estudos bíblicos

A abrangência universal da salvação

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 6 do trimestre sobre “A obra da salvação”

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Homem com joelhos dobrados dentro de igreja. (Foto: Pexels / Pixabay)

A Lição de hoje traz como tema A abrangência universal da salvação, com três objetivos básicos a serem alcançados ao longo do estudo: I. Explicar o que é a obra expiatória de Cristo; II. Discutir a respeito do alcance da obra expiatória de Cristo; III. Apontar que Cristo oferece salvação a todos.

 1 – O QUE É A OBRA EXPIATÓRIA DE CRISTO

Já apresentamos na Lição passada um conceito de expiação, e que retomamos aqui, visto que é pertinente:

Segundo Myer Pearlman, teólogo do pentecostalismo na primeira metade do século XX, “A palavra ‘expiação’, no hebraico, significa literalmente ‘cobrir’ (…) A expiação, no original, inclui a ideia de cobrir tanto os pecados (Sl 78.38; 79.9; Lv 5.18) quanto o pecador (Lv 4.20). Expiar o pecado é ocultá-lo da vista de Deus (…) A morte de Cristo foi uma morte foi uma morte expiatória, porque seu propósito era apagar o pecado (…) Expiar o pecado significa leva-lo embora, de modo que ele é afastado do transgressor, o qual é considerado, desse modo, justificado de toda injustiça, purificado de toda contaminação e santificado para pertencer ao povo de Deus” (1). Há muitos termos e conceitos nas línguas originais bíblicas envolvendo o assunto da expiação, mas achamos suficiente as definições acima trazidas pelo irmão Pearlman.

Os sacrifícios expiatórios no Antigo Testamento, cobriam os pecados dos homens para que Deus não mais os considerasse, e assim a sua ira contra o pecador fosse aplacada. Quando o ofertante punha a sua mão sobre a cabeça do animal, diante do sacerdote, ali estava um ato simbólico de transferência de culpa, onde o animal, e não o homem, receberia a punição pelo pecado do transgressor (Lv 1.2-4). No Novo Testamento, o sacrifício é o de Cristo, mas ele não apenas “cobre” os nossos pecados, no sentido de ocultá-los. Ele “tira” (Jo 1.29), “remove” o pecado do mundo! Como disse o apóstolo João, “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1.7).

  • A necessidade da expiação

A cruz se fez necessária, porque o pecado se fez real. Se fez necessária porque estávamos vendidos ao pecado, e ‘sem derramamento de sangue não há remissão’ (Hb 9.22)” (A Mensagem da Cruz). Sem o sacrifício expiatório de Cristo, nossos pecados estariam sempre à vista de Deus, e não havendo por eles uma oferta agradável, seríamos fatalmente condenados e consumidos no fogo da ira de Deus! Os ensinos de Jesus não seriam suficientes para salvar-nos se não houvesse a morte expiatória. Seus ensinos revelam os valores do reino de Deus, mas é seu sangue que nos faz dignos de entrar no reino.

O pregador congregacional D.L.Moody, que levou aproximadamente meio milhão de almas à Jesus nos Estados Unidos da América no século 19, disse que “sem expiação toda pregação é um mito. A crucificação de Cristo é o fundamento de tudo. Se um homem não tem uma base sólida sobre o sangue, tudo quanto diz é avariado” (2). Que a aula deste domingo possa despertar-nos para um resgate da mensagem da cruz em nossos hinos e pregações!

  • A abrangência do pecado

“Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” é uma das mais fortes declarações do apóstolo Paulo, ele que se reconheceu como “o principal” dos pecadores (1Tm 1.15). Este texto fala-nos da extensão universal do pecado: o pecado atingiu todos os homens, de modo que nenhum, a exceção de Cristo, não tenha sido contaminado por esta chaga espiritual. Salomão constatou essa mesma verdade: “Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque” (Ec 7.20)

Todavia, não apenas a todos os homens o pecado desgraçou, mas a cada homem individualmente por completo! Ou seja, pecado afetou todos os homens e ao homem todo, integralmente. Cada célula, cada pensamento, cada palavra, tudo está sob a contaminação do pecado. Em Romanos 3.12-18 Paulo discorre, citando passagens do Antigo Testamento, sobre como todo nosso ser, à parte da graça regeneradora, está poluída pela mancha do pecado. Em extensão e em profundidade a raça humana estava miseravelmente perdida. Veja como o pregador inglês John Wesley tratava com tamanha seriedade a gravidade e extensão do pecado:

“O homem, por natureza, é repleto de todo tipo de maldade? É vazio de todo bem? É totalmente caído? Sua alma está totalmente corrompida? Ou, para fazer o teste ao contrário: ‘toda imaginação dos pensamentos de seu coração [é] só má continuamente’? Admita isso, e até aqui você é um cristão. Negue isso, e você ainda é um pagão” (3)

Todos pecaram! Não há um justo sequer! Enquanto os filósofos dizem que o homem é bom, a sociedade é que o corrompe, a doutrina bíblica ensina-nos que o homem é mau e só Deus é bom. Jesus disse: “vós que sois maus…” (Mt 7.11) e “Ninguém há bom, senão um, que é Deus” (Lc 18.19).

2 – O ALCANCE DA OBRA EXPIATÓRIA DE CRISTO 

  • A impossibilidade/incapacidade humana

A cruz não era para quem tinha coragem, mas para quem tinha dignidade! Ou seja, era necessário ser digno de morrer nela em favor dos pecadores. Visto que “todos pecaram” e “não há um justo sequer”, já não importa se havia entre eles homens valentes ou mulheres corajosas, que aceitassem morrer como um mártir pela redenção da raça humana. A questão é: quem era capaz, quem tinha condições, quem passava pelo padrão de qualidade de Deus? Quem podia remir aos seus irmãos? A resposta bíblica é contundente: “Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, nem por ele dar um resgate a Deus, pois a redenção da sua vida é caríssima, de sorte que os seus recursos não dariam” (Salmos 49.7,8).

Era impossível ao homem prover sua própria redenção pelo fato de todos os homens serem indignos de atenderem as exigências da justiça de Deus. Deus não exigia cordeiros corajosos, Deus exigia “cordeiros sem defeito” (Nm 6.14)! Corajosos há muitos por aí, inclusive se sacrificando pelas causas mais banais. Todavia, santos e imaculados, somente Deus é! Todos nós não passávamos impuros e todos nossos atos de justiça eram apenas trapos imundo (Is 64.6). Como bem ressalta o teólogo Raimundo de Oliveira,

“De acordo com as Escrituras o homem é um ser totalmente depravado, alienado da glória de Deus e destinado ao castigo divino. Deste modo, por si só, o homem não pode se salvar (…) Não há homem algum que consiga a salvação por seus próprios méritos, uma vez que todos são achados culpados diante de Deus” (4).

A palavra de Deus é clara: “Por isso, ainda que te laves com salitre, e amontoes sabão, a tua iniquidade está gravada diante de mim, diz o Senhor DEUS” (Jr 2.22). Não há sabão nem religião que possa limpar o pecador, a não ser o sangue bendito de Jesus Cristo, o cordeiro santo de Deus! Wesley é preciso: “No coração de todo filho do homem há um fundo inexaurível de maldade e injustiça, enraizado de forma tão profunda e firme na alma que nada, a não ser a graça todo-poderosa, pode curar isso” (5).

  • Cristo ocupou o lugar do pecador

Há um termo de origem latina que expressa bem a nossa substituição na cruz: vicário. Quando dizemos que Jesus fez um sacrifício vicário, estamos dizendo que ele fez um sacrifício substitutivo, ou seja, substituindo-nos, tomando o nosso lugar na cruz. Naquela véspera de Páscoa, em que Jesus foi entregue à morte, estávamos todos representados em Barrabás, o transgressor que deveria morrer. Mas Cristo tomou a cruz em nosso lugar. A despeito de toda trama dos judeus e de toda injustiça de Roma, Cristo foi voluntariamente à cruz. Como ele mesmo disse: “Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo 10.18).

Ainda no segundo século, Irineu de Lião já expressava a incapacidade humana e a grade obra expiatória de nosso Salvador nos seguintes termos:

“Sendo impossível ao homem, vencido e decaído pela desobediência, reformar-se e conquistar a palma da vitória, e, por outro lado, por estar em poder do pecado, obter a salvação, o Filho, Verbo de Deus, operou ambas as coisas: ele, que era o Verbo de Deus, desceu de junto do Pai, encarnou-se, rebaixou-se até a morte e assim atuou perfeitamente a economia de nossa salvação” (6).

Há um texto nos Salmos que muito me agrada, sobre o nosso resgate provido pelo próprio Deus: “Quando os nossos pecados pesavam sobre nós, tu mesmo fizeste propiciação por nossas transgressões” (Sl 65.3). Lembra-se das palavras de Abraão ao seu filho Isaque, sob o Monte Moriá: “Deus proverá para si o cordeiro”. Foi exatamente o que aconteceu: visto que éramos indignos da morte vicária, e que um sangue impuro não pode remir a outros impuros, Cristo, ele mesmo fez propiciação por nossas transgressões, tornando-nos favoráveis diante de Deus! Eliú, jovem amigo de Jó, descreve muito bem nossa situação desesperadora antes de encontrarmos o nosso remidor: “Pequei e torci o que era certo, mas ele não me deu o que eu merecia”, mas em seguida ele dá a esperança: “Ele resgatou a minha alma, impedindo-a de descer à cova, e viverei para desfrutar a luz” (Jó 33.27,28). Jesus é o nosso resgatador! Aquele por quem ansiavam os patriarcas e profetas!

Cristo é o nosso cordeiro sem mancha e sem defeito (1Pe 1.19). E assumindo nosso lugar na cruz ele pode satisfazer completamente a justiça de Deus. Visto que Ele é Deus, pode ser para Deus nosso mediador; visto que ele é homem, pode representar-nos, a humanidade, diante de Deus (7).

3 – CRISTO OFERECE SALVAÇÃO A TODO O MUNDO

Cremos piamente na Expiação Ilimitada, ou seja, que Cristo morreu por todos os pecadores, sem exceção, mas que somente os que crerem livremente no Filho de Deus, consentindo com a ação da graça de Deus liberada sobre eles, é que serão salvos. Não cremos nem que Cristo tenha morrido exclusivamente por um grupo seleto de pecadores, carimbados para receberem irresistivelmente a graça de Deus e serem inexoravelmente salvos (como prega o Calvinismo), nem cremos que finalmente todos o pecadores serão salvos, já que Deus os ama de tal modo que não lhe entregaria a uma perdição eterna, antes providenciou em Cristo salvação eficaz para todas e cada uma de suas criaturas, mesmo que elas não venham a crer em Jesus (como prega o Universalismo). Cremos (Arminianismo) que há provisão real de salvação para todos, mas aplicação apenas sobre os que vierem a crer – e crer é um ato livre do homem assistido de modo preveniente pela graça de Deus (Is 5.1-7).

O teólogo Jacó Armínio traça uma boa distinção entre “redenção obtida” e “redenção aplicada”, que vale muito a pena professores e alunos da EBD lerem e dominarem:

“é preciso fazer uma distinção entre a redenção obtida e a redenção aplicada, e declaro que ela foi obtida para o mundo inteiro, e para todos e cada um dos homens; mas ela foi aplicada apenas aos fiéis e aos eleitos. Em primeiro lugar, mostro que, se ela não foi obtida para todos, a fé em Cristo é, sem nenhum direito, exigida de todos, e se não foi obtida para todos, ninguém pode, com justiça, ser culpado por rejeitar a oferta de redenção, pois rejeita aquilo que não lhe pertence, e o faz com propriedade. Se Cristo não morreu por todos, então não pode ser o juiz de todos” (8).

A redenção que foi obtida por Cristo na cruz do Calvário é oferecida a todos os homens sem exceção (confira estes textos bíblicos: Is 45.22; At 17.30; Tt 2.11; 1Jo 2.1,2), mas só será aplicada, ou seja, só terá efeitos salvíficos sobre aqueles que aceitarem com fé os apelos da graça de Deus. Pois “sem fé, é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). Infelizmente, muitos a exemplo dos judeus na época de Cristo recusaram os apelos amorosos do Senhor para salvação, como o jovem rico (Mc 10.21-22), os líderes judeus (Lc 7.30) e o povo de Israel (Jo 1.11; Mt 23.37-39).

O próprio Cristo declara que sua morte será em favor do mundo: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (Jo 6.51). Ele também disse a Nicodemus que “Deus amou o mundo” (Jo 3.16). Disse ainda: “…eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo” (Jo 12.47). O apóstolo João não deixa brechas ao afirmar que reiteradas vezes que Jesus é um sacrifício de Deus pelo mundo inteiro (1Jo 2.1,2; 4.14). E mundo é a totalidade dos pecadores que estão sob o pecado, e que aborrecem a Deus (Jo 15.18). Os que interpretam “mundo” (gr. kosmos) como sendo uma referência a “apenas os eleitos/predestinados” cometem um atentado gramatical contra a exegese bíblica, já que nenhuma porção das Escrituras trata os eleitos como sinônimo de “mundo” ou vice-versa. Mundo é mundo, incluindo os que perseveram em sua incredulidade contra o terno chamado do Salvador! Aliás, já dizia o reformador Martinho Lutero:

“Cristo não levou somente os pecados de alguns homens, mas seus [nossos] pecados e aqueles do mundo todo. A oferta foi pelos pecados do mundo todo, até mesmo embora o mundo todo não creia (9).

CONCLUSÃO

Ao concluir este estudo, penso que não seria mais pertinente a colocação do comentarista da Lição ao propor o último ponto: A responsabilidade do cristão. Sim, porque não adianta todo este estudo sobre o amor e a expiação universal de Cristo, e não darmos a estas convicções ortodoxas utilidades práticas! Devemos ser também ortopráticos. Portanto, como bem colocado nos comentários da Lição, cumpramos o Ide de Cristo, entremos em ruas, becos, morros e favelas, penitenciárias e hospitais, asilos, escolas e universidades, no rádio e na TV, na internet e em diálogos com amigos e parentes… aproveitemos as oportunidades para falarmos aos pecadores do nome bendito do Salvador Jesus! Sem fazer acepção de pessoas, nem fechando as portas para ninguém! Nunca julguemos pela aparência, nem pelo histórico de vida, para definir quem deve ou não ouvir a pregação do Evangelho. Não imitemos o espírito rancoroso e enciumado de Jonas, para quem os ninivitas deveriam perecer no pecado ao invés de receber a mensagem do Evangelho! O Deus que quis salvar os 120 mil moradores de Nínive é o mesmo Deus que continua não tendo prazer na morte do ímpio, e que deseja a salvação dos quase 8 bilhões de habitantes em nosso planeta hoje!

Portanto, calcemos os sapatos da preparação do Evangelho da paz e anunciemos as boas novas da reconciliação do mundo com Deus, por meio da obra salvífica de nosso Senhor! Como dizia o pregador J. C. Ryle: “Nosso dever é convidar a todos, sem nenhuma exceção. Devemos dizer ‘Acorde, arrependa-se, acredite, e venha a Cristo, converta-se, clame a Deus, lute para entrar pela porta estreita, venha porque tudo já foi consumado e Deus o ama. Cristo morreu por você.

Deus abençoe a sua vida e uma ótima aula!

Confira ainda nosso subsídio sobre a DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO NA ASSEMBLEIA DE DEUS, que será de utilidade nesta Lição ou em outras eventuais aulas. Clique e leia na íntegra: http://estudosbiblicos.gospelprime.com.br/assembleianos-creem-em-predestinacao/

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REFERÊNCIAS

(1) Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia, 3 ed., Vida, pp. 204-6

(2) D. L. Moody. Sermão O sangue, parte 2, final do século 19

(3) John Wesley. citado por Keneth Collins em Teologia de John Wesley, CPAD, p. 97

(4) Raimundo de Oliveira. As grandes doutrinas da Bíblia, CPAD, p. 215

(5) John Wesley. Op cit.

(6) Irineu. Contra as heresias, Paulus, p. 329

(7) Duffield & Cleave. Fundamentos da Teologia Pentecostal, vol.1, 2. ed., Editora Quadrangular. Eles dizem: “Esta é a razão para a encarnação da segunda pessoa da divindade; a fim de ser o mediador para Deus, Ele deve ser Deus; a fim de representar a humanidade, Ele deve ser homem”.

(8) Jacó Armínio. As Obras de Armínio, vol. 3, CPAD, p. 428

(9) Martinho Lutero. Lectures on Galatians – 1535, cap. 1-4.

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