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Papo furado!

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Recentemente, vi uns vídeos de um desses autores evangélicos que têm despontado na mídia do segmento falando de vários assuntos. É notório seu esforço por parecer um claro estereótipo do “politicamente correto”: linguagem polida, um sorriso que não convencia nem o maior dos otimistas, uma linguagem densa como água de coentro, ou seja, “profunda como um pires”.

Enfim, alinhado em uma montanha de livros – sugestivo inlectualóide – o referido autor protagonizou uma cena que tem se repetido em meio àqueles que desesperadamente querem compor um novo quadro no evangelicalismo brasileiro: o do “evangelho moderninho”. Este é composto por pseudo-intelectuais do segmento evangélico que se insurgem como “apologistas”, “professores”, “conferencistas” e apresentam-se como uma espécie de “baixo-clero” no meio evangélico, ofuscado, há algumas décadas, pelo movimento neopentecostal.

Esta é a via pela qual muitos de nós, cristãos evangélicos, têm (erroneamente) tentado admitir o inadmissível: que temos uma identidade, que o evangelicalismo é um todo ordenado e que a diversidade pragmática é algo ruim. Afirmo que isto é inadmissível pois o Evangelho, sim, tem uma identidade, não o movimento evangelical. E isto se dá por um motivo simples: observamos, desde os tempos da chamada “Igreja Primitiva” (século I), que as diferenças existiriam à medida em que o Evangelho fosse se espalhando no mundo então greco-romano. Concessões tiveram de ser feitas mediante o range de flexibilidade ao qual a Igreja pudesse se submeter.

Foi exatamente o que aconteceu após a sábia decisão do chamado “Concílio de Jerusalém” (Atos 15:22-31). Com 0 “todo ordenado” quero dizer “monolítico” e, portanto, o evangelicalismo não é monolítico. Criar associações, convenções, fraternidades que tenham esse intuito, significa interpretar a Igreja a partir do que ela claramente não é, à luz das Escrituras. Logo, assumir (também erroneamente) que a diversidade pragmática da Igreja é nociva é tão ruim quanto os exemplos anteriores. A diversidade pragmática existe, nas igrejas, justamente porque a Igreja (conceito universal) não é um bloco monolítico e, provavelmente, nunca será.

Somente dentro deste conceito plural é que podemos falar da “entidade” Igreja. Fora disto estamos tapando o sol com a peneira. Utópica e nocivamente, o “evangelho moderninho” agrega alguns frustrados – por um lado, com a letargia com que os conservadores lidaram com questões fundamentais, como a doutrina; por outro, com o avanço estranho do não menos estranho neopentecostalismo. Esses frustrados não compreenderam que virtus in medium est e, na maioria das vezes de maneira desavisada e não coercitiva, colocam-se como os “monstros” que execram! Quais as armas, então, desta nova monstruosidade? O “fuzil” do (argh) politicamente correto: inferno, pecado, condenação, castigo, sofrimento e afins simplesmente sumiram de seu vocabulário. Suas preleções são verdadeiras garapas que, de tão melosas, causam náuseas.

Também há as granadas do sarcasmo descabido: para muitos desses defensores do “evangelho moderninho” não basta defender sua posição (seja lá qual for), pelo contrário, tem se especializado em jogar bombas em quem pensa diferente, geralmente com sarcasmos que são confundidos por seus admiradores como provas de intelectualidade! Usar recursos pífios ad hominem ad hoc em seus discursos vazios simplesmente não os ajudará a parecerem mais corretos (salvo entre os seus crescentes admiradores). Também usam o holograma da pseudo-espiritualidade bíblica: esbaldando-se em usos de um tecnicismo confuso – com muito grego e hebraico – enfeitam suas palavras vazias adocicadas, dando-lhes ares da mais alta espiritualidade.

Não é à toa que vemos nomes de vulto entre os que assumiram a posição de “cristãos moderninhos” admitirem uma espiritualidade conservadora, recalcando-lhe de ressalvas, como o fez recentemente um desses aí que, vez por outra gosta de posar de conservador. O sujeito está tão preocupado em parecer politicamente correto que até voltou atrás em algo (conservador) que disse, retirando do ar as próprias palavras num caso recente de covardia evangelical nacional acerca do homossexualismo!

Perdoe-me, prezado internauta, mas estou de “saco cheio” deste tipo de evangelicalismo. É soberbo, enfatuado, dado a contendas, pernóstico, covarde, murmurador, incrédulo, pseudo-intelectual e tem servido apenas para fragmentar ainda mais o já despedaçado evangelicalismo ocidental. Não suporto ver que muitos, até alguns nomes outrora promissores, têm se curvado à ditadura do politicamente correto, que daqui a pouco comandará punições a quem disser que um gay é gay, posto que, se ficar estabelecido que esta palavra não se enquadra na agenda (politicamente correta) do gayzismo e dos que simpatizam com o mesmo, ela terá de ser retirada e colocada outra, como o eufemístico “homoerótico”!

Cair nesta armadilha é fazer o jogo sujo do maligno, pois é claro que o chamado “politicamente correto” não se resumirá a míseras questões de nomenclatura popular. Passaremos a questões muito mais fundamentais, como os direitos civis que incluem a própria liberdade de pensamento e expressão. Somente nanicos intelectuais e homens de má fé não percebem ou fingem não perceber que estamos desembocando em uma ditadura “de usos, costumes e pensamento”. Aqueles que se vangloriam de serem “moderados” e que auxiliam o lobby da globalização anticonservadora a chamar de “extrema direita” os que discordam da crescente ingerência antibíblica, verão seu plano barca-furada ir por água abaixo, quando entenderem que a Igreja verdadeira do Senhor Jesus existe para, principalmente, denunciar a podridão do que se tornou e tem sido o “mundo” após a Queda!

É, prezado internauta… estou triste e peço-lhe até que perdoe meu desabafo. Mas não consigo mais ver crentes darem rios de dinheiro para pessoas que se colocam, em nome da fé, em pontos diametralmente opostos do mesmo espectro: de um lado, lobos vorazes em nome de um evangelho que criaram, arrancando os sonhos (e quem não sonha?) de uma multidão faminta e desesperada e guiando suas vidas em nome da tirania do “ter”; e, por outro lado, um bando de faladores com sorrisinhos cínicos no canto de suas bocas, que não evangelizam, não pregam a Palavra de Deus, não são relevantes, não oram, não se entregam à operação essencial do Espírito Santo, detratam os que o fazem e acabam por tornarem-se cristãos impostores, “enganando e sendo enganados”.

Jesus disse certa vez que “os filhos das trevas são mais prudentes (ou hábeis) em sua geração do que os filhos da luz”. Mas isto deve ser entendido como um lamento e não como uma assertiva imperativa: simplesmente não tem de ser assim. A palavra de Cristo Jesus é uma exortação a nós, para que não sejamos débeis em nosso proceder, inculcando-nos atrás de fábulas ou sábios segundo nossas próprias cobiças (cf. 2 Tm. 3). Está na hora de, como Igreja, admitirmos nossa pluralidade e trabalharmos incansavelmente pelo resgate da pureza doutrinária e da simplicidade da vida comum diária, marca registrada dos primeiros cristãos. Nada de enganarmo-nos a nós mesmos, fingindo não vermos que esse politicamente correto nos está sendo imposto por pessoas cujas políticas de vida são claramente antibíblicas. Nada de nos colocarmos em quaisquer das curvas ou opostos deste espectro pois, independente de onde estejamos, se numa ponta ou na outra, faremos parte dele.

Nosso retorno às raízes bíblicas capacitar-nos-á a termos um posicionamento mais contundente com as crescentes práticas anticristãs que têm inundado o Ocidente, tornando-nos inimigos deste sistema mundano, ou seja, párias (graças a Deus), se for o caso, perante uma sociedade que envenena a si mesma com paixões idolátricas e efêmeras por sábios eleitos segundo suas concupiscências. Está na hora de voltarmos a dizer que pecado é pecado e nenhuma outra coisa! Bíblia é a Palavra de Deus, “divinamente inspirada e útil para exortar, corrigir, instruir e educar em justiça”.

Está na hora de voltarmos a buscar os dons do Espírito Santo, como orienta o apóstolo Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (caps. 12, 13 e 14), pois nossas armas “não são carnais, mas poderosas, em Deus, para destruir sofismas”! Está mais do que na hora de “chorarmos nossas misérias”, pois são muitas, como o conformismo, a amizade com o “mundo”, a indiferença perante as mazelas que nos assolam, a apatia de uma vida que associa-se a Deus apenas no âmbito da religiosidade! Está na hora de colocarmos em pé de igualdade (pois estão) os neopentecostais inconsequentes e os “críticos” do evangelho moderninho pois fazem parte da mesma corja que, em última análise, está fazendo o jogo sujo do anticristo!

Está na hora de uma mudança radical na nossa vida, nos indivíduos da Igreja, em cada um que se propôs a ser reconhecido como um servo genuíno de Cristo Jesus. O que não podemos é continuar a ver passivamente a Igreja descambar em uma espiral degradante e descaracterizadora do que o verdadeiro Evangelho foi, é e sempre será: a consciência individual plena da pessoa de Cristo, sua vida, obra e sacrifício, por suas próprias palavras, através das quais devemos viver, tratar nossos semelhantes e aproximarmo-nos do Criador. Isto é o que significa “Evangelho”: a “nova”, que é “boa”, justamente porque nos revela a grandiosidade da novidade de vida! Todo o resto é apenas papo furado.

Bacharel em Teologia e Filosofia. Pós-graduado em Gestão EaD e Teologia Bíblica. Mestre e Doutorando em Filosofia pela UFPE. Doutor em Teologia pela FATEFAMA. Diretor-presidente do IALTH -Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades. Pastor da IEVCA - Igreja Evangélica Aliança. Casado com Patrícia, com quem tem uma filha, Daniela.

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