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opinião

O evangelho puro e simples de Cristo

…e o maldito “evangelho” progressista.

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Bíblia entre folhas (Aaron Burden / Unsplash)

Paulo escrevendo aos Coríntios diz o seguinte:

E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida” (2 Cor 2.14-16).

Há sempre duas reações ao anúncio do Evangelho de Cristo: Aceitação ou rejeição. Vida ou morte. A indiferença nunca é opção. Há sempre duas reações radicalmente diferentes. Assim, é o Evangelho de Cristo. Reações neutras, mornas, são vômito espiritual.

Algumas consideraram Cristo e o Seu Evangelho repulsivo, enquanto outras consideram-no vivificante. Mas é isso mesmo que o Evangelho faz. Em referência direta à forma como o evangelho iria realmente dividir as pessoas, Jesus disse: “Não vim para trazer a paz, mas uma espada”.

Isto fez-me pensar no Evangelho, e no emergente “evangelho” cristão progressivo que parece estar subjacente a algumas ideias atuais. Para vermos o que diz tanto o evangelho histórico bíblico como o evangelho progressista, lancemos mão de duas citações:

Ele quebra o pó do pecado reinante, Ele liberta o prisioneiro; o seu sangue pode tornar o mais sujo limpo; o seu sangue foi derramado por mim. – Charles Wesley, 1739

Que Deus precisava ser apaziguado com sangue não é bonito. É horrível. – Michael Gungor, 2017.

Duas afirmações separadas no tempo e no conteúdo. Porque é que Charles Wesley acha que o sangue de Jesus é uma boa notícia que salva a alma, e Michael Gungor acha que é horrível? Tudo se resume à forma como se define a palavra “evangelho”.

Evangelho é uma palavra que significa literalmente “boas novas”. É muito usada na Bíblia, e os cristãos estão sempre a usá-la. O Apóstolo Paulo disse que não tinha vergonha disso e que qualquer pessoa que pregue uma ideia diferente deveria ser amaldiçoada. Ele chamou-lhe “o poder de Deus para a salvação de todos os que creem”. A palavra “poder” é dínamo, dinâmica, capacidade para transformar o mundo. Jesus chamou-lhe “o evangelho do reino”.

O que é o evangelho histórico bíblico?

Greg Koukl descreve-o de forma bela e simples no seu livro, “A História da Realidade. Ele explica que cada visão de mundo deve ser responsável por quatro coisas: Criação (Como as coisas começaram), Queda (Como as coisas se quebraram), Redenção (Como as coisas serão consertadas), e Restauração (Como as coisas serão depois de terem sido consertadas). Durante dois mil anos, o cristianismo teve respostas específicas para estas questões.

Como é que as coisas começaram? Deus fez o mundo e chamou-lhe bom. Como é que as coisas se partiram? O pecado. Como é que as coisas serão reparadas? Ok, aqui a coisa complica-se um pouco. Paciência! Vejamos: Deus é justo.

Esta é uma notícia muito boa para qualquer pessoa que tenha sido abusada, oprimida ou maltratada de alguma forma. Isto significa que a injustiça será punida. Nenhum pecado ficará impune. (Por outras palavras, pedófilos, assassinos, terroristas, etc não ficarão impunes.)

Isso soa bem se estivermos a falar de terroristas ou de assassinos em série, mas… não somos todos pecadores? Sim. Também é para nós. Todos os pecados devem serão punidos

É aqui que Jesus entra. Deus assumiu carne humana, viveu uma vida sem pecado, e morreu uma morte horripilante para assumir os pecados do mundo. Ele ressuscitou dos mortos, e quem confiar em Jesus como seu Salvador será reconciliado com Deus e encontrará a vida eterna.

Como serão as coisas assim que estiverem consertadas? Aqueles que rejeitarem o dom gratuito do perdão de Deus nesta vida terão o seu desejo. Deus irá colocá-los em quarentena e todo o mal num lugar de castigo eterno, chamado inferno.

Para aqueles que receberam o Seu perdão, Ele limpará todas as lágrimas dos olhos, num lugar chamado céu (ou o Novo Céu e Nova Terra, para ser mais preciso) onde não haverá mais choro, dor, ou morte.

É claro que foram escritos livros inteiros explorando todos os significados mais profundos e metáforas que a Bíblia usa para descrever o que aconteceu na cruz. Mas este é o Evangelho Cristão, de forma sucinta.

O que é o evangelho cristão progressista?

Entra o Cristianismo Progressivo. Tudo o que acabo de explicar é algo que o autor progressista Brian McLaren chama de “A narrativa Greco romana de seis linhas”. (Ele expõe os pontos de forma um pouco diferente, mas é o mesmo enredo).

Juntamente com muitos outros, ele rejeita esta visão do evangelho. Ele sugere que esta narrativa de seis linhas nada mais é do que uma filosofia de meia tigela roubada de Platão e Aristóteles.

Para além de apontar algumas vagas semelhanças entre as ideias destes antigos filósofos e o cristianismo, McLaren nunca defende a sua teoria. Simplesmente afirma o que acha.

No entanto, os progressistas têm caído nela em massa. McLaren afirma que o verdadeiro evangelho pode ser encontrado ao ler a história de Jesus através de uma lente judaica.

Por “lente judaica”, ele quer dizer que o “evangelho do reino” de Jesus não é sobre quem está “dentro ou fora”, ou quem vai para o céu ou para o inferno quando morre. Trata-se de confrontar sistemas de opressão no aqui e agora, e de inaugurar o sonho de Deus para a criação.

Ele explica que Jesus não veio para iniciar uma nova religião. Em vez disso, este “rei libertador” veio para anunciar um novo reino que é “muito maior do que uma nova religião, e de fato tem espaço para muitas tradições religiosas dentro dela”. (p. 139)

Será que o evangelho progressista é realmente uma boa nova?

Concordo que devemos compreender o contexto judeu em que Jesus viveu e realizou o seu ministério. Mas o foco “lente judaica” e “novo reino” de McLaren lê-se mais como um manifesto político que defende causas como a reforma dos cuidados de saúde, energia verde, alterações climáticas, e uma “economia saudável, sustentável, e regenerativa”. (p. 63).

A principal queixa de McLaren com o evangelho histórico parece ser que é uma atitude de enterrar a cabeça na areia assobiando para o alto e ignorar o mundo à sua volta. Mas isto não é cristianismo bíblico! É de notar que ao longo da história, os cristãos confrontaram-se com a opressão, tiveram um impacto positivo nas suas sociedades, e tiveram uma forte ênfase na ajuda aos pobres, órfãos e viúvas.

Nem sempre o fizemos na perfeição, mas a compreensão histórica do evangelho vê estas boas obras como um sinal de que a nossa fé está viva e não morta (Tiago 2:26). Não atira pecado e expiação, céu e inferno pela janela em troca da construção de uma casa melhor aqui na terra.

Por isso, aí está. Duas ideias muito diferentes sobre o que significa “evangelho”. Duas ideias que se contradizem uma à outra, e a cada curva do caminho da vida. Duas ideias que suscitam reações muito diferentes. Mas era de se esperar. Uma visão é humanista, outra é cristã.

Paulo escreveu aos coríntios, explicando que Deus estava a usá-lo e a outros “para espalhar o perfume do conhecimento de Cristo por toda a parte”. Prosseguiu, dizendo que nem todos achavam esse cheiro suave e doce. Alguns achavam que cheirava a cadáver em decomposição. Coisas podres. Fétidas!

Isto porque o verdadeiro Evangelho confronta o nosso pecado pessoal – o pecado a que nos agarramos e que inerentemente amamos. Pecado que merece a morte. Mesmo que trabalhemos juntos para construir uma sociedade melhor, ainda assim estaremos podres até ao âmago, sem arrependimento e sem a transformação do Espírito Santo.

Só quando compreendemos quão traiçoeiro é o nosso pecado, é que podemos reconhecer quão belo é o dom da graça de Deus. É por isso que um Evangelho sem sangue não é de modo algum uma boa notícia. Para alguns essa mensagem é a fragrância da vida, e para outros é o fedor da morte. Não há meio-termo.

É notável que Paulo ao falar do “perfume de Cristo”, tinha em mente o hábito comum dos generais Romanos entrarem “em triunfo” em Roma para serem aplaudidos. Geralmente marchavam à frente dos seus exércitos, e atrás vinham os povos escravizados que eles tinham subjugado.

A Roma imperial era uma cidade enorme com milhões de habitantes expelindo para a via pública os seus lixos e dejetos. Os esgotos eram a céu aberto. O cheiro pestilento de matérias putrefatas, tocava o obsceno. Por isso as ruas eram inundadas com flores e ervas aromáticas que se espalhavam para dominar o cheiro nauseabundo.

Cristo é o General vencedor que traz um Evangelho de aromas poderosos para derrotar o pecado podre, e libertar os cativos a vida. Como disse o apóstolo Paulo: “A mensagem da cruz é uma loucura para aqueles que estão a perecer, mas para nós que estamos a ser salvos é o poder de Deus”. (1 Cor 1.18). Poderá ser loucura, mas liberta! Isto, sim, é uma boa notícia.

Formou-se em Teologia na Inglaterra, exerceu trabalho pastoral durante 25 anos em Portugal e vive há 12 anos no Brasil onde ensina Inglês como segunda língua.

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