnico e tecnológico daquela geração e que certamente seria um símbolo venerado até os nossos dias, se não fosse pela intervenção divina que frustrou a loucura dos homens!

Após aquela geração, muitos já tentaram implementar essas políticas centralizadoras do poder no mundo, interferindo, decretando e controlando as relações entre cidadãos de várias nações ou em todo o planeta. Não era essa a ambição de Senaqueribe, rei da Assíria, inclusive com sua ameaça atrevida contra o povo de Israel? Não fora esse o intento do grego Alexandre, o Grande? Que desejava em sua juventude helenizar todo o mundo, disseminando a cultura grega em todo planeta? Mais recentemente, não alimentou Hitler esta ambição de querer se fazer o grande imperador mundial? Todos eles, porém, sucumbiram, e tantos quantos vierem sucumbirão!

A estátua enorme que Nabucodonosor viu em sonho, destruída por uma pedra cortada sem auxílio de mãos e que descia do céu, é, conforme interpretação dada por Daniel, um prenúncio de que todos os impérios mundiais ruirão, até mesmo o império vindouro do Anticristo; somente o reino de Jesus Cristo durará para sempre! (conf. Daniel 2).

A intervenção de Deus em Babel

A confusão das línguas

W. Tozer disse certa vez que às vezes é melhor dividir do que manter unido; espalhar pode ser mais proveitoso que juntar. De fato, há uniões e acordos entre os homens que vêm para o mal e não para o bem. Por exemplo: o conhecido e muito (equivocadamente) citado versículo de Isaías 41.6, fala da união para produção de artigos de idolatria. O texto diz: “Um ao outro ajudou, e ao seu irmão disse: Esforça-te”; mas isso não fala da união entre servos de Deus, e sim da união entre os ímpios, que se combinam e até se estimulam na prática do mal (conf. Is 40.18-20).

Todos estamos de acordo que “é melhor serem dois do que um” (Ec 4.9), porém há certo sinergismo, isto é, soma de esforços que pretende realizar obras que desagradam a Deus. Veja o caso de Ananias e Safira, casal que se uniu para mentir aos apóstolos (At 5.1-10), e ainda uns quarenta judeus que até jejum propuseram para matar o apóstolo Paulo (At 23.12,13).

Em Sinar, na Mesopotâmia, vemos os descendentes de Noé unindo-se para anular o mandamento do Senhor, porém, miraculosamente Deus interveio, trazendo confusão das línguas, dando origem a novos idiomas e dialetos, garantindo que na confusão das línguas, os homens cessassem aquele trabalho e se espalhassem pela terra (Gn 11.5-9). A cidade recebeu o nome de Babel, do verbo hebraico balal, que significa confundir. Quando os homens não se entendem com Deus, Deus os faz ficarem confundidos entre si, neutralizando-lhes as forças e fazendo ruir seus projetos ambiciosos.

O efetivo povoamento da terra

O texto de Gênesis 11, parte final do versículo 9, é revelador: “dali [Babel] o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela [da terra]”. A esta altura poderíamos perguntar retoricamente: quem pode mais do que Deus? Aquela geração deve ter aprendido a lição.

Milhares de anos se passaram e embora exista um vasto território em nosso planeta ainda inabitado (alguns territórios são mesmo inabitáveis!), todos os continentes do mundo estão habitados, por uma população mundial que já beira as 8 bilhões de pessoas! E a torre de Babel? Desapareceu!

De fato, Deus é grande e o homem nada é! Os planos do Senhor não podem ser impedidos (Jó 42.2).

A eleição de Sem

A segunda metade do capítulo 11 de Gênesis descreve os descendentes de Sem, filho de Noé. De Sem deriva-se o termo “semita” ou “povos semitas”, que são um conjunto de povos que possuem traços culturais comuns, entre os quais se destacam os árabes e os hebreus.

O propósito dessa descrição genealógica é introduzir na narrativa bíblica um dos seus mais importantes personagens e com quem Deus estabelecerá uma aliança: Abraão, grande patriarca do povo hebreu, judeu ou israelita, que descendia de Sem, o filho mais velho de Noé, e que, segundo a benção de Noé, se sobressairia em relação aos seus irmãos (Gn 9.26,27).

O chamado de Abraão, ou Abrão como fora inicialmente chamado, se dá logo em seguida, no capítulo 12. E há um fato curioso no chamado de Abraão, contrastando com a geração de Babel: Deus chama este patriarca prometendo fazer dele uma grande nação, abençoá-lo e engrandecer-lhe o nome (Gn 12.2). Mas não era exatamente o que os homens em Sinar desejavam outrora? Um nome exaltado? Porém, é Deus quem exalta a quem quer, e qualquer que a si mesmo se exaltar será abatido pelo poder do Senhor! (Lc 18.14; Sl 75.7; 147.6)

Abraão não buscava exaltação, mas Deus o exaltou e mais que um pai de multidões, fez dele nosso pai na fé (Gl 3.7-9), isto é, homem cuja fé para justificação de pecados nos é modelo (Gn 15.6), e ainda mais: fez dele o ancestral de nosso Senhor Jesus, que, encarnado, descendeu de Abraão.

O evangelista Mateus, que escreveu para a comunidade cristã judaica, sabia da grande importância deste fato, e começou a genealogia de Jesus não por Adão (como fizera Lucas, que tinha em mente destacar a humanidade perfeita de Jesus para os gentios), mas sim por Abraão (Mt 1.1ss), para mostrar que Jesus é um verdadeiro judeu e também a descendência de Abraão que trouxe a benção para todos os povos da terra!

Conclusão

O primeiro projeto de globalismo político e ideológico foi frustrado pelo Senhor; um tempo existirá em que o poder será centralizado na figura de um único comandante mundial, o Anticristo, que ditará não só a economia mundial, mas a cultura e a religião; porém, antes que Cristo volte para sua Igreja amada, isto não acontecerá; e quando acontecer não terá longa duração, pois findado o período tribulacional o Senhor voltará para aniquilar o império do mal e estabelecer seu reino milenar. Ali sim, a terra experimentará uma profunda, respeitosa e admirável união entre os povos em toda a terra, promovida pelo “Príncipe da Paz”.

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Referência

[1] Conceito de globalismo extraído de: https://www.mises.org.br/article/2639/a-diferenca-basica-entre-globalismo-e-globalizacao-economica-um-e-o-oposto-do-outro

Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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