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opinião

Respeitemos os animais; mas, amemos a Deus

O justo tem consideração pela vida dos seus animais, mas as afeições dos ímpios são cruéis. (Provérbios 12:10)

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Meditava numa pregação que ouvi há tempos, quando a certa altura – a título de ilustrar e reforçar a mensagem – o pastor testemunhou de um incidente que se envolveu por conta da fuga de um cachorro assustado por uma movimentada avenida e sua dona desesperada em perseguição. O pregador chamava a atenção da história, muito mais pela reação da dona.

Não desdenhando pela vida do bicho ser menos preciosa ou não, mas ele ficou assustado com aquele cenário caótico instaurado na rua em questão de segundos, pelo protagonista fujão e sua dona, ainda em pijamas, gritando histérica; carros freando, pessoas aterrorizadas na calçada, sem entender o que estava acontecendo, se era o fim dos tempos ou mais um ato de violência, comum em nossas cidades.

Por fim, o nobre pastor também se envolveu na história, tentando acalmar aquela confusão, sinalizando aos carros que vinham nos dois sentidos da via, a fim de evitar acidentes, e é claro, preservar a vida do animal. O caos amainou quando alguém teve a atitude de cercar o animal e dar uma voz de comando com tal autoridade que o animal estacou paralisado e assim permaneceu, aguardando ser pego. Lembro também que o querido pastor não deixou passar a oportunidade de exortar a dona, explicando a ela todos os riscos envolvidos naquela situação, por um descuido dela em manter o animal preso.

Nesse raciocínio ainda, não tem como deixar de lembrar da reação negativa que provocou o episódio do programa de estreia da nova temporada de “Tempero de Família”, no canal GNT. O apresentador Rodrigo Hilbert, a fim de mostrar – até de forma pedagógica – como se vive em muitos lugares do Brasil, exibiu como se dá um churrasco de cordeiro (borrego), desde sua captura, abate, até o momento de consumir a carne.

A repercussão, indignação e protestos daqueles que discordaram da proposta do programa ou sentiram-se ofendidos com as cenas e foram para as redes sociais protestar, causou surpresa ao apresentador que desculpou-se, através do seu perfil pelas redes sociais, por ter ofendido quem quer que fosse. Caso é, que houve também reação em apoio ao programa. Protestaram, afirmando, em tom de ironia, que carne não dá em árvores como fruta. O debate prossegue acalorado, dividindo opiniões.

Não é raro ouvirmos, com certo desdém, falar que na Índia as vacas são veneradas. Hoje, no Brasil, não estamos longe de dizer que caminhamos para venerar cachorros. Há toda uma conjunção de fatores que contribuiu para estabelecer esse cenário: marketing agressivo das indústrias ditando comportamentos com vias a consumir produtos para “pets”; mercado fértil, ainda pouco explorado para vender todo tipo de bugiganga para os bichos, pessoas acumulando-se nas cidades, que em busca de um paliativo para a solidão, refugiam-se na companhia de animais; confusão de valores morais e como os cristão creem: carência do amor de Deus nos corações, que leva um ser humano buscar conforto emocional em um animal e não em outro semelhante.

É comum ouvir justificativa do lado daqueles que estimam mais cachorros que pessoas, que esses são amigos fieis. Nunca se zangam ou reclamam das atitudes dos donos. Estão sempre de prontidão na chegada do dono, abanando, satisfeitos, seus rabos a maneira de quem está sorrindo em vê-los mais uma vez. Alguém que busca companhia assim, é por projetar egoisticamente numa criatura que não tem como expressar-se, todas as características esperadas do outro para seu convívio: silêncio e satisfação incondicional pela companhia.

Devemos respeitar os bichos, absolutamente, pois são seres criados por Deus e muitos – os domésticos principalmente – têm suas vidas sob nossa responsabilidade. Isso, inclusive, perante a lei do país. De respeitar seres criados por Deus a venerá-los e colocá-los numa posição superior ao seu humano, vai uma grande diferença. Há pessoas que tem seus cachorros em tão alta estima que chegam ao cúmulo de trocarem a companhia do cônjuge no leito pelos tais.

Cada um tem a liberdade para agir como queira, e esse aspecto da veneração canina é apenas mais um traço de uma sociedade confundida com o que valorizar. Sei que temos disponíveis as frases prontas tipo: “tem cachorro que vale mais que muita gente”, “ele nunca vai me abandonar”, “ele sempre me recebe aos pulos de alegria” etc. Não falo nesse nível. Todas essas situações não justificam valorizarmos mais cães que gente. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. De fato, uma pessoa mergulhada no pecado, deixa de ter a semelhança com Deus e torna-se mais parecida consigo mesma e sua sua companhia passa a ser indesejada.

A passagem que Cristo diz: “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.” (Lucas 11:42). A segunda frase desse versículo trás à reflexão uma analogia, que não é o caso de deixar de fazer uma coisa em detrimento de outra, mas sim em cumprir ambas. Respeitar um, mas amar o outro.

Venerar animais demonstra o distanciamento de Deus, a medida que revela a confusão instaurada, que ao invés da procura pelo semelhante, volta o olhar para a criatura que está de certa forma presa na sua existência, fadada ao silêncio, sem um instrumento de expressão, a não ser seu rabo abanando – àqueles que ainda o tem – ou alguma rosnada de vez em quando para mostrar sua insatisfação.

As Escrituras encontram-se repletas de exemplos em como devemos agir em relação ao outro, mas principalmente “Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,” (Efésios 4:2). Humildade para reconhecer que há pessoas melhores, com ideias mais originais, mansidão para suportar aqueles que precisam melhorar, longanimidade para esperar o tempo que for necessário pela mudança do outro.

Tudo isso regido pelo amor do Pai que nos amou primeiro: “Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho para o perdão de nossos pecados.” (1 Jo 4:10).

Claro que não devemos descartar a agradável companhia de criaturas tão amáveis que Deus criou para nosso convívio. Num mundo caótico, carente de Deus, não é aumentando a carência, dando as costas para o semelhante que vamos superar nossa necessidade de compreensão e atenção. Antes, promover a mensagem dEle para os que não O conhecem e tornar nossa existência mais harmônica, pacífica, de tal modo que sintamos falta das pessoas e elas sintam o mesmo pela nossa presença.

Se você não encontra ninguém que mereça confiança, uma amizade desinteressada, um ombro amigo na hora difícil, torne-se essa pessoa! Pois, um cachorro, ou outro animal que seja, jamais vai poder fazer aquilo que só nós podemos fazer.

Respeitemos os animais; mas, sobretudo, amemos a Deus.

Formado em Letras (Literatura Inglesa e Portuguesa), pastor assembleiano, professor da EBD e de teologia, residindo em São José, SC.

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