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opinião

A feminilidade no banco dos réus

Como o papel da mulher tem sido pouco compreendida até no meio da igreja

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Três notícias surgiram no cenário midiático por esses dias. Uma delas li no Jornal espanhol El país sobre uma afirmação controversa do presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, que, ao ser questionado pelos jornalistas sobre o comentário polêmico e negativo que sua esposa fez a respeito do seu governo, ele respondeu: “Não sei exatamente a que partido minha mulher pertence. Na verdade, seu lugar é em minha cozinha, na minha sala e nos demais cômodos da minha casa”.

A outra notícia refere-se à inauguração de uma escola em São Paulo que propõe ensinar meninas a serem princesas. Desde a decoração feita em rosa, branco e dourado, até os frufrus, laços e tiaras, tudo lá é pensado para evocar o mundo que os organizadores acreditam serem o do feminino. Eles asseguram que a proposta deste tipo de escola é tão somente ensinar boas maneiras e etiqueta. E de uma certa forma isso tem a ver com o mundo feminino sim, no entanto, isto não é tudo. Um “fuá”  logo se estabeleceu no mundo feminista causando muita coceira e alergia.

Uma última notícia vem do site G1 onde se lê: Mulher-Maravilha será embaixadora da ONU para empoderar as meninas e mulheres. E logo a baixo a matéria explica que esta iniciativa da ONU tem o propósito de alavancar uma forte campanha pela igualdade de gênero pelos próximos 15 anos.  E para isso a heroína dos quadrinhos será até nomeada embaixadora honorária para “lutar” por esta causa.

Qual a ligação entre estas 3 notícias? Todas tratam do universo da mulher no século XXI, eis a ligação. E talvez estas três informações definam exatamente a grande gangorra ética e conceitual pela qual passa o universo feminino neste século. Compõem esta trama, um homem utilitarista que considera a mulher uma serva dele. Uma escola que considera que o mundo feminino é somente nos tons das princesas da Disney, seguida pela imagem da mulher guerreira, independente, dona de si, com superpoderes.  Diante deste quadro uma pergunta importante para nós cristãos é: qual destes papeis faz justiça à mulher dentro dos padrões de Deus nas Escrituras? E este é o tema proposto aqui.

Quando assinalo no título da postagem que a feminilidade está no banco dos réus, refiro-me que ela, além de estar sendo ferozmente combatida e muito mal-entendida fora da igreja, está também “de castigo e no banco” dentro das nossas igrejas. Principalmente pela inexistência de ensino consistente sobre ela em nossos estudos bíblicos, em nossas Escolas Bíblicas Dominicais e, do mesmo modo em nossas casas, onde pais e mães pouco ou nada falam do assunto diretamente com seus filhos.

Não há uma orientação bíblica combativa e exaustiva quanto a isso. Nossos filhos são submetidos intensa e diariamente a esta visão de mundo deturpada, com exemplo após exemplo nos desenhos animados, em novelas, em filmes, e até nos joguinhos. E o pior ainda é ver estes mesmos exemplos de desequilíbrio nos papéis de homem e mulher se repetindo dentro de casa. E o que estamos fazendo de efetivo para orientá-los? Pouco ou nada, infelizmente.

Já reparou que os filmes de comédia são os mais ferozes em destruir valores judaico-cristãos? Sim, começamos a assistir algum deles, e de repente, nos percebemos rindo e torcendo por alguma heroína desrespeitando e ridicularizando seu marido fraco e sem liderança. Além disso, mulheres cabeças de família é o que se vê o tempo todo. Parece muito lógico na nossa era que elas façam isso. Os dois têm planos para a família, os dois perseguirão esses sonhos, cada um no escritório, longe de casa. Mas, quando uma esposa sai para trabalhar fora, ela também quer ter a palavra final dentro de casa. Ouvimos o tempo todo a respeito da dupla jornada. Ela trabalha dentro e fora de casa, nada mais justo que ela decida quando o impasse surgir no lar. Contudo, a premissa bíblica não mudará. As mulheres poderão até se esforçarem em ajudar os maridos com a tarefa deles de provisão, e devem ajudar no que puderem, mas, isso não alterará o que Deus está esperando de cada parte.

Vamos falar de Sara, a esposa do patriarca Abraão. Quantos de nós nos incomodamos com o fato dela chamar seu esposo de senhor no A.T e depois ser elogiada por isto no Novo Testamento? Pedro diz: Sara, por exemplo, obedecia ao seu esposo Abraão, respeitando-o como o cabeça da casa, chamando-o de senhor. E vocês, se fizerem o mesmo, estarão seguindo os passos dela, como boas filhas, e fazendo o bem; assim vocês não precisarão ter medo”.

Repetindo, assim vocês não precisarão ter medo. Poderia repetir mais vezes este final de frase, porque tem tudo a ver com muitos sentimentos femininos, atualmente. Se muitas tem assumido papel diferente do recomendado pelas Escrituras é porque elas têm medo. Temem pela provisão, temem pelo sustento. Homens sem decisão, apáticos e irresponsáveis tomam os bancos das nossas igrejas.

Se este exemplo de Sara estivesse somente no Velho Testamento, alguns poderiam tentar invalidá-lo. Mas este exemplo foi reafirmado também no Novo Testamento. E isso para mim é o suficiente para crer que o modelo de Deus para a mulher de submissão, de fragilidade, de recato não mudou. Bem como o modelo masculino de liderança amorosa, assertiva e sacrificial

também não mudou, pois o apóstolo Pedro faz questão de completar  o pensamento ao afirmar:  Vocês, maridos, devem ser cuidadosos com suas esposas, estando atentos às necessidades delas e respeitando-as como o sexo mais frágil; lembrem-se que vocês e suas esposas são co-herdeiros do dom da graça da vida. Ajam assim para que as suas orações não sejam interrompidas”.

 

O nome Sara significa princesa. Para as feministas de plantão ser chamada de princesa é demérito. Porque, dizem elas, mulheres frágeis e dependentes, que não se bancam, não correm atrás de um sentido e satisfação profissional, e friso “fora de casa”, não podem ser consideradas mulheres de fato.

Mas, nas Escrituras não é assim. Ser mulher é ser a parte mais frágil, no sentido de comparação com o seu esposo, que é seu primeiro líder espiritual. Inclusive, a visão de feminilidade pode ser resumida nestas duas imagens encontradas em Cantares: a primeira é a afirmação do esposo que diz para a Sulamita, “O seu andar é belo; você tem o porte de uma rainha”. 7.1 e a outra imagem vem da fala das moças de Jerusalém que ao contemplarem de longe a Sulamita dizem, “Quem é que vem do deserto, apoiada no seu amado? ” 8.5

Em Cantares a feminilidade é rainha, mas está apoiada no esposo, compreende?

Quando um homem afirma que o lugar da esposa é na cozinha, ele não se parece em nada com o amado de Cantares, e com aqueles que já entenderam que a esposa é uma com ele. Se ela está na cozinha, ele também estará lá. Se ela está em qualquer parte que seja, ele também estará com ela, ao seu lado, a ajudando e a valorizando. Quanto a ideia de que ser feminina somente é ter boas maneiras e etiqueta tenho que concordar que sim. Mas, isso vale tanto para o universo feminino quanto para o masculino. Porque ser feminina e ser masculino é ter comportamento respeitoso, que considera o outro superior a si mesmo em serviço e em amor.

O homem cuida dela,  e ela se submete a esta liderança amorosa e lhe é submissa. Ela não deseja o controle da situação. Ela confia no seu amado. Ela patrocina a decisão dele. Ela crê que seu lar é o que há de mais importante na sua vida, depois do reino de Cristo. Ela estará lá, cuidando e zelando deste lar por tanto tempo que for necessário. O seu ir e vir será sempre medido por essa necessidade. E se o lar possui filhos, então os dois pensarão juntos em como fazê-los crer que ser menino e ser menina tem a ver com os propósitos de Deus, assim como está nas Escrituras:  “Assim Deus criou o ser humano semelhante à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher o criou”. Gn 1.27

E este propósito divino não tem consonância alguma com a pregação feminista de empoderamento vazio e egoísta que luta em causa própria, por desconfiar que ninguém a ama adequadamente e ninguém dará a ela o que acha que merece. A visão feminista é a visão do medo, da insegurança, por não ter em que se apoiar. Este propósito, do mesmo modo, não tem consonância com a visão machista, escandalosamente interesseira e sem amor, que antes deseja facilitar a sua própria vida e usar quem quer que seja para isso, inclusive esposa e filhos.

É esta influência do esposo e da esposa em casa com os filhos demanda tempo, esforço e luta, até ao ponto de, sem amargura, transformá-los através do evangelho da graça em príncipes e princesas para o Rei da glória, Jesus Cristo, a quem tudo é devido.

Em meio à esta gangorra de conceitos vivida pelas mulheres do mundo, nós mulheres cristãs temos exemplos preciosos nas Escrituras, com mulheres em plena feminilidade e com diferentes perfis. Temos uma mulher sendo bela e submissa, como Sara; vemos uma Débora sendo juíza de um povo porque não existiam homens muito corajosos por lá; olhamos ainda, Ester colocando sua coroa, tratando o seu esposo com deferência e respeito e recebendo esta posição de rainha para salvar os israelitas dos inimigos;  lemos sobre uma mulher em Provérbios 31 sendo elogiada por cuidar da família e ainda fazendo cintos e vendendo aos mercadores; encontramos Dorcas costurando roupas para ajudar à algumas viúvas lá na cidade de Jope; e , por último, vemos a mulher em Cantares, rodeada pelo clima romântico de perfumes e flores, atraindo o esposo embevecido com sua presença e com suas maneiras tão graciosas, e por isso ele não economiza nos elogios para ela. A Sulamita de Cantares para mim é referência, pela delicadeza e pela força que encontramos nela. Encanto e firmeza. E isto me inspira, e que eu seja inteligente e submissa, que eu seja doce e preparada biblicamente, que eu confie no meu esposo sem medo. E para esse tipo de feminilidade o mundo feminista e machista não estão preparados.

Por tudo isso é que temos que retirar a feminilidade do banco e colocá-la em evidência tanto mais rápido possível. Devemos dar a ela o lugar de destaque que merece. E que novamente todo cristão desfrute da graça e da benignidade que é ter lares ajustados, para a glória do Deus criador.

Jornalista e escritora, com um livro publicado "Feminilidade Bíblica - Repensando o papel da mulher à luz de cantares", e também escritora de livro didático. Casada com Nelson Ferreira, pastor da IPB, mãe da Acsa e avó da Clarisse. Em breve publicará seu primeiro romance .

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