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estudos bíblicos

Solidão, crítica e rejeição: os custos da liderança

Como o pastor pode responder à solidão, às críticas e à rejeição e ainda manter boas relações humanas com os membros?

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Homem de terno ajeitando a gravata. (Foto: Pixabay)

Oswald Sanders lista em seu livro (Liderança Espiritual, Editora Mundo Cristão) dois princípios elementares sobre liderança cristã baseados em Marcos 10.32-40, no episódio em que Tiago e João pedem a Cristo para ocuparem uma posição de destaque em seu Reino (v.37).

Ele identifica, em primeiro lugar, o princípio da “soberania na liderança espiritual”. Conceder a alguém cargo de liderança é algo que já está preestabelecido por Deus, apenas confirma-se o candidato que o Senhor já reservou para esse fim; É notório que ninguém galga tal posição por méritos próprios, por influência intercessora de alguém ou de um colegiado, mas é preciso uma extensão humana e terrena do Reino para que administre as questões da Igreja, como por exemplo: uma assembleia, convenção ou concílio.

O livro de Atos registra três assembleias:

  1. Para escolher um apóstolo substituto de Judas (1.15-26);
  2. Para instituir os diáconos ao serviço social (6.1-6)
  3. A assembleia geral do capítulo 15, realizada para resolver questões a respeito dos ritos mosaicos, se seriam aplicados, aos gentios que aceitaram a fé, comissionando obreiros para noticiar a decisão convencional.

Os pastores são levantados soberanamente para exercerem seus cargos de liderança reservados a eles pelo próprio Senhor, foi Jesus que apresentou esse princípio ao dizer: “mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo, mas isso é para aqueles a quem está reservado.” (Mc 10.40). A convenção local reconhece o ministro que Deus preestabeleceu, função que nossa pastoral – CONADEC – desempenha muito bem.

Por esse motivo estejamos conscientes de que a instituição eclesiástica é divina com funções espirituais e execuções humanas, eis a razão pela qual não devemos nos opor ou questioná-la. Além do reconhecimento de uma instituição, é preciso, também que alguém os apresente. Como por exemplo: Barnabé que apresenta Paulo aos Apóstolos, “Barnabé, tomando-o [Paulo] consigo, o trouxe aos apóstolos…” (At 9.27); o próprio Paulo, que depois de alguns anos, ingressa Marcos no ministério, “… Toma Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.” (2 Tm 4.11); e os discípulos que escolheram os diáconos “ e os apresentaram ante os apóstolos…” (At. 6.2,3,6).

O segundo princípio reconhecido por Sanders na fala de Jesus foi o “preço da liderança”. O Senhor deixa claro que há um custo alto a pagar para quem quer assumir uma posição de liderança: “… Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?” (Mc 10.38), a pergunta evidencia haver custos para exercer uma liderança eficaz. Sanders destaca que a solidão, a crítica e a rejeição são alguns fatores que, dentre outros, definem o preço da liderança. Mas, como o pastor deve responder as críticas, rejeição e solidão e ainda manter boas relações humanas com seus membros (FAETAD, 2006)?

Solidão

Tomar decisões nunca foi fácil; Em ambiente coletivo, às vezes, gera conflitos de opiniões e consequentemente problemas relacionais. George Barna, um dos mais proeminentes pesquisadores de liderança cristã americana e presidente da maior organização norte-americana de consultoria de administração de ministérios, revela os tipos mais comuns de conflitos: “colisão de personalidade, lutas de poder, insegurança, falta de reconhecimento: São os conflitos relacionados com assuntos pessoais” (George Barna, 2004).

Quando o Pastor decide tomar alguma decisão necessária para o crescimento da igreja, algumas vezes, infelizmente fica solitário e é incompreendido como, por exemplo, quando decidir mudar a liderança de um departamento poderá afetar algumas pessoas e causar certo desconforto. Dado a situação ele pode ficar solitário e incompreendido, este é o preço da gerência – a solidão.

A igreja precisa de obreiros que sejam servos e o pastor, naturalmente, precisa de amigos fiéis; Longe de sua terra natal, a solidão se torna um custo angustiante para quem aceitou, como Abraão, segregar-se das agremiações de sua “terra”, da fraternidade de sua “parentela” e do afeto da casa do “pai” (Gn 12.1); Para ser incompreendido, rejeitado e solitário em terra estranha.

Não obstante, é impossível dar respostas à solidão causada por membros que, insatisfeitos, se distanciam do pastor. Ele deve, no entanto, construir mecanismos que a evite, tais como:

  1. Procurar viver em paz com seus membros;
  2. Entender suas singularidades, pois as pessoas não serão como você quer que elas sejam; serão elas mesmas, apenas temos que aceitá-las; Por isso não seja rancoroso ou temperamental, saiba que a maioria dos conflitos são gerados pela deficiência das boas relações, portanto uma das partes tem que ceder;
  3. conquiste novos amigos, aumentando seu círculo de amizade.

Crítica (destrutiva)

É um custo à liderança porque destrói a motivação para delegarmos. Sanders diz que a crítica é o elemento mais “destrutivo” da liderança, compromete a autoestima, o raciocínio e afeta a alma gerando um sentimento de rejeição no Pastor, causando fragilidade comunicativa aos liderados. SCOTT HAGAN (Pastor-Presidente da Mars Hill Community Church, das Assembleias de Deus de Sacramento, Califórnia-EUA) teoriza que as críticas geralmente provêm das bordas (Nm 11.1) da comunidade e da mistura de gente (Nm 11.4) não comprometidas com a liderança e o Reino: “… o povo começou a queixar-se das suas dificuldades… a sua ira acendeu-se e fogo da parte do SENHOR queimou entre eles e consumiu algumas extremidades do acampamento” (Nm 11.1 – NVI).

Esteja consciente de que quanto mais longe estiver do rebanho, mais surgirá murmuração e se você voltar toda sua atenção para “o meio” as bordas ficarão deficientes; nesse caso a liderança fica comprometida abrindo caminhos para revelias. Quando Moisés ficou distante do povo muito tempo, embora fosse necessário naquele momento, o resultado foi nefasto (Êxodo 32). Portanto, convém que os pastores tenham cuidado quando precisar passar algum tempo longe do rebanho, o tempo de ausência do líder determinará o quanto aparecerá críticas e a rapidez como elas se propagarão contra sua administração.

A melhor maneira de responder às críticas é o silêncio, Não revidar com palavras ofensivas ou do mesmo calão; ao contrário, o líder deve agradecer por tais críticas e fazer delas combustível para o aperfeiçoamento. Assim, os críticos verão o posicionamento humilde do Pastor, conquistando suas emoções, facilitando-lhes a aproximação e estabelecendo relacionamentos de confiança entre ambos. Socializar-se é uma forma de evitar as críticas, conviver com os que estão insatisfeitos, ouvi-los e saber tomar atitudes para não comprometer sua liderança e a comunidade local ajudará a evitar as críticas destrutivas.

Não rebata crítica com crítica, mas “elogie sempre antes de criticar ou apontar um erro. Primeiro conquiste o território da emoção depois o da razão.” (Augusto Cury, 2008). Tomando como exemplo Ulisses Guimarães que nas questões políticas que precisariam do voto da maioria, o parlamentar não buscava conquistá-lo nas tribunas do Congresso Nacional, mas nas mesas de restaurantes; depois que seus críticos estavam com os ânimos calmos degustando um almoço promovido por ele. Promova um “almoço” para seus críticos e os tornará em aliados.

Rejeição

Uma mensagem não aceita, uma ordem não executada e semblantes insatisfeitos são aguilhões poderosos que ferem, profundamente, àqueles que exercem o cargo da liderança. A rejeição é muito mais sentida e causa ainda mais ressentimentos quando se manifesta ao Pastor – A quem se espera obediência, em vez de rejeição. Não devemos esquecer o fato de que a aceitação, submissão e obediência são atitudes intrínsecas do membro em relação ao seu pastor: “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles…” (Hb 13.17-ARC 2009).

As fontes da rejeição podem emanar das mais diversas características pessoais do líder: Intelectual (quando o pastor é um profundo intelectual: Ex 2.14; ou quando não tem uma formação aquém de seu público: Mc 6.3); Etária (quando é muito novo: Gn 37.8; ou está na terceira idade: 1Sm 8.5); Estrutural (de pequena estatura e semblante agradável: 1 Sm 17.28) e etc.

A rejeição é evitada e/ou respondida pela Influência, que é aplicada pela própria atividade do líder: a liderança. Nesse nível a influência funciona como prevenção à rejeição; dessa forma, a capacidade do líder de influenciar direcionará a atitude do liderado em rejeitar ou aceitar suas posições, liderança e sua própria personalidade. Porque “liderança é a habilidade de mover e influenciar pessoas” (Sanders, 1985) fazendo com que elas mudem o pensamento tendencioso à rejeição para aceitação.

Este nível eu teorizo como: o Nível Técnico da Influência, é o nível que depende exclusivamente da capacidade técnica da Arte da Liderança desenvolvida pelo líder; O pastor que contagia, surpreende e influencia conquistará a confiança do membro e fará dele um discípulo fiel.

O outro nível é a oração e defino como: o nível espiritual da influência; Ela é usada quando a rejeição estiver em plena ação, quando a capacidade de influenciar já não for o suficiente para mover o coração obstinado do homem rebelde. Experimente orar por um obreiro ou um grupo que está sendo insubordinado, lhe rejeitando o tempo todo; A oração, permanente e exclusivamente para esse propósito, irá movê-los e a rejeição será dissipada.

Sanders cita Hudson Taylor, que garante ser “possível mover os homens, através de Deus, apenas pela oração”. A obstinação humana torna-se mais difícil de combater porque a arbitrariedade rege as decisões volitivas do homem, Senão seria fácil liderar. No entanto, a oração é o recurso espiritual para o líder responder a rejeição e manter boas relações humanas com os seus membros, Sanders esclarece que “o alvo da oração é o ouvido de Deus. A oração influencia os homens, porque influencia Deus, para que Ele influencie os homens. Não é a oração que move os homens, mas Deus, a quem nós oramos.”

Bacharel em Teologia pela FAETAD/GLOBAL UNIVERSITY. Licenciado em Biologia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-CE. Pós-graduando em Liderança e ADM. Eclesiástica. Pastor na Assembleia de Deus em Barroquinha-CE

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