estudos bíblicos

Dia da Reforma Protestante: e você com isso?

Precisamos retornar à Palavra de Deus e abandonar as bizarrices, as meninices, o fogo estranho, a frieza, a mornidão, o formalismo, a afetação de quem sabe muito quando não sabe nada.

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Neste 31 de outubro a Reforma Protestante comemora 501 anos, pois foi nessa data que o monge agostiniano Martinho Lutero afixou suas 95 Teses na porta da capela da Universidade de Wittenberg, na Alemanha. Antes e depois houve reformadores da Igreja, mas esse é o marco porque a partir dali eclodiu um movimento de grandes proporções que mudou (e moldou) a história da Igreja e do mundo ocidental, com efeitos espirituais, litúrgicos, eclesiásticos, morais, éticos, sociais, culturais, educacionais, ideológicos, jurídicos e políticos que se fazem sentir até os nossos dias.

Quando se pensa na Reforma do Séc. XVI, é comum perguntar se a Igreja brasileira precisa de reforma. A resposta é simples e complexa ao mesmo tempo: sim, ela precisa de reforma porque “A Igreja é reformada e está sempre se reformando”, para citar a célebre frase de Gisbertus Voetius (1589-1676), reformador holandês; e precisa de reforma especialmente porque o quadro que ora vivemos lembra as circunstâncias nas quais Lutero foi levantado por Deus.

Temos em nosso país um evangelicalismo heterogêneo e muito influenciado pela religiosidade popular, pelo espírito do tempo (pós-modernidade) e por interesses menores. Pela religiosidade popular respondem a superstição, o misticismo, a credulidade, a tentativa de materialização da fé. A pós-modernidade traz em seu bojo o relativismo, o situacionismo, o pluralismo, o pragmatismo, o hedonismo, a religiosidade sem religião, o que explica, em parte, tanto o movimento dos desigrejados como as igrejas que têm dificuldade com a tradição evangélica (para não dizer que têm vergonha). E interesses menores caracterizam projetos ministeriais e eclesiásticos em que estratégias de marketing justificam mudanças na doutrina e na prática com o propósito de angariar mais adeptos e mais dinheiro, enquanto se erigem verdadeiros impérios da (suposta) fé.

A Reforma do Séc. XVI começou no coração de Lutero quando este leu e entendeu Rm 1.17, onde está escrito, com base em Hc 2.4: “O justo pela sua fé viverá”. Como diz a minha esposa, não foi o raio que abriu a mente de Lutero – foi a Palavra. E não há reforma, avivamento ou despertamento que não comece pela Palavra de Deus.

O rei Josias realizou uma reforma religiosa em Judá? Ele descobriu a Palavra. O governador Neemias operou uma reforma religiosa, ética e social em Jerusalém e Judá? Ele leu a Palavra com o povo. A Igreja Primitiva foi abençoada, avivada e próspera? Foi com a Palavra que tudo começou e se desenvolveu. Não por acaso, entre suas divisas a Reforma Protestante tem a sentença latina Sola Scriptura, porque a Escritura Sagrada é suficiente para salvar o pecador, não lhe sendo equiparável nenhuma ideia, nenhuma crença, nenhuma tradição, nenhuma emoção, nenhuma experiência, nenhuma virtude.

O critério da verdade não é o que dá certo, mas o que é bíblico; o critério da verdade não é o que emociona, mas o que é bíblico; o critério da verdade não é o que aconteceu no passado, mas o que é bíblico; o critério da verdade não é o que o meu coração deseja, mas o que é bíblico; o critério da verdade não é o que enche a igreja de gente, mas o que é bíblico; o critério da verdade não é o que traz mais arrecadação financeira, mas o que é bíblico. E a Palavra é assim tão importante porque todas as outras coisas sagradas dela dependem e nela buscam seu fundamento de validade: a oração tem de ser bíblica, o louvor tem de ser bíblico, a adoração tem de ser bíblica, a liturgia tem de ser bíblica, a evangelização tem de ser bíblica, as missões têm de ser bíblicas, a forma de governo eclesiástico tem de ser bíblica, o ensino tem de ser bíblico, a teologia tem de ser bíblica, a experiência tem de ser bíblica, a virtude tem de ser bíblica, este artigo tem de ser bíblico, minha conduta tem de ser bíblica.

Precisamos retornar à Palavra de Deus e abandonar as bizarrices, as meninices, o fogo estranho, a frieza, a mornidão, o formalismo, a afetação de quem sabe muito quando não sabe nada. Precisamos de fogo verdadeiro a purificar o coração, iluminar a razão, aquecer o que está frio e incendiar o mundo! O fogo de Deus queima o mal e preserva o que é bom. O fogo de Deus espalha-se na esteira de Sua Palavra, operando o que ao Homem é impossível. Isto acontece somente nos verdadeiros avivamentos, e verdadeiros avivamentos não se fazem a partir do barulho, mas do exame cuidadoso da Palavra de Deus – sem a Escritura, nada feito, porque Jesus é o Verbo e o Verbo é Jesus.

Por que o crente tem de ir orar no monte? Por que precisa de objetos para aumentar sua fé? Por que precisaríamos semear dinheiro para colher bênçãos? Por que alguém tem de tocar um shofar na igreja? Por que precisaríamos de um culto recheado de referências judaicas? Por que se acredita que o Espírito Santo só opera quando o povo dança, requebra, cai no chão, sai correndo, assopra, treme, grita ou se sacode? Por que temos extrema dificuldade de discernir um movimento santo de um movimento tolo, uma pregação bíblica de uma pregação sensacionalista e carnal?

Em que ponto da estrada perdemos o juízo? Por que damos crédito a qualquer um que fala palavras do dialeto “evangeliquês” e afeta espiritualidade? Por que julgamos pesadamente os cristãos calvinistas e somos tão condescendentes com pseudopentecostais que violam as nossas bases de fé dentro de nossas igrejas? Por que permitimos que pregadores tão vaidosos quanto débeis no conhecimento assumam nossos púlpitos? Por que coamos mosquito e engolimos camelo? Por que somos duros com as igrejas históricas e excessivamente lhanos com as igrejas triunfalistas, da prosperidade, judaizantes e que distorcem a doutrina da batalha espiritual? Não está faltando reforma aí, não?

A falta de Luteros é um problema. Não queremos que um João Tetzel (1465-1519) fale sozinho: é necessário que um Martinho Lutero se ponha à frente dele para combater o bom combate da fé.

A questão é a seguinte: estaremos preparados para defender a fé ou será que temos negligenciado a substância de nossa confissão, em troca de bens efêmeros como a glória terrena e o conforto de sintonizar-se com o sistema?

Resta-me dizer Soli Deo Gloria.

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