opinião
A Militância e a Gramática
A gramática é linda demais para ser vilipendiada por “todes”, ou por “todxs”, ou “amig@s”.

“Tod@s”, “Amig@s”, “Prezad@s”, e mais recentemente, “todes”, “amigues” “prezades” são aberrações daqueles que, a todo e qualquer custo, tentam suplantar a gramática em prol de uma militância desenfreada, sem rumo nem direção.
Fico imaginando o que diria Machado de Assis, José de Alencar ou Rui Barbosa se se deparassem com essas palavras em seu tempo. Talvez Machado, o grande fundador da Academia Brasileira de Letras, se sentisse tão decepcionado que não viéssemos a conhecer a história de Pedro e Capitu1 ou mesmo não singraríamos pelas fascinantes experiências do excêntrico Brás Cubas2.
Pois bem. Ao que parece, o sexo (ou a ânsia pela afirmação de sua inexistência) tem esmurrado a velha e querida gramática (coitada), logo ela que tem tentado ajudar uma nação na qual o analfabetismo é malfadado conhecido de uma Sociedade miserável, mal instruída e carente de leitura.
Os militantes de plantão precisam entender que utilizar Prezados, Senhores ou Amigos ao se dirigir a pessoas de gêneros diferentes no mesmo texto não é resultado de um machismo opressor, fruto de décadas de maldade masculina com as mulheres. A questão é bem mais simples: quando nos referimos de forma genérica a uma plateia, utilizamos o termo no masculino. Por exemplo: “o homem tem feito a humanidade avançar”. Nesse exemplo, é clarividente que se está a falar de homens e mulheres. Por outro lado, quando se utiliza o termo no gênero feminino, restritamente está a se falar das mulheres. Veja: “a mulher tem o coração sensível a dor do próximo”.
Ao que parece, as pessoas têm levado suas crises existenciais e a militância pela militância até às questões simples, como os termos de tratamento; a coitada da gramática, já surrada e sofrida, que se vire, se não quiser ser tachada de machista e opressora!
Sabe o que é pior? Ver essa esdrúxula informalidade militante ocupando documentos que deveriam ser oficiais, como e-mails e comunicados institucionais.
E olha que não estou nem falando de questões mais “complexas” em que se requer a 4ª série do Ensino Fundamental não. Imagina só se essa turma do “todes” tivesse que construir um texto mais ou menos assim:
“João, ao refletir sobre a utilização do acento grave, sentou-se no assento do carro e começou a pensar que assento é embaixo e acento é em cima. Logo viu que embaixo é junto e em cima é separado.
De tanto refletir, João acabou tirando uma sesta e, ao acordar, percebeu que era sexta, dia em que deveria comprar uma cesta para sua mãe. Ora, João saiu correndo quando então ouviu o som do concerto que vinha do teatro ao lado, ao tempo em que enxergava a necessidade de conserto de toda aquela situação.
E a situação podia se complicar ainda mais. João, ao chegar à loja, viu que sua meia estava rasgada; para sua sorte, ainda havia meia dúzia de cestas, o que lhe deixou meio aliviado.
Além das cestas, havia várias selas no local, tão pequeno que até parecia uma cela. Coitado do João, só queria consertar toda aquela situação e, enfim, voltar para casa.”
Pois é, na história de João não há “amig@s” nem “todes”, afinal, João entende que a gramática não é ferramenta de ativismo ou de militância. Ela é, simplesmente, um maravilhoso pincel utilizado por alguns dos gênios (isso mesmo, não é “gênies”) do Brasil, como Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, dentre outros tantos (sim, não é “tant@s”), que não precisaram assassinar a gramática para tocar nossos corações e mudar o mundo que lhes cercava.
A Gramática, aquela que dá vida à Língua Portuguesa, é linda. Construções verdadeiramente belas enchem os olhos dos apaixonados pela arte de se expressar por meio de textos.
O que dizer da regra de que não há artigo após o pronome “cujo”? Assim, a amiga gramática, cuja utilidade é fascinante, não admitiria a utilização da expressão “cuja a utilidade”, por estar completamente equivocada.
Poderíamos avançar um pouquinho mais ao encontro da beleza da escrita (sim, “ao encontro” significa proximidade), indo de encontro à vulgarização do escrever (isso mesmo, “de encontro” significa oposição).
O “tal qual”, também desejoso em contribuir com essa moldura, não pode ficar de fora, mormente pelo fato de que tal e qual concordam com o termo a que se referem, assim, o amante literário de hoje é tal quais os de outrora. Além disso, os pensamentos militantes desenfreados são tais qual a insanidade da morte da gramática.
A crase, ansiosa e inquieta por participar desse bate-papo, conclama aos navegantes que sim, é possível sim utilizá-la no pronome demonstrativo “a”, antes do “que”. Assim, ela diz esbravecida que não se referiu à que estava escrevendo corretamente, mas às que lhe deixaram de lado (à que = àquela que).
Poderíamos passar horas singrando pelos lindos mares da escrita, mas, o que quero deixar com esse breve texto é que a gramática é linda demais para ser vilipendiada por “todes”, ou por “todxs”, ou “amig@s”, termos estes que não fazem nada além de prestar um desserviço àqueles já tão carentes de leitura e conhecimento literário.
- Personagem da Obra Dom Casmurro, de Machado de Assis.
- Personagem da Obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

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