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opinião

Romantismo da Sulamita é sem ciúmes?

Todas as moças o amam.

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A Sulamita diz: “Beije-me mais uma vez porque o seu amor é mais doce que o vinho. A fragrância do seu perfume é deliciosa; o seu nome é como um perfume derramado. Não é de admirar que todas as moças o amem! ”.  Ct 1.1-3

Vamos fazer uma breve recapitulação. Começamos no capítulo 3, onde vimos a nobreza do casamento e o momento da coroação real de Salomão; depois continuamos no capítulo 4 e vimos um amado e sua amada adentrarem na vida um do outro pelos laços físicos do matrimonio, percorremos todo este capítulo, chegando até ao 5.1 na consumação dos amantes; E agora retornamos ao primeiro capítulo de Cantares.

Muito possivelmente, o começo do belo romance não seja aqui propriamente, mas também não se sabe aonde seja. Como já dissemos, a Sulamita e o esposo, possivelmente já estejam casados neste momento, visto que pedir beijos a um homem, denotava intimidade sexual clara para a época bíblica. Como o livro de Cantares é um eco de toda a Escritura, esse pedido aqui, feito pela amada, é santo e apropriado. Vale lembrar também que o livro de Cantares é o único que faz referência ao beijo na forma romântica.

A abertura arrebatadora diz, “Beije-me mais uma vez”. A Sulamita quer um prolongamento da presença do esposo. Ela estima os seus beijos porque eles a fazem se sentir renovada, como acontece ao se beber o vinho fresco. A presença dele era perfumosa, e até o nome do amado era tão agradável como um bom perfume.

E as moças de Jerusalém, o conhecem e também sentem esse perfume no ar. E principalmente, elas amavam este nome e dizem: “Ó rei, estamos alegres e felizes por sua causa; celebraremos o seu amor que é mais agradável que o vinho. Com toda a razão você é amado! ” v.4

O nome de Salomão, vem de shalom, que significa paz ou “pacífico”. Nome muito bonito e poético, entretanto, poderá ser que não seja deste lindo nome, em específico, que a esposa estivesse se referindo.

O tema ciúmes está intrinsecamente ligado aos romances em todos as épocas. Nos filmes clássicos, nos filmes de aventuras juvenis, nas novelas, nas séries, o sentir ciúmes é sempre considerado uma prova de amor. Mas, em Cantares este tema é quase inexistente.

E quando no capítulo 8.6, o ciúme chega a ser citado, somente o é para ser comparado em força com o amor. E ele tem conotação positiva, como um reclame de zelo e propriedade, vejamos:

“… e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas do Senhor…”.

A Sulamita pediu para que o amado pusesse um selo sobre o coração dela. Hoje, os que são casados tem o hábito cultural de andar com alianças no dedo esquerdo. Alguns possuem lindos anéis com o nome do esposo gravado na parte externa. Se, por algum motivo o cônjuge não fizer questão de usar a aliança, logo é posto em questionamento sobre se quer ser visto como alguém comprometido, ou não.

Será que a jovem casada, Sulamita, não se vê ameaçada por concorrentes, e nem pelas moças de Jerusalém? Aquele sentimento de perigo que surge nos corações apaixonados, quando se nota que há muito interesse, ou elogios demais por parte de outros, não lhe causou aquele tão conhecido temor da perda?

O que vemos no texto é uma confissão de segurança e alegria. A Sulamita disse que até compreendia os motivos pelos quais as moças o amavam. “…o seu nome é como um perfume derramado. Não é de admirar que todas as moças o amem! ”.

Esta palavra, “nome”, ocorre uma única vez em todo o livro. A moça elogia o cheiro delicioso que o amado tem e o nome dele é o ponto alto disso. A palavra “perfume” vem do latim “per fumum”, que significa “através da fumaça” ou esfumaçar. Outra palavra que aparece em versões mais antigas é unguento, mas o significado é o mesmo, talvez haja diferenças na elaboração da técnica de um e de outro.

Quando percebemos que aquele rapaz com o qual nós conversando por certo período, seria finalmente o escolhido para se ter um relacionamento com vistas a uma escolha de um cônjuge para toda a vida, logo aspiramos que estes escolhidos se tornem queridos também dos nossos familiares e amigos. Que eles gozem de uma boa fama no meio da nossa convivência. Somente o auto engano fará com que não se considere a opinião de outras pessoas que estão ao nosso redor. Logo, é essencial que o nosso escolhido seja confirmado também pelos nossos parentes diretos e irmãos-amigos mais próximos, pessoas que confiamos. Queremos que ele tenha uma presença agradável, como um bom perfume tem.

Os egípcios detiveram as primeiras práticas laboratoriais da arte de fazer perfumes. Sendo seguidos depois pelos árabes, e atualmente são os franceses que detêm a boa fama de confeccionar caríssimas fragrâncias. Esfumaçar ambientes com cheiros era uma prática pagã bastante comum na antiguidade, a crença era que quando se precisava expulsar espíritos indesejáveis da casa, chamavam-se pessoas que consideravam habilitadas para fazer um “esvaziamento espiritual”, esfumaçando o ambiente. Isso permanece até os dias de hoje em muitas religiões.

Quebrar vasos de perfumes também era outra prática comum. Dizem que nos tempos bíblicos, meninas ganhavam vasos de Alabastro, material parecido com gesso e porcelana, mas finíssimo, e iam colocando lá as essências valiosas que lhes eram dadas pelos pais, até o dia do casamento. O objetivo era fazer uma poupança robusta, e no dia das núpcias, retirariam uma parte que seria dada como um dote ao esposo, e a outra parte a moça quebraria aos pés dele, já na sua casa. Imagine a cena, toda a casa exalando um perfume agradável! Um belo pano de fundo para se começar um casamento.

Se essa prática existiu ou não, não temos certeza, mas curiosamente, na Bíblia vemos um episódio acontecer que aponta para a possibilidade dessa cultura ter existido mesmo. Lázaro já havia sido ressuscitado e dera uma festa para Jesus. Então, no momento alto desta festa, uma moça entra, era Maria sua irmã. E, inesperadamente quebra um valioso vaso de Alabastro e derrama sobre a cabeça do Messias, e o perfume encheu totalmente aquele ambiente. Nada mais adequado, não? Cristo, o noivo sendo preparado para as bodas com a sua igreja. Depois que aspirou aquele doce perfume, Jesus disse àquela moça que o que ela fez seria lembrado para sempre. Mateus 26.6

O que a Sulamita estava dizendo é que, mais do que um corpo perfumado, o seu amado tinha uma personalidade perfumada. A presença dele era agradável e marcante. O amado dela possui uma personalidade atrativa. Aqui o índice de ciúme é zero. A moça não está preocupada com as outras, e não cogita alguma possibilidade de traição, ela tranquilamente constata a realidade de que ele é amado por outras pessoas, e ela sabe bem o motivo: a sua personalidade bela e equilibrada. Todos amam estar com ele no mesmo ambiente, e o vaso da presença dele foi quebrado e encheu a casa.

Coisas que embelezam a alma são vindas do Espírito Santo de Deus e seus frutos, e por causa disto nos tornamos o bom perfume de Cristo e cheiramos vida, foi o que disse Paulo. Humildade, sabedoria, gentileza, fidelidade, coragem são elementos que compõe um bom nome. O amado de Cantares era assim, e para sua esposa esse fator de boa fama que ele possuía era apreciado, e uma das suas alegrias em especial. O nome dele, bem como a sua presença, caía muito bem no seu círculo de amizades…

* Fragmentos do livro FEMINILIDADE BIBLICA- Repensando o papel da mulher à luz de Cantares da autora Sady Santana Ferreira. Pedidos pelo Whatssap 11 973998603 ou no site da Editora Cruz aqui.

Jornalista e escritora, com um livro publicado "Feminilidade Bíblica - Repensando o papel da mulher à luz de cantares", e também escritora de livro didático. Casada com Nelson Ferreira, pastor da IPB, mãe da Acsa e avó da Clarisse. Em breve publicará seu primeiro romance .

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