estudos bíblicos

Tishá BeAv – A destruição dos templos de Jerusalém

Estudo bíblico histórico sobre a destruição dos templos em Jerusalém, capital de Israel.

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Arco do Triunfo de Roma. (Foto: Wikipedia)

O quê se comemora em Tishá B’Av? Nada! Não há o que comemorar nessa época. Tishá B’Av (Nove de Av) é tempo de jejuar, chorar e lamentar a destruição do Beit Hamikdash, primeiro e segundo Templos de Jerusalém, coincidentemente destruídos na mesma data – o primeiro por Nabucodonosor (586 a.C.) e o segundo por Tito (70 d.C.).

É, também, tempo de reflexão coletiva e pessoal sobre as razões que levaram o Eterno Deus de Israel a abandonar seu povo e sua santa cidade à sorte dos gentios.

A data de Tishá B’Av está baseada na passagem do profeta Jeremias que diz: “No quarto mês, aos nove dias do mês, quando já a fome prevalecia na cidade, e o povo da terra não tinha pão” (Jr.52:6).

Esse ano, no calendário solar, será no entardecer do dia 10 até o entardecer do dia 11 de Agosto. Os relatos da conquista e da destruição da cidade de Jerusalém e do templo estão registrados em Jeremias 52, Lamentações 2 e 2 Reis 24 e 25.

O período das três semanas anteriores à Tishá B’Av é conhecido por Bein HaMeTzarim (“entre os estreitos”), porque diz o livro de Lamentações 1:3: “e seus perseguidores a tomaram entre os estreitos”, referindo-se aos eventos funestos que recaíram sobre os judeus entre 17 de Tamuz e 9 de Av.

As calamidades de 9 de Av (Jr.52:6)

O Talmud registra os eventos lamentáveis que ocorreram nesta data:

  1. decreto de que Israel deveria vagar pelo deserto por quarenta anos;
  2. a queda da fortaleza de Betar (a última fortaleza a resistir aos romanos durante a Revolta de Bar Kochbá, vencida no ano de 135 d.C., selando o destino do Povo Judeu);
  3. a subsequente queda de Bar Kochbá e o massacre de seus companheiros; e 4) a destruição de Jerusalém por Adriano, em 135 d.C. (Taanit 26b – apud. LAMM, 1999, p.371).

Foi em 9 de Av que ocorreu a promulgação do decreto de expulsão dos judeus da Inglaterra (1290); e em 1492, o Rei Ferdinando da Espanha emitiu o decreto de expulsão, marcando Tishá B’Av como prazo final para que não houvesse um único judeu em território espanhol.

Ainda, a 1ª Guerra Mundial iniciou-se em Tishá B’Av, bem como iniciaram-se as deportações dos judeus do Gueto de Varsóvia.

O jejum de 9 de Av

O Talmud declara, em nome de Raban Gamliel que “se a pessoa come ou bebe em Tishá B’Av é como se tivesse comido no próprio Yom Kipur”. Um provérbio Yídish resume tudo: Em Yom Kipur, quem quer comer? Em Tishá B’Av, quem consegue comer?” (apud. LAMM, 1999, p.371).

O jejum individual, coletivo ou público tem como objetivo o quebrantamento, a rendição com o objetivo de conduzir o coração ao arrependimento, além de ser um momento de reflexão sobre os atos praticados diante de Deus e do próximo, visando o abandono do mal, substituindo-o pela prática do bem.

Ainda há mais dois dias de jejum, 10 de Tevet – que marca o começo do cerco babilônio de Jerusalém – e 17 de Tamuz – três semanas antes de Tishá B’Av, que marca a primeira brecha feita nas paredes de Jerusalém durante o cerco babilônio, de acordo com as palavras do Profeta Jeremias 52:7: “Então foi aberta uma brecha na cidade, e todos os homens de guerra fugiram, e saíram da cidade de noite, pelo caminho da porta entre os dois muros, a qual estava perto do jardim do rei (porque os caldeus cercavam a cidade ao redor), e foram pelo caminho da campina”.

Além, dos jejuns os judeus leem o livro Lamentações de Jeremias, que tem como título original em hebraico Eichá (“Como!”), referindo-se à desolação daquilo que era a glória de Jerusalém. Eichá é lido à noite, geralmente à luz fraca de velas, com os fiéis sentados no chão ou em bancos virados.

Como sinal de profundo luto, não se usa Talit (manto de oração) nem Tefilín (filactérios) no serviço matutino (Shacharit), mas somente no serviço vespertino (Minchá).

Todos os judeus são convocados ao jejum. As meninas a partir de 12 anos e meninos a partir de 13 anos devem jejuar o período inteiro e cumprir todas as normas referentes a Tishá B’Av.

No caso de necessidade de alimentação por ordem médica, um rabino deverá ser consultado para saber como proceder. Crianças menores podem se alimentar, mas devem ser sensibilizadas para entenderem a importância desta data, renunciando a guloseimas.

Imediatamente após a leitura de Lamentações, canta-se uma série de hinos fúnebres litúrgicos, chamados de Kinot, compostos por poetas judeus de diversas épocas e que são um conjunto acumulado de lamentos pelas tragédias que estão relacionadas à destruição de Jerusalém.

O quê é proibido em Tishá B’Av?

Segundo Kitsur Shulcham Aruch (Código da Lei Judaica), durante essas três semanas que precedem Tishá B’Av é estritamente proibido ir ao cinema, teatro, salões de concerto ou qualquer outro local de entretenimento público.

Não se deve comprar roupas novas, com exceção para as roupas de baixo e meias, e é proibido cortes de cabelo e fazer a barba – no caso desse último, há uma exceção para os homens que se barbeiam diariamente por razões de trabalho, podendo fazê-lo durante esse período.

A intensidade das três semanas de luto cresce com a chegada do Rosh Chodesh Menachem Av (início do mês de Av) nos noves dias anteriores a Tishá B’Av.

Por isso, em adição às proibições mencionadas, durante os dias entre o Rosh Chodesh  e Tishá B’Av, não se deve:

  • construir ou fazer alterações nos lares, a não ser que seja um reparo importante – sendo que esta proibição abrange pintar e outras modalidades de decoração residencial -;
  • comer carne ou beber vinho, exceto no Shabat; lavar roupas, buscar ou levar roupas à lavanderia – exceto vestimentas de criança, especialmente bebês e crianças pequenas, e roupas vestidas diretamente sobre a pele e que requerem trocas frequentes, como é o caso das peças de baixo, pois estas podem ser lavadas neste período -;
  • tricotar e costurar, com exceção de reparos em roupas rasgadas; nadar e banhar-se por prazer – é permitido tomar banhos por higiene, que crianças em acampamentos participem de aulas de natação e visitar a mikve (local de banho ritual para purificação) quanto necessário;
  • e, por fim, é também proibido o uso de cremes, perfumes, óleos corporais e maquiagens (GANTZFRIED, 2008, p.682-692).

Início de Tishá B’Av

A observância de Tishá B’Av tem início com a Seudá HaMafseket, a última refeição antes do início do jejum. Nos anos em que o jejum começa no sábado à noite, a Seudá HaMafseket não é realizada.

Diferentemente da refeição elaborada que é feita antes de Yom Kipur, em Tishá B’Av a refeição é geralmente composta por um prato com pão e ovo cozido mergulhados em cinzas, mas frutas, verduras cruas ou queijos também podem ser ingeridos.

A refeição deve ser terminada obrigatoriamente antes do pôr-do-sol.

Tishá B’Av na Sinagoga

Na Sinagoga, a parochet (cortina), existente em frente à Arca é retirada. No serviço do anoitecer, velas são acesas o suficiente somente para a leitura do serviço e todos se sentam no chão ou no lado de baixo dos bancos, que são virados ao contrário.

Até a Minchá de Tishá B’Av, não se deve sentar em cadeiras ou bancos. O costume é sentar-se no chão, ou ficar em pé, da mesma forma que um enlutado durante a Shivá (os primeiros sete dias de luto).

O uso de sapatos e vestimentas de couro é proibido, tal como no Yom Kipur.

Também é proibido em Tishá B’Av cumprimentar amigos e conhecidos – contudo, se o cumprimento partir da outra pessoa, devemos responder, mas discretamente, para evitar ressentimento.

Tishá B’Av em Israel

No Estado de Israel, o jejum de Tishá B’Av é marcado publicamente com o fechamento do comércio, locais de entretenimento, etc., desde a véspera, com as lojas apenas reabrindo na manhã do dia seguinte. Em Jerusalém, centenas de pessoas se dirigem ao Kotel (Muro das Lamentações), para recordar a destruição e orar pela redenção.

Destruição de Jerusalém e do Templo

Maquete do Templo de Salomão. (Foto: Esacademic)

A Destruição do Primeiro Templo foi profetizada pelos profetas judeus.

Textos como do profeta Jeremias capítulos 4, 6, 52, entre outros, falam claramente sobre isso: “E no quinto mês, no décimo dia do mês, que era o décimo nono ano do rei Nabucodonosor, rei de Babilônia, Nebuzaradã, capitão da guarda, que assistia na presença do rei de Babilônia, veio a Jerusalém. E queimou a casa do Senhor, e a casa do rei; e também a todas as casas de Jerusalém, e a todas as casas dos grandes ele as incendiou” (Jr.52:12-13)

A pergunta que surge diante de tal tragédia é “por quê Senhor?”. Em seu livro, o profeta Jeremias atribui a causa da tragédia aos pecados do rei, dos lideres da nação e do povo de Judá, bem como à falta de arrependimento. O profeta faz uma grave acusação, de que os habitantes de Judá estavam se escondendo atrás da existência do templo de Deus em Jerusalém, o qual não só lhes encobriria os pecados, quanto lhes protegeria contra o império babilônico.

Quanto a isto exortou Jeremias: “Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este” (Jr.7:4). Infelizmente, suas inúmeras advertências não surtiram efeito.

Contudo, o juízo de Deus viria sobre Nabucodonosor e seu poderoso império: “Como Babilônia fez cair mortos os de Israel, assim em Babilônia cairão os mortos de toda a terra” (Jr.51:49).

O cerco romano de Jerusalém e, posteriormente, a destruição do Segundo Templo de Jerusalém em 9 de Av em 70 A.D. confirmam a profecia de Daniel de que o Messias seria “cortado”, ou seja, morto, antes da destruição do Segundo Templo (Dn. 9:25, 26). Jesus em seu sermão profético (Mt. 24:1-2) faz uma alusão ao profeta Oséias sobre a destruição do Templo:

“Porque os filhos de Israel ficarão por muitos dias sem rei, e sem príncipe, e sem sacrifício, e sem estátua, e sem éfode ou terafim. (3:5) Depois tornarão os filhos de Israel, e buscarão ao Senhor seu Deus, e a Davi, seu rei; e temerão ao Senhor, e à sua bondade, no fim dos dias” (Os.3:4-5).

Hoje o povo judeu está sem Templo, realizando seus serviços religiosos nas Sinagogas. Hoje no Monte do Templo existem o Domo da Rocha e a Mesquita de Al Aksa (local sagrado para os muçulmanos) que foi construída em 691 d.C. Só restou um pedaço do muro Ocidental (Kotel) que fazia a proteção do Templo, local de peregrinação dos judeus, para estes lamentarem a sua destruição.

O Muro das Lamentações, como é conhecido, é o coração da fé judaica e o Santuário mais sagrado para os judeus.

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