escatologia

Quem é o Anticristo?

Estudo bíblico sobre a origem, natureza, missão e destruição do “homem do pecado”.

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Anticristo da Record TV. (Foto: Reprodução / Record TV)

Estudaremos hoje acerca do homem do pecado, o mais terrível ser humano que este mundo conhecerá em toda a sua história. Através deste estudo, com muitas pinceladas escatológicas, veremos a que nível de degradação espiritual e moral um homem pode chegar quando se entrega totalmente aos poderes satânicos.

Ao final desse estudo, porém, veremos que nem toda maldade humana e nem toda força infernal são capazes de anular o domínio soberano de Deus ou de desfazer seus planos para a humanidade.

O homem do pecado

Origem do Homem do Pecado

O homem do pecado (ARC) ou homem da iniquidade (ARA) no texto de 2 Tessalonicenses 2.3 é uma referência ao líder que assumirá o controle da política mundial (Ap 13.7) logo após o arrebatamento da Igreja.

Como o arrebatamento é iminente (está perto e pode se dar a qualquer momento – Lc 12.40; Ap 3.11), é possível que a pessoa do anticristo já esteja viva, inclusive participando da política internacional; afinal, quando o arrebatamento acontecer, e pode acontecer a qualquer momento, o anticristo já será uma pessoa adulta e bastante instruída em assuntos políticos, econômicos e religiosos, pronta para assumir o comando e encabeçar uma grande rebelião contra Deus.

Embora o governo deste homem iníquo se dará no futuro (“ouvistes que vem o anticristo” – 1Jo 2.18; “o anticristo…há de vir” – 1Jo 4.3), o mistério da injustiça que caracterizará este governo já está em operação (2Ts 2.7); seu espírito já está no mundo (1Jo 4.3). Isso porque o aparecimento do homem do pecado é segundo a eficácia de Satanás (2Ts 2.9), o mesmo Satanás quem vem trabalhando na terra, seduzindo os homens à rebelião contra Deus desde o Éden.

O anticristo será humano (sua etnia/nacionalidade é um mistério, sobre o que se pode apenas especular), mas muitas de suas habilidades, que não serão meros truques, serão “dons” concedidos pelo próprio diabo.

Nas revelações concedidas a João (Ap 13.4), fica claro que é o dragão (satanás) que dará seu poder à besta (anticristo). Neste homem, o poder satânico se manifestará em proporções gigantescas tal qual nunca se viu nem nos maiores bruxos e feiticeiros do mundo! Será o que podemos chamar de o maior avivamento infernal na terra! (2Ts 2.9; Mt 24.24).

Títulos do homem do pecado

Na Bíblia, quando nomes são atribuídos às pessoas, têm-se em mente muito mais que uma identificação social; especialmente quando é Deus que atribui nomes ou títulos, é a personalidade que ali está sendo projetada neste nome/título. Veja, por exemplo, os casos de Jacó, a quem Deus chamou de Israel; Abrão, que passou a ser chamado Abraão; ou mesmo Jesus, que recebeu o título de Emanuel.

Tendo isso em mente, listemos alguns dos nomes ou títulos pelos quais o homem do pecado é chamado na Bíblia, especialmente no Novo Testamento, e que revelam seu verdadeiro caráter:

o homem da iniquidade ou o iníquo (2Ts 2.3,8). Isso mostra que o homem do pecado não tem respeito pela lei; ele faz as leis e as altera para seu próprio benefício; será um déspota semelhante, porém, ainda pior que o rei francês Leão XIV, que esbravejou “O Estado sou eu!”.

o filho da perdição (2Ts 2.3). Este título ressalta que a despeito de toda arrogância e pretensão deste homem, seu fim já está determinado: perdição. Não porque Deus tenha incondicionalmente predestinado uma pessoa para ser o anticristo e fazê-la perecer eternamente, mas porque este próprio homem apostatou de Deus, privando-se da graça salvífica e precipitando-se em terrível e irrecuperável pecaminosidade, semelhante a Judas Iscariotes, que também é chamado de filho da perdição (Jo 17.12).

o anticristo (1Jo 2.18,22; 4.3; 2Jo 1.7). É curioso notar que apenas o apóstolo João refere-se ao homem do pecado pelo título anticristo, título esse que pode tanto significar “contrário a Cristo” como “em vez de Cristo”, isto é, aquele que se coloca no lugar de Cristo, um falso Cristo (gr. pseudocristos). É preciso ressaltar que o homem do pecado não será necessariamente um ateu, pois o próprio exigirá adoração para si como se fosse Deus (2Ts 2.4; conf. Ap 13.15).

a besta que emerge do mar (Ap 13.1-10). Aqui trata-se de um símbolo da popularidade que o homem do pecado gozará entre os povos (mar na linguagem simbólica do Apocalipse aponta para povos). Haverá um plebiscito internacional ou um processo eleitoral para eleger este governante? Não o sabemos ao certo, há relativa obscuridade nas profecias bíblicas e só com o desenrolar da história as coisas vão ficando mais claras.

A natureza do homem do pecado

É certeza que se trata de um “homem” (gr. antrophos 2Ts 2.3), não de um demônio ou do próprio diabo encarnado – como equivocadamente sugerem alguns intérpretes. Porém, inequivocamente, este homem será empoderado pelo diabo para realizar coisas maravilhosas, a ponto de passar a receber adoração como se fosse um deus. Na verdade, o homem do pecado será, como disseram Ice e Demy, a criatura mais iníqua da história![1]. Noutras palavras, será o pior ser humano que já existiu!

Ainda que seja impossível para nós hoje saber a sua identidade – e também nem precisamos, já que estamos aguardando o verdadeiro Cristo, não o plágio inventado por satanás! – é possível, à luz da Palavra de Deus, descrevermos a natureza deste homem vil.

Ed Hindson[2], especialista em escatologia bíblica, descreve algumas características do homem do pecado:

  1. Intelectualmente poderoso (Dn 7.20)
  2. Orador impressivo (isto é, terá grande eloquência – Dn 7.20)
  3. Mestre político (Dn 11.21)
  4. Possuidor de grandes habilidades comerciais (Dn 8.25)
  5. Gênio militar (Dn 8.24)
  6. Perito administrador (Ap 13.1-2)
  7. Experto em religião (2Ts 2.4)

A missão do homem do pecado

Opor-se a Deus

Nas visões do profeta Daniel (7.8), o homem do pecado é simbolizado por um “pequeno chifre” (chifre no Antigo Testamento tinha conotação de força ou poder). Ele falará coisas arrogantes contra Deus, blasfemando contra o Altíssimo (Dn 7.25). Inspirado por Satanás, ele estabelecerá seu domínio com base no engano e na mentira (Dn 11.21).

Opor-se a Israel

Visto que Deus tem um plano especial para Israel, a nação eleita, durante o período tribulacional (o “tempo de angústia para Jacó” – Jr 30.7), satanás intentará de todas as formas impedir a execução desse plano. Através do homem do pecado, o inimigo virará seus canhões para atingir e destruir Israel, ainda que a princípio, com a mentira que lhe será peculiar, faça um acordo de paz com os judeus (Dn 9.27).

Ainda que o homem do pecado tenha êxito contra muitos santos do Senhor (Dn 7.25; Ap 13.7), outros muitos serão preservados por Deus, e viverão um grande avivamento espiritual que se espalhará entre os judeus, para uma conversão em massa que culminará com o retorno de Cristo. “E todo Israel será salvo”, diz a promessa de Deus (Rm 11.25,26).

O ódio contra os descendentes de Jacó vem desde os tempos dos faraós do Egito, que passaram a oprimir o povo do Senhor; por toda a história satanás fomentou o ódio no coração de reis, imperadores e ditadores mundiais, além de povos inimigos, para impor destruição ao “bichinho de Jacó”. Porém, o grande Guarda de Israel não tem permitido ao diabo levar a cabo seus intentos, ainda que tenha permitido terríveis atrocidades (como o holocausto promovido por Adolf Hitler), ele tem preservado Israel dentro da fornalha aquecida sete vezes mais. E assim será também no período tribulacional.

Opor-se a Jesus Cristo

Tudo o que o homem do pecado fará será para desfazer a importância e as obras de Jesus Cristo. Por isso, João já alertava contra os falsos mestres que desde o primeiro século já negavam doutrinas fundamentais do cristianismo como a encarnação do Filho de Deus ou os que negavam que Jesus era o Cristo prometido, isto é, o Messias. João afirma que os tais eram anticristos (1Jo 2.22; 2Jo 1.7).

Enquanto a Bíblia nos apresenta Jesus como “o Justo” (1Jo 2.1), o anticristo é apresentado como “o iníquo” (2Ts 2.8). Veja como o “homem do pecado” (2Ts 2.3) é oposto ao “Santo de Deus” (Mc 1.24). Enquanto Jesus é “Filho de Deus” (1Jo 4.15), o homem do pecado é “filho da perdição” (2Ts 2.3). Ed Hindson apresenta-nos outros contrastes [3]:

Cristo

Anticristo

A verdade A mentira
O Santo O iníquo
Homem de dores Homem de pecados
Filho de Deus Filho de satanás
Mistério de Deus Mistério da iniquidade
Bom pastor Pastor inútil
Exaltado nas alturas Lançado no inferno
Humilha-se a si mesmo Exalta-se a si mesmo
Desprezado Admirado
Purifica o templo Profana o templo
Deu a vida pelas pessoas Mata as pessoas
O Cordeiro A besta

Ressaltamos ainda que o espírito de ódio a Jesus Cristo vem desde os dias de Herodes, o Grande, que ordenou a morte aos pequeninos tentando atingir o menino Jesus (Mt 2.13,16). Jesus mesmo afirmou que o mundo o odiava e odiaria também os seus discípulos (Jo 15.18,19). Esse ódio se intensificará terrivelmente sob o comando do homem do pecado.

Opor-se à Igreja

Ainda que por uma perspectiva pré-tribulacionista entendamos que a Igreja já não mais estará na terra para sofrer o governo cruel do anticristo, duas coisas devem ser percebidas: primeiro, que o espírito do anticristo já em ação no mundo, move não poucos recursos contra a Igreja, para impedi-la de cumprir sua missão, enfraquecer o seu testemunho público, embaraça-la com “doutrinas de demônios” e envergonhá-la com muitos escândalos morais de seus líderes ou membros; segundo, que após o grande rapto da Igreja, o anticristo não poupará esforços para desfazer a sua mensagem e blasfemar contra as muitas obras que ela legou ao mundo, inclusive os fundamentos dos direitos humanos universais, que o anticristo irá tolir.

A destruição do homem do pecado

A ascensão de seu império

O homem do pecado não ascenderá sem que antes seja afastado aquele que agora o detém (2Ts 2.5-7). Paulo afirma que os crentes de Tessalônica sabiam quem era este que estava detendo o surgimento do anticristo; nós não sabemos exatamente a quem o apóstolo estava se referindo: alguns especulam que seja o governo humano, outros afirmam ser a Igreja, outros ainda interpretam que se trata do Espírito Santo que dará livre curso ao anticristo.

De qualquer modo, a doutrina da iminência acerca da vinda de Cristo para sua Igreja garante-nos que não estaremos mais aqui para ver o anticristo dominar. Como disse Ed Hindson, “se algum dia você descobrir quem ele é, significa que foi deixado para trás”.

O auge de seu império

Sobre este ponto, Ice e Demy escreveram:

“Apesar do Anticristo emergir no meio político e agir inicialmente como líder político, gradualmente ele também assumirá funções religiosas. Finalmente, exigirá que as pessoas sob seu governo o adorem quando se assentar no templo em Israel (2Ts 2.4)”[4]

Certamente esse momento de divinização representará o clímax do império do homem do pecado. Não temos dúvida de que a mídia, em todas as suas plataformas, será utilizada para transmitir esse culto ao imperador mundial, justamente a partir de Jerusalém (será esse um ato grotesco de deliberada blasfêmia contra Cristo, que fundou sua igreja no dia de Pentecoste em Jerusalém?). Daniel já havia escrito acerca desse dia de terrível profanação do santuário (Dn 11.31), Jesus reafirmou o caráter futurista desta profecia (Mt 24.15), o apóstolo Paulo certificou-nos da autenticidade desse episódio (2Ts 2.4), e o apóstolo João deu-nos testemunho acerca desse dia (Ap 13.4-6).

A ruína de seu império

As pretensões malignas do homem do pecado e toda força diabólica que nele atuarão serão suplantadas e abatidas pelo único e verdadeiro Senhor – Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo! Parece-me que a mesma soberba do rei de Babilônia se repetirá no coração do homem do pecado, mas seu fim será também a destruição.

Dirá o anticristo:

“Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”

Mas Deus lhe responde:

“E, contudo, levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo. Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o homem que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos?” (Is 14.13-16).

Este texto, tradicionalmente usado para referir à satanás em sua precipitação original, parece-me se adequar muito mais a pessoa arrogante do homem do pecado, isto é, o anticristo, além, é claro, da primeira referência ao próprio rei de Babilônia nos tempos veterotestamentários[5].

O pior humano que a terra conhecerá será destruído pelo melhor homem que a terra já conheceu! O iníquo será abatido pelo Justo; o filho da perdição será derrubado pelo Filho de Deus! Como está escrito: “… o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor de sua vinda” (2Ts 2.8).

O apóstolo João registra que o homem do pecado, ou o anticristo, ou a besta, nem sequer morrerá, mas será lançado vivo, junto com o falso profeta (a besta que emergiu da terra) nas profundezas do lago que arde com enxofre (Ap 19.20). Aquele que pensava poder ocupar o trono de Deus será na verdade o primeiro a remover a faixa inaugural do lago de fogo! O pior homem da terra será finalmente e eternamente banido pelo insuperável poder do nosso único e verdadeiro Deus!

Com a derrocada do homem do pecado, terá fim também o período tribulacional e se iniciará na terra, sob o comando do Rei dos reis e do Senhor dos Senhores o maravilhoso período do Milênio. Mas este é assunto para outro momento.

Conclusão

O homem do pecado será um instrumento nas mãos de satanás para promover a maior e mais intensa onda de perversão que o mundo já sofreu. Seus dias, porém, estão todos contados e controlados pelo Senhor, que não lhe permitirá ir um centímetro além do que está estabelecido e predito. Nos dois próximos e últimos estudos deste trimestre veremos, em contraste, as maravilhosas obras efetuadas pelo melhor homem que a terra já conheceu, e em quem estará a redenção da humanidade que ama a sua vinda!

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Referências

[1] Thomas Ice e Timothy Demy. Profecias de A a Z, Actual, p. 102
[2] Tim LaHaye e Ed Hindson (eds.). Enciclopédia popular de profecia bíblica, CPAD, p. 51
[3] Ibid.
[4] Ibid., p. 26
[5] Levando-se em conta o princípio hermenêutico da dupla referência, entendo que a profecia de Isaías se aplica primeiramente ao rei de Babilônia (conforme o contexto o esclarece), mas também se aplica, secundariamente, ao ambicioso, prepotente e blasfemo anticristo, que, pensado ser Deus, será na verdade lançado por Deus nas profundezas do inferno!

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