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estudos bíblicos

O Reino de Deus: A igreja como corpo e a importância da igreja local

“Não deixemo-nos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” Hebreus 10:25.

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Vivemos em um tempo onde muitos procuram deslegitimar a importância da Igreja Local, outros alegam que tudo é Reino e assim no entendimento deles, não existe a necessidade de se congregar. Existem cristãos que vão em vários ministérios, não criando raiz em nenhum deles, já que, erroneamente acreditam que para fazer parte do corpo de Cristo, basta professar a fé cristã, independentemente de se congregar em uma Igreja Local, afinal, alguns pensam que podem ser Igreja sozinho, sendo este pensamento, fruto de um entendimento relativista, pois, contraria frontalmente os valores do Reino de Deus.

Portanto, muitos cristãos não compreendem a expressão Reino de Deus, tampouco suas aplicações à proposta da Igreja atual, já que é difícil conceber uma proposta cristã séria sem uma compreensão do que é o Reino de Deus: “Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33). Nos Evangelhos, a expressão Reino de Deus (basileia tou theou) aparece 51 vezes, totalizando 65 ocorrências no Novo Testamento (NT); já a expressão Reino dos Céus (basileia tôn ouranôn) aparece somente em Mateus em 32 ocorrências, reflexo, portanto, da reverência dos judeus [1] ao nome de Deus.

A Mensagem do Reino de Deus

Assim, observa-se que a proclamação e a concretização do Reino de Deus foram o propósito central do ministério e do ensino de Cristo (Mt 4:17), e que foi resumido na mensagem do Sermão do Monte, que espelha a base ética do cristianismo (Mt 5; 7:39). Nesse sermão proferido por Jesus a seus discípulos está a Oração do Pai Nosso (Mt 6:9-15), ensinada para demonstrar o simples caminho da ética nas relações sociais do Homem para com Deus e do Homem para com o Homem, o qual irá apresentar a proposta do Reino de Deus: “Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu” (Mt 6:10).

Nessa perspectiva, o Reino de Deus se manifesta quando os Homens passam a fazer a vontade de Deus, ou seja, este Reino é evidenciado onde quer que ele seja seguido (Mt 12:50; Lc 16:16). Por fim, constituímo-nos Reino de Deus quando manifestamos o fruto do Espírito por meio de nossas atitudes, as quais devem contribuir para o bem-estar alheio. É nesse contexto que Tiago faz uma comparação entre língua descontrolada e coração enganoso, como base para uma religiosidade legalista e sem vida (Tg 1:26). Em contrapartida, a verdadeira religião (Tg 1:27) irá resultar na prática da espiritualidade bíblica, o que tende a apresentar o amor com o fundamento principal para o exercício de nossa missão como cristãos.

A Igreja Primitiva como modelo ideal de comunidade

A comunidade nascente no Dia de Pentecostes é um modelo de igreja que vivia dentro da unidade do Espírito, sendo que esta igreja era formada pelos discípulos, apóstolos e alguns dos espectadores que integravam os 500 que testemunharam a ressurreição de Cristo, bem como os 3000 que se converteram durante o Sermão de Pedro. Os membros desta comunidade se reuniam aos domingos— o Dia do Senhor. Neste dia havia dois modelos de cultos: a Reunião Matutina — que era uma ocasião de louvor, oração e pregação; e a Reunião Vespertina— onde havia o culto de expressão ágape, em que os discípulos se reuniam para lembrar o sacrifício de Cristo por meio da Ceia do Senhor.

Essa comunidade era marcada pela Koinonia (Gr:comunhão), e seu membros verdadeiramente se comportavam como o Corpo de Cristo na Terra (Ef 1.22 e 23), estando firmes nos fundamentos da fé (Ef 2.20), na doutrina dos apóstolos, comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2:42): “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se havia de salvar” (At 2:47). Desse modo, essa igreja apresentou grande crescimento a ponto de provocar mudanças profundas na sociedade do Século I, influenciando, portanto, toda a história do cristianismo. Diante do exposto, a mensagem principal dessa comunidade pode ser analisada no Didaque (catecismo dos primeiros cristãos, escrito no fim do Século I), que retrata o modo de pensar da Igreja Apostólica: “O Caminho da vida é este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em segundo lugar, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça a outro nada daquilo que você não quer que façam a você”. Esta é a base do sublime ensino apostólico: 2“Que a sua palavra não seja falsa ou vazia, mas se comprove na prática.”[2].

A Importância da Igreja

A palavra Igreja deriva do termo grego Ekklesia, que significa reunião de pessoas chamadas para fora de algo. Tal palavra pode significar apenas reunião ou assembleia ou ajuntamento.

No Antigo Testamento (AT), seu sentido referia-se à congregação judaica, especialmente quando reunida com finalidades religiosas, para observância dos ritos religiosos (Dt 31:30). Já no Novo Testamento, alude a congregação considerada em sua totalidade dos cristãos que se reúnem em um local, o que confere legitimidade à presença de denominações religiosas (igrejas). Assim, há dois modelos de igrejas:

Igreja Local — composta de denominações ou grupos formados por pastores, obreiros e membros.

Igreja Universal — que é o corpo místico de Cristo na Terra, formada por todos os salvos de todas as denominações que pregam o Evangelho.

A Igreja como Noiva

Esta é uma alusão ao casamento místico de Cristo com sua Igreja, porque demonstra a profundidade da comunhão que Cristo mantém com sua noiva Igreja. Segundo o teólogo Myer Pearlman: “Noiva é uma ilustração usada tanto no AT como no NT para descrever a união e comunhão com Deus com seu povo” (2 Co 11,2; Ef 5:25-27; Ap 22:17).[3]

A Igreja como Corpo de Cristo

A Igreja como o Corpo de Cristo (Ef 5:22, 23) é um organismo vivo formado por aqueles que, pela salvação, receberam uma nova vida através de Jesus (Ef 2:1-5) —Aquele que vive em nós (Gl 2:20). É um corpo cuja cabeça é o próprio Cristo (Ef 1:22, 23), que é o salvador desse mesmo corpo (Ef 5:23). De acordo com o Doutor Champlim: “O corpo compõe-se da comunidade inteira dos crentes.”[4]

A Natureza do Corpo

Vivemos em um momento em que o mundo se esqueceu do significado do que é ser igreja. O mesmo pode ser dito de muitos membros, que tratam a Igreja como um clube social e se esquecem que a Igreja é a comunidade do Deus vivo.

A palavra Igreja é usada 115 vezes no Novo Testamento[5], e refere-se à natureza do corpo de Cristo e refere-se a todos os cristãos, independentemente da Denominação, localização ou época. Ou seja, são aqueles que nasceram de novo.

A Analogia do corpo humano

A analogia do corpo humano tem sido usado nas Escrituras para revelar o relacionamento entre Cristo e a igreja. Portanto, a semelhança deste, tem duas partes: cabeça e corpo! A cabeça que é Cristo, já o corpo é constituído de muitos membros, sob a sua direção. (Cl 1:18)

O Corpo de Cristo é representado pela Igreja Local

No Novo Testamento, o termo Ekklesia, foi frequentemente usado para se referir às igrejas locais (noventa e cinco vezes).[6] O apóstolo Paulo, quando escreveu às suas epístolas, na verdade ele estava escrevendo para às igrejas locais, com o objetivo de doutrinar, admoestar e fortalecer as comunidades cristãs (igrejas) do primeiro século. Portanto, cada igreja local é um corpo individual, que tem Cristo como cabeça e que é edificado por meio dos dons pessoais de cada cristão.

Como corpo de Cristo, a igreja local possui duas perspectivas: reunida e espalhada! No dia do culto, a igreja está reunida para a celebração, comunhão, adoração, ensino, capacitação, oração, louvor e etc. Já nos demais momentos, a igreja encontra-se espalhada, onde cada cristão deve como uma testemunha apresentar o amor de Deus a todos.

A Igreja local como uma Família

Este símbolo traz um ensino fundamental e revela o que Deus preparou para os cristãos através da Igreja. Assim como todos os membros de uma família normal gozam de amor e comunhão em seu lar, do mesmo modo todo membro da Igreja deve sentir-se próximo a seus semelhantes por meio do amor que se expressa na Koinonia (comunhão cristã), o que somente pode ser representado por meio de uma Igreja Local. Afinal, ninguém é igreja sozinho.

A Igreja local é a comunidade onde cada cristão é fortalecido.

Quando Jesus esteve aqui na terra, se ocupava principalmente com duas coisas: buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19:10) e guardar os que haviam se convertido (Jo 17:12). Vamos observar que Deus, conforme o seu propósito para com a Igreja, determinou que ela fosse o seu instrumento para proporcionar a cada crente o cuidado, a proteção e a orientação espiritual de que carece.

A Importância de congregarmos em uma igreja local

A Igreja é composta por aquelas pessoas que foram lavadas pelo sangue de Jesus, que reconhecem Ele como Senhor de suas vidas e tem sido selados pelo Espírito Santo.

Seria impossível reunir todos os cristãos do mundo em um só lugar, no entanto é ordenado congregar-nos em Igrejas locais sobre a responsabilidade de um ou mais pastores (Hb 10:25; 13:17). O Mandamento de sujeitar-nos às autoridades espirituais delegadas é para o nosso bem espiritual.

A Forma de Governo da Igreja Local

A fim de produzir a unidade e a perfeição da Igreja, o Senhor Jesus confere dons aos homens, presenteando esses homens cheio de talentos à Igreja, com o intuito de obter unidade, perfeição, maturidade, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos. A forma verbal no original grego da palavra aperfeiçoamento significa“katartidzo”, que corresponde a ajustar, restaurar e pôr em ordem.

Representantes de Deus no Antigo Testamento como Abraão, Moisés, os profetas, os sacerdotes e os reis foram seus ministros. Seus assistentes diretos, como no caso de Josué, que servia a Moisés, eram subministros. O aspecto do culto no AT, desenvolveu-se na elaborada instituição do Tabernáculo e do templo, cujas principais figuras eram o sumo-sacerdote e os sacerdotes, assessorados pelos levitas. No contexto do NT, encontramos os dons ministeriais, vindos diretamente do Senhor. Na epístola de Paulo aos Efésios, está escrito: “E deu dons aos homens”. Estes dons são os ministeriais, conhecidos como dons de Jesus, porque está escrito: “Ele mesmo deu uns para apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, visando ao aperfeiçoamento da obra […]” (Ef 4.11,12).

A Importância da Igreja Local e o Fortalecimento dos valores do Reino de Deus.

A Igreja Local sempre integrou o cristianismo desde sua fundação e, ao longo dos séculos, desempenhou papel relevante para a sociedade, como legitimado pela fala de alguns dos mais ilustres expoentes do cristianismo:

Orígenes afirmava que: “A igreja, na verdade é composto misticamente de todos os homens, e que o poder de Cristo (o Logos) é tão imenso que, finalmente, isso os tornará uma realidade.”.[7]

Karl Barth afirmava a importância da Igreja Local:“Percebemos a realidade da Igreja invisível; mas é nas igrejas locais e visíveis que experimentamos praticamente essa realidade.”. [8]

O Novo Testamento reconhece a importância de uma Igreja Local, dado que é dessa forma que a Igreja expressa sua dimensão de vida e exerce suas responsabilidades como agente do Reino de Deus no mundo (Mt 8:17; At 15:4 e 16:5). Idealmente, a Igreja Local deve ser uma pequena réplica da Igreja Universal.

A Igreja Local não é o Reino de Deus em sua plenitude, mas sua expressão entre os Homens. Portanto, a Igreja realiza as obras do Reino mediante a proclamação do Evangelho que foi outorgado por Cristo (Rm 1:16). Como Igreja, ela não proclama a si mesma, mas o Reino de Deus (At 14:22; I Ts 2:12; Cl 1:13, 14).

Cuidado com a onda dos desigrejados! A Igreja Local é Fonte de Crescimento Espiritual.

“Não deixemo-nos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” Hebreus 10:25.

Congregar em uma igreja é importante e faz parte de uma cultura bíblica, já que encontra legitimidade nos ensinamentos apostólicos, onde se vê claramente o Apóstolo Paulo constituindo igrejas e pastores locais nas comunidades epistolares de base; e no Apocalipse, onde o Apóstolo João escreve as Sete Cartas que são destinadas aos pastores locais (Ap.2 e 3). Desse modo, podemos compreender a importância das Igrejas Locais, sendo que cada igreja ou denominação transmite a mensagem do amor de Deus. No entanto, mesmo que algumas pessoas questionem a postura de algumas igrejas (denominações evangélicas), isso não invalida a importância das Igrejas Locais, de modo que, por meio destas comunidades, o Reino de Deus tem sido manifestado, onde muitos têm encontrado o amor de Deus.

Contudo, infelizmente, veem-se muitas pessoas caluniando tais denominações evangélicas, afirmando impudicamente que: “Não precisamos de pastores”; “Somos igreja sozinho”; “A Igreja é uma intituição falida”; “Não precisamos participar de cultos” etc. São pensamentos equivocados, já que, apesar de ser um local constituído por pessoas, a Igreja Local é um lugar produtivo, pois nela somos pastoreados, encontramos respostas para nossos dilemas. Nela somos edificados através da pregação e do ensino, despertados por meio da oração e vivificados pela ação do Espírito Santo por meio da comunhão que temos com nossos semelhantes. Embora haja ensinamentos controvertidos em algumas igrejas evangélicas, isso não invalida a importância da Igreja Local.

Portanto, quando a Igreja Local direciona sua ênfase no “ser” e não no “ter”, ela é uma agência de crescimento espiritual, pois sua mensagem encontra-se centrada na palavra e, desse modo, expressa a mensagem do Reino de Deus entre os Homens, manifestando o amor, que é a base da mensagem cristã, o que irá produzir um corpo que vive dentro da unidade do espírito e que manifesta em tudo a prática do amor de Deus (II Co 13:13). Concluo este texto com as palavras do pastor Jeremias Pereira[9]: “Todo crente que passa por um avivamento pessoal procura estar vinculado numa igreja local. Toda igreja local que passa por um despertamento espiritual procura buscar os que estão desgarrados e integrá-los amorosamente na comunidade. […] Um crente revitalizado e avivado sabe que a vida cristã é vivida em comunidade. Ele precisa dos outros crentes para crescer e permanecer na fé. Ele precisa da comunidade para sustentar sua família. Ele precisa da igreja local para ajudar na evangelização e fortalecimento da sua vida, do seu lar e de sua descendência. ” [10]

[1] Portanto, é importante ressaltar que o uso da expressão “Reino dos Céus” é usado, em vez de “reino de Deus”, pois os judeus tinham profundo respeito pelo nome divino. Portanto no evangelho de Mateus, escrito para os leitores judeus, a expressão usada é “reino dos céus” e não “reino de Deus”, que é usado pelos demais evangelistas.
[2]Didaque: o ensino dos primeiros apóstolos. Disponível em <http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3537110>. Acesso em: 4 nov. 2017.
[3] PEARLMAN. Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2016, P.346.
[4] CHAMPLIM, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo:  Hagnos, 2006, p.228.
[5] ROBINSON, Darrel W. Igreja celeiro de dons.São Paulo: JUERP,2000,p.15.
[6] ROBINSON, Darrel W. Igreja celeiro de dons.São Paulo: JUERP,2000,p.15.
[7] CHAMPLIM, 2006,p.229.
[8] CHAMPLIM, 2006,p.229.
[9][9] Pastor presidente da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte/MG.
[10] PEREIRA, Jeremias. A Importância de ir a Igreja.Disponível em < https://www.oitavaigreja.org.br/a-importancia-de-ir-a-igreja/>. Acesso em 14 de Nov.2017.

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