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estudos bíblicos

Páscoa: julgamento, morte e ressurreição de Jesus

A história cita o julgamento, a morte e a ressurreição de Jesus.

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Jesus carregando a cruz
Jesus carregando a cruz (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

A Páscoa, na Palestina do século I, mudou a história da humanidade. A história cita o julgamento, a morte e a ressurreição de Jesus.

Descrevendo o cenário antes do julgamento e da crucificação do Messias, observa-se que Jesus predisse a Sua morte em profecia (Mc 8:31). Na última semana de vida, Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém, aclamado pelo povo como rei (Mc 11:1), em cima de um jumentinho, sendo muito bem recebido pelas pessoas que estenderam vestes pelas ruas e ramos pelo chão. O ato da população de estender ramos verdes pelas ruas era uma ação popular comum e também pode ser vista nos textos no Antigo Testamento como quando Jeú foi aclamado rei (2 Rs 9:13).

Ainda como ato que trouxe ira aos adversários, o Mestre disse que o templo em Jerusalém, local central para a vida judaica, seria destruído (Mc 13.1). Essa profecia se cumpriu no ano 70 d.C. quando o romanos destruíram a edificação.

A vida de Jesus corria perigo, pois conspiravam asassiná-Lo (Mc 14:1). A ideia de matar Jesus ganhou corpo com o pacto da traição assumido por Judas. É a história da venda do Messias por trinta moedas de prata (Mc 14:10; Êxodo 21:32; Zc 11:13). Esse era o valor pago por um escravo. Na moeda havia a esfinge de César, título que recebia o imperador. Na época em que Jesus foi julgado e condenado, Tibério era o imperador romano (Mc 12:15-16). 

Outro contexto importante foi a festa da Páscoa que acontecia naquele momento, sendo celebrada somente em um dia. Depois, era seguida pela festa dos Pães Asmos, que durava sete dias (Mc 14:12). Por ordem de Cristo, os discípulos prepararam a Páscoa. Todos celebraram a última ceia juntos (Mc 14:22). Os textos bíblicos comentam que esse era o cenário que antecedeu a prisão de Jesus no jardim do Getsêmani (Mc 14:43), sendo conduzido, à noite, para ser julgado pelo Sinédrio que mandava nos assuntos internos dos judeus, sejam religiosos, políticos ou administrativos. O Sinédrio não tinha o costume de fazer reuniões noturnas, comportava 71 pessoas entre o sumo sacerdote, sacerdotes, anciãos e mestres da lei. Somente esses últimos não tinham caráter eclesiástico, pois ser mestre de lei (ou escriba) era uma profissão. As demais funções eram consideradas eclesiásticas.

Os judeus estavam subjulgados a Roma. Quem mandava na Palestina do século I era o Império Romano. O Sinédrio teria autoridade para julgar e condenar uma pessoa à morte? A lei judaica teria força ou as regras romanas eram superiores uma vez que os judeus eram um povo dominado pelos romanos à época? O Sinédrio tinha autonomia religiosa e jurídica e autoridade para julgar um crime e imputar a pena de morte, mas a efetivação dessa ordem deveria ser dada pelo governador romano. Ou seja, a pena de morte somente seria aplicada (executada) com a concordância dos romanos. A palavra final para matar ou não matar uma pessoa era dos representantes do Império. Sobre o tema pena de morte (e não sobre todos os assuntos sociais) cabia ao Sinédrio prender e interrogar os julgados. Poderia sentenciar (dizer qual pena estaria prescrita para o crime na lei judaica), mas não poderia mandar matar a pessoa de fato. Ou seja, para realmente uma pessoa morrer, por ser considerada culpada,  caberia aos romanos a palavra final. No caso de Jesus, caberia ao governador Pilatos a sentença final de matá-Lo e não a sumo sacerdote Caifás.

Uma prova histórica de que o Sinédrio era limitado quanto á aplicação da pena de morte (mas era livre e autônomo para cuidar da vida judaica em outras instâncias) está no Talmude, um livro sagrado dos judeus que relata sobre a lei, a ética, os costumes e a história do Judaísmo. No livro judaico há texto que confirma que o sumo sacerdote deveria pedir autorização para o governador romano para aplicar a pena de morte. De acordo com o Talmude de Jerusalém (tradição talmúdica jerosolimitano) quarenta anos antes da destruição do templo foi retirada de Israel a autoridade para impor a pena capital (questões de vida e de morte). Mas para ser honesto quanto à fonte pesquisada, é preciso dizer que há outras fontes que afirmam que os judeus perderam a autoridade para julgar questões de vida e morte somente com a destruição do templo e não quarenta anos antes. Ambos pontos de vista demonstram que não existe uma visão única e fechada quanto aos fatos históricos.

Além dos homens do Sinédrio, Antipas também participou do processo de julgamento de Cristo porque era governador da Galiléia (Lc 23:8). Mas nada decidindo sobre Cristo, devolveu-O à autoridade máxima romana na Judeia, o governador Pôncio Pilatos, que ficava no palácio (pretório) e afirmou não ver crime em Cristo, querendo soltá-Lo. Mas os judeus apelaram para a sua lei. De acordo com as regras descritas no livro de Levítico.24:15-16, Jesus deveria morrer por apedrejamento porque “a si mesmo se fez Filho de Deus” (Jo 19:12). Para os judeus, Cristo se dizer Filho de Deus significava uma blasfêmia. A punição era o apedrejamento. Em diálogo com os sacerdotes, Pilatos demonstrou que desejava liberar Jesus, mas os judeus afirmaram que Ele deveria ser condenado por não ser amigo do imperador, uma vez que “todo aquele que se faz rei é contra César”. Então aconteceu a cena do governador Pilatos lavar as mãos em sinal de que entregava a morte do condenado à sorte das pessoas que pediam a crucificação (Mt 27:24).

O significado de ser morto em uma cruz era a humilhação pública. Era considerado o pior tipo de morte. Prática comum entre os romanos, o Império Romano condenava uma pessoa a morrer na cruz para servir de exemplo e de humilhação. Exemplo para que nenhuma outra pessoa desafiasse as regras imperiais. Mas essa pratica de colocar a pessoa para morrer na cruz foi somente popularizada entre os romanos. Na verdade, é uma invenção dos fenícos.

Sobre a cruz do Messias foi fixada uma placa onde estava escrito “este é Jesus, rei dos judeus” (Mt 27:37). O texto foi escrito em três línguas: grego, latim e hebraico (Lc 23:38) para que todos que passassem pelo local da crucificação pudessem ler. Qual o significado de escrever em tantas línguas? Latim era falado pelos romanos. Grego era a língua helenística uma vez que a Grécia dominava culturalmente o Império. Hebraico era a língua judaica. É necessário relembrar que era o período da festa pascoal e, para Jerusalém, viajavam pessoas de todo o mundo, inclusive durante as festas anuais os próprios judeus da Diáspora voltavam para Jerusalém para participar das celebrações. Então, todas as pessoas que estivessem na cidade santa naquela Páscoa poderia ler a placa na cruz de Cristo. O local da crucificação foi o Gólgota, lugar da caveira, uma pequena colina situada fora de Jerusalém (Mt 27:33; Jo 19:17). Esse local era estratégico para o percurso das pessoas, sendo muito movimentado. Colocar Jesus dependurado no madeiro no Gólgota era para servir de lição para que as pessoas fossem desencorajadas em desobedecer e desafiar as autoridades romanas (Mc 15:29).

De qual crime Jesus foi acusado? Na verdade, foram dois crimes. Ele foi acusado de um crime prescrito na lei judaica e outro na romana. De blasfêmia pelo lado judaico (Mc 14:64) por Cristo dizer que era Filho de Deus. E ainda o crime de sedição para os romanos por Jesus se definir como Rei dos judeus. Sedição é sublevação contra qualquer autoridade constituída, revolta, motim, perturbação da ordem pública, desordem, rebuliço. Ser Rei dos judeus era inaceitável para os romanos, pois mostrava que Jesus estava aspirando o título e o prestígio que caberiam somente ao imperador (Mt 27:37). E qual as punições para ambos os crimes? Para blasfêmia, seria o apedrejamento, de acordo com a lei judaica. (Lv 24:15-16; Jo 19:7). Mas Jesus não foi apedrejado de acordo com as regras judaicas. Na verdade, foi condenado pelas leis romanas e, por isso, crucificado. 

Depois do martírio e da morte, Jesus foi sepultado. Naquela época, não era comum uma pessoa crucificada receber um sepulcro. Em geral, o condenado á cruz tinha o corpo deixado pendurado à vista de todas as pessoas que passavam pelo local e as aves o devoravam. Essa era a lei romana cumprida à risca. Mas, ao contrário, os judeus tinham outra lei. Para Palestina, um sentenciado deveria receber uma sepultura. E outro fator importante deve ser lembrando. No final daquele mesmo dia, depois do pôr do sol, já se iniciaria a Páscoa judaica já raiava e não era agradável ter um judeu morto e suspenso na cruz em um dia de festa. Essas duas tradições judaicas foram seguidas e Jesus ganhou um túmulo, depois da ação de José de Arimatéia e de Nicodemus, conforme é narrado em Jo 19:38-39. Pilatos permitiu que o corpo fosse retirado da cruz e sepultado. Quando os romanos crucificavam as pessoas, era costume negar-lhes sepultamento. Os mortos eram deixados para serem devorados por cães ou por abutres. Para os judeus era necessário fazer o sepultamento (veja Dt 21:38). Sepultar os mortos era uma obrigação no judaísmo.

Ainda sobre o cuidado com o corpo do falecido, é interessante citar Mateus 27: 59-60 que diz que José de Arimateia pegou o corpo de Cristo, o envolveu em lençol de linho limpo e o colocou em um sepulcro novo que ele havia mandado cavar na rocha. Colocou uma grande pedra na entrada do túmulo e foi embora. Esse ato de envolver o cadáver em uma mortalha de linho era sinal de enterro honroso. Sepultar alguém no próprio túmulo da família, como fez José de Arimateia, era um ato de reverência e afeição (1 Rs 13:30-31; Is 53:12). Quase sempre os cemitérios e os terrenos onde se sepultavam pessoas pertenciam às famílias. “No século I, o corpo costumava ser deixado na antecâmera do túmulo no primeiro ano, onde se decompunha. No fim do ano, os ossos eram reunidos em uma caixa a qual era colocada em um compartimento na parede. A prática provavelmente estava ligada à esperança judaica comum da ressurreição do corpo no fim dos tempos.”

Na morte de Jesus, outro costume judaico também foi seguido. Era comum, após a morte de um judeu, ungir o corpo com óleos aromáticos para diminuir o mau cheiro. Esse serviço era realizado por mulheres que tinham aromas. Foi por meio delas que a ressurreição de Jesus foi conhecida por todas as pessoas. Lembrando que, para muitos homens, o testemunho das mulheres eram praticamente sem valor porque as viam como instáveis e não confiáveis. Elas foram ao sepulcro, no dia seguinte, terminar os rituais do sepultamento que foi feito às pressas no dia anterior. Os nomes delas aparecem na Bíblia, em Mc 15:40 e Lc 24:10: Maria Madalena, Salomé, Joana, Marta e as duas Marias.

Da prisão à crucificação. Esses foram dias que agitaram Jerusalém e marcaram a vida das pessoas que presenciaram os fatos. Mas a ressurreição foi além. Atingiu não somente as pessoas de século I, mas fez com que Cristo fosse reverenciado como Deus diante da humanidade. No século XXI essa história continua sendo contada e pessoas, em todo mundo, convertendo-se ao Cristianismo. É o amor que explica tanta dor e sofrimento. Porque Deus amou o mundo entregou Seu único Filho para que todo aquele que nEle cresse não morresse, mas tivesse direito à vida eterna (Jo 3:16). Páscoa é tempo de lembrar do julgamento, da morte e da ressurreição de Jesus. Ele morreu para dar vida aos que creem.

Jornalista, teóloga e professora. É doutoranda em Teologia pela Escola Superior de Teologia, no Rio Grande do Sul. Tem mestrado em Teologia pela Escola Superior de Teologia. Pós-graduação em MBA Gestão da Comunicação nas Organizações pela Universidade Católica de Brasília. Bacharelado em Comunicação Social, Jornalismo, pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Licenciatura plena em História pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília. Bacharelado em Teologia pela Faculdade Evangélica de Brasília

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