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opinião

A igreja no combate às notícias falsas

É ação comum publicar ou compartilhar notícias falsas. A facilidade de acesso às redes sociais e aos aplicativos acelerou o problema.

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Jornal Fake News. (Rawpixel / Envato)

Denise Santana é jornalista, teóloga e professora.

É ação comum publicar ou compartilhar notícias falsas. A facilidade de acesso às redes sociais e aos aplicativos acelerou o problema.

Ninguém escapa. Há notícias falsas publicadas na área da política, saúde, educação e religião. Líderes religiosos famosos tornam-se vítimas fáceis. Pastores e padres sofrem com o problema. São vários os exemplos, mas citaremos apenas dois.

O papa Francisco viu o seu nome envolvido em notícia mentirosa. Uma fotografia dele, usando um colar com uma cruz colorida, circulou nas redes sociais. Na legenda estava escrito que a cruz era LGBT. A fotografia é verdadeira, mas a legenda é falsa. O papa não usava uma cruz incentivando a homoafetividade. Na verdade, a fotografia mostrava um encontro que o papa teve, em 2018, com jovens católicos da América Latina. O colar foi um presente que os jovens deram ao pontífice.

O pastor Silas Mafalaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), no Rio de Janeiro, teve os dados pessoais vazados. Hackers conhecidos como Anonymous divulgaram o CPF, a data de nascimento, o endereço, o número de cartão de crédito e do telefone do pastor. Ainda tentaram, sem sucesso, fazer doação de R$ 10 mil da conta do pastor para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Se não bastasse o crime realizado, no Twitter os hackers espalharam a notícia de que Malafaia recebia dinheiro de fiéis em sua conta pessoal. Os Anonymous publicaram boleto falso para dar veracidade à notícia. O pastor nega que receba verba de fiéis em sua conta bancária pessoal.

São muitas as consequências das notícias falsas na área religiosa. Além de danos à imagem, as vítimas sofrem danos morais também. Não é incomum crimes contra a honra serem cometidos. Os resultados das notícias falsas podem ser prejuízo financeiro, o incentivo ao preconceito, a propagação do discurso de ódio, a intolerância religiosa e a morte. A manipulação na opinião pública é outra consequência. A notícia falsa beneficia a legitimação da violência.

Reagindo ao problema

A questão é universal. O combate às notícias falsas também é mundial. O papa Francisco já se posicionou várias vezes contra as fakes news. Os protestantes também estão preocupados com o assunto. Um exemplo disso foi o lançamento, em 15 de outubro de 2020, do e-book “Diga não às fake news”, uma iniciativa da Igreja Batista em Coqueiral, localizada em Recife. A campanha recebeu a hastag #IgrejaSemFakeNews.

No e-book, os leitores recebem informações sobre notícias falsas na política. O material comenta sobre as eleições municipais deste ano e traz uma reflexão sobre a necessidade de combater as mentiras, mostrando que a fé cristã tem muita coisa a ver com não espalhar notícias falsas. Destinado aos cristãos em geral, a mensagem principal é de que Deus é a verdade e convida os Seus filhos a assumirem compromisso com o amor e com a verdade.

É preciso agir rápido para interromper o compartilhamento de temas inverídicos. O Coletivo Bereia é um exemplo de trabalho que combate a desinformação. É um grupo de checagem de notícia falsa na área da religião. Formado por voluntários, a tarefa é pesquisar fatos mentirosos envolvendo as igrejas e líderes religiosos. O nome Bereia é uma referência a Atos 17:11. O texto bíblico diz que a comunidade cristã de Bereia observava se o ensinamento de Paulo estava de acordo com as Escrituras. Os bereanos foram checadores de informação. Eles não queriam ser enganados por mensagens falsas e doutrinas diferentes ao que estava escrito nas cartas da época. Belo exemplo que os cristãos primitivos deram. O modelo serve para a igreja atual.

Além do Bereia, existem outras ações de checagem como a Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD) e o Projeto Comprova, grupo que reúne 28 diferentes veículos de comunicação brasileiros para investigar informações enganosas, inventadas e falsas, uma espécie de jornalismo colaborativo contra a desinformação.

O Facebook resolveu agir contra as fake news disponibilizando um espaço para a denúncia. As pessoas precisam seguir passos simples para indicar uma notícia inverídica. Para marcar uma publicação como falsa, clique nos três pontinhos (…) que ficam ao lado do post. Depois clique em obter apoio ou denunciar publicação. Clique em notícia falsa e em avançar ou enviar.

Identificando conteúdo falso

As pessoas precisam aprender a identificar um conteúdo falso. Isso é importante porque, por meio da identificação, se freia o compartilhamento. Seguem dicas de como identificar se uma informação é falsa:

Observe se a notícia mostra detalhes. Os criadores de notícias falsas dão pouca informação. Não costumam publicar detalhes sobre o assunto. Fazem isso porque, quanto menos informação, mais difícil checar se o assunto é verídico ou não.

Observe se as fotografias e vídeos foram manipulados. Geralmente se reduz a qualidade das imagens para dificultar a checagem. Daí as pessoas ficam na dúvida se o material é verdadeiro ou não.

Outro problema: a fotografia pode ser autêntica, mas ter sido retirada do contexto.

Existem informações falsas misturadas com verdadeiras. Isso é para dar um ar de veracidade.

É comum os divulgadores de fake news apagarem o post que é desmentido. Sempre é bom fazer uma cópia (print) do material. Mas não repassar essa prova para não espalhar ainda mais a notícia. O print serve para a pessoa se resguardar, caso precise comprovar que foi vítima de mentira.

Desconfie das manchetes apelativas. Desconfie de texto com linguagem sensacionalista.

Observe a URL que tem a função de permitir que o site seja encontrado na rede. Muitos sites de notícias falsas imitam veículos de imprensa autênticos fazendo pequenas mudanças na URL.

Observe nos sites de checagem se já foi publicado alguma informação sobre a mensagem suspeita. Procure informações em fontes confiáveis. É mais provável que uma notícia seja verdadeira se foi publicada em vários sites diferentes, pela imprensa profissional.

Notícias falsas podem apresentar erros ortográficos.

Confira a data da publicação. A informação pode ser verdadeira, mas antiga. Na internet existem muitas notícias desatualizadas.

Veja se a notícia é uma brincadeira. Notícias falsas podem ser difíceis de distinguir de um conteúdo de humor.
Leia o texto para ver se as informações conferem com o título. Nas notícias falsas é comum um título apelativo para chamar a atenção. Depois, o texto não tem nada a ver com o título.

Texto falso sugere consequências trágicas se uma determinada tarefa não for realizada, promete ganhos financeiros ou prêmios mediante a realização de alguma tarefa.

Observe se o texto, a imagem ou o vídeo tem fonte.

É comum os autores de notícias falsas solicitarem o compartilhamento da informação.

Não se deve compartilhar um post nas redes sociais ou no aplicativo caso fique na dúvida se o conteúdo é verdadeiro.

A Bíblia estimula a prática e o discurso da verdade

O texto bíblico mostra um Deus de amor, de juízo e de verdade. Não cabe sombra de escuridão, de dúvida ou de mentira nEle.

São vários versículos dizendo para as pessoas abandonarem a mentira. A prática da verdade é estimulada.
Colossenses 3:9 diz que o cristão não deve mentir. Diante da nova natureza que o cristão tem, ao se converter a Jesus, só cabe falar a verdade. A prática da mentira é uma característica da pessoa que ainda não nasceu de novo, o que o texto chama de “velho homem”. O “novo homem”, ou seja, aquele que já tem Jesus como Salvador, deve falar a verdade.

O texto de João 8:32 diz “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Já em João 14:6 Jesus disse que Ele mesmo é “o caminho, a verdade e a vida”.

Para finalizar, Efésios 4:22,25 também exorta o cristão a deixar o “velho homem” de lado. O texto diz para a pessoa abandonar a mentira e falar a verdade.

Jornalista, teóloga e professora. É doutoranda em Teologia pela Escola Superior de Teologia, no Rio Grande do Sul. Tem mestrado em Teologia pela Escola Superior de Teologia. Pós-graduação em MBA Gestão da Comunicação nas Organizações pela Universidade Católica de Brasília. Bacharelado em Comunicação Social, Jornalismo, pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Licenciatura plena em História pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Bacharelado em Teologia pela Faculdade Evangélica de Brasília

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