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estudos bíblicos

O sacerdócio celestial

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 13 do trimestre sobre “O Tabernáculo – Símbolos da Obra Redentora de Cristo”.

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Sacerdócio real. (Foto: Reprodução)

Chegamos ao final de mais um trimestre. Foram ao total 13 Lições (com esta de hoje) nas quais estudamos sobre o tabernáculo e os símbolos da obra redentora de Cristo que ali estão presentes naquele primeiro santuário.

O estudo das Lições Bíblicas em paralelo com o estudo dos próprios livros bíblicos nos quais as Lições semanais se basearam (especialmente Êxodo e Levítico), nos trouxe uma riqueza de informações a aprendizado que certamente levaremos adiante por muitos anos.

Findamos agora com o último estudo, sobre o sacerdócio de Cristo exercido no céu, mas partilhado com seus servos aqui na terra.

I. O sacerdócio celestial tem um único sumo sacerdote

1. Cristo: o sumo sacerdote do Novo Testamento

É tão inadequado referir-se aos cantores e músicos da igreja como “levitas”, como igualmente é inadequado referir-se aos pastores como “sumo sacerdotes” da igreja. São erros pontuais do nosso “evangeliquês”, mas que precisam serem corrigidos à luz do ensino bíblico. A expressão “sumo sacerdote” quer dizer “o grande sacerdote” ou o “maior dos sacerdotes” – a quem tão nobre expressão poderia se aplicar hoje, quando o sacerdócio levítico já não mais existe?

Nossa esperança é que com os estudos deste trimestre tenhamos entendido que a Igreja tem apenas um único Sumo Sacerdote, a saber, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! (Conf. Hb 4.14) Quanto a nós, os que fomos salvos em Cristo e lhe rendemos adoração, somos todos “reis e sacerdotes” (Ap 1.6; 5.10), coerdeiros com Cristo de sua herança eterna!

Tanto pastores como membros da igreja local, são reino sacerdotal de Cristo; homens e mulheres, velhos e meninos, mestres e leigos, veteranos e neófitos… Todos os que professam fé em Cristo Jesus e vivem em conformidade com a sua Palavra são a “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9, NVI).

2. O sacerdócio coletivo dos cristãos

Nossa posição como sacerdotes já é exercida hoje, nos sacrifícios espirituais que oferecemos a Deus e nas intercessões que ministramos em favor dos homens. Porém, nossa posição como reis é escatológica e somente se cumprirá quando reinarmos com Cristo a partir do Milênio e por toda a eternidade (a menos que se entenda “reis/reino” por uma conotação espiritual). Confira estes textos bíblicos: 2Timóteo 2.12; Apocalipse 5.10; 20.6 e 22.5.

Não nos esqueçamos que o próprio Jesus foi quem disse “meu reino não é deste mundo” (Jo 18.36), logo nossa herança como “reis” ao lado do “Rei dos reis” só será recebida de fato quando viermos com ele glorificados para o reino milenar; até lá, esta herança é nossa de direito, e por isso, ansiosos, oramos: “Venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade…” (Mt 6.10).

3. Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote no céu

Jesus não precisa repetir no céu o mesmo sacrifício que ele realizou aqui na terra, vertendo seu sangue para propiciação dos nossos pecados. O sumo sacerdote da ordem levítica precisava repetir o mesmo ato todos os anos, devido a imperfeição de seu ministério; Cristo, porém, realizou sacrifício perfeito de uma vez por todas e assim como Deus descansou após a consumação da Criação, Cristo também descansa após consumada a Redenção!

Entretanto, visto que é Sumo Sacerdote, Cristo é o único e legítimo Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5), e de quem o sangue está posto eternamente diante de Deus para salvar todos os que pela fé no Filho se aproximarem dele. Contrário ao ensino católico, o fato é que Maria, mãe de Jesus, não é corredentora nem co-regente do céu; Maria foi “serva do Senhor” (Lc 1.38), e que soube reconhecer seu papel de submissão a Cristo. O Novo Testamento, porém, nunca a apresenta como intercessora ou medianeira diante do Pai ou mesmo do Filho no céu.

Cristo é o único Intercessor da Igreja diante do Pai (o Espírito é também nosso Intercessor, mas a partir de nosso interior é que ele intercede por nós). Sendo assim, rejeitamos peremptoriamente os dogmas católicos romanos quanto a suposta mediação ou intercessão dos santos mortos! Nem Paulo, nem Pedro, nem Maria nem ninguém além de Jesus oferece preces ao Pai em nosso favor! Jesus é o verdadeiro Sumo Sacerdote celestial!

II. O sacerdócio universal da Igreja

O sacerdócio universal dos crentes é um conceito fundamental para o protestantismo, desde os dias de Martinho Lutero, no século XVI, quando houve a ruptura com o catolicismo romano e a explosão da Reforma Protestante. Na obra A Liberdade do Cristão, de 1520, Lutero escreveu: “De posse da primogenitura e de todas as suas honras e dignidade, Cristo divide-a com todos os cristãos para que por meio da fé todos possam ser também reis e sacerdotes com Cristo, tal como diz o apóstolo Pedro em 1 Pe 2.9… Somos sacerdotes; isto é muito mais que ser reis, porque o sacerdócio nos torna dignos de aparecer diante de Deus e rogar pelos outros”.

Enquanto o catolicismo considerava sacerdotes tão somente aqueles que ocupassem ofício dentro do clero (a liderança eclesiástica), relegando aos leigos (os fiéis comuns) posição inferior, Lutero, respaldado na Palavra de Deus, entendia que havia igual dignidade diante de Deus entre os oficiais e os leigos, entre o clero e os fiéis comuns. Há uma distinção entre pastores e membros? Sim, há, mas não uma distinção que exalte as lideranças acima do povo, tornando este subalterno daqueles. Lutero explica na mesma obra supracitada:

“Tu perguntas: ‘Que diferença haveria entre os sacerdotes e os leigos na cristandade, se todos são sacerdotes?’ A resposta é: as palavras ‘sacerdote’, ‘cura’, ‘religioso’ e outras semelhantes foram injustamente retiradas do meio do povo comum, passando a ser usadas por um pequeno número de pessoas denominadas agora ‘clero’. A Escritura Sagrada distingue apenas entre os doutos e os consagrados, chamando-os de ministros, servos e administradores, que devem pregar aos outros a Cristo, a fé e a liberdade cristã. Já que, embora sejamos todos igualmente sacerdotes, nem todos podem servir, administrar e pregar. Como disse Paulo em 1 Co 4.1: ‘Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus’”. [1]

1. Uma doutrina bíblica fundamentada na pedra que é Cristo

Nos tempos patriarcais, a escolha do povo de Israel se deu para que ele fosse para Deus “um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êx 19.1). Porém, em virtude da desobediência contumaz de Israel e de sua rejeição ao Filho de Deus, seu Messias prometido, à Igreja constituída de todos os crentes em Cristo é que agora foi dado esse tão grande privilégio, conforme já citamos no texto de 1Pedro 2.9.

O reino de sacerdotes e a nação santa seria constituída inicialmente dos descendentes biológicos de Israel (ou Jacó), mas agora o reino de sacerdotes e a nação santa é constituída de todos os descendentes espirituais de Jesus Cristo. Por isso é que o apóstolo Pedro diz: “Antes vocês nem sequer eram povo, mas agora são povo de Deus; não haviam recebido misericórdia, mas agora a receberam” (1Pe 2.10). Que privilégio o nosso! Ao mesmo tempo, que responsabilidade temos!

2. Distinguindo “a pedra”, que é Cristo, de “pedras vivas” que são os crentes

O apóstolo Pedro usa a metáfora das pedras (uma referência às antigas construções) para falar sobre quão bem está fundamentado o nosso sacerdócio em Cristo. Diz o apóstolo:

“E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe 2.4,5).

Pedro diz que Ele, o Senhor, é a pedra viva, e quando nos chegamos a ele nos tornamos pedras vivas para a construção da casa espiritual e do sacerdócio santo. Noutras palavras, Jesus é o fundamento da construção, e nós somos a construção propriamente edificada sobre Cristo, a pedra angular! Como disse também o apóstolo Paulo, Cristo é o único fundamento (1Co 3.11) – outro dogma romano cai por terra, visto que não é Pedro a pedra sobre a qual a Igreja está edificada, mas Cristo e tão somente Cristo!

Como Pedro, somos petros, isto é, “fragmentos de pedra” ou “pedras pequenas”; Cristo, porém, é a verdadeira petra, ou seja, a grande e sólida rocha sobre a qual as pedras pequenas estão sendo assentadas para construção da obra espiritual, ou seja, a “casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1Tm 3.15).

3. Características da Igreja como sacerdócio santo

Russel Champlin [2] lista várias características da Igreja no que concerne à sua posição e serviço como reino sacerdotal. Confira algumas das mais importantes:

3.1. Esse sacerdócio indica acesso superior a Deus; o crente individual tem acesso ao Santo dos Santos (Hb 10.19-22).

3.2. O crente na qualidade de sacerdote oferece um sacrifício superior: (1) seu próprio corpo vivo (Rm 12.1); (2) o louvor de sua vida e de seus lábios (Hb 13.15); (3) suas riquezas financeiras devem ser usadas para benefício do próximo (Hb 13.16).

3.3.  Na qualidade de sacerdote, o crente tal como Cristo e o Espírito Santo, é um intercessor em favor de outros (1Tm 2.1; Cl 4.12).

III. O maior e mais perfeito tabernáculo

1. O santuário terrestre

Como vimos ao longo deste segundo trimestre de 2019, estudando todos os ambientes e utensílios do tabernáculo construído nos dias de Moisés, aquele fora o primeiro templo construído para o Senhor e cujos detalhes prefiguravam coisas espirituais concernentes a Cristo, à Igreja e à eternidade!

Santuário construído de madeira, bronze, prata e ouro, além de muitas cortinas de linho fino numa beleza multicor. Ali somente os sacerdotes da linhagem araônica ministravam diariamente, auxiliados pelos levitas, oferecendo a Deus incalculável número de animais sacrificados em gratidão ou para expiação de pecados.

Contemplada de cima, a planta do tabernáculo, com a disposição de seus móveis sagrados, sugeria o caminho, isto é, o formato de uma cruz: altar de bronze, em seguida pia do lavatório, entrando no Lugar Santo via-se à direita a mesa dos pães da proposição, à esquerda o candelabro de ouro, e, finalmente, avançando para o Lugar Santíssimo, via-se a arca da aliança, o lugar mais próximo do Senhor que se podia se achegar.

O homem comum, porém, não podia passar do grande altar de bronze; o acesso ao lugar mais íntimo do tabernáculo era concedido restritamente ao sumo sacerdote, tão somente uma vez ao ano, no grande Dia da Expiação. A porta não estava totalmente aberta, e seu acesso não era ilimitado. Cristo, porém, veio trazer-nos outra realidade!

2. O santuário celestial

Já vimos nos estudos das Lições passadas a sequência dos santuários de Deus no Antigo e Novo Testamentos: primeiro, o tabernáculo de Moisés; depois, o templo de Salomão; agora, a Igreja viva (não a estrutura física onde nos reunimos); mas no porvir o último e maior de todos os santuários: o novo céu e a nova terra, “onde habita a justiça” (2Pe 3.13). Quando estes novos céus e terra vierem, então se dirá “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus” (Ap 21.3).

O céu eterno (não apenas a estratosfera acima de nossa atmosfera) é o lugar onde os salvos em Cristo poderão finalmente desfrutar da plenitude da presença de Deus. Lá, porém, Deus não mais se revelará parcialmente entre nuvens, fogo ou fumaça, ou através de símbolos religiosos, mas real e visivelmente aos seus amados e escolhidos, a todos quantos receberam a salvação pela fé em Cristo Jesus! Os limpos de coração terão a mui grande bem-aventurança de ver a Deus (Mt 5.8); sim, nós o veremos como Ele é! (1Jo 3.2)

Foi neste santuário celestial que Cristo adentrou, indo até o Santíssimo – não àquele cômodo do templo que guardava a arca da aliança, mas à presença real do próprio Pai Santíssimo! “Eu vou para meu Pai”, disse Jesus (Jo 14.12). E um dia ele voltará para buscar-nos e levar-nos para este Lugar Santíssimo, onde somente os puros de coração poderão adentrar e habitar eternamente! (Sl 15.1,2; Hb 12.14).

Conclusão

Rendemos graças ao nosso Pai por seu maravilhoso projeto de salvação, ao Filho que executou toda a obra redentora e ao Espírito Santo que nos iluminou para compreendermos estas coisas espirituais em Sua santa Palavra! O tabernáculo não foi construído como um fim em si mesmo, como um mero lugar de adoração para o povo hebreu peregrino no deserto. Há lições espirituais preciosas sobre o amor e a misericórdia de Deus escondidos debaixo daquelas cortinas de linho fino, e como estamos felizes de termos aprendido isto sob à luz da revelação neotestamentária! Todavia, como nossa mente é limitada para absorver todo conhecimento de Deus, só podemos agora almejar que se cumpra plenamente nossa redenção e alcancemos lugar junto ao Santo dos Santos nas regiões celestiais, a saber, a presença bendita, gloriosa e consoladora de nosso amado Senhor! Maranata!

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Referências
[1] Lutero. A liberdade do cristão, cap. 17
[2] R.N. Champlin. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Hagnos, vol. 6, p. 15

Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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