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opinião

Qual o fim do processo de polarização a que estamos submetidos?

Esta polarização propicia a incapacidade de a sociedade se unir sob o mínimo pretexto que seja, sequer o mais básico.

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Pessoas andando na rua. (Foto: Ryoji Iwata / Unsplash)

É inquestionável o fato de que, nos últimos 16 anos, o Brasil afundou de diversos modos. Negar isso é negar a realidade, o que se constitui num erro ainda maior do que a mera conivência com as forças que nos impulsionaram a chegar onde chegamos.

Uma das áreas em que afundamos foi no incentivo à polarização dos indivíduos em suas opiniões. É incrível que não se perceba que este é um projeto de larga escala, com prazos que variam do médio ao longo períodos. Não é algo “do dia para a noite” e, justamente por isso, o processo precisa ser contínuo, atuante em áreas específicas e, no máximo possível, quase imperceptível. Com efeito, só agora é que se pode ter uma visão melhor do caminho perigoso que há muito percorremos.

A polarização se vê, talvez em uma de suas formas mais contundentes, nas questões de gênero. Os sexos tiveram, a princípio, suas diferenças bem destacadas, com ênfases negativas sob a forma como se relacionam, principalmente por causa da violência.

A partir daí, a grande mídia – de informação e de entretenimento -, passou a destacar pessoas que se consideram, por exemplo, “não binárias”, i.e., que não se identificam com os sexos. Não são “homossexuais”, mas pessoas que estão “além dos gêneros”, podendo ser ambos ou nenhum.

Esta forma de pensar acentuou questões que, de periféricas e pontuais passaram a ser centrais e rotineiras, ao ponto de nos sermos levados a repensar uma questão básica, como a dos gêneros, com uma complexidade impressionante. O resultado? Há mais gêneros, hoje, do que partidos políticos e isto é fruto desta polarização à qual estamos sendo continuamente submetidos.

Aqui, é importante enfatizar que a polarização da sociedade não consiste meramente em dividi-la em “dois” polos, sob quaisquer assuntos, mas em VÁRIOS; posto que o objetivo daquela parece ser o acirramento exacerbado e inconsequente de posições, cuja única consequência não é outra senão a completa fragmentação do próprio tecido social que, ao contrário do que cada vez mais se pensa, já admitia a pluralidade através das liberdades civis, importante bandeira defendida nos estados democráticos de direito.

Paradoxalmente, esta polarização propicia a incapacidade de a sociedade se unir sob o mínimo pretexto que seja, sequer o mais básico, uma vez que a diferença é incentivada, não como forma de se garantir o direito, mas pelo perigoso jogo de incentivar os indivíduos (a coletividade) a aceitarem que o pensar diferente é algo que deve acontecer pelo simples fato de que deve acontecer. O processo torna-se, portanto, irracional.

Outro exemplo disso é a política. Como a força que rege e lida com todas as questões sociais, das instituições atômicas, como num casal, até às mais compostas, como em movimentos culturais diversos, o posicionamento político vem sendo fragmentado em posições que variam do mero culto à personalidade – como foi flagrantemente o caso do PT, com Lula -, até um sem número de divisões dentro da chamada “direita”, cujos proponentes, apesar de fazerem questão de não se identificarem como personalistas, acirram entre si os ânimos pelas crescentes subdivisões internas, que vão do conservadorismo clássico, passando por um movimento “neomonárquico” até um liberalismo de centro-direita, que culmina em um progressismo que se considera liberal em algumas partes e socialista em outras.

É uma fragmentação empobrecedora, inócua, que a olhos vistos se percebe não produzir de modo algum um Estado mais forte, senão um ainda mais frágil, impossível de ser dirigido ou governado.

Não esqueçamos do nosso segmento, o cristão evangélico. Atualmente, as disputas que pululam na Internet, em congressos, em vídeos, sobre como nosso segmento é desconfigurado – pela polarização extrema com que mais cristãos evangélicos têm atuado – é a prova cabal de que, ainda que despercebidamente, entramos na espiral. Hoje, há pessoas que humildemente se orgulham de uma tradição que é tudo, menos linear, em termos históricos.

Por outro lado, movimentos carismáticos, que devem utilizar a efusividade característica do meio para ações que dignifiquem o Reino de Deus, parecem apenas centrados cada vez mais em si próprios.

É incrível o que a polarização tem feito no segmento cristão evangélico: pessoas são incentivadas a saírem de meios com os quais não mais se adequam, e não por um senso bíblico crítico, mas ulteriormente apenas porque simplesmente podem e, a partir daí, os “polos” de posicionamento se multiplicam, ao ponto de termos igrejas e movimentos eclesiásticos “de gays”, de “vencedores”, de “tribos urbanas”, de “eleitos”, de “empresários” etc. Afundamos, como o restante do Brasil, nestes últimos 15 anos, como em nenhuma outra época.

O processo, contudo, não se restringe à nossa nação. A atmosfera que se percebe é universal, com as mesmas nuances em praticamente todo o globo. Mas, finalmente, fica a pergunta que não quer calar? Para onde isso nos levará. Pode parecer, prezado(a) leitor(a), que vaticino o caos. Longe disto. Creio piamente no que dizem as Escrituras e, nelas, o futuro é certo: a vitória será de Cristo e dos seus santos. O bem há de triunfar, sem dúvida.

O que me amedronta, como humano, é que, até que cheguemos a este futuro certo, há uma longa e tortuosa estrada a seguir, na qual penso que haverá uma tentativa de harmonização forçada, em meio à situação caótica que não virá: já se instaurou! Este caos fragmentado, composto de polarizações que não param de crescer, deverá resultar em um movimento amorfo, que intentará exatamente o contrário, a uniformização. Já vemos ecos disto mundo afora, embora tudo ainda muito insipiente.

O fato é que, no fundo, sabemos que criamos um mundo frágil, confuso, destinado a ruir, uma vez que sua marca é a polarização até um ponto insustentável de coexistência. E não se engane: no “admirável mundo novo” que se delineia no horizonte, de uma unidade forçada a surgir de um mundo dividido e em cinzas, que os homens mesmo queimarão, não haverá qualquer tolerância para polarizações.

O pensar diferente, da massa disforme e distópica que surgirá, será visto como a causa do infortúnio que levara a humanidade a quase se destruir. Será, portanto, perseguido todo(a) o(a) que “pensar diferente”, como um câncer que se esconde num organismo e que precisa ser extirpado.

Os antigos defensores da liberdade genuína serão vistos como os causadores do caos que levara a humanidade à beira da extinção, quando na verdade terá sido exatamente o contrário! Mas, a esta altura, será tarde demais explicar ou tentar modificar o status quo vigente. Só a volta de Cristo poderá salvar a humanidade! Mas, lembremo-nos de que antes que venha o Cristo, virá o Anticristo (2 Ts. 2:1-4).

Bacharel em Teologia e Filosofia. Pós-graduado em Gestão EaD e Teologia Bíblica. Mestre e Doutorando em Filosofia pela UFPE. Doutor em Teologia pela FATEFAMA. Diretor-presidente do IALTH -Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades. Pastor da IEVCA - Igreja Evangélica Aliança. Casado com Patrícia, com quem tem uma filha, Daniela.

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