estudos bíblicos

O último líder

Mantendo uma liderança de sucesso.

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Josué (Reprodução / The Bible)

Desde a saída do Egito até a conquista de Canaã passaram-se cerca de sete anos. Para Israel, foram seus tão incomparáveis “dias de glória”, como afirma Max Lucado.

Naquela época, eles “eram praticamente intocáveis”, nunca se poderia imaginar dias esplendorosos como aqueles para o povo de Deus e dias assim nunca se repetiram até então no curso da história israelita.

Do vencido e náufrago exército de Faraó, que não foi páreo para o poderio divino a favor dessa nação, até as suscetíveis conquistas e vitórias sobre todas as nações que estavam – e entravam – em seu caminho, foram sendo colecionadas inúmeras e bem-sucedidas incursões bélicas.

Tais feitos aconteceram sob a direção de Moisés, o ícone máximo, de todos os tempos, esculpido na galeria dos profetas e líderes israelitas. Foi o instrumento pastoral de Deus para conduzir essa grande nação às suas milagrosas e divinas vitórias até beirar a Terra Prometida – Canaã.

Entretanto, a geração que contemplou, pelas mãos de Moisés, as visíveis manifestações do Senhor – razão pela qual obteve tantas vitórias – murmurou! Não acreditaram que esse mesmo Deus poderia lhes dar a Terra de Canaã, na ocasião, infestada de gigantes. Murmuração essa que selou o fim de uma geração, dando lugar a outra que, por sua vez, aprendeu com os erros de seus pais; surgiu, então, uma geração mais crédula, fiel e obediente aos ditos de Deus.

Infelizmente, o grande legislador e líder, Moisés, depois de falhar por desobedecer a Deus, também, não entrou na tão sonhada Terra Prometida. Mediante o que ocorreu, ele teve que passar o cajado para outrem. No primeiro momento, talvez, Moisés não via a quem entregá-lo. A rebelião do povo fez com que aquela geração fosse eliminada e, aparentemente, não havia possibilidade de escolher um sucessor, no qual repousaria o grande desafio de substituí-lo na saga de conquistar o futuro lar e, essa altura, Israel já estava às margens do desafiador Jordão. No entanto, Deus preparara um líder dentre os últimos homens que sobraram daquela geração.

Todos tombaram no deserto, durante os quarenta anos que vagaram penitentemente, até que uma nova geração pudesse abraçar a promessa. Dessa forma, toda a geração anterior passara, restando apenas Josué e Calebe. A liderança não era para Calebe, para este, os planos eram outros (Nm 13 – 14; Js 14 – 15; Jz 1; 1Cr 4.15). O último líder daquela geração que, enfim, daria continuidade à liderança do ilustre libertador – Moisés – seria o seu tão fiel escudeiro: Josué.

Josué foi escolhido pelo próprio Deus para ser o sucessor de Moisés (Nm 27.18), razão pela qual obteve êxito nesta tão augusta tarefa de substituição, ou melhor, sucessão, esse é o termo mais apropriado. Afinal, Josué cumpriu, no mesmo espírito, dedicação e compromisso de Moisés, sua tarefa de conduzir o povo à Terra Prometida.

No que diz respeito à transição pastoral, assim como Josué, devemos ser sucessores e não substitutos. O substituto apenas exerce as mesmas funções propriamente ditas de outrem e, ademais, é uma atuação momentânea; o sucessor, por sua vez, atua por um longo tempo e tem atributos iguais ou semelhantes aos do seu predecessor, dando continuidade ao que este já havia começado.

O certo é que você, ou qualquer outro pastor, ao suceder um colega de ministério, não deve encarar esse ato como uma simples substituição, mas como uma sucessão. Na qual é imprescindível preservar as atitudes de sucesso que já vinham dando certo na gestão anterior. Na história apresentada, as atitudes de sucesso equivalem às atitudes mosaicas preservadas por Josué, tais como: manter a visão celeste, manter a disposição lideracional e manter a doutrina bíblica.

Josué foi confirmado como sucessor para completar a conquista. Dentre suas habilidades e virtudes, algumas destacam-se: ele tinha experiência em ajudar Moisés (Ex 33.11); era um proeminente general militar, comandara as tropas israelitas em inúmeras vitórias (Ex 17.10-16) e passara um bom tempo diante da tenda da presença do Senhor. Ou seja, era um líder que além de sua submissão hierárquica e suas habilidades bélicas, tinha experiências espirituais e declarava sua fé e confiança em Deus diante de Israel (Nm 15.5-10). Todas essas virtudes o faziam, não somente um substituto, mas um sucessor ideal para cumprir o que a função exigia.

No entanto, não seriam seus dotes funcionais nem suas estratégias militares que garantiriam a vitória no processo de conquista e posse da Terra Prometida – embora esses aspectos tenham sido fundamentais em todo o processo de sucessão. A vitória viria a partir da maneira pela qual Josué conduziria o povo, respeitando e dando continuidade ao que seu predecessor – Moisés – vinha fazendo com sucesso.

Tal fator deve ser considerado em relação à sucessão ministerial atual. Sendo o predecessor um grande líder que prestou um excelente trabalho, com métodos e serviços pastorais bem-sucedidos, pelo qual a igreja tinha respeito e obediência, é necessário que seu trabalho seja mantido. Você, meu caro pastor, terá que ter atitudes sábias para manter o bom trabalho do seu predecessor.

Desse modo, você conquistará naturalmente o respeito, a obediência e o carisma da igreja da qual você será o novo pastor. A igreja retribuirá com sentimentos e ações atitudinais positivas à sua liderança, como fez o povo de Israel a Josué. Ele foi sábio em suas atitudes na condução do povo, não desfez a liderança de Moisés e, mediante isso, conseguiu um “feedback” institucional sem precedentes na liderança israelita até então – o que todo novo líder almeja conquistar na igreja anfitriã.

Por outro lado, embora mantendo todo o processo do predecessor, devemos considerar os aspectos espirituais. Depois de uma eventual transição, o sucesso na estabilização da igreja local, acima de tudo, deve-se à vontade de Deus. No caso de Josué, entendemos que Deus o estabeleceu como líder no lugar de Moisés (Nm 27.18).

Para que o sucesso seja mantido, não desvirtuando a vontade divina – considerando que Deus respeita nosso livre-arbítrio e, se não tivermos atitudes sábias e observáveis em Deus, os resultados podem ser negativos -,  ao substituir um colega de ministério na igreja local, é preciso, indubitavelmente, agir como Josué, como um sucessor: mantendo a visão, a disposição e a doutrina.

Mantendo a visão

Infelizmente, muitos pastores, ao substituírem seus pares, tomam medidas imediatas e arbitrárias no campo eclesiástico onde são recém chegados, desconstruindo o serviço da liderança anterior em semanas.

A visão celeste, que era prioridade, passa a ser substituída por visões diferentes: “Esta porta não cai bem aqui.”; “Este templo vai ser reconstruído assim.”; “A liturgia será desta maneira.”.

Assim, seguem as “medidas emergenciais” e metodológicas de inovações administrativas na recatada e ainda “nubente” igreja. O que incorrerá em rejeição e, consequentemente, até numa mudança prematura.

Josué não iniciou sua liderança com mudanças arbitrárias ou inovações administrativas, pelo contrário, sua prioridade foi manter a visão celestial da qual Moisés disse:

“O SENHOR, vosso Deus, vos dará descanso e vos dará esta terra” (Js 1.13).

Não seria algo novo ou inovador que faria com que o povo se empolgasse e o seguisse.

Quando o líder mantém a prioridade pastoral, que é conduzir o povo para a Canaã celestial, é correspondido com fidelidade e submissão irrestrita por parte do povo:

“Tudo quanto nos ordenaste faremos e aonde quer que nos enviar iremos” (Js 1.16).

As ações espirituais e a comunhão com Deus são determinantes na atuação de um líder. Os sinais em nosso ministério farão com que a igreja veja que Deus está conosco e confirma nosso ministério (Js 1.16-18). Portanto, a prioridade é manter a visão celeste ao invés de realizar inovações administrativas e/ou litúrgicas (quando essas forem necessárias, o tempo dirá e a ocasião conspirará pra que tais coisas aconteçam).

Mantendo a disposição

Josué mantendo a disposição de fazer “tudo quanto Moisés tinha ordenado”, ficou de pé e foi até o Jordão, juntamente com os sacerdotes, demostrando ao povo sua disposição. Josué teve a atitude de dar o primeiro passo e ficar “em pé, até que se cumpriu tudo quanto o Senhor mandara” (Js 4.10).

Para dar continuidade a uma liderança eficaz, na qual o pastor predecessor estava presente nos projetos e empreendimentos eclesiásticos, ter disposição fará toda a diferença para o pastor sucessor. Josué não hesitou, era sempre um líder presente. Sua disposição em continuar a jornada rumo a Canaã era visível, não mandava representantes, ele mesmo dispôs de tempo e assumiu o compromisso, juntamente com os sacerdotes, para ir ao Jordão e lá fazer com que todo o povo passasse, até o último israelita. O povo apressou-se para seguir caminhando quando viu seu líder disposto a fazer o mesmo (Js 4.10).

Quando o líder mantém a disposição para fazer a obra, o povo apressa-se para acompanhá-lo. A resposta da igreja para um líder presente, visionário e disponível para toda obra será um sentimento de temor e respeito.

Se determinado líder recebe uma igreja vibrante, militante e ativa em projetos, festividades e ações – que realmente sejam necessárias – e, nos primeiros momentos, ele encara essas coisas com indiferença, sem disposição ou sem boa vontade para as devidas continuações, esse líder será visto como resignado e, até mesmo, como incapaz.

Portanto, quando o líder mantém a disposição para conduzir o povo – sem restrições ou limitações -, avançando contra os obstáculos à frente, Deus honra-o fazendo parar “o curso furioso das dificuldades”, assim como parou o Jordão. Tal rio seria impedimento, se Josué – sucessor – não desse o primeiro passo, o povo não teria reagido da mesma forma como reagia com Moisés – predecessor (Js 4.14).

Mantendo a doutrina

Não houve nenhuma palavra das Escrituras “que Moisés ordenara, que Josué não lesse perante toda a congregação de Israel” (Js 8.35). O último líder deu continuidade à jornada do povo até a Terra Prometida com maestria e de forma rigorosamente responsável no quesito “doutrina”.

Ele transcreveu as Leis Divinas em pedra, preservando, desse modo, a cultura, a doutrina e os demais ditames que constituíam a identidade judaica. Evidentemente, também transmitiu tudo isso à nova geração. Todo o Israel correspondeu a Josué com obediência. Sem relutância, o povo reuniu-se em dois montes de difícil acesso para ouvir as palavras do Senhor sendo reeditadas e lidas “em alta voz” pelos seus líderes ­- anciãos, príncipes, juízes e sacerdotes (Js 8.33).

Houve, nesse dia, um grande despertamento espiritual. Todos estavam ávidos para ouvir os ditos sagrados – resultado da manutenção da real doutrina bíblica.

Assim, a resposta para o trabalho do noviço líder será o avivamento, não somente na manifestação dos dons, mas também na proatividade cristã em fazer missões, contribuir, ser efetivo nas atividades da igreja e, dentre outras coisas, estar sempre à disposição da liderança para o trabalho cristão.

O papel fundamental do líder substituto de um pastor que, como Moisés, foi comprometido com o ensino das Sagradas Escrituras, é manter a mesma prática. Muitos acabam por desvirtuar o ensino de seu predecessor, dando vazão para um ensino inconsistente e volúvel ante as crenças pseudocristãs, não dando importância efetiva à verdadeira Doutrina Sagrada.

Há aqueles que, em outro extremo, radicalizam costumes, engessam doutrinas, legalizando-as ou contrariando-as em detrimento ao ensino de seu predecessor. Razão pela qual existe, entre nossa comunidade cristã, certa falta de unidade, tanto litúrgica como doutrinária. É comum encontrar igrejas locais sem identidade eclesiástica e espiritual, elementos essenciais para um avivamento contínuo, tornando-se enfraquecidas e fragmentadas. São lamentáveis e, em algumas situações, até cômicas, as diversas formas de se realizar uma cerimônia religiosa nas nossas igrejas Assembleias de Deus.

A falta de formalidade e espiritualidade na realização do rito, além de não manter a unidade entre as coirmãs, torna a cerimônia (noivado, apresentação de crianças, exéquias, Santa Ceia etc.), em muitos casos, superficial. Um padrão doutrinário e litúrgico deveria ser mantido equilibradamente por cada pastor envolvido na transição; fazendo mudanças, com o tempo, apenas se fossem necessárias, sem distorções ou extremismo pastoral.

Conclui-se que a tríade doutrinária deve ser mantida para que haja sucesso pastoral e solidificação administrativa, ao longo do tempo, no ministério daquele que assumirá uma igreja substituindo um notório pastor. A visão na pátria celeste, a disposição em chegar lá e o código de conduta (doutrina) que regula a caminhada. Esta é a tríade que rege a essência da jornada cristã e que deve ser desenvolvida na eclésia local.

Outrora, ela foi observada e mantida por Josué, razão pela qual venceu inimigos, conquistou a terra e habitou nela por longos dias. Assim, desde Moisés até o último líder da geração exídica, “palavra alguma falhou de todas as boas palavras que o SENHOR falara à casa de Israel; tudo se cumpriu” (Js 21.45).

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