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estudos bíblicos

Porque eu deveria jejuar?

Não é possível ignorarmos a importância do jejum como prática de vida cristã ao lermos as Escrituras, seja no Velho ou no Novo Testamento.

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Oração. (Photo by Samuel Martins on Unsplash)

Jesus jejuou (Mateus, 4:2). Tendo Cristo, como Mestre e Modelo, por si só, seria motivo suficiente para tal prática. É claro que a extensão e o propósito do Seu jejum, foram levados a níveis que extrapolam de longe a capacidade humana e que jamais serão alcançados.

Mas, como registro bíblico e consideradas todas as nossas fraquezas e limitações, é um parâmetro e prática que deveríamos seguir. Jejum é tomado no contexto desse artigo, como abstinência de alimentos com objetivo espiritual.

Não é possível ignorarmos a importância do jejum como prática de vida cristã ao lermos as Escrituras, seja no Velho ou no Novo Testamento.

John Wesley, pregador protestante do século XVIII acreditava a tal ponto no jejum que mantinha rigorosamente sua prática todas as quartas e sextas-feiras. É sabido que praticamente todo grande evangelista dessa e época e posteriores, praticaram o jejum.

Por outro lado, jejuar é uma prática que vem se desvanecendo no corpo da igreja ao longo do tempo. Cada vez mais vai sendo encarada como não essencial à vida cristã, cedendo lugar ao racionalismo que ofusca as coisas das quais é preciso soltar as rédeas da razão para se ter acesso.

Dificuldades em jejuar

Jejum é polêmico, muitas vezes, pela sua extensão e propósitos. Convenhamos, encarar com seriedade e determinação um período superior a vinte dias de abstinência de alimentos, não é tarefa das mais simples, não. Por um lado, há o aspecto das nossas atividades rotineiras que terão que ser reajustadas, de modo a levar a cabo o objetivo; por outro, há o lado espiritual que vai promover o confronto direto com o inimigo de nossas almas; levando em consideração que a prática tem o objetivo de superar no mundo espiritual grandes obstáculos que irão se refletir no mundo natural.

  • Uma dona de casa comprometida com a rotina da casa e de preparar o almoço para a família vive na carne, literalmente, essa dificuldade.
  • Aquele trabalhador que precisa de muita concentração no trabalho – professor por exemplo – também vai encontrar dificuldades, pois, se o jejum carece de um período de concentração, seu trabalho, também vai exigir essa concentração. Esse é um dilema gerado pela vida moderna.
  • É comum naqueles que ingerem café pela manhã, sentirem dores de cabeça agudas, durante o período do jejum.
  • Ainda, há os que não tem a disciplina e a determinação necessárias para manter e levar o jejum até o fim do propósito. Lembrando que sempre é possível socorrer a Deus para o fortalecimento com a devida fibra para alcançar seus objetivos.

Superando os obstáculos que nos afastam de Deus

(…) humilhava a minha alma com o jejum, e a minha oração voltava para o meu seio (Salmos 35:13). Esse versículo mostra que a atitude de humildade no jejum, diante de Deus, é como ceder ao Seu poder e majestade. É o reconhecimento da Sua supremacia, e a fraqueza diante da dificuldade apresentada. Então apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face de nosso Deus, (…) (Esdras 8:21). Só um tolo, não se despiria do orgulho, ao tentar se achegar ao Eterno.

O jejum nos torna mais sensíveis a voz de Deus. Às vezes, quando nossa vida se torna um completo ruído, na qual já não ouvimos ou discernirmos com clareza a voz do Altíssimo e ficamos confundidos com as decisões a serem tomadas, é um bom momento para recorrer a esse poderoso recurso que temos à disposição. O jejum pode abrir nossos olhos espirituais para enxergar o sobrenatural, desobstruir nossos ouvidos para ouvir a voz de Deus e tomarmos a decisão certa, de acordo com Sua vontade.

No contexto de Mateus, 4:2, Jesus jejua por 40 dias e 40 noites antes de ser tentado e dar início ao seu ministério na terra. A missão era grandiosa, digna da sua natureza. Só ele poderia levar a cabo tal obra. O jejum foi sua preparação para a empreitada, embora Ele estivesse apto e qualificado desde o nascimento.

Aquele que tem o privilégio de levar a Palavra, seja em qual for o contexto, deveria ter o cuidado de preparar-se espiritualmente com jejum e oração e estar qualificado com um corpo e mente sadios, e a sensibilidade aguçada para obedecer ao seu chamado de modo a não levar mensagem que não proceda de Deus.

O jejum também nos prepara para recebermos a justiça e compaixão divinas na terra. Isaías 56:6-12 é uma narrativa sobre um jejum aprovado por Deus. Esse texto começa questionando, mas traz a resposta embutida na própria pergunta: “soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo” (…) (Isaías 58:6). Nesse mesmo texto aprendemos que a cura divina também “surge” na vida do que jejua, ampliando a ação do Espírito Santo na vida do cristão, provocada pelo jejum.

Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: “Mestre, come alguma coisa”. Mas ele lhes disse: “Tenho algo para comer que vocês não conhecem” (João 4:31,32). Cristo, nessa passagem, nos ensina a priorizar o que deve ser priorizado; ao ser instado a comer, ele aponta para seu desígnio nessa terra, pois naquele momento alimentar-se tinha outra relevância. Se estendermos a interpretação para a vida prática, podemos entender que o que estava em jogo era bem maior que uma refeição e até mesmo as coisas da nossa vida diária. Tudo o mais poderia esperar naquele momento.

Por paradoxal que possa parecer, entrar num jejum de vários dias (ex.: três, cinco ou mais), para alguns (sempre há exceções) pode ser mais produtivo e fácil que aquele de um dia apenas. Lidar com a fome, tendo em mente um período mais longo, pode ser mais eficaz, do ponto de vista psicológico. O jejum de um único dia, pode causar aquela ansiedade pela refeição tão próxima a ser feita à noite ou até mesmo no outro dia. Jejuns de períodos mais longos, nos tornam mais relaxados pela disponibilidade do tempo a frente e promovem um estado mental apto a adoração e espera do agir de Deus, sem o estresse e o imediatismo de um dia, ou de poucas horas de jejum.

O que fazer durante o jejum?

Como a maioria dos cristãos deve ter uma rotina de trabalho, jejuar, nesse contexto pode ser um desafio maior. Muitas vezes, um simples almoço de negócio pode por abaixo qualquer pretensão de manter o jejum e tirar nosso foco. Aqui vai depender o tamanho da necessidade e o objetivo do jejum. Creio que nunca será fácil.

Durante o jejum é preferível manter uma rotina de oração, leitura e meditação. Anotar as inspirações que podem ocorrer no período de jejum também é interessante. Ouvidos sensíveis podem ouvir mais e mais além. No transcorrer do jejum, os céus podem se abrir e recebermos verdadeiras revelações da parte de Deus (que não se confunda aqui com “A Revelação” definitiva da Palavra de Deus).

Alimentar nosso espírito com imagens e sons que não remetem a Cristo durante o jejum é um complicador e ofusca sua eficácia. É de supor, que não há muito que falar sobre estar em jejum e passar o dia todo, seja na TV, seja em redes sociais, com a mente totalmente alheia ao propósito. Agir assim, pode se tornar sacrifício de tolo.

Ideal é permanecer o tanto quanto possível com a mente voltada para a meditação da Palavra, recolhimento e concentração no propósito. A leitura bíblica deve acompanhar o jejum, pois ela será a baliza nas batalhas que podem ocorrer na mente nesse período, ou mesmo as dúvidas e questionamentos que podem surgir nos períodos de meditação. Mesmo quando há o compromisso com o trabalho secular, abster-se de situações que vão levá-lo a quebrar o propósito é um esforço que deve ser considerado.

Jejum coletivo

Há ocasiões em que a Igreja pode convocar seus fiéis para jejuar por causas direcionadas pelo seu líder. Como o próprio nome diz, o jejum tem o objetivo de favorecer a coletividade. Pode variar no duração e no tipo: parcial (por um período do dia), total (abstenção total de água e alimentos), normal (sem alimentos, mas com ingestão de água permitida) e aquele que é conhecido nos EUA como o jejum de Daniel, embora possa variar em algumas denominações no Brasil, (apenas com frutas ou legumes).

  • Esse jejum pode ser para confirmar a direção de Deus para alguma decisão que vai influenciar no corpo da igreja local.
  • Encontrar a saída correta para crises específicas.
  • Receber o favor de Deus em alguma causa.
  • Vencer obstáculos que impedem o avanço da igreja em algum ponto específico.
  • Buscar o reavivamento da igreja.

Dicas finais

  • Começar com um jejum longo, para quem nunca jejuou, pode não ser uma boa ideia. Ideal é começar com períodos menores e ir ampliando com o tempo.
  • Ir eliminando a cafeína e o açúcar dias antes de jejuns prolongados, vai facilitar para alcançar seus objetivos.
  • Assim como é importante a preparação para entrar no jejum; sair ou “entregar” o jejum como muitos chamam, também deve passar por um período de transição. Se tiver sido um período longo, ideal é retomar a alimentação começando por alimentos mais leves e de fácil digestão.

Aquele que jejua não deve sentir-se superior a ninguém. Um jejum de rendição total, deveria provocar um sentimento de profunda compaixão pelo próximo e da necessidade de misericórdia da parte de Deus. Em Mateus 6:16,18 temos a recomendação para não agir como os hipócritas que faziam questão de demonstrarem em seus rostos que estavam jejuando. Se o jejum nos leva a um estado de reconhecimento e de total dependência de Deus, atitudes assim são incompatíveis com essa prática.

Ao menos uma atividade – a saber, expulsão específica de algum demônio – o próprio Jesus vinculou o sucesso à pratica do jejum (e oração). “Mas esta espécie só sai pela oração e pelo jejum” (Mateus 17:21). Nessa passagem, embora os discípulos tivessem se esforçado para libertar aquele menino da possessão demoníaca, (Mateus 17:17) não tiveram êxito a ponto daquele pai rogar diretamente a Jesus pela vida do seu filho. Claro que o Mestre não dispensou aquele pai sem antes intervir e libertar o garoto (Mateus 17:18). Portanto, seria leviandade não considerar sua prática ainda para os tempos atuais, a menos que não existam mais demônios.

Em tempos de um cristianismo idealizado, distanciando-se dia a dia do fato e da vida do Cristo que veio a essa terra e morreu por todos, práticas que estimulem o aperfeiçoamento da vida espiritual, vão perdendo lugar cada vez mais para o ativismo cristão.

Grandes desafios, que aos olhos naturais parecem intransponíveis, podem ser uma oportunidade para optar pelo jejum. Importante é começar. Mesmo falhando, prossiga. Não desista. Ao final, olhar para trás e ver que conseguiu atingir seu objetivo e evoluiu no relacionamento com Deus, alcançou uma vitória, vai fazer valer a pena.

Formado em Letras (Literatura Inglesa e Portuguesa), pastor assembleiano, professor da EBD e de teologia, residindo em São José, SC.

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