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estudos bíblicos

Perseverando na fé

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 12 do trimestre sobre “A obra da salvação”

em

Oração. (Photo by Samuel Martins on Unsplash)

II. O PERIGO DA APOSTASIA

Usado por Deus como um profeta, o apóstolo Paulo prenuncia: “o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios” (1Tm 4.1). Embora praticado em menor escala que os pecados morais, o pecado da apostasia (que, na verdade, é resultado de uma soma de pecados que o antecedeu) é real e notório.

  • apostasia: um pecado irremediável

Apostasia é o abandono consciente e deliberado da virtude e da fé outrora abraçada. Os textos de Hebreus 6.4-6 e 2Pedro 2.1 estão entre os mais sugestivos do Novo Testamento para se falar de apostasia, o pecado que priva o homem da ação persuasiva do Espírito Santo e da graça divina, deixando-o assim à própria (má) sorte, para perdição final. Estes textos não falam de um pecado qualquer, nem mesmo da reincidência em pecados graves (como adultério ou assassinato), mas falam antes de um abandono deliberado da fé cristã, seja por rejeição à qualquer forma de religião, seja pela assimilação de outras religiões ou heresias. É quando o crente conscientemente rejeita a Cristo e volta às práticas judaizantes – este era o perigo que os cristãos do primeiro século mais corriam, devido incessantes assédios, ameaças e perseguições dos judeus incrédulos; ou quando o crente rejeita à Cristo para seguir os ídolos e deuses vãos deste mundo.

De minha parte posso dizer que conheço casos de ambas as situações: crentes que abandonaram o Cristianismo e abraçaram o Judaísmo (ouvi um ex-pastor chegar a dizer que “o cristianismo foi o maior engodo” de sua vida!), e crentes que abandonaram Cristo, preferindo outras religiões e heresias. Ou seja, eles não viraram ateus, mas religiosos “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18). É sobre estes ex-cristãos que Pedro diz: “…negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (2Pe 2.1).

Entretanto, o pecado de apostasia não me parece ser o mais frequente entre os cristãos hoje, embora conforme prenuncia a Palavra de Deus, haja uma tendência para aumento dele nos últimos dias. Os pecados mais numerosos entre nós são os de ordem moral. Quando Jesus disse que “naquele dia, muitos me dirão”, ele não menciona pessoas que apostataram da fé, mas pessoas que viveram superficialmente a fé, usando-a até como uma desculpa para suas práticas pecaminosas. “Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’” (Mt 7.22, NVI). Perceba: eram pessoas que usavam o nome de Jesus e que por este nome efetuaram milagres e até manifestaram autoridade sobre os demônios, mas que não fizeram a vontade de Deus até o fim, viveram na prática do mal (v. 23). Quantos que não apostataram da fé, mas estão vivendo totalmente contrário à fé que dizem ter! Não negaram Cristo em palavras, mas negam-no em suas obras! Não trocaram de religião, mas trocaram o fruto do Espírito pelas obras da carne! Os tais correm também sério risco de declinarem da salvação e caírem em condenação eterna!

  • outros perigos reais

Há uma série de outros pecados não confessados e não abandonados que pode tanto quanto a apostasia privar o crente da eternidade com Deus. A carta aos Hebreus, por exemplo, é abundante em referências ao perigo do crente apartar-se de Deus e cair em perdição. Vejamos alguns destes pecados que podem privar o crente da graça de Deus (Hb 12.15):

– negligência na vida espiritual (Hb 2.1-3; 6.11,12)

– malignidade e infidelidade abrigadas no coração (Hb 3.12)

– coração endurecido pelo pecado não tratado (Hb 3.13-14)

– desobediência (Hb 4.6)

– pecados praticados deliberadamente sem arrependimento (Hb 10.26-29)

– abandono da fé (Hb 10.38)

– pecados e embaraços (Hb 12.1)

– profanação e imoralidade (Hb 12.15-17; 13.4)

– recusa à disciplina de Deus (Hb 12.25)

Não nos esqueçamos que a Bíblia também adverte a nós, os salvos, nas seguintes palavras: “Fora ficam os cães, os que praticam feitiçaria, os que cometem imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e todos os que amam e praticam a mentira” (Ap 22.15); “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus” (1Co 6.9,10); “Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.19-21)

  • Uma vez salvo, salvo para sempre? NÃO!

A Igreja Assembleia de Deus no Brasil, bem como a maior parte das igrejas pentecostais no mundo, segue uma interpretação arminiana clássica quanto à possibilidade da perda de salvação. Na verdade, tal entendimento não advém de Jacó Armínio, no século 16 ou 17, mas era opinião comum entre os antigos Pais da Igreja nos séculos 2 a 5, e, ao nosso entender, está fartamente respaldada nas Escrituras Sagradas, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Como diz Armínio, “aquela [opinião] que afirma que é possível que os fiéis percam a fé sempre teve mais apoiadores na igreja de Cristo que aquela que nega a possibilidade de que isso ocorra” (2). A Igreja Assembleia de Deus tradicionalmente tem seguido esta opinião majoritária, crendo na possibilidade da perda da salvação, seja pela apostasia, pela adesão à heresia ou por imoralidades. Levamos muito a sério todas as advertências bíblicas sobre o perigo do pecado não tratado, do endurecimento deliberado do coração e da negligência na vida espiritual, afinal, tais advertências bíblicas, como placas de sinalização no trânsito, não advertem contra perigos irreais ou hipotéticos, mas reais! “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” (1Co 10.12). Deus não quer nossa derrota e o diabo não pode contra nossa vontade nos derrotar! Portanto, depende apenas de como respondemos ao fluxo incessante da graça de Deus que recebemos: se recebemos a graça, dando-lhe livre curso; ou se recebemos a graça em vão (2Co 6.1) para nosso próprio prejuízo!

  • JACÓ ARMÍNIO (por volta de 1600)

“enquanto durar essa continuação e confirmação, os fiéis não parecem deixar de correr o risco de cair.  (…) A deserção de um indivíduo, como foi dito anteriormente, não é causada pelo poder do inferno, e sim pela vontade daquele que cai (…)” (3)

“os fiéis podem – depois que a remissão de alguns pecados tiver sido obtida – cometer pecados e apostatar terrivelmente” (4)

  • OS REMONSTRANTES (1618)

“Os verdadeiros crentes podem cair da verdadeira fé e podem cair em pecados que não são condizentes com a verdadeira e justificante fé. Isto não é somente possível acontecer, mas isto ainda acontece com frequência. Os verdadeiros crentes são capazes de cair por sua própria culpa em infames e atrozes maldades, de perseverarem e morrerem nelas, e assim finalmente caírem e perecerem” (Opinião dos Remonstrantes em 1618 com um memorial a Jacó Armínio, tradução Luis Henrique)

  • DECLARAÇÃO DE FÉ DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS (2017)

É possível a perda da salvação. Rejeitamos a afirmação segundo a qual ‘uma vez salvo, salvo para sempre’, pois entendemos à luz das Sagradas Escrituras que, depois de experimentar o milagre do novo nascimento, o crente tem a responsabilidades de zelar pela manutenção da salvação a ele oferecida gratuitamente: ‘vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo’ (Hb 3.12). Não há dúvidas quanto à possibilidade do salvo perder a salvação, seja temporariamente ou eternamente. Mediante o mau uso do livre arbítrio, o crente pode apostatar da fé, perdendo a sua salvação” (5).

  • TEÓLOGOS PENTECOSTAIS

– Myer Pearlman

“o NT de fato ensina que é possível resistir à graça divina e resistir para a perdição eterna (…), como também que a perseverança é condicional e depende do manter-se em contato com Deus. Observe especialmente Hebreus 6.4-6 e 10.26-29. Essas palavras foram dirigidas a cristãos; as epístolas de Paulo [2] não foram dirigidas aos não regenerados. Aqueles aos quais foram dirigidas são descritos como pessoas que foram uma vez iluminadas, provaram o dom celestial, participaram do Espírito Santo, e provaram a boa Palavra de Deus e os poderes do mundo por vir. Essas palavras certamente descrevem pessoas regeneradas. (…) se o terrível pecado da apostasia da parte de pessoas salvas não fosse ao menos remotamente possível, todas essas admoestações não teriam sentido algum (…)“(6)

– José Gonçalves

“Se partirmos do pressuposto de que o texto de Hebreus 6.4-6 está, de fato, referindo-se a uma situação hipotética e que não acontece entre cristãos, então por que o autor de Hebreus iria advertir seus leitores sobre algo que jamais poderia acontecer? Eles não estariam seguros da mesma forma? Se o autor já sabia que Deus não permitiria que isso viesse a acontecer entre os cristãos, então por que ficaria fazendo esse jogo de cena?” (7)

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Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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