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estudos bíblicos

Paulo e o Evangelho da Liberdade

Um estudo da epístola aos Gálatas. Análise do capítulo 1.1-24.

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Mulher de braços abertos
Mulher de braços abertos (Foto: Reprodução/Pexels)

Sem dúvida alguma a epístola aos Gálatas é um dos documentos mais importantes do Novo Testamento e por que não dizer da Bíblia sagrada, um verdadeiro tesouro teológico, extremamente rica doutrinariamente falando, e também cheia de lições e aplicações à vida cristã.

Nosso estudo tem por objetivo ampliar o conhecimento bíblico-teológico da epístola em questão, será apresentado ainda um panorama histórico cultural que são fundamentais para entendermos o que levou o Apóstolo a salientar certos pontos chaves em sua correspondência endereçada aos irmãos da Galácia e vamos também observar algumas lições no decorrer do capítulo 1. Para adquirir o estudo completo, consulte o e-book “Paulo e o Evangelho da Liberdade: Um estudo da epístola aos Gálatas” – CLIQUE AQUI para ter acesso.

Falso Evangelho dos judaizantes

Texto base: Gálatas 1.1-24

Antes de começarmos a pensar sobre o texto em questão, quero elencar aqui algumas razões acerca da importância do estudo da carta aos Gálatas. Quais seriam as razões para estudar esse documento do Novo Testamento?

Razão nº 1

Primeiramente, é correto afirmar que Gálatas em parceria com a carta aos Romanos, formam aquilo que chamo de “núcleo duro” da Teologia Paulina, sem dúvida, são os escritos mais importantes do apóstolo dentro do Corpus Paulinum, pois a leitura de ambas proporciona o entendimento completo acerca da Teologia Paulina da justificação pela fé em detrimento as obras da lei, eu diria que Gálatas é a síntese do pensamento Paulino à respeito de salvação pela graça por intermédio da fé.

Razão nº 2

Na carta ao Gálatas, Paulo faz uma pequena narrativa histórica sobre sua vida nos primeiros anos após sua conversão, e essa narrativa histórica biográfica de Paulo complementa a narrativa histórica de Lucas em Atos dos apóstolos. Hendriksen afirma que, nos versículos que se seguem, o apóstolo não tentará apresentar uma autobiografia completa. Ele simplesmente escolhe de sua carreira aqueles eventos que apoiam sua argumentação principal com referência à origem de seu chamado para o apostolado e da mensagem que ele proclama.

A descrição de Paulo nos dá informações privilegiadas, e assim, proporciona um melhor entendimento sobre sua vida como apóstolo principalmente após sua conversão e também o seu contato com o colégio apostólico. Para Philipp Vielhauer Gálatas constitui o documento mais revelador para a biografia de Paulo, para a história do cristianismo primitivo.

Razão nº 3

A terceira razão para estudar a carta aos Gálatas é porque se trata da mais apologética de Paulo, na qual ele defende seu apostolado e sua Teologia que estava sendo posto em “xeque” por um grupo que tentava de todas as formas menosprezar a pregação e a pessoa de Paulo.

Razão nº 4

A quarta razão diz respeito ao fato de que Paulo faz uma defesa fervorosa do verdadeiro evangelho de Cristo que está sendo deturpado por uma falsa mensagem, William Barclay afirma que, “Se esse ataque tivesse tido êxito o cristianismo se teria convertido em outra de tantas seitas judias”.

Portanto, precisamos entender essa carta para que como discípulos de Jesus, venhamos nos posicionar em defesa do verdadeiro evangelho.

Assim, essas são apenas algumas razões pelas quais precisamos nos debruçar, a fim de entendermos a grande mensagem da carta de Paulo aos Gálatas.

Autor:

Apóstolo Paulo, é uma das cartas genuinamente Paulinas. Cabe destacar que até os mais liberais e heterodoxos defendem a autoria do apóstolo Paulo.

Galátas 1.1

“Paulo, apóstolo- não da parte de homens nem por intermédio de um homem, mas por

Jesus Cristo[…]”

Paulo faz uma defesa do seu apostolado, porque seus opositores afirmavam que ele não tinha qualidades necessárias para o apostolado.

Local, data e destinatários:

O lugar de onde Paulo escreveu essa carta também depende da teoria adotada.
Teoria da Galácia do Norte: Aos adeptos desta teoria, defendem que o apóstolo Paulo escreveu a carta entre a segunda e a terceira viagem missionária, provavelmente, de Éfeso ou de Corinto, se essa corrente estiver correta Gálatas não seria o primeiro documento do Novo Testamento a ser escrito e se situaria historicamente em meados dos anos 50 d.C portanto, seria um documento mais tardio do que costumeiramente se acredita.
Teoria da Galácia do Sul: Para os defensores desta teoria, Paulo escreveu a carta ao final da primeira viagem missionária, provavelmente de Antioquia da Síria (At 14.26-28). Vale mencionar que é a teoria mais aceita pelos comentaristas contemporâneos, e que, portanto, é a posição adotada no presente estudo. Segundo comentário bíblico Beacon “O fato de Paulo nunca se referir às cidades da Gálacia do Norte é forte argumento em defesa da Teoria da Galácia do Sul”. Assim, partindo desta premissa, pode ser pontuado o seguinte esboço:

Paulo escreveu possivelmente em 49 d.C em sua primeira viagem missionaria possivelmente em Antioquia da Síria quando tinha retornado do seu primeiro empreendimento missionário.

Quem eram os Gálatas?

Galácia não é uma cidade, e sim uma região (Listra, Icônio, Derbe, Licaônia). Os moradores da Galácia eram descendentes dos Gauleses (daí o nome Galácia) e dos  Celtas que chegaram na região por volta de 150 d.C.

FATO IMPORTANTE: Essa é a única região que Paulo vai visitar em todas as 3 (três) viagens missionarias. O apóstolo tem preocupação com a consolidação da mensagem do Evangelho na região.

Contexto histórico:

Após a conversão, Saulo vai para Damasco. Posteriormente, para o deserto da Arábia, e lá permanece por 3 (três) anos, sendo discipulado pelo próprio Cristo, muitos acreditam que é aqui nesse período histórico que Cristo amplifica a revelação e o entendimento acerca da salvação na vida do apóstolo, assim como os demais discípulos que andaram com Cristo por 3 anos, Paulo vai ser ministrado pelo Senhor no deserto da Arábia por mais ou menos o mesmo tempo.

Em seguida, volta para Tarso, sua cidade natal, e permanece por ali cerca de 10 anos.

Quando em Atos 11.25, Barnabé vai a Tarso em busca de Saulo. Depois, vão para Antioquia. Importa destacar que foi feita uma oferta na igreja de Antioquia, e eles enviaram Barnabé e Saulo, a fim de levarem a oferta aos pobres de Jerusalém. Após Barnabé e Saulo voltarem, o Espírito disse aos irmãos de Antioquia que era para separar Saulo e Barnabé para obra missionaria.

Então, assim começa a primeira viagem missionaria de Paulo, e o por que é importante frisar isso? Porque estas igrejas que Paulo funda na primeira viagem são as igrejas dos Gálatas.

Quem eram os judaizantes?

Judaizantes eram basicamente Judeus ortodoxos (legalistas), estes eram convertidos ao cristianismo, e estavam obrigando os gentios (aqueles que não eram judeus) a observarem a lei de Moisés como um pré-requisito básico para salvação, pois para estes, a obra de Cristo não era suficiente para salvação, não bastava somente a fé, era necessário a observação rigorosa da lei mosaica.

Os judaizantes exigiam que os gentios, para se salvarem, precisariam observarem alguns pontos básicos, como:

  1. Os homens teriam que se circuncidar;
  2. Observar as festas;
  3. A dieta religiosa;
  4. E os dias sagrados do judaísmo;

A pregação paulina era enfática “que a salvação era pela graça e através da Fé”, o que deixou os judaizantes extremamente furiosos, e fez com que eles se mobilizassem e fossem até as comunidades que Paulo havia ido, a fim de despregar sua mensagem.

Argumento judaizante

Segundo Hernandes Dias Lopes: o ataque judaizante atingia duas frentes, ou tentava colocar em cheque duas coisas, quais sejam, o Apostolado e a Teologia do apóstolo Paulo.

Os argumentos dos judaizantes para tentar descredenciar Paulo diziam respeito ao fato dele não ser apóstolo genuíno, e que não tinha andado com Jesus, bem como tentava desviar a igreja do Senhor , Barclay concorda dizendo que os Judaízantes  empreenderam uma campanha de “desprestígio já no fato de que Paulo não tinha sido membro do corpo original dos doze apóstolos, já na circunstância de que tinha sido o mais furioso de todos os perseguidores da Igreja, já em que não possuía nenhuma nomeação oficial dos dirigentes da Igreja”.

Por isso do capítulo 1.6-24; 2.1-14 Paulo vai apresentar sua ligação com os apóstolos e com a igreja de Jerusalém.  Esse é o contexto histórico da carta;

Agora vamos focar nas admoestações do primeiro capítulo Gálatas 1.6-10;

O retrocesso dos Gálatas e o escândalo da graça

“Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo”.

Muito rapidamente, os Gálatas haviam deixado o evangelho que Paulo os ensinou. Assim, passaram a acreditar num evangelho fraudulento.

Paulo diz que está admirado como eles “abandonaram tão rapidamente”.

Culturalmente, os Gálatas tinham fama de desertores. Segundo o historiador Estrabrão (64 a.C), os moradores da Gálacia se corrompiam nas guerras, na medida que lhes fossem oferecidas quantias mais significativas.

Os Gálatas tinham fama de serem pessoas que abandonavam um ideal e passavam rapidamente para outro lado.

Paulo está evocando uma tendência cultural.

Por que eles vão deixar o evangelho que Paulo havia pregado? Porque os judaizantes estavam escandalizados com a mensagem que o apóstolo estava pregando.

Que mensagem é essa?

“Salvação pela graça por intermédio da fé”.

A salvação pela graça é uma mensagem que escandaliza muitas pessoas.  Por quê? Porque o ser humano não consegue conceber a ideia de uma salvação totalmente gratuita. Desde os tempos mais antigos o homem elabora meios, métodos, subterfúgios, aparatos para salvação.  Contudo, Paulo afirma que a fé é a condição de possibilidade para a salvação. Assim sendo, não é preciso se circuncidar, cumprir integralmente todas leis editadas, dietas, tradições, pois se assim o fosse, não seríamos salvos. Portanto, Paulo afirma que somos salvos por meio da fé, e em razão da graça de Deus.

Veja as evidências bíblicas da nossa condição humana

>Nós estávamos mortos em delitos e pecados (Ef 2.1);

>“Não há um justo sequer”; (Rm 3.10-11)

>“Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3.23)

>“Nossa justiça é como trapo de imundícia”; (Isaías 64.6).

Então, nada, absolutamente nada vai fazer com que sejamos merecedores da salvação, exceto a fé e a graça de Deus;

Portanto a salvação não é sobre aquilo que eu faço, e sim daquilo que Ele fez; Salvação não é sobre a minha justiça, e sim sobre a justiça do Senhor.

Ninguém pode perverter o Evangelho (1.8)

“Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!”

Paulo está dizendo o seguinte, ninguém pode perverter o evangelho, nem mesmo eu que preguei a vocês, ninguém pode.

Alguns movimentos religiosos não seguiram o conselho de Paulo e foram fundados através de revelação de anjo:

-Mormonismo;

-Islamismo;

-Espiritismo;

Ainda que você tenha uma visão, ainda que alguém que você conheça te diga que viu um anjo que lhe disse: “―ora agora temos que fazer isso ou aquilo para ser salvos”. Naãooo! Salvação é somente pela fé no filho de Deus.

Fato interessante:

Paulo tinha tudo para ser um judeu-cristão legalista;

Veja o que ele diz em Filipenses 3.4-9

“embora eu mesmo tivesse razões para ter tal confiança. Se alguém pensa que tem razões para confiar na carne, eu ainda mais:
circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim, verdadeiro hebreu; quanto à lei, fariseu;
quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.
Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo.
Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo
e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé”.
Filipenses 3:4-9

Paulo tinha tudo para ser um Cristão legalista, pois era zeloso com a lei, fariseu, poliglota, um homem de três culturas, que estudou na maior escola de Teologia da época, sendo aluno de um dos teólogos mais bem respeitados da tradição rabínica do primeiro século.

Porém, deixou tudo de lado, como por exemplo, suas medalhas, conquistas pessoais e insígnias por amor a Cristo e ao Evangelho.

Paulo entendeu que Cristo não queria salvar somente o judeu. Pelo contrário, Cristo veio para salvar a todos, sendo eles homens, mulheres, crianças, pardos, brancos, negros, índios, orientais, ocidentais. Ou seja, Cristo morreu para salvar o homem, e deseja que todos cheguem ao conhecimento da salvação cf. 1 Timóteo 2:4.

E quando ele diz; (versículo 9)

E quem fizer isso que seja amaldiçoado. As palavras de Paulo são duras e enérgicas porque a situação era muito delicada.  Imagine, você é um missionário em um determinado lugar. Você foi até lá e pregou o evangelho, lutou, suou, literalmente sangrou, mas nessa região algumas pessoas se converteram, deram ouvidos a Palavra da Verdade. Então, você precisou sair por um determinado tempo, contudo, logo em seguida vem um pessoal com umas crenças estranhas, e começam a pregar lá, para o mesmo povo ao qual você havia pregado anteriormente. Nesta situação, você ficaria frustrado? Certamente que sim, pois este era o sentimento de Paulo, de profunda frustração e indignação para com os irmãos da Galácia. Por isso, Paulo diz que “quem dizer outra coisa que foge ao padrão do evangelho, seja maldito!”, e por quê? Porque esta é uma manobra diabólica, e quem faz isso, está sendo usado pelo próprio satanás para perverter a mensagem genuína do evangelho.

Portanto, o apóstolo Paulo é intransigível para com essa tendência luciférica de diluição e perversão da magnífica mensagem da cruz, Paulo é extremamente passional, enérgico e firme, não admite que outros fundamentos sejam lançados sobre aquilo que já está devidamente edificado, ele não tolera que ensinamentos nocivos a sã doutrina adentrem a Igreja, por isso, me atrevo a dizer que o Apóstolo dos gentios foi alguém dentro do colégio apostólico que teve uma perspectiva muito mais ampla acerca da Graça e do projeto de salvação divino, sendo assim a postura firme de Paulo é resultado direto de uma mente que entendeu a riqueza da integralidade do Evangelho.

Em Cristo a aprovação divina

Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo.

Paulo não queria agradar os homens, pois se assim o fosse, teria pregado um evangelho legalista. Todavia, Paulo não prega uma mensagem politicamente correta. Paulo não é politicamente correto.  Paulo é fiel à tradição que Cristo lhe passou, e é também fiel às revelações de Jesus. Paulo é comprometido com a Palavra eterna do seu mestre.  Segundo comentário bíblico Beacon, Paulo baseia suas declarações mostrando que, depois de ter-se convertido e recebido revelação especial, ele não consultou carne nem sangue (16). O verbo grego prosanatithemi (consultei) significa “contribuir” ou “acrescentar algo”. Sendo assim, o apóstolo está deixando claro que nenhum homem acrescentou nada ao seu evangelho — tudo veio de Deus.

Paulo não estava afim de agradar aos homens com sua mensagem, pois queria agradar a Deus.  Paulo queria ser bem-sucedido aos olhos de Deus.  Nós vemos, em nossos dias, muitas pregações que destoam do evangelho genuíno. Isso porque, muitos pregadores, líderes, pastores e obreiros estão mais interessados, muitas vezes, de em suas mensagens e ministrações agradar homens, e não à Deus.

Muitas mensagens servem somente para massagear o ego dos homens, com um discurso piegas apelando para o emocional, mas o verdadeiro evangelho é confrontador por que revela um DEUS que entregou seu filho para morrer por pecadores, não podemos distorcer essa verdade.

Portanto, que possamos ser fiéis ao verdadeiro evangelho de Cristo.

Conclusão

A grande lição desse primeiro capítulo é, que possamos permanecer naquilo que é irrevogável. A vida cristã é uma caminhada e no meio dessa jornada muitos retrocedem, muitos querem voltar a um legalismo religioso, voltando à velha vida que levavam antes de reconhecerem Jesus como único e suficiente salvador. Assim, deixam a graça para viver a religiosidade, que é ineficaz para salvação. Portanto, somente quem pode salvar você é Cristo.

Dessa forma, lei não salva, rituais não salvam, Maria não salva, Buda não salva, Espiritismo não salva, Maomé não salva. Somente Cristo, Somente a Graça do CRISTO, SOMENTE A FÉ NA GRAÇA Do Cristo Proporciona A Salvação!

Venhamos a permanecer firmes zelosos no amor e na prática da justiça.

Nele permaneçamos eternamente, amém!

Cleber Santos 31 anos, casado com Elisa Cidral, Bacharel em Teologia pela Faculdade Refidim, Pós Graduando em Novo Testamento pela Faculdade Batista do Paraná. Professor de Teologia, Pregador do Evangelho e nas horas vagas Podcaster no PerspCast. Congrega na CENA- Comunidade Evangélica Novo Amanhecer. Autor do livro: “Vá e faça o mesmo: A Parábola do bom samaritano um convite a praticidade do Evangelho”.

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