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estudos bíblicos

A obra salvífica de Cristo

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 5 do trimestre sobre “A obra da salvação”

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Jovem em frente a cruz. (Foto: StockSnap / Pixabay)

A Lição desta semana trabalhará alguns conceitos bíblicos e teológicos que permeiam a doutrina da salvação, conceitos que são vitais para um cristianismo ortodoxo: expiação, propiciação, reconciliação e redenção. Não poucas igrejas evangélicas dos nossos dias desconhecem estes termos ou não têm por eles nenhuma afinidade, em virtude de já terem se distanciado dos rudimentos da fé cristã e se apartado do cristianismo histórico.

A Lição de hoje é da mais elevada importância, especialmente por nos fazer refletir sobre a grandeza da obra salvífica de nosso Senhor. A mensagem que era tema central da pregação apostólica é hoje nossa matéria de estudo. Os três objetivos a serem alcançados com esta lição são estes: I. Apresentar o significado do sacrifício de Cristo; II. Explicar como se deu a nossa reconciliação com Deus e III. Discutir a respeito da redenção eterna. Bom estudo!

O sacrifício de Jesus

A prática de sacrifícios e derramamento de sangue com fins religiosos é antiga na história da humanidade. Não foi Moisés e a Lei que instituiu o sacrifício, mas apenas o regulamentou. Tal prática remonta aos primeiros habitantes do planeta. Não temos registros de Adão e Eva oferecendo sacrifícios, mas provavelmente o fizeram; todavia, em seu filho Abel já encontramos esta prática: “E Abel também trouxe [ao Senhor] dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura…” (Gn 4.4). Teria sido esta apenas uma oferta de gratidão e adoração, como muitas outras que seriam regulamentadas na Lei mosaica? Ou seria já um sacrifício de expiação de pecados e propiciação do pecador diante de Deus, constituindo-se uma prefiguração do sacrifício de nosso Senhor Jesus? Os expoentes da Bíblia sagrada estão divididos quanto a isso, mas seja como for, ali está registrado o primeiro sacrifício realizado por homens e oferecido a Deus.

Agora, antes mesmo do sacrifício animal oferecido por Abel, o próprio Deus já havia sacrificado um animal, ainda no Éden, para com a pele do animal morto vestir o casal que havia confeccionado roupas impróprias para si, com folhas de figueira. É em Gêneses 3.21 que está registrado o sacrifício de um animal inocente – claro, ali não houve uma liturgia, como no caso de Abel, até porque é o próprio Deus quem sacrifica – onde está dito que “Fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu”. Como bem interpreta William McDonald, “Esse ato representa o manto de justiça entregue aos pecadores por meio do sangue do Cordeiro, disponível ao ser humano por meio da fé” (1). Na cruz, Cristo vestiu os nossos trapos de imundícia (Is 64.6), para vestir-nos com suas vestes de justiça (Ef 6.14); vestiu a nossa ofensa (Is 53.5; 2Co 5.21), para revestir-nos de sua glória (Ap 3.21); suas vestes estão manchadas de sangue (Ap 19.13), para que nossas vestes estejam sempre brancas (Ap 3.5; 7.9).

A partir de Moisés, muitos tipos de sacrifícios, com propósitos distintos, foram estabelecidos e regulamentados pela Lei (cerimonial). Como bem pontua o comentarista da Lição, em seu livro de apoio, “Alguns sacrifícios eram oferecidos diariamente, outros aos sábados, nas luas novas, no dia da expiação e ainda nas festas judaicas das Semanas, dos Tabernáculos (ou Cabanas) e também na festa da Páscoa. O principal propósito dos sacrifícios era fazer a expiação dos pecados, mas havia os de gratidão, de ação de graças, de paz e de alguns outros rituais judaicos…” (2). Para fins didáticos resumo aqui quatro dos mais destacados sacrifícios, a fim de percebermos a evolução deles até alcançar o clímax, o sacrifício perfeito do Filho de Deus:

1 – O sacrifício por um casal – já foi dito acima que o próprio Deus realizou o primeiro sacrifício de um animal inocente, para com sua pele vestir decentemente os primeiros transgressores da terra, o casal Adão e Eva (Gn 3.21). Aquele sacrifício serviu não apenas para dar melhor proteção aos corpos do casal, que enfrentaria calor e frio constantes foram do Éden, mas para demonstrar o fracasso humano e a inutilidade de seus esforços em tentar vestir a si mesmo, bem como demonstrar que somente Deus pode vestir o homem apropriadamente. As vestes da religiosidade, da moralidade e ética circunstanciais são inúteis ao propósito de cobrir o homem pecador. Somente Deus pode, mediante um sacrifício, cobrir nosso pecado e vestir-nos com dignidade. Por isso, Jesus diz: “Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3.18).

2 – O sacrifício por uma família – na noite que antecedeu a grande fuga do povo hebreu, depois de longos quatro séculos de escravidão no Egito, Deus ordenou o sacrifício do cordeiro para a Páscoa. Isto foi assunto de nossa Lição 2, onde vimos que o sacrifício deveria ser realizado em cada casa dos hebreus, e cujo sangue serviria para marcar os umbrais e vergas das portas, para que a morte “pulasse além” da casa dos descendentes de Jacó. Era um cordeiro para cada família, conforme Êxodo 12.4,5. Tal sacrifício, que deveria se repetir anualmente, serviria como propiciação de cada família diante de Deus, demonstrando estar ali uma família consagrada a Deus e livre da condenação de morte.

3 – O sacrifício por uma nação – conforme Êxodo 29.38-42, todo dia deveria ser oferecido pelo menos dois sacrifícios de holocausto, em favor da nação de Israel. Um cordeiro seria oferecido pela manhã, e outro no final da tarde. Quanto sangue derramado! Quanta carne queimada! Todavia, como bem ressalta o autor da Carta aos Hebreus, “E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados” (Hb 10.11). Todos aqueles sacrifícios seriam ineficazes se não fossem conforme o padrão de qualidade exigido por Deus, e se não fossem sombras do sacrifício perfeito que o próprio Deus tornaria a oferecer pelos transgressores.

4 – O sacrifício pelo mundo inteiro – primeiro, um sacrifício por um casal; depois um sacrifício por uma família; depois o sacrifício por uma nação. Agora, porém, chegamos ao sacrifício perfeito e pleno, e assim como no Éden, é novamente o próprio Deus quem o oferece em favor dos pecadores. Já não seria mais o cordeiro de Abel, de Arão, nem dos judeus. Nas palavras de João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Cristo não é um sacrifício por apenas um casal, por apenas uma família, ou por apenas uma nação, mas pelo mundo (Jo 6.51: “…e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo”). E não é por uma parte do mundo, mas de “todo o mundo” (1Jo 2.2), ou seja, o mundo inteiro, sem distinção nem exceção! Como cantava Ozeias de Paula, “Oh! Foi por mim, Cristo meu mestre, que tu quiseste ao mundo descer; Oh! Foi por mim, mestre querido, que oprimido vieste sofrer”.

Aquele que foi perfeitamente Deus e perfeitamente Homem, ofereceu a Deus um sacrifício perfeito e pleno para remissão dos pecados de todos quantos a ele vierem com fé, respondendo aos apelos da graça que são dirigidos a todos os homens. O texto de Hebreus 7.26-28 é singular ao falar daquele “sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; (…) [que] uma vez, oferecendo-se a si mesmo (…) constitui ao Filho, perfeito para sempre”. O momento é pertinente para remover um grande equívoco que é recorrente entre nossos pregadores: a nossa salvação não foi rifada no céu!

Já ouvi não poucas vezes pregadores montarem um diálogo entre Deus e os anjos no céu que simplesmente não está na Bíblia, nem poderia estar! Dizem eles:

– O Pai, após ver o homem caído no pecado, chegou para o anjo Gabriel e lhe perguntou se ele não poderia vir morrer em nosso lugar. Gabriel temeu, tremeu e recusou. O Pai perguntou a Miguel, o arcanjo, se ele não poderia vir morrer por nós. Miguel também se acovardou. Os demais anjos do céu também recusaram, nenhum deles quis vir morrer em nosso lugar. O Pai então gritou: “A quem enviarei? Quem há de ir por nós?” [um absurdo exegético!] Então, no meio da multidão celestial, uma mão se ergueu e uma voz bradou: eu irei, Pai, eu, teu Filho, irei para morrer em lugar do pecadores!

Historietas como essa costumam causar impacto e suspiros. Mas não naqueles que conhecem a Bíblia e já entenderam o maravilhoso plano infalível de salvação! Primeiro, Deus não tem plano B. Seu plano de salvação sempre foi um só, e é infalível! Segundo, Deus nunca rifou a cruz entre os anjos, oferecendo a um e a outro, para ver se alguém conseguia se compadecer dos pecadores. Pensar isso é um insulto à Onisciência de Deus! Terceiro, e finalmente, como dizia o contundente pregador britânico George Campbell, “O que vemos na cruz não começou na cruz material. O Cordeiro de Deus foi morto desde a fundação do mundo” (3).

De fato, conforme está escrito (Ap 13.8), mesmo antes do pecado do primeiro casal, Cristo já tinha sido colocado – nos desígnios de Deus, que todas as coisas determinou de antemão com respeito ao plano de salvação – como o Filho Eleito, nosso Mediador, nosso Salvador, nosso Senhor! O teólogo pentecostal Myer Pearlman reitera: “A expiação não foi um pensamento de última hora da parte de Deus. A queda do homem não apanhou Deus de surpresa, a ponto de necessitar tomar rápidas providências para remediá-la. Antes da criação do mundo, Deus, que conhece o fim desde o princípio, proveu um meio para a redenção do mundo” (4). Nas palavras do teólogo holandês Jacó Armínio,

“O primeiro decreto integral de Deus a respeito da salvação do homem pecador é aquele no qual Ele decreta a indicação de seu Filho, Jesus Cristo, para Mediador, Redentor, Salvador, Sacerdote e Rei que deve destruir o pecado pela sua própria morte, e que deve, pela sua obediência, obter a salvação que se perdeu, devendo comunicá-la pela sua própria virtude(5).

Quando cada animal inocente era sacrificado desde os dias de Adão, eles não representavam uma ideia vaga de salvação, um plano em aberto de Deus, uma incógnita divina. Antes, estavam postos como figuras ou sombras imperfeitas do sacrifício perfeito do Filho eleito, de cujo bel prazer pendia a nossa salvação eterna! Dele sempre foram, e dele para sempre serão os méritos de nossa salvação! Solus Christus.

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Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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