estudos bíblicos

A velhice de Davi

Uma fase natural da vida

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Rei Davi. (Foto: Reprodução)

Chegamos a última Lição do 4° trimestre e, por consequência, também ao último estudo dominical do ano! Acompanhamos ao longo do trimestre o mais destacado personagem nos livros de Samuel, a saber, Davi, filho de Jessé, e aprendemos com seus acertos e erros lições preciosíssimas para uma vida cristã de temor a Deus, coragem, vigilância, arrependimento e fé.

Findaremos agora o ano letivo estudando sobre os últimos dias da vida de Davi, e para tanto precisaremos recorrer aos dois últimos capítulos de 2Samuel e também aos dois primeiros capítulos do livro de 1Reis. Tendo lido na íntegra esses capítulos, prossigamos para o nosso estudo!

I. Uma visão geral sobre a velhice

1. Velhice: uma fase natural da vida

Desde nossa infância ou adolescência, aprendemos nas aulas de Biologia que a vida é feita de etapas, até concluir o seu ciclo. Diziam nossos professores que o ser humano nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre.

Claro que isso expressa o ciclo comum da vida, ainda que saibamos que muitos não têm cumprido esse ciclo, saltando precocemente ao último estágio, sem mesmo chegar a crescer, reproduzir ou envelhecer. Sejam vitimados por doença, violência, acidentes ou mesmo fome, a realidade é que milhares têm sido impedidos de alcançar os seus “cabelos brancos” e desfrutar de longevidade. Uma das promessas bíblicas inclui a longevidade para os filhos que honram seus pais (Êx 20.12).

A velhice com as limitações que ela representa e a consequente morte não fazia parte do propósito de Deus para a espécie humana. O teólogo pentecostal Myer Pearlman sugere que se não fosse pelo pecado, Adão não teria amargado a morte, antes teria sido aperfeiçoado e trasladado![1] Todavia, uma vez introduzido no mundo, o pecado legou-nos o enfraquecimento físico, as doenças e a morte. Por esta razão escreve o apóstolo Paulo: “Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida” (2Co 5.4).

A palavra tabernáculo é usada tanto por Paulo como por Pedro para se referir ao corpo que temos agora, em seu aspecto frágil e temporário, carente de revestimento espiritual e sobrenatural, o que alcançaremos na vinda de Cristo (2Co 5.1,4; 2Pe 1.13,14; 1Co 15.53,54). Até lá precisaremos lidar com os dilemas da velhice.

2. Concepção bíblica

Ainda que hoje seja politicamente correto tratar a velhice com ares de romantismo – até chamam-na de a melhor idade (é discutível!) – a Bíblia trata esse tema com muita franqueza: a velhice representa o desgaste da força e do prazer (conf. Ec. 12.1-7; 2Sm 19.34,35), mas também sugere sabedoria e experiência acumuladas (Jó 12.12), o que faz do ancião ou da anciã pessoas dignas de reverência e atenção por parte dos mais jovens.

Da mesma forma que a força juvenil é exaltada, a brancura dos cabelos (e a benção da longevidade que isso representa) também é estimada na Palavra de Deus (Pv 16.31; 20.29). De tal modo o Senhor atenta com amor para os anciãos que assim ordenava na Lei: “Fique em pé na presença dos idosos, honre a presença do ancião e tema o seu Deus. Eu sou o Senhor” (Lv 19.32). Como seria bom se a atual geração atentasse para esta palavra! No Novo Testamento essa postura de respeito (ficar de pé diante dos anciãos) não é exigida, mas o princípio do respeito é mantido, como se pode ver nas palavras do apóstolo Pedro: “Peço igualmente aos jovens: estejam sujeitos aos que são mais velhos” (1Pe 5.5, NAA).

Ainda que de modo geral a velhice represente o esgotamento das energias (o que passar dos 70 ou 80 anos é “enfado e canseira”, diz o Salmo atribuído a Moisés – Sl 90.10), é possível que pela benção de Deus uma pessoa idosa sinta um rejuvenescer de sua mente e de suas forças, para dar frutos até mesmo na velhice (Sl 92.13,14). É o caso de Calebe, que mesmo aos 85 anos ainda estava cheio de vontade de viver, trabalhar e até enfrentar gigantes! (Js 14.10-12). E o que dizer da profetisa Ana, nos tempos em que nasceu Jesus? Ela era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia (Lc 2.37). Que belos exemplos para a juventude tão cansada e desanimada que vemos hoje!

Quantas senhorinhas nós conhecemos que têm muito mais disposição do que moças de 15 ou 25 anos? Conheço pessoalmente uma irmã de 79 anos, que é presente aos cultos regulares de sua igreja, canta no conjunto de senhoras e ainda dirige o culto matutino da igreja há apenas 29 anos ininterruptos! Essa mesma irmã contou-me outro dia que não raro costuma fazer votos com Deus, e um deles foi: cantar quarenta hinos da Harpa Cristã pra Jesus, sendo 20 deles cantados em pé e outros 20 cantados de joelhos. Dá pra você, caro jovem irmão?

A velhice não precisa representar pessimismo, tédio e clausura, pois segundo a Palavra de Deus, “os jovens se cansarão e se fatigarão, e os moços certamente cairão; mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão” (IS 40.30,31). Em Deus temos a nossa fonte da juventude! Em Cristo temos vida com abundância! (Jo 10.10).

II. Problemas na velhice de Davi

1. A velhice de Davi

Sabendo que Davi tinha 30 anos quando começou a reinar, e que ele reinou por 40 anos sobre Israel, concluímos que Davi viveu 70 anos. Pode parecer pouco à vista do que viveu Moisés (120 anos!), mas à época de Davi essa era uma idade já considerada “muito avançada” (1Re 1.1; 1Cr 23.1).

Davi em seus 70 anos não podia dizer o mesmo que Calebe em seus 85 anos, pois ao contrário deste, o rei de Israel se encontrava enfraquecido em seu vigor e debilitado em sua saúde. Certamente os longos anos em que esteve envolvido em guerras sangrentas levaram embora seu vigor físico. Mas não nos esqueçamos que foram essas cruentas batalhas que pavimentaram a estrada para o governo de paz nos dias de Salomão, filho de Davi.

Em sua velhice, talvez sofrendo de hipotermia, Davi precisou de cuidados especiais. O primeiro capítulo do livro de 1Reis vai nos informar que as roupas nas quais o rei era envolto não o aqueciam. Seus servos lhe sugeriram o calor humano de uma jovem virgem para aquentar o rei em sua cama. A jovem sunamita Abisague foi encontrada e incumbida desse cuidado para com o rei idoso, que além de cuidar do rei e servi-lo (1Re 1.4), ainda devia dormir em seus braços para aquece-lo (v. 2). O texto bíblico cuida para afugentar qualquer conotação sexual neste episódio.

Pode parecer-nos estranho esse cuidado de que Abisague foi incumbida para com Davi, mas numa época em que a poligamia e os reis tinham haréns, esta ação não era moralmente reprovada. Além do mais, como ressalta o Novo Comentário Bíblico, “este procedimento clínico usado para cuidar de uma pessoa com hipotermia era conhecido por Galem, um médico grego do século 2 a. C. [duzentos anos antes de Cristo vir ao mundo], e pelo historiador judeu Flávio Josefo [que viveu no primeiro século depois de Cristo]”[2]. Macdonald ainda acrescenta que, “a julgar pelo capítulo 2, é possível que [Abisague] tenha sido considerada esposa legal de Davi, pois, quando Adonias a solicitou para si, Salomão interpretou o pedido como uma reivindicação ao trono (2.21-22)”.[3]

Dentro da nossa realidade, e levando em conta as necessidades dos anciãos de nossas famílias e comunidades de fé, o que temos feito para aliviar-lhes o sofrimento e prover-lhes melhores condições de vida? A Igreja Assembleia de Deus em Campina Grande, Paraíba, da qual faço parte, tem, além de outros departamentos que cuidam da assistência social, trabalhado com afinco nessa área, zelando pelas necessidades de muitos “velhos crentes” da nossa igreja, através da COATI – Coordenação de Apoio à Terceira Idade. Diga-se de passagem, um dos departamentos mais bem organizados de nossa igreja, para glória de Deus! Mas é claro, ainda há muito por se fazer.

2. Enfrentando mais um filho rebelde

Não bastasse a ambição de Absalão pelo trono, o que veio a lhe custar a vida, agora outro filho de Davi se levanta para tomar o reino, estando seu pai ainda vivo e envelhecido. Está escrito: “Então, Adonias, filho de Hagite, se levantou, dizendo: eu reinarei. E preparou carros, e cavaleiros, e cinquenta homens que corressem adiante dele” (1Re 1.5).

Adonias era o quarto filho de Davi e a opção mais lógica para sua sucessão no reino. O primogênito, Amnon, fora morto por Absalão por ter estuprado sua irmã. Seu segundo filho, Quiliabe (2Sm 3.3; ou Daniel, como é chamado em 1Cr 3.1), provavelmente falecera nesta época. O terceiro filho de Davi, Absalão, morreu em uma rebelião anterior, como já estudamos na Lição passada. O próximo filho na linha de sucessão era mesmo Adonias. Porém, além de sua atitude precipitada demonstrar ambição e desrespeito, Davi e Deus tinham outros planos para o seu sucessor. Davi tinha jurado a Bate-Seba que seu filho Salomão é que assumiria o trono após ele (1Re 1.13).

3. Constituindo Salomão como rei

Tomando conhecimento da trama de Adonias, o velho rei Davi logo providencia para que Salomão seja ungido rei em seu lugar, e para tanto ele convoca o sacerdote Zadoque, o profeta Natã e o comandante militar Benaia (que substituiu o dissidente Joabe, que acompanhou o rebelde Adonias, 1Re 1.7). Eles deveriam ungir Salomão, fazê-lo montar a mula do rei, e tocar trombetas anunciando o novo rei de Israel, com a benção de Davi. Houve estrondosa alegria entre o povo, de tal modo que “a terra estava se fendendo” (1Re 1.40).

A rejeição de Adonias e a unção de Salomão demonstram como Deus tem caminhos diferentes dos caminhos dos homens. Deus não estava interessado na lógica da sucessão real, pois o coração de Adonias era manifestadamente perverso. Hoje também não é diferente: primeiros passam a ser últimos e últimos passam a ser os primeiros; gente mais capacitada é rejeitada e gente menos capacitada é empossada; os mais velhos são superados pelos mais jovens… Não raro Deus levanta alguém sobre quem não tínhamos nenhuma expectativa, para fazer nele e através dele uma grande obra. Deus escolhe as coisas que não são para confundir as que são (1Co 1.28). E operando Deus, quem impedirá? (Is 43.13).

4. As palavras de Davi a Salomão e sua morte

O guerreiro Davi não podia deixar de dar orientações sobre vingança ao seu filho, e agora novo rei de Israel, Salomão. Pode causar-nos alguma perplexidade a grande dose de ressentimento no coração de Davi e as providências que ele toma para que seus adversários sejam impiedosamente destruídos por Salomão (1Re 2.5-9), mas não julguemos Davi por isso, afinal só ele sabia quanta dor e sofrimento seus adversários lhe causaram e certamente fosse justo a punição contra eles.

O que destacamos mesmo é a exortação de Davi a Salomão para que ele fosse um homem corajoso (1Re 2.2 – “seja homem!”), e obedecesse aos preceitos do Senhor, sob a promessa de ter seu reino confirmado e abençoado por Deus (vv. 3,4). Estes foram os melhores conselhos dados por Davi a um de seus filhos. Não vemos nada semelhante nos casos de Amnom, Quiliabe ou Absalão.

III. As palavras finais de Davi em sua velhice

1. O reconhecimento da ação do Deus de Jacó

Como está claro no conselho de Davi a Salomão, o velho rei de Israel tinha consciência de que a benção e a prosperidade dependem de Deus. E quem não lembra do famoso Salmo 23, da autoria de Davi? É o Senhor quem guia seu povo aos pastos verdejantes e às águas tranquilas; é o Senhor quem dá refrigério, prepara banquete, unge a cabeça dos seus escolhidos com óleo, e se faz presente em todos os momentos, manifestando sua bondade e misericórdia todos os dias!

O bonito cântico de ação de graças de Davi registrado em 2Samuel 22 demonstra seu reconhecimento quanto ao favor do Senhor, que muito o abençoou em todos os momentos de sua vida. O último versículo deste capítulo resume esse sentimento de gratidão: É ele quem dá grandes vitórias ao seu rei, e usa de misericórdia para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade para sempre.

Aprendamos com Davi, ao findar este ano demonstremos ao Senhor gratidão por todas as bençãos, conquistas e livramentos que Ele nos concedeu. Sem Ele nada do que foi feito se fez! (Jo 1.3).

2. O Davi inspirado

Davi foi um homem muito inspirado por Deus. E como vimos, quando estudamos sobre seu adultério com Bate-Seba, o grande receio de Davi era perder a maravilhosa presença do Espírito (Sl 51.11). E de fato, ele alcançou a graça de Deus e não perdeu o Espírito. Em sua velhice Davi declarou: “O Espírito do SENHOR fala por meio de mim, e a sua palavra está na minha língua” (2Sm 23.2). Davi foi um verdadeiro profeta de Deus, visto que proferiu discursos e canções sob inspiração divina!

Cerca de 70 Salmos foram escritos por Davi, o “suave [ou doce] salmista de Israel” (2Sm 23.1). E em muitos deles Davi fala profeticamente acerca do Messias, isto é, o nosso Cristo. Dentre vários que poderíamos citar, o Salmo 2 e o Salmo 110 (mencionado por Jesus, numa referência a ele mesmo, Mt 22.42-45), antecipam em linguagem profética e poética a vitória final de nosso Senhor sobre seus inimigos. Não é sem razão que Jesus é chamado de “filho de Davi”, não só por ser da descendência de Davi, mas por ser o Davi perfeito, o verdadeiro rei que reinará eternamente, o Rei dos reis e Senhor dos senhores!

Conclusão

É conhecido de todos o Salmo 37 e o verso 25, onde Davi escreveu: “Fui moço e agora sou velho, porém nunca vi o justo desamparado, nem a sua descendência mendigar o pão”. Isso demonstra que em todos os seus setenta anos de vida Davi sempre viveu a provisão de Deus e também a percebeu sobre a família dos justos. Ajude-nos Deus para que possamos alcançar a longevidade, desfrutando desta mesma fé no Senhor e desta mesma provisão do Senhor, pois o problema não é envelhecer – como dissemos, isto faz parte do ciclo natural da vida –, problema mesmo é viver poucos ou muitos anos à parte de Deus, mesmo que em regalias deste mundo passageiro! Como disse Salomão, “Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, contudo eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus, aos que temem diante dele” (Ec 8.12).

Amém. Feliz ano novo!

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Referências

[1] Pearlman afirma: “Se o homem tivesse permanecido fiel, ele teria se desenvolvido ao máximo sobre a terra e, depois, possivelmente teria sido trasladado, pois a trasladação parece ser o meio perfeito que Deus usa para remover da terra os seres humanos”. Conhecendo as doutrinas da Bíblia, 3° ed., Vida, p. 371.

[2] Novo Comentário Bíblico – Antigo Testamento, Central Gospel, p. 556.

[3] William MacDonald. Comentário Bíblico Popular – Antigo Testamento, Mundo Cristão, p. 240.

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