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opinião

Espetacularização da intolerância dos tolerantes

O que fica evidente é que determinados nichos de grupos sociais para promoverem suas bandeiras, praticam uma falsa tolerância que vale apenas para o que acreditam.

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Hoje se defende a tolerância, a pluralidade e a diversidade. Termos que traduzem o pensamento contemporâneo. Ideias verdadeiras no propósito, mas trágicas, na prática. Alguns demagogos da música brasileira – MPB principalmente – uns atores globais e outras “celebridades” do funk gritam aos ventos essas palavras e se mostram como os grandes promotores da aceitação do diferente.

No entanto, o diferente não pode diferir do que determinam como “diferente.” Nesse caso, encerra-se a tolerância, o culto à pluralidade e a aceitação à diversidade, como se fosse uma apropriação dos termos para aplicação exclusiva ao que acreditam.

Aceita-se a diversidade de religiões, mas, não há espaço para aquelas mais conservadoras. Aceita-se uma diversidade de configurações familiares, mas para isso, parece ser uma necessidade suprimir o modelo milenar. Aceita-se os movimentos políticos de centro e de esquerda, mas não dá para aceitar o de direita. É um pensamento egoísta, covarde e repressor estabelecer apenas o que acredito ao passo que descontruo a crença do outro.

Será a tolerância é uma utopia nos dias de hoje?

E o que aqui escrevo tem sido “extremamente” evidenciado neste ano eleitoral. A tolerância e a boa convivência tão falada são utópicas. Há pessoas que não tem, se quer, o direito de manifestar suas crenças, sua fé, sua filosofia de vida ou sua opção de voto no exercício de cidadania que é logo ridicularizado, vilipendiado. E o pior, é que isso ocorre, muitas vezes, em ambientes educacionais do ensino regular e superior, como no caso veiculado pelo Tribuna do Ceará em 10 de maio de 2016 em que o aluno do curso de letras da Universidade Federal do Ceará e também policial civil Jorge Fontenelle foi para a aula com a camiseta de um presidenciável (à época deputado federal) e, tanto professor, quanto alguns alunos “defensores da democracia” e de diversos “grupos que compartilham seus ideais” o obrigaram a sair da sala de aula.

Na edição de 13 de abril de 2018 do Tribuna do Ceará, há uma matéria que traz uma situação de discórdia numa escola de ensino médio em Fortaleza entre um professor de história militante do PSOL e defensor de ideias de esquerda e contrário a Jair Bolsonaro (à época pré-candidato à presidência) e um aluno de ideias conservadoras. O professor em certo momento ao questionar o aluno acerca da fundamentação da ideia que defendia, acrescentou a frase: “quem tá mentindo pra você é o policial ‘imbecil’ ou o pastorzinho ‘vagabundo’ da sua igreja.” A fala do professor carregada de desprezo, revela um preconceito extremo que beira o ódio contra duas classes de pessoas: os policiais e os evangélicos.

Outra matéria de 24 de maio do corrente ano na gazetaweb.globo.com, traz uma contenda com motivação política entre uma professora e um aluno que trajava uma camiseta do Bolsonaro, a quem a professora mandou que saísse da sala, ordem que ele rejeitou. Vê-se aqui um exemplo do que acontece em muitas escolas brasileiras, professores que se fazem promotores de partidos de esquerda mas que não toleram manifestações de outros.

A intolerância leva a insensatez

A onda do “politicamente correto” agora é se POSICIONAR contra um candidato a presidente. Além do ataque à arma sofrido (o que segundo alguns parece ser justificável), sofre também ataques de outros candidatos como estratégia para anular qualquer possibilidade de vitória no primeiro turno.

Quando a rejeição a determinado político ou partido se dá através de manifestações “aceitáveis”, é compreensivo. Mas parece que estes pseudotolerantes não conseguem fazer isso e vão além do bom senso. Para fazer valer o que acreditam, tripudiam sobre o outro ou suas representações de crenças (vide as manifestações com objetos de culto cristão) e/ou atropelam leis.

Foi isso o que se viu no Rio de Janeiro no último dia 29 na manifestação do movimento # EleNão quando a atriz Bruna Linzmeyer, juntamente, com sua namorada Priscila Fiszman e outras manifestantes urinaram no meio da rua em uma cidade onde se é proibido urinar na rua, demonstrando assim o desprezo pelas normas sociais.

Há um temor da volta da ditadura militar, pelo simples fato de tal candidato ser militar (seria isso pré-julgamento pelo estereótipo?). Mas espera aí: “se ele chegar lá não será através de um instrumento democrático denominado voto? Se for assim, não estará ocorrendo então um discurso contraditório? Se o voto é legítimo, o governo também o é. Como pode ser legítimo o voto e o governo quando o vencedor é o candidato que me representa, e deixar de ser quando é um candidato com ideias diferentes?

A intolerância como arma opressora

Chega de se ver o diferente como ameaça. Isso é reflexo da pobreza da psique de alguns, não é senso crítico, pois, este leva a avaliar os aspectos negativos e positivos de cada candidato, e não atacá-lo com ódio mortal.

Se faz acusações de fascismo enquanto se fecha os olhos à tentativa de se fazer da democracia brasileira um comunismo. Ressoa por todo o país que o governo dos últimos 16 meses de Michel Temer, afundou o Brasil na crise. Na verdade esse câncer mantido pela falsa democracia brasileira está consumindo o país à muitos e muitos anos. Mas a crise atual, especificamente, segundo as investigações da justiça, tem início, meio e fim: Temer (vale lembrar que é fruto de mais uma das muitas alianças “obscuras” do governo anterior) jogou a última pá de terra na cova de sepultamento da economia do país, mas o terreno foi preparado a partir de 2003 e a cova aberta em 2011.

O que fica evidente é que determinados nichos de grupos sociais para promoverem suas bandeiras, praticam uma falsa tolerância que vale apenas para o que acreditam. Assim, a intolerância dos tolerantes torna-se uma arma de ofensa e opressão, da espetacularização e da autopromoção de suas ideias a qualquer preço. Não é inteligente combater a intolerância com mais intolerância. Aquele que promove ataques a pessoas iguala-se ao agressor.

Deixemos, pois, esse falso discurso de paz e amor que discrimina. Abandonemos, a hipocrisia e olhemos para o telhado de vidro do vizinho, de nosso sótão, pois, só assim, vamos ver que nosso telhado também é de vidro. Respeitemos as diferenças de opiniões, de crenças, de filosofias política ou de vida. Respeitemos as ideias dos diferentes candidatos e acabemos com essa baixaria nas redes sociais e mais baixas ainda nas manifestações de rua, e não tentemos silenciar as pessoas (inclusive candidatos) à força do ódio, mas, anulemos suas ideias ou falas nas urnas através do voto.

Referências
A Tribuna do Ceará. Aluno hostilizado por usar blusa de Bolsonaro desabafa contra opressão da esquerda. Disponível em < http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/politica/aluno-hostilizado-por-usar-blusa-de-bolsonaro-desabafa-contra-opressao-da-esquerda/>
A Tribuna do Ceará. Discussão sobre Bolsonaro em sala de aula em Fortaleza vira debate acalorado. Disponível em < http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/politica/discussao-sobre-bolsonaro-em-sala-de-aula-em-fortaleza-vira-debate-acalorado-veja-videos/>
Gazetaweb.com/noticias. Professora pede que aluno com camisa de Bolsonaro se retire de sala de aula. Disponível em <http://gazetaweb.globo.com/portal/noticia/2018/05/professora-pede-que-aluno-com-camisa-de-bolsonaro-se-retire-de-sala-de-aula_55273.php >
Jornal extra. Bruna Linzmeyer e namorada são clicadas fazendo xixi na rua em manifestação. Disponível em <https://extra.globo.com/famosos/bruna-linzmeyer-namorada-sao-clicadas-fazendo-xixi-na-rua-em-manifestacao-23115530.html >

Bacharel em Teologia pela FAETEL - Faculdade Teológica de Ciências Humanas e Sociais Logos, São Paulo e; graduando em Psicologia (2017) e Pós-graduando em Didática do Ensino Superior (2017), FACIMED - Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal, RO.

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