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opinião

Eu não sou reformado, eu sou transformado. Tem certeza?

Porque me auto intitular de cristã reformada?

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Outubro, mês da Reforma. Durante a minha vida toda, por ser presbiteriana de berço, como dizem por aí, participei das comemorações deste evento, ou movimento que fez muita diferença na face do planeta terra, ainda no século XVI.

À época não percebia muito esse fato, e as expressões Reforma, Reformador, Reformado, me incomodavam bastante, pois pensava cá comigo: Essas expressões não estão nas Escrituras, porque tenho de utilizá-las? Porque me auto intitular de cristã reformada?

Se deixar chamar por um nome não é de somenos. Os seguidores de Cristo foram chamados de cristãos, pela primeira vez na cidade de Antioquia. Mas, anteriormente foram chamados e rotulados de “seita dos nazarenos” pelas autoridades judaicas.

Palavras como cristãos, crentes, protestantes ao longo da história da redenção foram sendo cunhadas, escritas, carimbadas nos seguidores de Cristo. Atualmente no Brasil o termo “evangélico” tem a ver com quem se diz cristão, mas não é católico, e aqui inclui protestantes históricos, pentecostais, neopentecostais e comunidades dos mais variados tipos e formas.

Volto para a Reforma do século de XVI. Como essa expressão surgiu?

Quando o monge agostiniano, que aos 33 anos de idade decidiu, corajosamente pregar um cartaz, listando 95 equívocos doutrinários da Santa Igreja Papal na porta do Castelo de Wittenberg, o mundo nunca mais foi o mesmo. Tamanha a revolução desencadeada a partir desse simples, mas não menos impactante gesto. Esse acontecimento, simplesmente não tem precedência no mundo moderno. Duas semanas depois deste fabuloso texto ter sido pregado ali, já tinha sido traduzido para o alemão, copiado uma vez, reproduzido outra, e tomado o mundo.

Como Lutero chegou a conclusão de que a porta de Wittenberg era o lugar ideal para se fazer ouvir, não sabemos. Mas, o certo era que, ele foi lá levado pelo Espírito, e fez o que deveria fazer, para a Glória de Deus.

Nada depois disso obteve tão grande poder de desestruturação. Esse ato mexeu na locomotiva do mundo, alterou os trilhos, mudou o rumo do globo. Você até pode ter uma opinião diferente. Dizer que a revolução industrial, a revolução francesa, e a revolução gloriosa, e sei lá mais o quê, alcançaram impacto semelhante ou maior.

Mas, pelo ponto de vista da eternidade, esse momento foi concebido nas alturas, para dar prosseguimento ao que foi feito lá no Calvário. E tem a ver com a parte mais santa do mundo, a igreja de Cristo. Ela ia continuar sim, gloriosa, ela ia retornar sim, para as Escrituras. Ponto.

Lutero já tinha feito sermões a respeito, dizem alguns que pelo menos por três vezes, ele lá do seu púlpito fez denúncias contundentes sobre penitência, indulgência e salvação comprada. Mas, parece que ele sentiu que teria que fazer algo mais dramático. Um grito mais alto, uma rebelião, um protesto? E aí, naquele dia 31 isso tomou forma. E agora estamos cá, 498 anos depois.

Desde então nos taxaram de “protestantes”.

E neste ponto faço aqui a minha devida penitência, quanto à valorização que foi esse ato para as gerações pós Lutero. E como este nome protestante possui valor agregado. Ser chamado assim significa, ir contra, nadar contra, andar contra. Contra o quê? Contra o que não estiver na Palavra, contra tudo o que não tiver base nas Escrituras.

E os homens que deram seguimento a este movimento foram os responsáveis por explicar e sistematizar a nossa fé. A Bíblia não era conhecida, não era estudada, e Calvino, Guillherme Farel, John Knox, e muitos outros, até mesmo anteriores a Lutero como Zwinglio, Wicliff, Huss cuidaram de explicar as Escrituras. “Homens dos quais o mundo não foi digno…”

João Calvino, pode-se dizer, foi o que mais se debruçou, afadigamente, para estudar as Escrituras e organizar todas as questões com relação a fé, a salvação, Cristo, a Palavra e a glória de Deus. Percebe que há toda uma orquestração divina em tudo o que é chamado hoje, de Reforma? Então, ser chamado de cristão reformado, tem a ver com o reconhecimento de querer seguir prestando a atenção na história. E tirar dela experiência. Um dia a igreja foi enganada por falsos mestres. E hoje corremos o mesmo risco, ou não?

Não desejar ser chamado de “cristão reformado”, traz em si algo de ingratidão? Não que se intitular de algo traga, por si mesmo, efeito. O apóstolo Paulo fala sobre os que são israelitas só de tradição, mas não são de coração. E ainda, dos que queriam ser chamados de “apóstolos” sem serem apóstolos de verdade.

Talvez você não faça questão, e não deseja ser chamado de reformado. E até apela, como um dia eu apelei, para o fato de que esta expressão não está na Bíblia. Mas, basta para Deus que pelo menos você dê a devida glória ao seu nome, por tamanho livramento que ele efetuou na sua igreja, ao tirá-la da cegueira patrocinada pelos lobos institucionalizados, e isso ele fez se utilizando de homens como Lutero, Calvino e tantos outros.

Hoje, eu e você somos transformados pelo sangue de Cristo, mas fomos reformados por que a igreja retornou à sua base. E Cristo nos dará um nome em definitivo, lá nos céus. E aí cessará essa sede que temos de sermos chamados pelo pai, pelo nome que ele mesmo nos dará.

“Todo o que é chamado pelo meu nome virá; todo aquele que criei para a minha gloria, a quem formei e fiz, voltará.” Is 43.7

Maranata!

Jornalista e escritora, com um livro publicado "Feminilidade Bíblica - Repensando o papel da mulher à luz de cantares", e também escritora de livro didático. Casada com Nelson Ferreira, pastor da IPB, mãe da Acsa e avó da Clarisse. Em breve publicará seu primeiro romance .

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